Sobre as diferenças no RMG
RMG, ou Grupo Marxista Revolucionário, é uma organização trotskista sul africana que assinou juntamente com o CLQI uma declaração principista contra a intervenção imperialista na Líbia em abril de 2011. Todavia, o grupo passa por uma crise interna, sobre a qual o CLQI manifesta sua caracterização abaixo.
Por Gerry Downing do Socialist Fight (Grã Bretanha)
RMG, ou Grupo Marxista Revolucionário, é uma organização trotskista sul africana que assinou juntamente com o CLQI uma declaração principista contra a intervenção imperialista na Líbia em abril de 2011. Todavia, o grupo passa por uma crise interna, sobre a qual o CLQI manifesta sua caracterização abaixo.
Por Gerry Downing do Socialist Fight (Grã Bretanha)
Começamos com duas longas citações de Trotsky sobre os
sindicatos e o sindicalismo. Parece-nos que este é o problema central do RMG,
manifesto na sua atitude para com a divisão na NUM [sigla em inglês para a União
Nacional dos Mineiros da África do Sul] e sua relação política com a atual oposição
dentro da Cosatu [sigla em inglês para o Congresso dos Sindicatos Sul-Africanos],
a sua atitude para com a questão da aristocracia operária, o imperialismo e sua
incapacidade de orientar-se para lutar por um partido revolucionário no sentido
trotskista, ou seja, como a seção sul africana do Partido Mundial da Revolução
Socialista.
A primeira citação define a importância central da
burocracia sindical para a manutenção do capitalismo. É claro que Trotsky fala
apenas dos países imperialistas e das colônias. Mas para nós é evidente também que
um poderoso movimento sindical surgiu em muitas semi -colônias avançadas nas
últimas três décadas e esse já se tornou altamente burocratizado e submisso ao
Estado capitalista, representando os interesses do imperialismo global. O
centro deste processo na África do Sul é a aliança entre a COSATU, o CNA
[Congresso Nacional Africano, partido de Mandela e do atual presidente do país,
Jacob Zuma] e o Partido Comunista da África do Sul, a "Aliança Tripartite”.
Outro exemplo é o Partido dos Trabalhadores (Partido dos Trabalhadores ) no Brasil, com sua central sindical, a CUT. Contrapondo-se a Centrais como a COSATU e a CUT criam-se federações sindicais “oposicionistas de esquerda", tanto na África do Sul como no Brasil [Conlutas, Intersindical], também burocratizadas e servindo como defesa do flanco esquerdo da própria burocracia central, muitas vezes em conflito com as centrais oficiais, mas fortemente influenciadas por grupos centristas, algumas das origens trotskistas. Seu centrismo, com uma fraseologia revolucionária nos conflitos nacionais, mas quase sempre social-imperialistas, diante dos conflitos internacionais e guerras, coloca-se invariavelmente em defesa do Estado capitalista em conjunto com todo o restante da burocracia sindical "de esquerda".
Outro exemplo é o Partido dos Trabalhadores (Partido dos Trabalhadores ) no Brasil, com sua central sindical, a CUT. Contrapondo-se a Centrais como a COSATU e a CUT criam-se federações sindicais “oposicionistas de esquerda", tanto na África do Sul como no Brasil [Conlutas, Intersindical], também burocratizadas e servindo como defesa do flanco esquerdo da própria burocracia central, muitas vezes em conflito com as centrais oficiais, mas fortemente influenciadas por grupos centristas, algumas das origens trotskistas. Seu centrismo, com uma fraseologia revolucionária nos conflitos nacionais, mas quase sempre social-imperialistas, diante dos conflitos internacionais e guerras, coloca-se invariavelmente em defesa do Estado capitalista em conjunto com todo o restante da burocracia sindical "de esquerda".
A primeira citação de Trotsky é “Sobre os erros de Princípios
do Sindicalismo” (1929):
Nos estados capitalistas observam-se as formas mais
monstruosas de burocratismo precisamente nos sindicatos. Basta ver o que se
passa na América do Norte, Inglaterra e Alemanha. Amsterdã é a mais poderosa
organização internacional da burocracia sindical. Graças a ela mantém-se de pé
toda a estrutura do capitalismo, sobretudo na Europa e especialmente na
Inglaterra. Se não fosse pela burocracia sindical, a polícia, o exército, os
lordes, a monarquia apareceriam ante os olhos das massas proletárias como
lamentáveis e ridículos joguetes. A burocracia sindical é a coluna vertebral do
imperialismo britânico. Graças a essa burocracia existe a burguesia, não
somente na metrópole, mas também na Índia, no Egito e nas demais colônias.
