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sábado, 18 de maio de 2013

POLÊMICA - PT

O seguidismo das organizações
de esquerda ao PT

Documento elaborado por Erwin Wolf da Silva com contribuições de Humberto Rodrigues e Ismael Costa. Wolf é um ex-militante estudantil de Liberdade e Luta e da OSI (1977/80) e ex-Política estudantil Independente, da OQI (1980-90), organização que deu origem ao atual PCO.

Trabalhadores dos Correios em greve queimam bandeira do PT
A HISTORIA DA LUTA PELO PARTIDO
POLITICO DA CLASSE OPERÁRIA

O Partido dos Trabalhadores e o Partido Comunista (PCB), foram as duas tentativas mais importantes da classe operária brasileira de se estruturar politicamente enquanto classe, ou seja, construindo o seu próprio partido.

O Partido Comunista, fundado em 1922, teve sua trajetória influenciada pela Internacional Comunisadta da "coexistência pacífica com o imperialismo" e da "Teoria do Socialismo num só país", sob domínio de Stálin, ora alternando uma política oportunista de subordinação ao nacionalismo burguês, ora uma política esquerdista ("terceiro período"), quando promoveu as aventuras das quarteladas, a chamada "Intentona Comunista" de 1935, ações individuais isoladas, totalmente separadas das massas.

A AUSÊNCIA DE UM
PROGRAMA REVOLUCIONÁRIO

O PCB, não conseguindo elaborar seu programa com base na Teoria Marxista, transformou-se numa organização contra-revolucionária e praticamente implodiu, o que fez surgir várias organizações influenciadas pelo foquismo, inspiradas no castrismo, como PCdoB, VAR-PALMARES, MR-8, APML, POLOP, PCBR, etc., que tiveram atuação sobretudo nas décadas de 60/70 do século passado.

Com o pretexto de serem "vanguardas" e "darem exemplos" por meio de ações isoladas e separadas das massas, esses grupos objetivamente apenas entraram em confronto com os aparelhos repressivos do Estado brasileiro, sendo derrotados e não conseguindo construir nenhuma organização de massas e revolucionária.

PARTIDO DOS TRABALHADORES:
DAS GREVES DO ABC À DEFESA ORGÂNICA DO CAPITAL

O PT foi impulsionado sob o impacto das greves metalúrgicas do ABC paulista a partir de 1977 (greve da Scania) contra a ditadura e os patrões. Foi conformado por uma frente ampla de pelegos reciclados, ativistas católicos de esquerda, stalinistas social democratizados e agrupamentos trotskistas centristas de direita e esquerda (mandelistas, lambertistas, morenistas e altamiristas).

O PT concentrou organicamente em um só partido o que em outros países semi-coloniais como na África do Sul e no Chile ocorreu em forma de uma aliança estratégica entre a social democracia e o stalinismo. Diferentemente do Brasil, onde o stalinismo detinha influência sindical e eleitoral de massas até a década de 1960, mas se esfacelou pelos motivos já apontados acima, no Chile e África do Sul o movimento operário era dirigido pelos PCs. De modo que por todas estas características excepcionais o PT foi um partido operário com um programa burguês reformista de "democratização do Estado", desde suas origens até o final da década de 1980, quando se justificava a tática do entrismo e o chamado a votar no mesmo. Esta caracterização se justificava pela influência da classe organizada no partido através da CUT, pelo programa, composição social, e porque pelo menos até seu I Congresso não havia adotado um programa neoliberal.

PT HOJE, UM PARTIDO BURGUÊS COM INFLUÊNCIA DE MASSAS
GOVERNOS DE LULA E DILMA, NEM FRENTES POPULARES NEM NACIONAL POPULISTAS, UMA ESPÉCIE DE TERCEIRA VIA TARDIA E PERIFÉRICA

A partir da derrota eleitoral de 1989, o PT expulsa as tendências trotskistas centristas de esquerda (Causa Operária e Convergência Socialista), submete a CUT ao pacto social de estabilidade do regime (1987), burocratiza a Central em seu 3º Congresso (1988) e passa a administrar as máquinas estatais burguesas dos governos estaduais, cacifando-se junto ao imperialismo e à burguesia para gerenciar o governo federal com um programa neoliberal de corte assistencialista com a privatização da previdência, dos poços de petróleo, aeroportos, portos, ataques aos direitos trabalhistas, etc.. Neste processo de fusão entre seus interesses e os de um governo títere em um Estado semi-colonial, o Partido dos Trabalhadores consolida-se como um partido burguês com influência de massas.

Assim, se o PT é um partido burguês com influência de massas e não mais um partido operário-burguês, os atuais governos dirigidos pelo PT - embora apoiados pela burocracia sindical pelega da CUT, CTB e das outras centrais ligadas aos partidos da base governista (Força Sindical - PDT) - não passam de grandes coalizões burguesas com influência de massas e apoio de distintas frações do imperialismo. Isso faz com que os governos de Lula e Dilma sejam uma expressão periférica e tardia dos governos de terceira via como Blair na Inglaterra, e Jospin na França e Zapatero na Espanha, como foram, em seu momento, os Governo da Concertación chileno (PS e PDC). As coalizções amplas burguesas do PT são bastante distintas tanto dos governos nacionalistas burgueses populistas como Perón e Getúlio como dos governos de frente popular, como foram os casos clássicos da Espanha e França na década de 1930, do Chile dos anos 1970. [1

O PT representou outra tentativa importante de organizar politicamente a classe operária, mas sua direção oportunista o conduziu a implementar uma política contra-revolucionária, levando vantagem sobre o PSDB na estabilização do regime político, através da influência que exerce em organizações de massa como a CUT, MST, UNE, etc. para realizar uma política de colaboração de classes, compor uma ampla coalizão governista com os setores oligarcas mais reacionários da burguesia nacional, como Maluf, Collor, Sarney, Edir Macedo e, internacionalmente, implementar uma política pró-imperialista, como no caso da intervenção no Haiti.

O PCB e o PT são os partidos operários que obtiveram influência de massa na história do país, mas suas direções se opuseram a desenvolver um programa de transição para a revolução proletária no Brasil, com base na Teoria da Revolução Permanente. Tranformaram-se em organizações contra-revolucionárias e pró-imperialistas com a estratégia de gerir a crise do capital, como faz hoje o PT ou uma mera legenda pequeno- burguesa como o PCB.

A LUTA PELO PARTIDO OPERÁRIO REVOLUCIONÁRIO
E AS ILUSÕES DA ESQUERDA NO PETISMO

Hoje, os agrupamentosde esquerda, desde o conjunto do stalinismo aburguesado (PCdoB), passando pelos "ortodoxos" PCML, PCR, até o PCB, que chamou voto em Dilma, inclusive as pseudo-trotskistas, adotam uma política de seguidismo ao PT. Neste último "campo", existem grupos que seguem dentro do PT em nome do "entrismo" (OT e EMPT), que converteram o que deveria ser uma tática passageira em estratégia oportunista permanente. E também há os que fora do PT que não romperam nem ideológica nem politicamente com o petismo, como acontece com o eleitoralista PSOL, com sindicalista PSTU e com o PCO, LER, POR, LBI... Limitam-se à crítica pequeno- burguesa das pautas políticas burguesas, sendo que alguns (PSOL e PSTU), com uma diminuta influência polítca no movimento de massas, reproduzem, sob uma fraseologia mais radical, a política do PT nas eleições ou no movimento sindical e popular. Outros, como o PCO e a LBI alinham-se com o PT na luta inter-burguesa entre os mensaleiros petistas e o reacionário STF, reivindicando da CUT mobilizações em defesa do PT.

Por completa carência de independência política diante da luta inter-burguesa, PSOL, PSTU, PCB e LER alimentam ilusões no populismo judicial no supremo tribunal da democracia dos ricos em episódios como o do mensalão. No caso do PSOL, tanto no parlamento quanto nas frentes eleitorais, o partido alia-se à base governista burguesa (Belém/PA) ou à direita reacionária (Macapá/AP). Mas no campo sindical este partido, além de aplicar a mesma política sindical cutista nas raras entidades que dirige, quanto coabita com a CUT em várias diretorias de sindicato, atua em quase todas como força auxiliar da Articulação (bancários de São Paulo e professores/SP, etc.).

O PSTU, através da Conlutas, critica a CUT "no atacado", por exemplo, pela defesa que a central chapa branca faz da redução de direitos, mas "no varejo", nos sindicatos que dirige, o PSTU implementa acordos escravocratas (como o estabelecido este ano entre o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e a multinacional GM) pavimentando o caminho da redução de direitos. O agrupamento LER nem sequer pode ser chamado de grupo de pressão do PSTU porque comporta-se como mero apêndice sindical deste último nas categorias em que o sindicato é dirigido pelo PSTU e a LER possui militantes (Metrô e Professores de São Paulo). A mesma política realiza o POR, seguidista da "Oposição Alternativa", colateral do PSTU nos professores estaduais paulistas.

Há também organizações completamente virtuais, que só "militam" midiaticamente, na internet, negando-se a disputar com o lulismo a consciência da classe operária nos locais de trabalho.Subestimam os trabalhadores e superestimam o PT e seus governos patronais,reproduzindo o marketing petista de que o governo Lula "já pagou a dívida externa", "a maioria da população saiu da pobreza" e que "as medidas econômicas do PT impedem reflexos da crise europeia e americana no Brasil". Lendo as posições da LBI, concluímos que este grupo acredita que o governo brasileiro pode preservar o país da crise mundial e até desenvolver a economia ao mesmo tempo em que cumpre os "contratos", como exige o capital financeiro internacional.

CAPITULAÇÃO AO IMPERIALISMO OU
APOIO POLÍTICO ÀS BURGUESIAS NACIONALISTAS:
AS POSIÇÕES REVISIONISTAS DOS PSEUDO-TROTSKISTAS

Da mesma forma, a análise das posições das organizações de esquerda em nível internacional, principalmente de grupos como a CST/PSOL, o PSTU ou o MR, demonstram que são pró-imperialistas, defendendo a chamada "Primavera Árabe", apoiando a derrubada do governo nacionalista de Gadafi, na Líbia e o golpismo pró-imperialista na Síria. O PCO defende tão cegamente a tal "revolução síria" dos mercenários armados pela OTAN, que anunciando esclarecer "O que está por trás do ataque dos sionistas?" que mataram 42 soldados sírios, só dissemina confusão em favor da propaganda da ofensiva imperialista e "revela" que "O ataque, em primeiro lugar, foi direcionado contra os guerrilheiros nacionalistas [!!!] que avançam na Síria".

A LBI degenerou para outro desvio dentro do campo pseudo-trotskista. Ao defender a frente-única anti-imperialista com o nacionalismo burguês, descambou para assumir a defesa da política econômica desta burguesia, ao embelezá-la (como faz com o PT brasileiro, atribuindo-lhe superpoderes contra a crise econômica mundial) afirmando, por exemplo, que o regime de Gadafi não vendia petróleo para os EUA, o que é uma mentira pueril.

A partir da defesa de uma FUA ao estilo pablista, ou seja, capitulando à burguesia nacionalista, a LBI revisou seu programa, que antes não concebia apoiar a nenhum governante burguês como Chavez, para apoiar a candidatura burguesa de seu sucessor Nicolás Maduro, em nome da "frente antiimperialista", e para justificar seu desvio oportunista, confunde o PSUV, um partido burguês populista e assistencialista, que criou artificialmente sua central sindical a partir do próprio Estado patronal, com um partido operário burguês, como foi o partido laborista criado pelos sindicatos britânicos. Em sua rota de retrocesso vergonhoso, a LBI reconcilia-se, através da mesma política oportunista diante das eleições venezuelanas, com sua matriz lambertista, OT, e se confraterniza politicamente também com os ex-lambertistas e agora trosko-bolivarianos da EMPT. [2]

Desta maneira, a posição absurda das organizações de esquerda, embelezando o PT, parece que coloca a seguinte pergunta: se o PT pode desenvolver a economia e jogar um papel progressivo, se quando dirigimos entidades sindicais repetimos a mesma política lulista, por que então construir um partido revolucionário? Com tais posições, as organizações que seguem o Partido dos Trabalhadores não têm como prosperar na intervenção na luta de classes nem pavimentar o caminho para uma vanguarda trotskista dos trabalhadores no futuro pós-lulista.

Novamente no Brasil coloca-se na ordem-do-dia a construção do partido operário comunista marxista e revolucionário, estruturado pelo Programa de Transição para a revolução socialista, com base na Teoria da Revolução Permanente, sendo importante que os companheiros honestos do PT e das demais organizações de esquerda, inclusive as que se reivindicam do trotskismo, façam uma autocrítica e rompam com suas direções e organizações oportunistas e venham somar nas fileiras da Liga Comunista, que apesar de ser uma jovem organização, é já forte em razão de seu programa político, com o objetivo de reconstruir a IV Internacional, juntamente com a Tendência Militante Bolchevique da Argentina e o Socialist Fight da Grã-Bretanha.

Nota:

[1] A título de revisão, desde 2012 não mais caracterizamos as frentes dirigidas pelo PT que deram origem aos governos de Lula e Dilma como frentes populares. Tal caracterização correspondia ao estágio em que o PT era um partido operário burguês, ou seja, até o final da década de 1980, quando ainda é possível estabelecer uma tática de entrismo bem como chamar a votar criticamente nele, como nos propõe Lenin e Trotsky em relação ao laborismo britânico ou o PS francês. Mas hoje, atribuir um caráter de frente popular aos governos do PT significa embelezá-los e, sendo consequente com este embelezamento, fazer entrismo e apoiar eleitoralmente ao PT como seguem fazendo o lambertismo e a seção da TMI de Allan Woods no Brasil. Uma frente popular é uma aliança de classes com a presença de partidos operários ou operários burgueses. Por acaso, o PT ou o PCdoB são hoje partidos operários ou operários burgueses? Evidentemente que não! Então, atribuir de alguma forma um caráter operário ou resquícios operários a tais partidos é embelezá-los. Trata-se de um governo burguês com características bonapartistas que tem como eixo o PT, um partido burguês com influencia de massas. 

[2Antes de seu giro liquidacionista-pablista, o apoio da LBI a candidatura Maduro seria caracterizado acertadamente pela própria LBI como uma política “contra-revolucionária” a ser “cobatida implacavelmente pelo partido revolucionário”, como reivindica a LBI em seu documento "Pontos programáticos para a formação de uma nova tendência quarta-internacionalista" de 1998. Vale destacar que este texto que resgatamos aqui não é uma elaboração qualquer, conjuntural, mas em um documeno programático histórico da LBI. O texto condena como contra-revolucionária a política de apoio a frente poplar ainda em forma de candidatura, em sua gênese.

“4. Denunciamos a política de frente popular e colaboração de classes (constituindo-se em governos ou não), como contra-revolucionária desde a sua gênese, ou seja, a partir do momento em que é levada a cabo pelas direções reformistas e stalinistas para bloquear as lutas do movimento operário. A essência desta política, cristalizada hoje, como estratégica, consiste na colaboração entre as organizações do movimento de massas e os setores burgueses apresentados como "progressistas" para gerenciar a crise estrutural do regime capitalista. O partido revolucionário deve combater implacavelmente todas as variantes da frente popular, inclusive aquelas rotuladas de "esquerda", que não são integradas fisicamente pela burguesia, mas apresentam-se com um programa oposto aos interesses históricos do proletariado.” (LBI, Pontos programáticos para a formação de uma nova tendência quarta-internacionalista, Rrevista Marxismo Revolucionário, nº 2, outubro/98). http://www.lbiqi.org/revista-marxismo-revolucionario/no-2-outubro-98/pontos-programaticos-para-a-formacao-de-uma-nova-tendencia-quarta-internacionalista/?searchterm=g%C3%AAnese

Esta política da LBI é uma revisão do próprio programa e, como a LBI nunca se dignou a rever o programa do PO que está na base de sua tradição programática, faz agora, 30 anos depois, um resgate de um desvio oportunista do altamirismo. A LC delimitous-se desta herança programática do PO que já em sua legalização na década de 1980 convoca uma frente popular eleitoral supostamente para construir uma suposta frente única antiimperialista. “PO convoca "Por uma Frente Antiimperialista de toda a esquerda" para as eleições de 30 de outubro de 1983. Propõe uma série de bandeiras, “pontos programáticos comuns” e convoca para a frente “antiimperialista” o PC argentino, o Partido Intrasigente, o grupo Intrasigência Peronista, Partido Socialista Popular, Partido Socialista Autentico, MAS, PL, Partido del Trabajo y del Pueblo. (do livro “Que es el Partido Obrero”, pág 118). Trata-se na verdade de um truque em que por trás da causa antiimperialista o PO camufla seu chamado a uma frente popular eleitoral com setores da burguesia argentina e seus agentes reacionários, com Intasigencia Peronista, dirigida por Saddi, um dirigente do PJ, um instrumento da dominação burgesa completamente pro-imperialista e membro de uma das oligarquias regionais mais reacionárias de Catamarca 2; com o PC que apoiou a ditadura militar genocida; com o PTP que apoiou a Triple A (Aliança Anticomunista Argentina, um esquadrão da morte de extrema direita)!!!” (Liga Comunista, REVISANDO O REVISIONISMO II, A herança que nós renunciamos da política Frente Populista do Partido Obrero).
Enquanto a LC revisou o revisionismo oportunista do PO, a LBI tardiamente o copia.