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segunda-feira, 8 de abril de 2019

“PLENO EMPREGO”, ASCENSO GREVISTA HISTÓRICO E JORNADAS DE JUNHO DE 2013

“Pleno emprego”,
ascenso grevista histórico
e jornadas de junho de 2013


Nos últimos anos, o capital esteve na ofensiva contra a classe trabalhadora. Esse ataque adquiriu um salto de qualidade com o golpe de Estado de 2016. Costuma-se a acreditar que dias melhores de luta de nossa classe já se perderam no tempo ou nunca existiram. Todavia, momentos de ofensiva da luta dos trabalhadores brasileiros não estão tão distantes assim. Nossa geração teve experiências ofensivas recentes, como as lutas de 2013 e a greve geral de 2017 que precisam ser melhor refletidas. No texto abaixo, realizamos um esforço por realizar uma análise materialista e dialética ao ascenso popular que ficou conhecido como "jornadas de junho".

2013 foi uma experiência que serve de exemplo para a reflexão acerca da relação entre existência e consciência no proletariado. Esse momento costuma ser abordado pela esquerda apenas sob o destaque das chamadas "jornadas de junho", como um fenômeno meramente popular, uma rebelião policlassista. Realizam uma análise divorciada do elemento estrutural, das condições de existência da maioria da população. No máximo, a população trabalhadora é abordada como consumidora insatisfeita dos serviços de transporte. Ignora-se ou despreza a influência que as relações de produção e trabalho e o proletariado organizado exerceu indiretamente sobre as jornadas de protestos populares.


Entre 2013 e 2014 o Brasil viveu um dos menores índices de desemprego, o que na época o governo Dilma chegou a comemorar como “pleno emprego” [1]Os críticos de direita dessa caracterização minimizam a importância desse anúncio alegando que essa taxa foi aferida apenas nas seis principais capitais do país. Os de esquerda, dizem que esse “pleno emprego” foi resultado de uma precarização crescente do trabalho. O que é verdade. Todavia, os principais centros urbanos do país refletem em grande medida o país e, o que é mais importante é a redução do exército industrial de reserva e o ânimo dos trabalhadores para, conseguido o trabalho, assegurada que haverá ganha pão regular, partir para cima do capital para negociar as condições do trabalho.

Outra inferência que deriva desse dado econômico está no fato de que se havia algo similar em 2014 a um pleno emprego, por mais precário que fosse (precariedade menos pior do que a brutal precaridade sofrida pela classe trabalhadora após o golpe e a reforma trabalhista), isso significa que nem de longe pode-se dizer que o país atravessava uma crise econômica nesse momento ou que a mesma tivesse sido uma decorrência direta da crise de 2008 nos EUA. A crise econômica que precedeu o golpe de Estado de 2016, foi decorrente de muitos fatores. Um deles, que está ligada diretamente ao golpe: é a própria guerra comercial dos EUA contra os BRICs, que atingiu mais fortemente a economia mais débil e dependente dos EUA no bloco, o Brasil, que se expressou através de medidas de guerra jurídica, lawfare, de sabotagem direta de fortes setores industriais brasileiros (petróleo, construção civil) realizada pela operação Lava Jato; a queda ocasional dos preços dos commodities no mundo e políticas neoliberais recessivas e de capitulação as pressões golpistas adotadas pelo próprio PT na última gestão Dilma.

Sob uma situação de "pleno emprego", em situação mais favorável para lutar por melhores condições de venda de sua força de trabalho, a disposição criada na classe trabalhadora se refletiu no maior número de greves da história do país em 2013, 2050 greves ao total, contra 877 de 2012, segundo o DIEESE [2].

Esse assenso grevista influiu e foi influído pelas chamadas jornadas de junho. Nosso balanço foi o de que as jornadas foram uma expressão excepcional do ascendo grevista dos trabalhadores[3]. E mais, nesse ano, quem foi a luta, arrancou reajustes salariais maiores do que a média [4].

Foi o momento de categorias como as dos professores convocarem manifestações unificadas da comunidade escolar [5]. Os bancários realizaram a maior greve dos últimos 20 anos [6]. A população assalariada reivindicava aumentos salariais e redução do custo de vida, através da redução da tarifa, bem como na melhoria da saúde e educação públicas.

Todavia a direção do movimento de massas organizado no país boicotou a rebelião popular e nesse processo se boicotou. Inclusive, retrospectivamente, em maio de 2019, Lula reafirmou em entrevista a visão parcial que o PT tinha do movimento. Isso se deve, provavelmente, aos limites políticos da política reformista do PT que temia mais que tudo ser empurrado para a esquerda pelas ruas:
Keneddy Alencar – Esse ponto é importante. Por que aconteceram tantos protestos de rua no Brasil em 2013. E qual foi o real significado daquilo para a política brasileira?

Lula– Você sabe que eu acho que até hoje nós não avaliamos corretamente o que aconteceu em 2013. Ninguém me convence de que aquilo foi porque a polícia de São Paulo bateu em uma manifestação de 3 mil pessoas que estavam reivindicando 20 centavos de diminuição no aumento do transporte, e que a sociedade foi para a rua. Não acredito. Aquilo, na minha opinião, já fazia parte da arquitetura política de derrubar o governo, de tirar o PT do poder, porque era uma manifestação muito contra o PT. Nós começamos entendendo que era uma manifestação por reivindicação, e não era por reivindicação. Eu vi alguns vídeos na Internet que tiveram, naquela época, 8 milhões de visualizações, 15 milhões. Ou seja, era uma coisa que só podia ser patrocinada por robô. 
KA – O sr. não acha que eram protestos naturais? 
Lula– Não, não era natural. A Globo jamais cancelaria a grade dela para colocar manifestação. Ela não colocava isso nem no enterro do Roberto Marinho. A Globo cancelou a sua novela para mostrar as manifestações. Você acha que isso é de graça? 
KA – Porque era notícia. 
Lula– Notícia era a campanha das Diretas, e ela nunca suspendeu a novela para mostrar. Na verdade, aquilo era convocado. Era convocado pelo jornal das 8 horas, pelo jornal das 7 horas, por Ana Maria Braga. Era convocado por todo mundo. Era convocado na televisão. Kennedy, é o seguinte… 
KA – O sr. não está negando uma realidade?

Lula– Não, eu não estou negando uma realidade. A verdade é que, naquele tempo, a economia não estava mal. É importante lembrar que a economia cresceu, eu acho, 1,9% ou 2% naquele ano. É importante lembrar que a gente tinha pleno emprego. Kennedy, a gente não pode esquecer que em 2014 a gente tinha 4,3% de desemprego no Brasil. Você sabe o que significa isso? Significa Finlândia, Noruega, Dinamarca, Suécia, Holanda. O Brasil nunca teve isso. Significa que tinha um crescimento da economia de forma extraordinária. Eram 20 milhões de empregos neste país! Era gente voltando do Japão, era gente voltando de Portugal, era gente voltando de todas as partes do mundo para trabalhar aqui, meu filho. Essa coisa era em 2013.
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(Entrevista concedida pelo ex-presidente em 3 de maio de 2019)
Opondo-se a avançar para além de onde desejava em seu reformismo, o PT entregou as ruas de bandeja para a oposição burguesa, que conseguiu se aproveitar melhor dessa conjuntura.

Mas, a primeiro momento, também os think thanks da burguesia, sobretudo os do PSDB, então o partido central da oposição burguesa, governante do principal PIB do país depois do nacional, o do Estado de São Paulo, ascenderam a luz amarela, entendendo também que as manifestações eram por reivindicações. No susto, o governo tucano reprimiu desproporcionalmente o movimento, no que foi apoiados por toda a grande mídia.

Todavia, a direita e o imperialismo não ficaram por aí, concluíram "se é ruim para o PT, mas não tem uma direção consciente, pode ser bom para nós" e partiram para disputar o movimento e dirigi-lo contra o governo do PT.

Até então, não era um movimento antipetista, na verdade, o principal inimigo dos manifestantes no coração da luta de classes do país era o governo de São Paulo, da direita, de oposição ao governo do PT, que reprimiu duramente os manifestantes no dia 13 de junho [7], apagando fogo com combustível.

Foi nesse quadro que a burguesia e imperialismo criaram ou introduziram uma série de novos mecanismos na luta de classes do Brasil como a Ação Penal 470, uma política de law fare apoiada pelo PT (à época já defendíamos a libertação de todos os presos políticos dessa operação pró-imperialista) [8].

Por sua vez, as direções lulistas e cutistas fizeram movimento contrário ao da direita, tentaram esvaziar o movimento e se historicamente são os campeões do oportunismo, nesse momento realizaram uma política sectária, abstencionista. Foi um grave erro.

Era a hora das organizações do movimento de massas CUT, MST, MTST se somarem ao movimento de corpo e alma, convocaram uma greve geral de verdade [9], unificando a tendência ao ascenso grevista, jornadas de ocupações por reforma agrária e urbana. Foi um momento histórico de superar o programa mínimo nacional desenvolvimentista dessas direções.

Realizar essa superação se opunha pelo vértice a política majoritária do PT e da CUT, que haviam renunciado a disputa pelo controle do movimento e optaram pela preservação burocrática e institucional dos governos executivos burgueses como Dilma e Haddad. Somada essa avaliação mesquinha do maior movimento de massas das últimas décadas aos desvios neoliberais de suas gestões, a resultante foi que Haddad não conseguiu se reeleger prefeito de São Paulo e Dilma foi facilmente golpeada pouco mais adiante, depois de ter praticado um estelionato eleitoral, adotando praticamente o programa de governo tucano após a sofrível vitória de 2014.

2013 foi um ano bom [10] para nossa pequena organização [11] que lutou com todas suas forças por aproveitar cada um daqueles elementos da conjuntura excepcionalmente favoráveis a classe trabalhadora, sobretudo onde estava nossa militância, nos professores [12] [13], bancários [14], metalúrgicos [15] [16], assim como convocou a frente única e comitês de autodefesa contra os ataques da direita [17].

Mais uma vez a ausência do elemento subjetivo canalizador das lutas cobrou seu preço. Sem partido, sem centralização política da ação revolucionária, não há revolução, por mais favorável que possam ser as condições objetivas e por mais que a classe esteja na ofensiva contra o capital. A política do PT, e a sua medida o PSOL, PSTU e PCB, desmoralizou a esquerda e abriu caminho para a direita, pavimentando o caminho do golpe de Estado que viria a ser realizado três anos depois. É a classe que tem consciência de seus interesses estratégicos e conspira por realizá-los, que tende a levar a melhor.




[3] As jornadas como expressão do excepcional ascenso grevista dos trabalhadores http://lcligacomunista.blogspot.com/2018/06/junho-de-2013.html
[4] Quem foi à luta, arrancou reajuste maior do que a média  http://lcligacomunista.blogspot.com/2013/11/balanco-da-campanha-salarial.html
[5] Sair às ruas com os estudantes, os professores do Rio e de todo o país
[8] Ofensiva reacionária com a colaboração de Dilma e do PT - Pela anulação da AP 470 e a libertação de todos os presos políticos
[9] Construir uma Greve Geral de verdade! Reconquistar os sindicatos para a nossa classe! Pelo partido revolucionário dos trabalhadores! Criar uma oposição operária revolucionária aos governos patronais do PT, PSDB, PMDB,...!