ofensiva anti-operária que se avizinha!
Editorial dO Bolchevique #17
A primeira onda de protestos populares do mês de junho
refletiu o esgotamento de um ciclo de acumulação capitalista no país. A
população foi às ruas em junho protestar contra o aumento insuportável do custo
de vida. A inflação vem crescendo mais a partir de 2012 porque foi no aumento
dos preços das mercadorias que os patrões apostaram para seguir lucrando depois
da chegada da crise econômica no país. A primeira reação contra este aumento do
custo de vida veio dos trabalhadores organizados ainda em 2012, quando o número
de greves (Gráfico 1) computadas no país
chegou a quase 900, a maior quantidade desde 1996. O operariado industrial foi
quem mais conseguiu recuperar o poder de compra de seus salários em relação às
perdas inflacionárias, seguidos pelos trabalhadores do comércio e, por fim, os
dos serviços.
Ainda segundo o Dieese, durante a era Lula e Dilma
(2001-2012), a produtividade na indústria de transformação chegou a atingir
26%, em 2010 (Gráfico 2) e a produção industrial 39%. Desde 2005, a indústria
manufatureira encolheu 11% (caindo de 79% para 68%) do total de empregos
formais gerados na produção, ou seja, enquanto a taxa de lucros caía no mundo e
particularmente nos EUA (Gráfico 3), no Brasil (Gráfico 4)ela tendia a crescer
graças a super-exploração da classe operária. Esses dados são importantes porque
é principalmente na esfera da produção onde se cria a riqueza material que se
dispersa nas esferas da circulação (capital financeiro, capital comercial) e
alimenta o maquinário do Estado capitalista. A mais-valia se realiza no
mercado, ou seja, com a venda das mercadorias produzidas na fábrica. Essa alta
produtividade fez com que a taxa de lucro atingisse seu teto em 2008 para
começar a despencar a partir de 2009-2010.
O governo Dilma tratou então de dar uma sobrevida artificial
ao ciclo de acumulação através da ampliação do mercado por meio do estímulo ao
consumo da população, por um lado e, por outro, da redução de impostos para
certos setores capitalistas, sendo como as multinacionais montadoras de
automóveis. Aqui vale destacar que a “menina dos olhos” da produção nos
governos do PT possuiu uma margem de lucro de 10%, o dobro da margem mundial do
setor automobilístico. Por conta dos aumentos nas vendas de carros nos últimos
anos, e dos lucros, as montadoras foram responsáveis por quase 20% de todas as
remessas de lucro feitas por empresas a partir do Brasil em 2011. Isto
demonstra também o quão é proveitoso para a multinacional imperialista GM, o
acordo escravocrata com o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos
(CSP/Conlutas) para o envio de espetaculares remessas de lucros à matriz
ianque.
Todavia, o estímulo ao consumo não foi feito pelo aumento
dos salários, mas pela liberação de crédito. Em 2012, as famílias chegaram ao
máximo de seu endividamento até então (ver texto sobre bolha imobiliária da LC)
e esta bola de neve explodiu. Há mais de um ano denunciávamos “Medidas
‘anti-crise’ de Dilma, matando a sede com água salgada” (O Bolchevique #10),
apontando que as políticas preventivas do governo fariam a crise explodir com
mais força no país, que o tal do “estímulo ao crédito” alavancava a
super-especulação aos limites extremos e eram uma verdadeira “bomba relógio”
contra o proletariado, criando uma pauperização relativa (aumento da distância
entre o valor produzido pelo trabalhador e a parcela dessa riqueza produzida da
qual este se apropria) e uma escravidão por dívida. Estava claro que um tal
crescimento econômico baseado no endividamento máximo das famílias
trabalhadoras, ilusoriamente “ingressas na classe média” pelo PT, comprando “seus
sonhos de consumo” sem receber salário compatível para tal, iria esgotar-se
logo, logo.
Os setores que foram induzidos a acreditar que haviam
ascendido à classe média agora se sentem pobres, pensam que empobreceram,
quando na realidade nunca deixaram de ser pobres trabalhadores que agora foram
expulsos da onda consumista e precisam encarar a realidade de que não estão
pobres, são pobres. Dessa forma a crise econômica chegou no país atrasada, em
2012. Mesmo que a grande mídia patronal e o governo Dilma sigam fingindo que a
situação só é grave com a Grécia, Espanha, Portugal, etc., as massas sentem na
inflação, na perda do acesso ao transporte, saúde, educação, a corrosão de suas
condições de vida.
A IMPOTÊNCIA DAS MANIFESTAÇÕES POPULARES SEM A CLASSE ORGANIZADA
E SEM UM PROGRAMA OPERÁRIO REVOLUCIONÁRIO
Foi assim que os protestos semi-espontâneos, inconscientes
contra o aumento das passagens se converteram nas maiores mobilizações de
massas da história recente do país. Na primeira onda de protestos, em junho,
mais de dois milhões de habitantes em protestos que se alastraram por cerca de
600 cidades brasileiras. Todavia, estes setores rebelados contra uma situação
social que sofrem e sentem, não possuem consciência de classe do que se trata,
nem lhes é confortável reconhecer que se encontram em uma situação estrutural
sem saída. São induzidos a acreditar que seus problemas residem na corrupção,
na falta de patriotismo e outras bobagens inoculadas pela ideologia burguesa.
Embora para estes setores seja difícil seguir acreditando no mito de que são
classe média, é muito mais difícil todavia abandonar este mito. Esta
contradição se manifesta simultaneamente como impotência e ira. Impotência que
permanece se a classe operária não entre em cena passando por cima de todas
suas direções pelegas que fingiram um “Dia de luta” no 11 de julho.
Agora a mídia pró-imperialista começa a propagandear que o
Brasil é caro, que os salários são altos e que os direitos trabalhistas e
sindicais são obstáculos para a queda do “custo Brasil” (lucro-Brasil!) culpando a classe operária pelo alto custo
das mercadorias (valor de troca), por um lado, e sua baixa qualidade (valor de
uso), por outro. Ao mesmo tempo, a mesma mídia patronal compara os preços e na
“relação custo-benefício” demonstra que as mercadorias dos EUA e Europa são
mais baratas e de melhor qualidade. Trata-se obviamente de fazer uma vitrine
funcional para ampliar e abrir mais ainda o mercado brasileiro à ofensiva
comercial do imperialismo que exige tais medidas para sair de sua própria
recessão. Começa a pressão em favor de uma abertura importadora, por juros
altos e câmbio baixo. A desindustrialização, no que para nós interessa ou seja,
a “desoperarização” que já vinha crescendo com a demissão dos trabalhadores da
industria tende a agravar agora com a concorrência das manufaturas importadas
artificialmente barateadas desde a criação do Real.
Neste quadro, criar expectativas na capacidade da “burguesia
nacional” e industrial como promove a Força Sindical só cabe a quem cumpre no
movimento operário o papel de porta-voz dos interesses do patronato da
Confederação Nacional da Indústria. Essa mesma burguesia industrial é cada vez
menos “nacional” e cada vez mais comercial e importadora, onde já predominam as
tendências à conversão do parque industrial nacional em maquilador, ou seja,
montadoras de peças importadas. Não por acaso, o carro chefe da indústria
nacional são as montadoras de veículos. Na próxima etapa, os patrões
industriais se preparam para converter as fábricas em depósitos de mercadorias
importadas ou meros departamentos de manutenção e assistência técnica,
aproveitando as redes de comercialização de suas indústrias para servir
meramente de correia de transmissão à nova ofensiva comercial do imperialismo.
Dilma acreditava que com as políticas anti-crise conseguiria
evitar o contágio do Brasil pelo menos até sua reeleição. A próprio oposição
burguesa não havia se preparado para substituir o PT no governo antes disso.
Assim, os protestos massivos pegaram toda a burguesia de surpresa. A rebelião
seria um bom momento para que as massas se aproveitassem da confusão burguesa,
mas lamentavelmente também não existe ainda uma alternativa revolucionária dos
trabalhadores organizada a altura desta tarefa. Depois da surpresa inicial o
capital retoma a ofensiva e agora, o imperialismo chantagea o governo Dilma e o
PT exigindo a renúncia do ministro da Economia petista, aumenta a pressão pela
prisão dos mensaleiros e ameaça envolver o próprio Lula com os escândalos de
corrupção, faz campanha de rua pelo “Fora Dilma!”, promove candidaturas alternativas do PSDB, PSB e
divulga pesquisas eleitorais há um ano das eleições em que Dilma chega empatada
no segundo turno com Marina Silva que nem partido legal possui ainda. Dilma
cede as chantagens, aumenta os juros e reestitue certa autonomia ao Banco
Central (tornando-o mais dependente dos desejos dos banqueiros e do capital
financeiro internacional).
Do sonho da 6a potência mundial o “Brasil acordou” para o
pesadelo de sofrer agora uma nova colonização com desindustrialização,
demissões em massa, população super-endividada, salários miseráveis e perda de
conquistas. Agora a bola está com metalúrgicos, petroleiros, carteiros e
bancários que com suas campanhas salariais no 2o semestre precisam unificar as
lutas e atuar como vanguarda de toda a população trabalhadora. Por isso, não
podemos depositar nenhuma ilusão nas atuais direções sindicais na luta para
deter essa catástrofe que nos ameaça. Precisamos nos organizar por local de
trabalho, construir oposições classistas às centrais sindicais que sob a
influência do PT e dos demais partidos patronais não só não nos defendem como
são cúmplices dos ataques aos nossos direitos, como é o caso da CUT defendendo
o Acordo Coletivo Especial. Por tudo isso também não alimentamos nenhuma ilusão
no PT, PSDB, PSB, Rede, e defendemos a construção de uma oposição operária e
revolucionária que busque reconquistar os sindicatos para os trabalhadores,
como parte da luta por construir um partido operário revolucionário no país que
conduza as lutas ao estabelecimento de um governo operário e dos trabalhadores.