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segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

2013, O SECTARISMO DO PT E O OPORTUNISMO DO PSOL

2013, o sectarismo do PT e o oportunismo do PSOL


O oportunismo e o sectarismo são as duas principais enfermidades das organizações de esquerda dos trabalhadores. Normalmente, a ala esquerda costuma acusar a direita de oportunista. Por sua vez, a ala direita costuma acusar a ala esquerda de sectária. Todavia, reanalisando um dos mais importantes episódios da luta de classes no Brasil houve uma inversão de papéis. Em seus balanços de 2013, Lula (PT) subestimou a frustração popular com seu projeto de governo colaboracionista e Juliano Medeiros (PSOL), subestimou a conspiração imperialista.
Recentemente, perguntando em uma entrevista a rede Telesur, sobre a onda de manifestações populares ocorridas em 2019 na América Latina, o ex-presidente Lula retomou o balanço das manifestações de 2013, durante o governo de Dilma Roussef:
“As manifestações de 2013 foram feitas já fazendo parte do golpe contra o PT. Elas já foram articuladas para garantir o golpe. Elas não tinham reivindicações específicas. As manifestações começaram como parte do golpe, incentivadas pela mídia brasileira e incentivadas, acho que inclusive, de fora para dentro. Eu acho já que teve o braço dos Estados Unidos nas manifestações do Brasil” (26/12/2019).
Para Lula, a diferença de uma jornada para outra seria que as de 2019 noutros países do continente foram feitas para conquistar direitos e as de 2013, não. Além disso, para o ex-presidente, desde sua gênese as manifestações de 2013 teriam sido uma armação do imperialismo. Discordando do dirigente do PT, Juliano Medeiros, presidente do PSOL, twittou:
"Quer dizer que as centenas de historiadores, sociólogos e cientistas políticos de ESQUERDA estão perdendo tempo ao estudar 2013 como um fenômeno social complexo que estava em disputa porque, na verdade, tudo não passou de uma armação da CIA? Discordo. Vladimir Safatle, André Singer, Flávia Biroli, Leonardo Avritzer, Esther Solano, Rudá Ricci, Luiz Felipe Miguel.Só pra citar alguns dos/das principais nomes da ciência política e da sociologia de esquerda que defendem a visão de que junho expressa um fenômeno social complexo." (27/12/2019).
Em nenhum momento de sua crítica a caracterização feita por Lula, Medeiros cita a influência do imperialismo antes ou durante o processo. O dirigente do PSOL secundariza a influência dos EUA na complexidade do fenômeno. Evidentemente que, ao contrário do que afirmou Lula, as manifestações de 2013 lutaram sim por direitos, ao transporte, à saúde e a educação. A princípio não eram contra o governo central e sim os aumentos dos preços de ônibus e metrô.

Dilma e o PT, sem qualquer sensibilidade para capitalizar o descontentamento popular a seu favor (como fizera o chavismo, por exemplo), e muito menos disposição política para usá-las contra a oposição de direita e ampliar as conquistas sociais, deram de bandeja as manifestações para a direita, que até então não encontrara meios para afrontar ao PT nas ruas, o campo de luta tradicional da esquerda.
As manifestações de 2013 não eram, em sua gênese, manifestações anti-Dilma. Mas se tornaram graças ao fato do PT tomar para si o posto de guardião do status quo do regime burguês mesmo contra as aspirações imediatas das massas.

Não queremos dizer com isso que não houvesse uma conspiração do imperialismo para derrubar o governo do PT, como já ocorrera nos anos anteriores em Honduras e Paraguai, mas que diante da política sectária do PT e da falta de uma alternativa de esquerda e de massas para fazer avançar o processo revolucionário, por parte inclusive do PSOL, foi a direita e o imperialismo quem capitalizaram e desenvolveram a seu favor as jornadas de junho. Não é possível entender 2013 sem uma análise das condições concretas (pleno emprego) e das lutas da classe trabalhadora organizada naquele momento, respectivamente de pleno emprego e que resultaram no maior ascenso grevista do movimento sindical de toda a história no país, como registramos no artigo abaixo: