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domingo, 29 de setembro de 2013

METALÚRGICOS 1/4

Um passo adiante na construção
da Liga Comunista na classe operária

Antonio Junior, o Carioca, metalúrgico e cipeiro da CAF do Brasil

O 11º Congresso foi realizado nos dias 23, 24 e 25 de agosto, em Louveira, com quase 500 trabalhadores de mais de 70 fábricas. A tese Vanguarda Metalúrgica (VM) participou do 11° Congresso com uma pequena bancada de cinco delegados, reunindo lutadores da Agritech, Bosch, CAF, e Mabe.

Além da tese da corrente dirigente do Sindicato, a Alternativa Sindical Socialista (ASS) (ASS/Intersindical), a tese da VM foi a única tese inscrita no Congresso do terceiro maior sindicato dos metalúrgicos de São Paulo, com 60 mil operários na base, e quarto do Brasil. Nossa tese teve como objetivo armar a categoria para reagir aos ataques do capital agravados com a crise capitalista mundial. Esta ofensiva é sentida na pele pelos metalúrgicos de Campinas e região e em particular pelas demissões recentes ocorridas na Mabe, CAF e Bosch, que se combinam com a intensificação do ritmo de trabalho para os que ficam.

No Congresso, nossas diferenças com a tese da ASS se centraram em:

1) Na avaliação da crise mundial. Na tese da ASS “a crise iniciada em 2007/2008, que buscou e alcançou sua saída até 2010, acabou”. Para nós, a crise não foi superada. Mesmo sendo muito otimistas, a economia dos EUA, UE e Japão patinam – a falência da cidade de Detroit, cinco anos após a falência do Banco Lehman Brothers – demonstra a farsa da recuperação dos EUA que compromete a própria recuperação europeia [1]. Acentuando esta análise, a própria preparação da guerra contra a Síria, impulsionada por estas economias é um modo de acumulação de capitais necessários para dinamizar o capital imperialista por meio de investimentos Estatais em forças destrutivas. Esta ameaça que pode detonar uma guerra regional ou até a III Guerra Mundial está aí para demonstrar que o imperialismo sente necessidade material de provocar uma nova guerra para superar a crise, como Bush o fez contra Afeganistão e Iraque pós crise de 2001.

O Brasil, o 10o maior parque industrial do mundo, se beneficiou inicialmente da crise desatada em 2007/2008 nos EUA, mas a taxa de lucros aqui atingiu seu teto em 2010 e a partir daí declinou, pavimentando o terreno para a chegada de efeitos retardatários da crise mundial no país em 2012, provocando o aumento do custo de vida e a maior reação grevista da classe trabalhadora desde 1996. Foram quase 900 greves e, como segundo capítulo desta reação vimos em 2013 as fortes greves dos professores paulistas em maio, seguidas pela luta da juventude em várias capitais contra o aumento das passagens dos transportes coletivos e as manifestações de massas heterogêneas e sem a presença da classe trabalhadora organizada em junho. No Brasil, ainda se espera a chegada do pior da crise com o estouro da bolha imobiliária.

2) na desindustrialização histórica do Brasil. A ASS desconsidera a desindustrialização dos últimos 30 anos e apenas avalia micro-recuperações pontuais e momentâneas de alguns setores da indústria e não do conjunto do parque industrial nacional que hoje corresponde a apenas 14,8% do PIB. Para a ASS, a desindustrialização, uma tendência predominante desde meados da década de 1980 é mera choradeira chatangista do empresariado sobre o governo para obter mais isenções fiscais e incentivos. Ao contrário do que parece, no imediato, esta avaliação debilita a luta contra o desemprego e contra a precarização trabalhista e engrossa o discurso petista oficial de apenas passamos por uma “marolinha”. E no mediato, esta posição é míope para a política de dependência economica, retrocesso produtivo e colonial alavancados na década neoliberal de 1990 e aprofundados pelos governos do PT que privilegia as montadoras e a agro-indústria em detrimento do desenvolvimento do departamento I da economia. Em outras palavras, o capitalismo brasileiro não apenas não caminha para alcançar o sonho do Brasil potência como os problemas históricos e estruturais são agravados como a concentração de terras e a dependência tecnológica. Como afirmamos em nossa tese: ““nem ceder a chantagem patronal e pelega em nome da crise, nem negar a desindustrialização, ficando desarmados politicamente para combater os ataques dos patrões... nem juros altos para os banqueiros, nem juros baixos para os industriais! nacionalização dos bancos e da indústria sob o controle dos trabalhadores!”;

3) Em nossa tese também reivindicamos trabalho de formação política para os metalúrgicos, inclusive para os dirigentes sindicais de base e cipeiros para evitar que ocorra como recentemente na Honda onde a patronal comprou “as pencas” os mandados dos cipeiros da ASS.

4) Por fim, apesar de buscarmos politizar o debate no Congresso e aprimorar suas resoluções no sentido de armar a classe contra o capital e contra o imperialismo, a diretoria da ASS ora rechaçava propostas elementares como esta “Anulação das dívidas imobiliárias para os trabalhadores que moram nos imóveis pelos quais se endividaram e congelamento dos aluguéis;”[2] ora privilegiava apoiar resoluções ambíguas sobre o Golpe de Estado no Egito e a ameaça de bombardeio na Síria contra propostas como estas que tentamos até negociar com vossos camaradas:

“Moção contra a intervenção imperialista na Síria

O 11º Congresso dos Metalúrgicos de Campinas se opõe firmemente à iminente intervenção imperialista contra o povo da Síria, articulada neste momento por Obama que justifica a intervenção depois de um ataque que matou centenas de pessoas e inclusive muitas crianças com armas químicas (gás mostarda e sarin, as mesmas usadas pelos EUA no Vietnã) atentados que a mídia imperialista busca atribuir ao governo sírio, mas nós temos razões de sobra para suspeitar ter sido mais uma obra dos mercenários do imperialismo na região.

Nos opomos à intervenção imperialista pela intervenção militar estrangeira direta ou pelos mercenários armados pela CIA, como já vem ocorrendo, ou pela combinação da intervenção direta ou indireta, a exemplo do que já ocorreu na Líbia.

O congresso dos metalúrgicos defende o combate internacionalista a todos os governos patronais e defende o direito a autodeterminação dos povos e a luta pela revolução dos trabalhadores também na Síria, mas o inimigo principal de todos os povos e que aponta para a Síria agora é a intervenção imperialista que se vitoriosa aumentará a exploração de classe e a opressão dos trabalhadores como já ocorre no Haiti, Afeganistão, Iraque e na Líbia.”

“Moção contra o Golpe militar no Egito

O 11º Congresso dos Sindicato dos Metalurgicos de Campinas e Região condena o Golpe de Estado no Egito, que massacrou centenas de pessoas e realizou mais de mil prisões.

Não concordamos com a política burguesa e reacionária da Irmandade Muçulmana, mas muito mais reacionária e a oposição das organizações brasileiras que se reivindicam dos trabalhadores e que apresentam o golpe como “revolução”. A ditadura militar brasileira também chamou de “revolução” o golpe que torturou e matou centenas e prendeu milhares de trabalhadores no Brasil.”

PELA DEMOCRACIA OPERÁRIA
E ORGANIZAÇÃO POR LOCAL DE TRABALHO

Além disso, debatemos um tema delicado para a ASS (corrente anarco-sindical que tem boas relações com o petismo sindical de Campinas) que é a relação dos grupos de fábrica, delegado sindical e as comissões de fábrica.

A ASS não apoia grupos de fábrica que ela não dirija diretamente, e esse é o debate que fazemos com os companheiros.

Acreditamos na democracia operária (e não na democracia burguesa), somos os maiores intensificadores da luta por grupos de fábrica que possam colocar o debate político da relação capital trabalho dentro das fábricas, o grande problema é que se isso for feito, os diretores do sindical serão engolidos pelos trabalhadores porque os trabalhadores querem participar de comissões de fábrica e decidir os rumos da luta em seu local de trabalho, já a ASS vê isso como um ataque a sua “direção” dentro da categoria, eles acham que com isso, eles vão “perder a direção da categoria”.

Em todo o congresso ficou latente que a categoria quer lutar e para lutar é preciso ter formação política. A ASS foi derrotada em uma votação que instituía encontros de formação para os cipeiros. A direção foi derrotada por sua própria base, isso acontece porque a ASS na prática, não quer ter o trabalho de organizar espaços de debate político permanente e de formação para a sua base, e sim espaço em que os trabalhadores são apenas chamados para levantar o braço (se concorda ou descorda da direção), colocando sempre o debate do nós (ASS) contra eles (de outros agrupamentos, como o coletivo Vanguarda Metalúrgica). Esta política se reflete, por exemplo, no fato do 11º Congresso contar com a representação menor, cerca de dez fábricas a menos do que há três anos atrás, no 10º Congresso “No último final de semana de agosto, com trabalhadores e trabalhadoras de 83 empresas, mais convidados e observadores de outros sindicatos e oposições da região e de outros estados, totalizando 500 companheiros e companheiras, foi concluído o nosso 10º Congresso.” [3]

Tivemos uma vitória importante nesse congresso, pelo simples fato de mostrar ao conjunto da categoria que existe um pequeno agrupamento revolucionário, operário e metalúrgico que pode fazer frente ao anarco-sindicalismo e sua relação de convivência pacífica com o petismo sindical do extinto fórum socialista (corrente interna e regional do PT de Campinas).

Notas

[1] A 18ª cidade mais populosa dos Estados Unidos. A principal fonte de renda de Detroit é a indústria automobilística, abrigando a sede mundial da General Motors, Ford Motor Company e da Chrysler, tendo as duas últimas nas cidades de Dearborn (parte de sua região metropolitana) e Auburn Hills, localizada próxima a sua região metropolitana. “A quebra financeira da cidade americana de Detroit tem uma inesperada ligação com o problemático sistema bancário europeu, o que agrava a situação tanto da capital da indústria automobilística dos EUA como a de seus credores na Europa.”
[3] http://www.metalcampinas.com.br/index.php/2010/setembro-2010/item/1025-.