Seríamos cegos se disséssemos aos operários ingleses: ‘Guardem-se da conquista
do poder e recordem sempre que seus sindicatos são o antídoto contra os perigos
do Estado.’ Um marxista dirá: ‘A burocracia sindical é o principal instrumento
da opressão do estado burguês. É preciso arrancar o poder das mãos da
burguesia, portanto seu principal agente, a burocracia sindical, deve ser
derrubada.’ Entre parênteses, é justamente por isso que o bloco de Stalin com
os fura-greves foi tão criminoso. [1]
A segunda citação é do documento “Comunismo e Sindicalismo,
também de 1929 e da mesma coleção. A frase abaixo parece-nos ser a tese mais
relevante para situar as diferenças no RMG: A tarefa corretamente entendido do
Partido:
“O partido comunista é a ferramenta fundamental para a ação
do proletariado, a organização de combate de sua vanguarda, que deve erigir-se
em direção da classe operária em todos os âmbitos da sua luta, sem exceção, e
portanto, também no campo sindical”.
“Aqueles que, em princípio, contrapõem a autonomia sindical
à direção do partido comunista estão contrapondo – queiram ou não – o setor
proletário mais atrasado com a vanguarda da classe operária; a luta pelas
conquistas imediatas com a luta pela libertação dos trabalhadores; o reformismo
com o comunismo; o oportunismo com o marxismo revolucionário”.
“A tarefa do Partido Comunista não consiste apenas em ganhar
influência sobre os sindicatos, tais quais eles são, mas de conquistar, através
dos sindicatos, uma influência sobre a maioria da classe operária. Isto só é
possível se os métodos empregados pelo partido nos sindicatos corresponderem à
natureza e às tarefas destes últimos. A luta pela influência do partido nos
sindicatos encontra sua verificação objetiva no fato de que eles progridam ou
não, e no fato de que o número de seus membros aumente, assim como suas
relações com as massas mais amplas. Se o partido só adquire influência nos
sindicatos ao preço de uma diminuição e de um fracionamento deles –
transformando-os em auxiliares do partido para objetivos momentâneos e
impedindo-os de tornarem-se verdadeiras organizações de massas – é que as
relações entre o partido e a classe são falsas. Não é necessário que nos
debrucemos aqui sobre as causas para tal situação. Nós temos feito isso mais de
uma vez e fazemos isso todos os dias. A inconstância da política comunista
oficial reflete sua tendência aventureira para tornar-se dirigente da classe
trabalhadora no menor tempo possível, por meio de malabarismos, maquinações,
agitação superficial, etc. Todavia, o caminho para sair desta situação não
encontram-se na contraposição do partido (ou a colaterais sindicais do partido)
aos sindicatos, mas na luta implacável para mudar toda a política do partido,
bem como a política sindical.”
“26. A Oposição de Esquerda deve associar indissoluvelmente
as questões do movimento sindical com as questões da luta política do
proletariado. Deve dar uma análise concreta do atual estágio de desenvolvimento
do movimento operário francês. É preciso fazer uma avaliação quantitativa, bem
como qualitativa, do presente movimento grevista e suas perspectivas em relação
às perspectivas do desenvolvimento econômico da França. É desnecessário dizer
que está descartada completamente a perspectiva de uma estabilização e uma paz capitalista
que durem décadas. Essa é uma característica de nossa época revolucionária. Isso
surge da necessidade de uma preparação oportuna da vanguarda do proletariado diante
das mudanças abruptas que não são apenas prováveis como inevitáveis. Quanto
mais firme seja a ação da Oposição de Esquerda contra os discursos supostamente
revolucionários da burocracia centrista , contra a histeria política que não
leva em conta as condições objetivas, que confundem o hoje com o ontem ou com o
amanhã, mais firme e resolutamente deve opor-se contra os elementos desta ala
direita que utilizam nossas críticas para camuflarem-se sob elas, a fim de infiltrar-se
no marxismo revolucionário.” [2 ]
NOTAS
[1] Leon
Trotsky, The Errors in Principle of Syndicalism, in Communism and
Syndicalismhttp://www.marxists.org/archive/trotsky/1931/unions/index.htm
Em português: http://www.pco.org.br/biblioteca/socialista/autores/trotski/65_anos/textos/os_erros.htm
[2] Leon
Trotsky, Communism and Syndicalism, in Communism and
Syndicalismhttp://www.marxists.org/archive/trotsky/1931/unions/index.htm
(Trotsky, 14 de outubro de 1929, “Sindicalismo e Comunismo”,
em “A Verdade” nº 8, 1/11/1929).
Em castelhano: