SU, CMI, L5I, LIT, PO, FT, FLTI: Finalmente as “Internacionais” revisionistas se ‘reunificam’ em Bengasi
Bengasi, 23 de março: "protesto rebelde"
com bandeiras da França, da ONU, cartaz e bandeiras monarquistas |
Sumário do artigo: PABLO, O PRIMEIRO LIQUIDACIONISTA DO TROTSKISMO • SECRETARIADO UNIFICADO • ACORDO INTERNACIONAL DOS TRABALHADORES (LAMBERTISMO) • CORRENTE MARXISTA INTERNACIONAL • LIGA INTERNACIONAL DOS TRABALHADORES • UNIDADE INTERNACIONAL DOS TRABALHADORES • LIGA PELA 5A INTERNACIONAL • PARTIDO OBRERO • PARTIDO DA CAUSA OPERÁRIA • FRAÇÃO TROTSKISTA • FRAÇÃO LENINISTA TROTSKISTA INTERNACIONAL • MOVIMENTO REVOLUCIONÁRIO • LORISMO (PARTIDO OPERÁRIO REVOLUCIONÁRIO) • PARTIDO OPERÁRIO MARXISTA • ESPARTAQUISTAS (LCI, TBI, IG) • COLETIVO LENIN • DO CONCILIACIONISMO PRÓ-IMPERIALISTA AO CONCILIACIONISMO PRÓ-NACIONALISTA • WORKERS REVOLUTIONARY PARTY • LIGA BOLCHEVIQUE INTERNACIONALISTA • OS REBELDES CONTRARREVOLUCIONÁRIOS SÃO O ARÍETES DA RECOLONIZAÇÃO IMPERIALISTA
Depois do início do bombardeio a Líbia em 19/03/2011, a Liga Comunista ampliou e atualizou a primeira versão deste polêmico artigo publicada no jornal O Bolchevique #3 em 12/03/2011.
Não trataremos de polemizar com os aliados castristas e bolivarianos de Gadafi (nem seus seguidores sociais-democratas e stalinistas) que, apesar de se oporem à intervenção militar imperialista no país africano, propõem ao regime de Trípoli várias medidas e fóruns diplomáticos de capitulação e renunciam à soberania do país. Tais medidas, se levadas a termo, na melhor das hipóteses, manteriam temporariamente o atual governo no poder ao custo de maiores concessões politicas e econômicas do que as que já fez Gadafi nos últimos oito anos e que, certamente provocariam enormes perdas aos trabalhadores na Líbia em favor de uma nova partilha imperialista da nação árabe tal como acabou de ser promovido no Sudão.
Apenas nos dedicaremos a criticar as correntes que se reivindicam ou se reivindicaram trotskistas e que, em nosso entendimento, tomam posições politicas escandalosas frente ao atual conflito.
Os acontecimentos históricos de impacto mundial são divisores de águas entre os que reproduzem a ideologia burguesa e os que acreditam e propagam a ideologia comunista. A esquerda mundial é perpassada por esta regra. Isto é evidente quando grande parte dos que se dizem socialistas ou comunistas defendem governos burgueses como o do PT no Brasil e Chavez na Venezuela. À esquerda destes partidos estão os trotskistas, surgidos da ruptura principista do marxismo revolucionário após a degeneração reformista e burocrática da II e III Internacional. No entanto, o trotskismo, que fundou a IV Internacional não conseguiu dirigir nenhuma revolução socialista porque também o que ficou conhecido nos últimos 70 anos como trotskismo se degenerou deixando-se influenciar pela ideologia burguesa que acometeu os sociais-democratas e stalinistas das internacionais anteriores.
A luta contra a ideologia burguesa dentro do movimento operário é a mais importante das batalhas pelo triunfo da revolução socialista. Após a derrota histórica para o proletariado que representou a restauração do capitalismo na URSS, o golpe fatal sobre o primeiro estado operário do planeta, nos últimos 20 anos avançou a influência da ideologia burguesa em suas formas variadas sobre a vanguarda de esquerda, e isto tem representado o baluarte mais poderoso do regime capitalista atual. Como apontava o dirigente trotskista James P. Cannon:
“A força do capitalismo não reside em si mesma nem em suas instituições, sobrevive porque tem bases de apoio nas organizações dos trabalhadores. Como vemos agora à luz do que aprendemos da Revolução Russa e seus efeitos, 90% da luta pelo socialismo é a luta contra a influência da burguesia nas organizações dos trabalhadores, incluindo sobre o partido”.
(“Os primeiros dez anos do Comunismo Americano”, 1942).
Tanto as contrarrevoluções como as revoluções dividiram águas dentro da IV Internacional. Foi assim, às vésperas da II Guerra Mundial, quando o trotskismo se fracionou entre os que eram favoráveis e os contrários a defesa da URSS. O mesmo se deu nas revoluções chinesa, coreana, cubana e vietnamita. Semelhante polêmica se repetiu diante da ocupação do Afeganistão pela URSS, na revolução política iraniana, na Guerra das Malvinas, na restauração capitalista dos Estados operários da URSS e do Leste Europeu, diante dos ataques ao Word Trade Center, das perspectivas da crise capitalista mundial, etc.
Agora estamos diante de uma nova ofensiva imperialista contra os povos, produto direto da última crise econômica mundial. Após se manifestar por meio de duros ataques aos salários e direitos trabalhistas na Europa, América e Ásia, essa ofensiva trata de se colar a uma onda de protestos de massa na África e no Oriente médio surgida nestes continentes justamente pela reação popular ao aumento da exploração decorrente da crise capitalista. A camuflagem “popular” e “democrática” oculta um plano estratégico por recolonizar a região do globo mais rica em recursos energéticos, particularmente em petróleo, aumentando também o controle de EUA e UE sobre a mesma.
Diante desta ofensiva a esquerda reformista e stalinista reproduz as preocupações fisiológicas da burocracia castrista e dos governos burgueses bolivarianos hostilizados pelo imperialismo. Por sua vez, a quase totalidade das correntes que se reivindicam trotskistas se integram a campanha midiática que justifica e legitima a recolonização imperialista de dois modos essenciais:
1) embelezando a transição “democrática” estritamente controlada pelo imperialismo em países onde levantes populares encurtaram a vida útil de ditaduras capitalistas aliadas (Tunísia e Egito) e;
2) legitimando o golpismo com camuflagem de rebelião popular impulsionado pela CIA contra governos burgueses que por algum motivo econômico ou político o imperialismo quer destituir como na Costa do Marfim, Líbia, Irã e Síria.
Depois de décadas de consecutivas rupturas e sub-rupturas as correntes que se reivindicam trotskistas chegam ao consenso sobre a “revolução líbia” e se “reunificam” pelo menos programaticamente adotando caracterizações similares em torno da frente reacionária, monárquica e pró-imperialista composta em Bengasi. Ainda que tal consenso tenha sofrido um natural estremecimento após o início dos bombardeios imperialistas sobre a Líbia, em 17/03, nenhuma das correntes voltou atrás ou se autocriticou no apoio que deu ou vem dando ao golpismo pró-imperialista. Em 1917, Trotsky uniu-se aos bolcheviques para impulsionar a revolução socialista a partir de uma luta encarniçada CONTRA a monarquia, a burguesia e o imperialismo. Os “trotskistas” de 2011 defendem uma “revolução socialista” na Líbia unindo-se objetivamente COM a monarquia, a burguesia e o imperialismo.
Quando uma ofensiva similar ocorreu na Venezuela, em 2002, vimos o conjunto da esquerda revisionista capitular não às forças golpistas mas ao nacionalismo burguês. Certamente, como sinal do retrocesso na consciência da vanguarda atual, após quase uma década depois, o governante bolivariano também não receberia o mesmo apoio politico se sofresse algo semelhante a que o seu par líbio sofre hoje. Por sinal, várias das correntes que criticamos abaixo, como a LIT, por exemplo, e os morenistas em geral (como a LOI brasileira que apoiou a juventude universitária golpista na Venezuela em 2007) transitaram neste meio tempo do apoio sem princípios ao nacionalismo burguês chavista para o apoio mais ainda sem princípios ao golpismo made in CIA.
Além do retrocesso ideológico acumulado nestas duas décadas de ofensiva ideológica anticomunista pós-URSS, impacta bastante aos renegados do trotskismo o efeito ilusionista do democrata negro Obama, que seduz mais amplamente a pequena burguesia, base social do revisionismo, incrementando a ocupação militar do Afeganistão, promovendo golpes em Honduras ou ocupando países como o Haiti e a Líbia, com um discurso “multilateral” e “humanitário”, sob o selo de aprovação da ONU.
PABLO, O PRIMEIRO LIQUIDACIONISTA DO TROTSKISMO
Na URSS o trotskismo foi exterminado fisicamente pelo stalinismo. No continente europeu na década de 1930, o trotskismo não teve muitas chances de germinar e menos ainda de nuclear-se na classe operária, pela perseguição encarniçada que sofreu do fascismo e do stalinismo. No mesmo período, nos EUA, chegou a dirigir a importante greve dos camioneiros de Mineápolis. Depois da II Guerra Mundial, o trotskismo realizou raquíticas incursões no movimento operário real, merecendo destaque apenas a Bolívia em 1952. Nos EUA, o macarthismo dos anos 1950 trataram de liquidar a frágil influência operária obtida pelo partido nas duas décadas anteriores.
Michel Pablo emergiu como o principal dirigente desta IV Internacional pós-Trotsky, hegemonizada pela pequena burguesia intelectual e extremamente impressionista.
A partir de 1951, Pablo, impactado pela expansão stalinista no Leste Europeu, Bálcãs e China e pela guerra fria, rejeitou a caracterização trotskista de que o stalinismo tinha passado definitivamente para o lado da burguesia e defendeu teses de ingresso dos trotskistas nos PCs. Teses que levariam à liquidação da IV Internacional como instrumento de luta da classe trabalhadora pela revolução socialista mundial. Os críticos do pablismo dentro do trotskismo, embora acertadamente tenham combatido o curso liquidacionista, acabaram por também liquidar a IV Internacional mais tarde, capitulando a outros agentes contrarrevolucionários como a social-democracia, o nacionalismo burguês e o próprio imperialismo.
Aprendemos com Lenin que sem teoria revolucionária não há movimento revolucionário. Com Trotsky aprendemos que via de regra somente direções revolucionárias podem conduzir movimentos revolucionários e, sob condições extremamente excepcionais (guerras, revoluções e crises econômicas), direções não revolucionárias são capazes de ir além em sua linha de ruptura com a burguesia. Após a II guerra mundial vimos no leste europeu que excepcionalmente o exército de um estado operário burocratizado, para defender as fronteiras da URSS, fonte do parasitismo da burocracia se viu obrigado a expropriar a burguesia e vimos também que exércitos populares (Iugoslávia, China) movimentos guerrilheiros apoiados no movimento operário das cidades (Cuba), mesmo sob direções pequeno-burguesas que foram obrigadas a ir além de seus interesses na ruptura com o imperialismo podem realizar revoluções sociais que pela ausência de genuínas direções operárias e revolucionárias tendem a criar estados operários deformados.
Agora, capitulando à opinião pública burguesa mundial, os revisionistas do trotskismo criaram uma nova categoria de “revoluções” dirigidas pelas forças mais reacionárias da sociedade libia e do mundo, juízes, chefes tribais latifundiários, monarquistas apoiados pelo imperialismo. Uma vez que é explícito para qualquer um que tenha acesso aos sites de pesquisa da internet o caráter das organizações da frente de oposição anti-Gadafi que compõem o Conselho Nacional Provisório, da National front for the Salvation of Libya, da Libyan Constitutional Union desde sua criação até o seu patrocínio por organismos como o National Endowment for Democracy (NED) e a Freedom House, braços da CIA em todo o mundo, o que veremos nas próximas linhas por meio das mais diversas correntes é uma tese exaustivamente reafirmada que pode haver uma revolução sem direção revolucionária, sem o movimento operário organizado, sem sequer exércitos populares, mas dirigida por uma frente de partidos e personalidades burguesas politicamente articulada e militarmente orientada pelos serviços secretos dos EUA, Inglaterra, Israel, Itália e França que se apoia em setores desclassados da população líbia. Em resumo, para estes senhores, o imperialismo que Lenin caracterizava como reacionário em todos os sentidos, tornou-se revolucionário. Tal concepção tão difundida entre os revisionistas do trotskismo quanto escandalosa significa, nada mais nada menos, do que a bancarrota programática final destas correntes, cooptadas pela recolonização da era Obama. Estão mortas tanto para a luta anticapitalista quanto para a luta anti-imperialista.
SECRETARIADO UNIFICADO
O principal herdeiro do pablista Secretariado Internacional foi o dirigente Ernest Mandel, fundador do Secretariado Unificado da IV Internacional, o SU em 1963. Os mandelistas do “Bureau da IV Internacional” declaram por meio de seus partidos e simpatizantes, no Brasil, através da corrente Enlace do PSOL, “Apoio à revolução Líbia! Fora Gadafi!”. O “Bureau” assegura que “as revoluções em curso enfraquecem as posições dos imperialismos ocidentais” e que “todas as classes dominantes, todos os governos e todos os regimes reacionários no mundo árabe estão mais ou menos a apoiar a ditadura Líbia.” A Junta Militar egípcia, por exemplo, vem dando todo apoio logístico ao subministro de armas do imperialismo para os “rebeldes” do país vizinho enquanto trata de estabilizar a situação política interna, estrangulando o movimento de massas agora de forma seletiva.
O SU presta um grande serviço ao imperialismo atestando que a camuflagem da CIA em Bengasi exerce uma missão “revolucionária” para derrotar, pôr para “fora Gadafi”. Concordando com o imperialismo no principal, todo o resto é secundário, perfumaria. Mas, para criar um cenário que justifique sua posição escandalosa, o mandelismo mistifica a realidade de uma forma que nem a própria mídia burguesa faz. Enquanto o Enlace/PSOL proclama que todas as classes dominantes árabes estão a favor de Gadafi, as próprias afirmam o contrário: “A opção de decretar uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia, por outro lado, começa a ganhar cada vez mais respaldo internacional. As monarquias árabes do Golfo Pérsico declararam-se a favor da ação, assim como o chefe da Organização da Conferência Islâmica (OCI), o turco Ekmeleddin Ihsanoglu. ‘Nos unimos àqueles que pedem o estabelecimento de uma zona de exclusão aérea, e pedimos ao Conselho de Segurança da ONU que assuma suas responsabilidades neste sentido’, disse ele. A OCI é integrada por 57 países muçulmanos, representando uma população total de mais de um bilhão de habitantes.” (UOL noticias, 09/03/2011).
O Novo Partido Anti-Capitalista, seção francesa do SU, reivindica do imperialismo que reconheçam os golpistas da cia como “o único governo legítimo do povo líbio”.
ACORDO INTERNACIONAL DOS TRABALHADORES (LAMBERTISMO)
O francês Pierre Lambert rompeu com Pablo em nome do correto combate ao liquidacionismo. Os seguidores do lambertismo se organizam hoje no Partido Operário Independente francês, no POSI espanhol e na tendência petista “O Trabalho” que edita um jornal do mesmo nome. A corrente encontra-se em franco retrocesso, estado falimentar, depois de sua profunda adaptação a social-democracia e seus aparatos sindicais, o que resultou na conformação de uma confraria de sindicalistas chamada Acordo Internacional dos Trabalhadores e dos Povos (AcIT). Em relação a Líbia OT defende a “Solidariedade com a revolução! Nenhuma ingerência dos EUA!” (carta da corrente O Trabalho - especial – 3/03/2011). OT assegura que as “revoluções” “desestabilizaram completamente a situação no norte da África e Oriente Médio. E já trouxeram um abalo de conjunto na ordem imperialista mundial” (idem). Poucos dias depois, os lambertistas declararam “As seções europeias da IV Internacional – especialmente a francesa e a italiana, tal como a seção da IV Internacional nos EUA – estão na primeira linha do combate contra o seu próprio imperialismo na Líbia” (Declaração da IV Internacional, 15/03/2011, reproduzida pelo jornal OT, 688, 17/03/2011).
A declaração do AcIT, em nenhum momento autocritica-se de ter apoiado o bombardeio midiático que pavimentou o caminho do bombardeio militar da Líbia. Desmoralizado o lambertismo “esqueceu” na cruel “ressaca” da invasão imperialista a “revolução” que tanto euforicamente brindou na véspera. Uma politica consequente de combate ao seu próprio imperialismo pressupõe primeiramente reivindicar uma frente única militar com a nação vítima de seu imperialismo, em seguida, seria a convocação de ações concretas de boicote operário-portuário ao envio de armas e tropas de Sarkozy contra Trípoli, mas aí seria esperar demais do lambertismo que há mais de 30 anos liquidou-se capitulando profundamente a sua própria burguesia imperialista apoiando Mitterrand.
CORRENTE MARXISTA INTERNACIONAL
A Corrente Marxista Internacional, CMI, se orgulha de ser a corrente trotskista conselheira de Chaves e sua Quinta Internacional. Trata neste momento de aconselhar o Gadafi venezuelano a se distanciar do Gadafi líbio. Sua seção petista no Brasil, uma ruptura de OT, a “Esquerda Marxista do PT” reproduz um comunicado da tendência Luta de Classes do PSUV de Chavez: “Rechaça qualquer tentativa de desviar a atenção do povo revolucionário venezuelano em relação ao caráter revolucionário da insurreição líbia!” (Caracas, 24/02/2011).
De uma só vez, esta categoria de “esquerda marxista” de partidos da burguesia capitula ao nacionalismo burguês chavista na Venezuela e ao imperialismo na Líbia. A LC realizou uma polêmica contra o dirigente da CMI, Alan Woods, sobre a Líbia quando este fez uma Conferência sobre as “revoluções árabes” na Universidade de São Paulo. Esta polêmica, registrada em vídeo por nossa corrente, foi publicada no blog da LC e nO Bolchevique # 4), e deformadamente também registrada em alguns sites das seções da CMI em português e inglês.
LIGA INTERNACIONAL DOS TRABALHADORES
Moreno acusou a OCI (corrente de Lambert) de trair o proletariado e cair no engodo dos “campos burgueses progressivos” apoiando ao social-imperialista francês Mitterrand. A independência política dos revolucionários e da classe operária é inconciliável com o apoio politico a um suposto campo burguês progressivo. No entanto, é exatamente esta a política da LIT, corrente criada por Moreno, hoje em relação à Líbia. O Secretariado da Liga Internacional dos Trabalhadores, LIT-QI, cuja seção maior é o PSTU brasileiro defende: “Devemos nos mobilizar em todos os países contra os planos imperialistas de derrotar a revolução do povo líbio!’ Pelo triunfo da resistência! Viva a revolução líbia!” (01/03/2011). Qualquer observação mais atenta sobre o caráter da “resistência”, sua composição social, sua trajetória politica, qualquer declaração do Conselho Nacional provisório invocando a intervenção do imperialismo no conflito jogam por terra a mitologia revisionista sobre a tal “revolução líbia” criada pelo impressionismo pequeno-burguês frente às revoltas árabes e a influência da propaganda de guerra imperialista contra o regime de Trípoli.
Em sua “campanha de solidariedade” pela Líbia, que lembra a “Ajuda operária à Bósnia”, disfarce com que esta corrente prestou seu apoio à invasão dos Balcãs pelos capacetes azuis da ONU, agora reivindica que “para terminar com a ditadura é necessária “a mais ampla unidade de ação de todos os setores”. Há poucos dias, o PSTU proclamou uma “vitoriosa revolução democrática que derrubou o regime ditatorial no Egito” (Opinião Socialista, 418, 16/02/2011). Afirmam sobre o governo da Junta Militar mubarakista: “o regime atual é completamente distinto da ditadura de Mubarak.” (idem). A LIT vergonhosamente embeleza o regime continuísta que desata agora uma repressão maior do que em janeiro e fevereiro para estabilizar a situação politica e obrigar pela força as manifestações populares a refluírem:
“O bloqueio, que teve lugar sábado, logo depois da meia-noite, marcou uma das primeiras vezes que a polícia militar egípcia recorreu à violência, desde a erupção da crise neste país, promovendo debates em todo Cairo sobre as intenções dos militares. Aumentaram as tensões no Egito, com os manifestantes exigindo mais reformas democráticas e a demissão do primeiro-ministro e membros do gabinete. Os líderes da Junta Militar pediram para que os manifestantes se retirassem permitindo que o país volte ao normal. Desde que a “revolução” começou, os manifestantes gritavam muitas vezes: ‘O povo e o exército são um só e até mesmo colocavam seus filhos para tirar fotos com soldados e seus tanques. Mas agora que o Exército quer que eles se dispersem e está disposto a exercer a força, a relação se tornou mais sombria, disseram muitos manifestantes. ‘Eu penso que não há confiança no serviço militar. Depois do que aconteceu ontem à noite, você pode dizer que eles não são leais ao povo’, disse Saleh Gamal, 22 anos, que estava na multidão quando o cordão de isolamento organizado pelos policiais militares retirou-os da praça.(...) Logo depois da meia-noite, policiais militares apareceram de repente, com rostos cobertos por máscaras, e começaram a empurrar violentamente os manifestantes para fora da praça, dizendo que eles estavam impondo um toque de recolher. ‘De repente a polícia chegou usando máscaras como meias. Você não conseguia ver nada, exceto os olhos deles’, disse Dina Abouelsoud, 35, acrescentando que ela foi espancada, mas escapou à prisão. ‘Eles não falam nada. Eles começaram a pegar as pessoas e a empurrá-las para trás.... Eles estavam arrancando as câmeras das pessoas. Vi gente atirada no chão.’ Gamal disse que ficou atordoado após ter sido atingido com uma arma de choque, ficando temporariamente paralisado. Apenas uma semana antes, ele observou, os militares haviam se mudado para a praça e retirado pessoas das tendas na tentativa para fazê-los sair, mas naquele momento não usaram a força. ‘Eu não sei porque eles decidiram bater-nos agora’, disse ele.” (The Washington Post, 26/02/2011).
Cabe aos marxistas explicar à população e ajudá-la a compreender o que se passa, para que ela possa combater melhor a reação “com forma democrática”. Cabe aos mentirosos conciliadores embelezar o que está acontecendo com frases triunfalistas que obscureçam o entendimento e embotem a consciência e tem um efeito similar ao do gás hilariante disparado pelo aparato repressivo contra manifestantes.
A LIT saúda a vitória da “revolução democrática” burguesa, adorna o regime ditatorial, despótico, tirano e militar saído desta “revolução” e conclama “uma ampla unidade de ação com todos os setores”, ou seja, com a oposição burguesa em uma frente popular internacional pela extensão da tal revolução “contra o imperialismo”, obviamente. Ainda que fossem as revoltas árabes, “revoluções democráticas”, o que, como demonstra a consolidação de novos governos fantoches, não são, os métodos conciliacionistas da LIT se opõem pelo vértice aos métodos do bolchevismo:
“Nossa revolução é burguesa; por isto os operários devem sustentar a burguesia, dizem os políticos sem nenhum valor, procedentes do campo dos liquidadacionistas. Nossa revolução é burguesa, dizemos nós, marxistas, por isto, os operários devem abrir os olhos do povo, fazendo que ele veja os enganos dos políticos burgueses, ensinando-o a não crer nas palavras, a não confiar mais do que em suas próprias forças, em sua organização e em sua união, em seu armamento.”
(Lenin, Obras completas, volume XIV, 1ª parte).
Diante do que considera revolução democrática burguesa, a LIT convoca uma frente ampla com a burguesia e cega os trabalhadores com frases triunfalistas.
Com o incremento da campanha militar imperialista a maioria dos revisionistas adicionou algumas frases antiimperialistas a sua propaganda pró-rebeldes, alguns diminuíram o tamanho do Fora Gadafi na capa de seus periódicos, dando mais destaque ao Fora o imperialismo, com é o caso da LER-QI (FT), outros, como é o caso da corrente OT no Brasil fingem que nada escreveram em defesa da pujante “revolução líbia” há menos de um mês como quem na ressaca esquece o que fez na bebedeira. A LIT fez o contrário, aumenta a bebedeira e secundariza completamente a intervenção imperialista para defender mais fervorosamente a ação interna do imperialismo via golpistas. Não por acaso, o último artigo do representante da corrente internacional postado no Opinião Socialista é intitulado “Todo apoio ao povo líbio contra Gadafi, mas não a intervenção da OTAN”, assinado por Àngel Luis Parras. Esta artigo tem a faculdade de ser melhor que o anterior de Eduardo Almeida intitulado “Líbia: uma revolução, duas guerras” (site do PSTU, 28/3/2011”) que como o falecido apresentador de programa de auditório, o Chacrinha, “veio para confundir e não para explicar”. Eduardo por exemplo afirma que “Existe uma revolução na Líbia, dos trabalhadores e do povo rebelado contra a ditadura de Kadafi, que começou de forma muito parecida com a do Egito e a da Tunísia”. Como já o demonstramos por várias vezes (ver no blog da LC ou nO Bolchevique #3, “Combater com um programa operário revolucionário a ofensiva dos EUA/OTAN camuflada de “rebelião” militar-monarquista”), várias fontes reconhecem, menos Eduardo, que desde o início o apoio do imperialismo, o nível de armamento, o apoio da ala mais reacionária da classe dominante local, da cúpula do exercito e das policias, a ausência completa da classe operária, tudo foi bastante distinto na Líbia do que nos outros países. Mas Eduardo continua “Politicamente, a unidade de ação com Kadafi é impossível pelo ódio causado na ampla maioria das massas líbias por ele próprio. Não é por acaso que existe uma revolução contra ele. Em termos militares, é impossível pela continuidade da agressão das forças do ditador. Segue existindo uma guerra civil na Líbia. Por isso, a necessidade das duas guerras. Aqueles que defendem unicamente o repúdio à intervenção do imperialismo, calando sobre Kadafi, estão situados no campo político e militar desse genocida. Muitas vezes, com a melhor das intenções de lutar contra o imperialismo, ao tentar priorizar a unidade de ação com Kadafi por fora da realidade concreta da guerra civil, terminam no polo da contrarrevolução...” “Líbia: uma revolução, duas guerras” (site do PSTU, 28/3/2011”).
Para ajudar ao leitor a entender a posição do dirigente do PSTU resumimos a mesma em duas frase: “Assim que puderem, as armas norte-americanas e europeias vão se virar contra as milícias armadas da oposição.” E “É muito importante que se articule um polo anti-imperialista dentro de Bengasi e das regiões controladas pelos rebeldes.” Bom, o conselho aos “rebeldes” está dado, mas a realidade contra a qual o PSTU reluta é que os tais revolucionários estão orando por mais armas e instrutores militares contra Gadafi e pela invasão terrestre do próprio imperialismo que assegure a vitória sobre as forças de Trípoli. Na verdade, existiu desde o princípio uma contrarrevolução engatilhada na Líbia há 40 anos, destinada a liquidar por completo com as nacionalizações. A oportunidade chegou tanto pela decrepitude do nacionalismo burguês que baixou a guarda economicamente para o imperialismo nos últimos oito anos quanto pela explosão dos levantes populares pós-crise econômica nos países vizinhos. Esta contrarrevolução criou uma guerra civil no país e nesta guerra civil o lado burguês pró-imperialista invocou e vem recebendo uma “considerável” ajudinha da OTAN para completar o serviço. Isto fez com que a guerra civil se convertesse em intervenção militar imperialista tal qual vimos no Kosovo, no Afeganistão, no Iraque, no Haiti. A classe operária libia, composta de 2 milhões de estrangeiros e que vem tomando o lado anti-imperialista nesta batalha tem sido a principal vítima dos “Contrarrevolucionários” armados pela CIA que vem caçando cruelmente a todos os negros do país (Ver “O caráter contrarrevolucionário dos ‘rebeldes de Bengasi” da LC).
No artigo de Parras, um dirigente da LIT em Portugal, publicado na íntegra na página da seção portuguesa e de forma truncada pelo Opinião Socialista, a mensagem é clara: reconhecer que os rebeldes são agentes da CIA é “teoria conspiratória”. Para não sermos acusados pelo próprio de conspirar contra sua posição, deixemos o próprio Parras com a palavra: “Para aqueles que desde o início procuraram demarcar-se do levantamento na Líbia e diferenciá-lo do processo geral do Médio Oriente e do mundo árabe, a razão mais esgrimida é a de que esse levantamento é dirigido pela “Frente Nacional de Salvação da Líbia [NFSL na sigla inglesa (...) uma organização financiada pela CIA [que] incita o povo líbio a reiterar um juramento de lealdade ao rei Idris el-Senusi como líder histórico do povo líbio”. Esta forma de explicar os fenómenos políticos e/ou sociais está, sem dúvida, muito próxima da amplamente difundida teoria da conspiração.” (Opinião Socialista, #421, 6-19/04/2011).
Embora com o avanço da intervenção militar se proliferem as denúncias das irrefutáveis ligações entre a direção rebelde e a CIA, mas a LIT tenta desacreditar a realidade estampada acusando-a de “teoria da conspiração.” O “know how” na preparação deste tipo de “revolução” vem sendo desenvolvido pela CIA pelo menos há 60 anos, desde a “Operação Ajax” no Irã em 1953, um golpe que naquela época já contou com atentados terroristas, atribuídos ao governante alvo, no caso, o reformista Mossadeq, que nacionalizou a British Petroleum no país contra os interesses da Inglaterra e EUA. (Ver maiores detalhes da Operação Ajax no artigo “A CIA na Líbia” da LC).
Tudo isto foi publicamente divulgado pela abertura dos arquivos da CIA sobre a “Operação Ajax” na década de 90, pela secretária de Estado Madeleine Albright em 2000 e por Obama em seu discurso no Cairo em 2009. Tudo isto faz parte da arte da política na era imperialista, onde a teoria do Estado como “comitê gestor dos negócios da burguesia” ganha uma escala global e para defender os negócios da burguesia globalizada o imperialismo age como xerife do planeta. Tem sido assim em todos os golpes militares do Brasil à Indonésia, do Chile às “revoluções coloridas” dos últimos 15 anos, passando por Kosovo e o Tibet. Certamente se aparecesse um sujeito barbudo desconhecido por aí dizendo que o Estado moderno nada mais é do que o comitê gestor dos negócios da burguesia, certamente a LIT o acusaria de um inventor de teorias conspiratórias. Em termos políticos, a missão essencial da estrutura midiática convencional (cuja ‘informação objetiva’ não é mais do que a conspiração do poder para ocultar a realidade das massas) desqualifica e ridiculariza tudo aquilo que saia do modelo padronizado como verdade pela ordem imperialista. O velho barbudo foi muito sábio quando sobre a mídia de sua época quando ponderou
“Até o presente acreditou-se que a proliferação dos mitos cristãos, sob o Império Romano, só foram possíveis porque a imprensa ainda não tinha sido inventada. O que aconteceu foi o contrário: a imprensa diária e o telégrafo, que a todo instante espalham na Terra semelhantes invenções, fabricam mais mitos num só dia do que nunca se pôde fazer outrora durante um século, e o rebanho burguês acredita em tudo e propaga.”
(Karl Marx, citado por Pierre Frank na Introdução do livro “A Revolução Traída” de Leon Trotsky, Edições Antídoto, 02/1977).
O crédulo Eduardo Almeida comprova a existência da revolução na Líbia: “A realidade entra pela janela, pelas portas, pelo teto: basta ver as notícias das milícias de trabalhadores e jovens nas cidades rebeladas contra Kadafi” (Líbia: uma revolução, duas guerras). É verdade, com meios enormemente mais poderosos do que no século XIX, a burguesia distribui mitos por todos os meios de acesso pela “janela, pelas portas, pelo teto, pela internet (inventada no Pentágono, inclusive), que são proagadas pelo rebanho burguês do qual a LIT faz parte.
Mas quais as provas do caráter revolucionário do movimento “rebelde”, quais os fatos, quais os personagens seriam estes que dão tanta convicção à LIT? Tentando explicar a natureza dos protestos contra Gadafi, Parras enuncia: Os dados conhecidos indicam que se generalizaram os Conselhos municipais, e começou a coordenação entre eles em algumas zonas. Inicialmente, todos os dados evidenciam um papel relevante da chamada “Coligação revolucionária de 17 de Fevereiro”, cujo porta-voz é Abdelhafed Ghoga, jurista e defensor dos direitos humanos. Há crônicas muito vagas de difícil comprovação que afirmam existirem entre as milícias rebeldes muitos militantes “islamistas e comunistas”.
Parras verdadeiramente vai fundo na mistificação da realidade, melhor dizendo, na mentira descarada, chega a fantasiar de “conselhos populares” e “comunistas” aos contrarrevolucionários de Bengasi. Quando ele publicou este artigo, no dia 12 de abril, segundo o site da seção da LIT em Portugal, já faziam várias semanas que o CNT havia se constituído, que Ghoga era o seu porta-voz e como tal, o “defensor dos direitos humanos” embelezado pela LIT, reivindicava por todos os órgãos da mídia internacional, “um ataque aéreo estratégico” (Folha de São Paulo, 02/03/2011) contra seu próprio povo pelos carniceiros da OTAN! Agora Ghoga se reúne, em nome dos ‘rebeldes’ com o Senador republicano ianque, John MacCaine, presidenciável da direita imperialista contra Obama, em Bengasi para cobrar o incremento nas ações militares da OTAN e aprofundar a genocida “ação humanitária” na Líbia.
Ficará registrado para sempre na história que a LIT apoiou um golpe sanguinário fabricado pela CIA, sustentou as mentiras da grande mídia internacional para justificar a invasão da Líbia, apoiou politicamente aos bandos ultra-reacionários, rebeldes, xenófobos e racistas contra o proletariado negro africano, quadrilhas que invocaram o bombardeio da OTAN contra seu próprio povo, sujando suas mãos com o sangue líbio, apoiando a contrarrevolução.
UNIDADE INTERNACIONAL DOS TRABALHADORES
Uma ruptura da LIT dos anos 1990, a UIT, cuja seção no Brasil é a corrente interna do PSOL, CST, ingressa de cabeça na campanha para legitimar e armar a farsa imperialista.
No dia seguinte ao início dos bombardeios da OTAN sobre a Líbia, em 20 de março, a CST se apresenta na manifestação contra a presença de Obama no Brasil com uma grande bandeira da monarquia líbia, hierarquizando sobre o próprio “Fora Obama!” o “Abaixo Gadafi!” e “que os rebeldes líbios sejam reconhecidos como força beligerante para facilitar a entrega de armas, aviões, voluntários civis e militares e fazer uma zona de exclusão aérea para fortalecer assim a luta”. (Panfleto distribuído pela Unidos pra Lutar, colateral sindical da CST). A UIT reivindica ao mesmo tempo “armas para o povo rebelde para derrotar Gadafi!” (Declaração da UIT, 21/03) dos estados capitalistas e quando estas armas chegam em sua melhor forma possível, ou seja, despejadas em toneladas de bombas contra as forças pró-Gadafi, a UIT diz que “a intervenção imperialista procura liquidar a rebelião popular líbia” (idem), pura esquizofrenia pequeno-burguesa e pró-imperialista.
LIGA PELA 5A INTERNACIONAL
O agrupamento internacional capitaneado pela organização inglesa Workers Power, chamado Liga pela 5ª Internacional (L5I), não confundir com a 5ª Internacional chavista, clama pela incondicional vitória dos rebeldes e é mais consequente do que a UIT na defesa do armamento dos agentes da CIA em solo líbio e, portanto, mais perniciosa à causa do proletariado mundial em sua luta contra o imperialismo.
Para a L5I, “a rebelião contra a ditadura de Gadafi merece nosso apoio incondicional e nada muda com a decisão da ONU. Aqueles que se opõem aos Estados poderosos têm o direito a conseguir armas onde quer que possam e aproveitar qualquer debilidade de seus opressores. Isto vale inclusive quando as debilidades são produto da ação imperialista. Se, ao amparo da ‘zona de exclusão aérea’, os revolucionários e os insurgentes líbios podem retomar posições, solapar a moral e a lealdade das tropas de Gadafi e inclusive avançar sobre a capital, Trípoli, isso é um passo adiante para a Revolução Líbia e deve ser celebrado” (“Vitoria para a revolução Líbia”, 21/03/2011).
Esta declaração dispensa maiores comentários porque é a mais abjeta e criminosa das posições dos grupos revisionistas aqui reproduzidas e porque antes de tudo vem de uma corrente que defende integralmente a ação genocida de sua própria burguesia imperialista que participa da coalizão que bombardeia a Líbia.
PARTIDO OBRERO
O argentino Partido Obrero, PO, que rompeu há três décadas com o revisionismo lambertista aposta que “O imperialismo está obrigado a captar a oposição insurgente e as suas direções, para evitar que a revolução, como na Tunisia, se incline violentamente para a esquerda.” (A Otan ameaça a revolução libia e as revoluções árabes, PO 1166 3/3/2011). Isto é, como se a “oposição insurgente” já não estivesse pré-captada, não fosse agente dos interesses imperialistas e a cada dia, ao contrário de ir “violentamente à esquerda”, não se desmascarasse mais e mais, reivindicando a violência reacionária da intervenção da OTAN. Como informa o espanhol El País: “Os rebeldes imploram ajuda exterior: (...) ‘não sejam humanitários, atuem’”. (10/03/2011).
Depois da conformação da Frente de Esquerda para as eleições presidenciais argentinas juntamente com o PTS (FT) e a Izquierda Socialista (UIT) o PO proclama para agradar a todos os gostos do eleitorado um “Viva à revolução árabe; fora a Otan de Líbia” (PO 1172 14/4/2011). Ufanista e ao mesmo tempo “anti-imperialista” “pero no mucho”, segundo o PO “A Otan segue bombardeando a Líbia, um dia sim e o outro não, para não exagerar as expectativas dos rebeldes, mas, sobretudo como prova de solidariedade com o regime de plantão”. Para o PO o imperialismo teria de dar provas maiores para os ‘rebeldes’ de que não possui um conluio com o regime Gadafi bombardeando o país todos os dias.
Já antecipamos que diante de uma caçada imperialista contra Gadafi e sua família os revolucionários devem se opor a qualquer julgamento pelo Tribunal Internacional de Haia ou execução sumária, assim como deveriam ter se oposto a que o imperialismo julgasse a Milosevic e Sadam Hussein. Os piores assassinos da humanidade são os representantes, dirigentes e magistrados das potências capitalistas. Estes senhores, inimigos do proletariado mundial e dos povos oprimidos, não têm nenhuma autoridade para executar a ninguém no planeta, menos ainda um chefe de uma nação oprimida que se enfrenta de armas na mão contra os invasores. Se somarmos as vítimas dos EUA somente na Guerra da Coréia, na do Vietnã e na do Iraque já temos um número de seis milhões mortos, ou seja, toda a população da Líbia. Os colonialistas franceses na Indochina e na Argélia, os ingleses na Malásia e no Quênia foram tão sanguinários quanto os ianques. Os italianos aprisionaram 100 mil libaneses nos campos de concentração, quando governaram o país entre 1911 e 1945, pelo menos 80 mil morreram de fome em choque contra as forças invasoras italianas e de doenças. Hoje, enquanto despejam toneladas de bombas com urânio empobrecido sobre a líbia, todos estes colonizadores se queixam de que buscam salvar os líbios de Kadafi que quer “matar o seu próprio povo”. A tarefa de julgar Gadafi cabe aos trabalhadores organizados em Tribunais Populares, mas isto, só depois de saírem vitoriosos na guerra contra a invasão imperialista do país e seus agentes golpistas entrincheirados em Bengasi.
PARTIDO DA CAUSA OPERÁRIA
Na mesma linha de todos seus outros pares, o PCO, que rompeu vergonhosamente ‘à francesa’ com o PO, despois de ter sido fundado pelo partido argentino e passado quase três décadas ligado a ele, “alerta” para o fato de estar a “revolução sob ameaça de uma intervenção imperialista” (Causa operária, 628, 06/03/2011): “O imperialismo mundial prepara uma intervenção em meio à crise para tentar conter o avanço da revolução na Líbia, a pretexto de combater a ditadura de Gadafi”. (idem). Mesmo depois de várias semanas de bombardeio ininterrupto, quando já ficou evidente que não existiu nem existe nenhuma revolução, mas um massacre contrarrevolucionário do país comemorados pelos mercenários de Bengasi o PCO continua com a fantasiosa tese de que “a imposição da chamada zona de exclusão aérea, os bombardeios contra as instalações militares e de defesa antiaérea do regime, é parte a ofensiva militar “do imperialismo é dirigida contra a revolução e não contra Gadafi” (Causa Operária, 632, 03/04).
A “análise” do PCO não só foge da realidade, ocultando as centenas de cadáveres produzidos desde o início dos bombardeios, mas tratando-se de um delírio, é desprovida até de qualquer lógica interna: Se o imperialismo está unicamente destruindo as armas que Gadafi usa para combater “a revolução”, como pode a intervenção imperialista estar dirigida em favor de Gadafi e contra “a revolução”?
FRAÇÃO TROTSKISTA
A Fração Trotskista, FT, corrente internacional que agrupa a LER brasileira e o PTS argentino, este último surgido de uma ruptura com o MAS/LIT em 1988, caracteriza que há um “processo revolucionário aberto na Líbia” (Líbia, entre a rebelião e a decomposição do regime, Comissão Internacional do PTS, 27/02/2011). Segundo a Comissão da FT conta, “o processo insurrecional” teve inicio quando em Bengasi no dia 18/02, os manifestantes “rapidamente tomaram o controle da cidade com a ajuda da polícia local, que se uniu rapidamente aos protestos.” (idem). Vemos então que pela primeira vez na história a polícia praticamente deu inicio a um processo revolucionário. Os marxistas há muito sabem que a policia é a instituição mais contrarrevolucionária de todas as instituições da classe dominante, mais do que o Exército. Para os marxistas
“O operário que se torna policial a serviço do Estado capitalista é um policial burguês e não um operário”
(A revolução alemã e a burocracia stalinista, L. Trotsky, 27/01/1932).
A instituição policial está intimamente ligada aos interesses da burguesia e a ação da “polícia revolucionária” do PTS só corrobora com a ideia de que desde o começo, ao contrário da Tunísia ou Egito, o “processo revolucionário” líbio nasceu da articulação de uma fração monarquista das classes dominantes do país com o imperialismo. Todavia, o PTS vislumbra “que ante a intenção de Gadafi de resistir a sangue e fogo, os acontecimentos desemboquem numa insurreição operária e popular.” (idem).
Os revisionistas descobriram nas frações anti-gadafistas do aparato repressivo libio certas estranhas qualidades “revolucionárias”, do mesmo modo que o dirigente trotskista nacionalista Guillermo Lora, dirigente do POR boliviano, tornou-se famoso por suas excêntricas teses acerca da excepcionalidades antiimperialistas no aparato repressivo de seu país.
Com o avanço da sanguinária campanha militar da OTAN, estes senhores acreditam que para não serem identificados como agentes midiáticos da campanha imperialista basta diminuir o tamanho do “Fora Gadafi!” e aumentar o tamanho do “Abaixo a intervenção imperialista na Líbia!” da capa de seus jornais, fazer a alquimia de combinar o apoio político aos insurgentes do imperialismo com a crítica à ofensiva da OTAN e pronto. Continuam a ignorar solenemente a quantidade de provas de diversas fontes alternativas à mídia oficial que atestam que a Casa Branca traçou os planos de intervenção militar na Líbia muito antes do 17 de fevereiro em Bengasi, quando voltaram tremular no país a bandeira da monarquia fantoche criada em pleno século XX pelas tropas britânicas após a expulsão dos italianos na segunda Guerra Mundial.
A LER também compartilha da tese de que a OTAN chegou para acabar com a “revolução” e não para levá-la a vitória segundo os interesses imperialistas. Por isto a corrente confusamente afirma: “O real objetivo político do imperialismo é frear a intervenção das massas e dos trabalhadores, e impedir que esta tome uma dinâmica revolucionária ... a intervenção militar na Líbia foi imposta ao imperialismo, sendo um combate que pode trazer altos custos e baixos ganhos, sobretudo para os EUA... os representantes da OTAN foram obrigados a discutir mais abertamente o que fazer caso se dê a derrubada de Gadafi...[a ] ausência de estratégia arrasta os imperialismos a um conflito longo e custoso, e pior, sem objetivos claros... Os EUA que hesitaram até o último momento em aprovar a intervenção militar para não abrir uma terceira frente em um país árabe... esta é uma guerra que os EUA estão sendo obrigados a levar” (Nem ofensiva criminosa da OTAN, nem apoio à entreguista CNT. Pela queda revolucionária de Gadafi, site da LER 28/03/2011) Para a LER os EUA hesitam em realizar a ofensiva que na verdade vêm preparando a longos anos. Embora a desenvoltura da Casa Branca nas “revoluções árabes” e, particularmente, na Líbia, tenha levantado os índices de popularidade de Obama, a forma como o atual mandatário vem realizando a recolonização africana e a ofensiva contra a Síria e o Irã para o público interno e externo se dá sob extrema cautela, buscando não parecer que estão protagonizando mais uma ocupação militar para não fragilizar a coalizão, mantendo o aspecto multilateralista da intervenção, sob o acordo da ONU e OTAN, vantagem que não dispôs a ofensiva de Bush no Iraque.
O alinhamento da França com a Inglaterra e os EUA contra a Alemanha que se absteve no Conselho de Segurança da ONU é uma novidade deste conflito. Quando Bush não conseguiu arrastar as duas potências europeias para invadir o Iraque, o neocon Secretário de Defesa dos EUA, Donald Rumsfield, disparou “Alemanha e França são a velha Europa”. Chirac e Schroeder reafirmam que não queriam a guerra que só traria benefícios em favor dos EUA. Agora Obama dividiu a “Velha Europa” que resistia a recolonização de Bush e arrastou Sarkozy para se seu teste de ferro. No dia 19 de março, foi a França quem disparou primeiro, horas antes que o primeiro míssil Tomahaw lançado do Destroyer USS Barry atingisse a Líbia na noite da mesma data. Enquanto a LER acredita que “o ataque - que não foi coordenado com o resto da coalizão, de acordo com alguns relatos” (idem) seria um sinal que “os franceses estavam na liderança” (idem), a realidade é que Sarkozy não agiu a revelia dos EUA, mas simplesmente para atrair maior visibilidade na aventura militar que de fato é realizada pelos EUA como a própria LER tem que reconhecer “ainda que a França tenha assumido a liderança da coalizão, das 175 saídas de aviões feitas na segunda semana de março, 115 vieram do exército norte-americano” sem, no entanto, conseguir sacar a conclusão verdadeira. Além do envolvimento nos ataques ser maior dos EUA do que de qualquer outro país da coalizão, o general canadense Charles Bouchard, que hoje é formalmente responsável pela operação da Líbia, está subordinado ao almirante Samuel EUA Locklear em Nápoles, chefe de operações da OTAN no Mediterrâneo, e ao almirante James Savridis EUA na OTAN sede na Bélgica.
Se Paris executa esta função é para que a França alavanque sua economia investindo em forças destrutivas e eleve significativamente acima dos 6% atuais o controle que exerce sobre os petróleo líbio. Por outro lado, apesar do protagonismo militar continuar sendo ianque, é bom que Sarkozy pareça como mais belicoso para diminuir o custo político da ofensiva para Obama e os EUA que não querem despertar mais indignação da própria população estadunidense, obrigada a apertar o cinto, abrir mão de seus direitos trabalhistas e sindicais enquanto demonstrar sua gula sobre o conjunto da África. Não por acaso, temendo que baixas militares possam aumentar a insatisfação da população estadunidense com a nova guerra, Obama acaba de autorizar o uso dos aviões não tripulados “Predator”. Portando, as coisas não são bem como os ingênuos olhos da LER pensam ser.
A LER até delimita do escandaloso chamado da LIT a uma frente única anti-Gadafi com a CNT fantoche da CIA: “polemizamos desde o início contra as visões de setores da esquerda, como a LIT, que defenderam inicialmente que haveria de conformar uma aliança entre todos os setores opositores, inclusive os burgueses, numa ‘primeira etapa’ em que tarefa seria ‘derrubar Gadafi’, para só depois disso agitar a necessidade de construção de um partido revolucionário e de uma política de independência de classe dos trabalhadores. Esta posição foi o pano de fundo da caracterização que a LIT-PSTU fazia de que os conselhos seriam ‘embriões de duplo poder’, questão que hoje se mostra completamente equivocada, bem como a visão de que a oposição burguesa seria aliada das massas e dos trabalhadores, como demonstra a defesa criminosa que a CNT faz da intervenção da OTAN.” (idem). Mas, sendo refém da opinião pública pequeno burguesa, a delimitação da LER do frente populismo pró-imperialista da LIT não passa de retórica supostamente em busca de um terceiro campo ideal capaz de organizar “a queda revolucionária de Gadafi” (idem), uma fraseologia que de nada serve como programa transicional diante da guerra entre o imperialismo e o país oprimido. Resta a pergunta “que papel cumpre a a fraseologia confucionista da LER na Líbia? Basta retirar as palavras necessárias para que a LER maqueie sua proposta de uma aparente “independência de classe” lançada ao vento (“assembleia constituinte revolucionária, greve geral insurreicional, comitês dos trabalhadores e do povo independentes do imperialismo e qualquer fração burguesa”) para que apareça a verdadeira política da corrente: “pela queda de Gadafi”, o mesmo que neste momento defendem Obama, a OTAN, o CNT e a LIT.
FRAÇÃO LENINISTA TROTSKISTA INTERNACIONAL
Uma parte da direção do PTS rompeu em 1998 acusando o setor majoritário do partido de trair o trotskismo. Surge então a LOI-DO que proclama como sua corrente internacional a FLTI que caracteriza a contrarrevolução na URSS como “revolução”. Mais triunfalista que sua corrente de origem, a FLTI acredita que já existe uma insurreição operária na Líbia e vê mais miragens ainda. Com um ar delirante que lhe é característico proclama: “Pelo triunfo da insurreição operária e das massas exploradas da Líbia! Derrotemos a contrarrevolução de Gadafi acantonado em Tripoli! Viva as milícias operárias, os comitês populares e os comitês de soldados rasos que já controlam a maioria da Líbia! Viva a heroica greve geral insurrecional da classe operária e seus combates de barricadas em Trípoli! A revolução libia começou enquanto a politica do imperialismo de disparar e matar se prepara contra ela” (site da LOI-DO, 28/02/2011).
Se os outros revisionistas cultuam o mito imperialista da “revolução líbia”, a FLTI seria um “ramo” fanático, fundamentalista do pseudo-trotskismo “reagrupado” em Bengasi. Quando, depois de 40 anos, o imperialismo ianque vê uma possibilidade de retomar o completo controle do petróleo e de tudo mais na Líbia, impondo uma monarquia contrarrevolucionária, a FLTI que festejou a contrarrevolução na URSS saúda novamente uma “revolução” pró-imperialista.
MOVIMENTO REVOLUCIONÁRIO
Dos agrupamentos morenistas o gaúcho Movimento Revolucionário segue uma das linhas mais delirantes e embriagadas com a política pró-imperialista, hierarquiza assim as tarefas na Líbia: “Derrotar Kadafi para derrotar o imperialismo!” (site do MR, 22/03/2011).
Sob o efeito alucinógeno do bombardeio midiático e do que existe de pior no charlatanesco triunfalismo morenista o MR comemora: “Revolucionários controlam meios de produção na Líbia e, junto de ‘Greve Geral’ extraoficial podem estrangular regime de Kadafi... Neste momento, passa a ser decisivo mobilizar todas as forças dos trabalhadores contra o regime líbio e sustentar com tudo a revolução líbia, que é o mais avançado processo da luta de classes árabe e mundial.” (14/03/2011)
LORISMO (PARTIDO OPERÁRIO REVOLUCIONÁRIO)
O POR brasileiro, herdeiro nacional do legado político do boliviano G. Lora, apresentando-se como conselheiro dos golpistas monarquistas a quem trata genérica e despolitizadamente como “a revolução”. Os loristas tupiniquins nem sequer se dignam, como outros apoiadores da tal “revolução líbia”, a fazer uma delimitação política formal com a direção reacionária monarquista do “processo revolucionário”. Enquanto “a revolução” invoca sem meias palavras “tragam o Bush!” (ver matéria principal da LC sobre a Líbia) o POR recomenda, aparentemente desinformado acerca dos objetivos de seus aliados: “Que a revolução não aceite nenhuma ‘ajuda’ das potências e que não se apoie em nenhuma decisão do imperialismo. A revolução em marcha deve responder claramente: quem decide sobre a legitimidade ou não do governo Kadafi somos nós líbios. Não queremos suas armas! A intervenção do imperialismo não põe em risco o regime de Gadafi, mas sim à revolução. O destino de Gadafi pertence apenas ao povo líbio!” (Manifesto do POR, 01/03/2011).
O POR realiza sua platônica frente única anti-imperialista com os agentes do imperialismo na Líbia. Mas, para isto, presta sua ajuda a recolonização camuflando aos agentes do imperialismo burgueses com a denominação genérica e policlassista “povo líbio”. O mesmo POR que passou anos dizendo que sua principal diferença com o PCO era a palavra de ordem sem princípios “governo dos trabalhadores” usada pelos revisionistas em detrimento da defesa principista do “governo operário e camponês”. Quem te viu quem te vê!
PARTIDO OPERÁRIO MARXISTA
O Partido Operário Marxista é uma ruptura da TPOR. A LC não compartilha das acusações morais ou policiais lançadas contra um dirigente do POM ou contra a direção da Associação de Moradores da região Oeste de Diadema reproduzidas pela LBI. As diferenças da LC com o POM são de ordem política e programática, nós acreditamos que a luta contra a especulação imobiliária burguesa deva ser travada em um combate sem tréguas pela expropriação sem indenização dos especuladores individuais, empreiteiras e imobiliárias e não pela associação cooperativista para comprar terrenos urbanos.
Sobre a questão líbia, a diferença da maioria das correntes que se reivindica trotskista, o POM acertou ao denunciar as “organizações e partidos reformistas e pequeno-burgueses (que reivindicam o marxismo) mas estão metidos até a alma no oportunismo, no revisionismo, na democracia formal, nas frentes populares e na politica de conciliação de classes, veem nos acontecimentos, revoluções por todos os lugares, bem como, a tomada do poder pelas massas a exemplo do PSTU e da FLTI.” (O Proletário, 93, 03/2011). Mais adiante o POM denuncia a oposição líbia como “grupos financiados e armados pela CIA,.... Há o grupo de oposição chamado Frente Nacional para Salvação da Líbia (A FNSL), fundada em 1981, e conhecida por ser uma organização financidada pela CIA, com escritório em Washignton, EUA. A FNSL tem mantido no Egito, junto a fronteira, uma força militar chamada Exercito Nacional Líbio. Também muito citada a National Conference for the Libyan Opposition. Trata-se de uma coligação constituída pela FNSL, que também inclui a Libyan Constitutional Union, dirigida por Muhammad as-Senussi, um aspirante ao trono líbio. O site da LCU apela-se para que o povo líbio reitere seu juramento de lealdade ao rei Idris El-Senusi como seu líder histórico. A bandeira utilizada pela coligação é a do antigo reino da Líbia. É claro que estas forças financiadas pela CIA e antigos monárquicos são politica e socialmente diferentes da juventude e trabalhadores privados de direitos que marcharam aos milhões contra ditadores apoiados pelos EUA no Egito e na Tunisia e estão hoje a manifestar-se no Bahrein, Iemen e Omã. A ala militar da FNSL, utilizando armas contrabandeadas, rapidamente tomou postos policiais e militares da cidade portuária de Bengazi e áreas vizinhas que estão a norte dos mais ricos campos de petróleo da Líbia e onde se localiza a maior parte dos eleodutos, gasodutos, refinarias e terminal portuário de gás liquefeito.” (idem).
Apesar desta caracterização lúcida, o POM não tira absolutamente nenhuma conclusão marxista, não desprende nenhuma orientação política diante do conflito real no Oriente Médio e na África, limita-se a informar os acontecimentos ou no máximo a defesa abstrata da organização independente das massas, da estratégia da revolução e ditadura do proletariado. Isto nada tem a ver com a metodologia marxista de Trotsky de propor a partir da análise de cada situação específica e concreta da luta de classes um programa transicional concreto, fundamental para orientar a luta anti-imperialista rumo a conquista da ditadura revolucionária do proletariado.
ESPARTAQUISTAS (LCI, TBI, IG)
A família espartaquista, composta por correntes derivadas de uma ruptura principista do SWP (Socialist Workers Party) dos EUA na década de 1960, que deu origem a Liga Comunista Internacional (LCI) e que sofreu rupturas na década de 1980 (Tendencia Bolchevique Internacional) e na década de 1990 (Internationalist Group) cuja direção se encontra no coração do monstro imperialista foi uma das últimas correntes a tomar uma posição política diante da ofensiva imperialista na Líbia.
Como demonstração de sua profunda prostração política e despossuída de qualquer reflexo de classe internacionalista a LCI só veio a manifestar uma posição política sobre Líbia um mês depois de começada a ofensiva golpista que a própria LCI reconhece que nada tinha a ver com “revolução” e não passavam de “‘democratas’ pró-imperialistas, monarquistas e islâmicos” ligados a CIA. Mesmo assim a posição política da LCI diante dos golpistas é o abstencionismo confesso: “os marxistas têm atualmente nenhum dos lados no conflito.” (jornal da secção dos EUA da LCI, Workers Vanguard, 976, 18/03/2011).
Como ressaltam os companheiros de Socialist Fight, esta posição vergonhosamente favorável a opinião publica burguesa imperialista foi relativamente “salva pelo gongo”, da intervenção da OTAN, que ocorreu no dia seguinte, 19/03 e o que obrigou a LCI e seus parentes da TBI e IG a adotarem uma posição formalmente contrária os bombardeios imperialistas.
Todavia, diante de um ataque de sua própria burguesia limitam-se a defesa abstrata do país semi-colonial africano: “Em caso de ataque imperialista contra a Líbia neocolonial, o proletariado internacional deve estar para a defesa militar do país, enquanto não dando apoio político ao regime capitalista de Kadafi.” (idem).
A TBI e o IG costumam ter reações políticas ainda mais retardatárias que o a LCI porque não se movem por nenhum instinto de classe ou menos ainda pelo internacionalismo proletário, são correntes prostradas para a luta dos trabalhadores, sobretudo a TBI, cujo móvel é uma mesquinha disputa intestinal dentro da família espartaquista, a partir do que opinar sua corrente matriz, a LCI, se definem as filiais TBI e IG.
Sendo assim, passados um mês e meio após o inicio do conflito e 15 dias depois da declaração da LCI, a TBI resolveu “se posicionar” copiando a corrente mãe: “o conflito entre os apoiadores de Gadafi e os rebeldes sediados em Bengasi equivalia a uma guerra civil em pequena escala qualitativamente equivalente entre facções capitalistas. Os marxistas não leve nenhum lado nesses conflitos, embora naturalmente devam se opor à morte de civis pelos combatentes.” (Declaração da TBI, 01/04/2011). Aqui se revela que a vacilação da TBI em emitir uma posição corresponde também a uma certa inclinação da corrente em favor de justificar como uma posição justa a defesa humanitária das “vítimas” civis do campo “rebelde”, pondo água do moinho da propaganda de guerra imperialista em favor da intervenção da OTAN.
Diante do ingresso direto da OTAN no conflito, a TBI adota a seguinte posição: “A entrada das potências da OTAN, no entanto, transformou este conflito numa luta entre um país neocolonial e várias potências imperialistas (e seus aliados nativos). Os operários conscientes devem se opor a esta guerra colonial reacionária de todas as maneiras possíveis, incluindo greves contra a produção e transporte de material de guerra.”
Em seu antiimperialismo protocolar a TBI é seguida pelo IG, que apesar de realizar uma denúncia correta do quão reacionários são os ‘rebeldes’ líbios também acaba por reivindicar as mesmas posições da LCI: “Enquanto era uma guerra civil entre os rebeldes e o regime de Gadafi, os trotskistas não tomaria nenhum dos lados. Mas desde que a França/Inglaterra e EUA iniciaram suas operações militares sob a cobertura das ONU e agora formalmente executadas pela OTAN, os insurgentes da Líbia são efetivamente agentes da dominação imperialista, que devem ser derrotados.” (Defender a Líbia, derrotar os EUA / ONU / OTAN na Guerra!”, site do IG, 04/2011).
Sendo transportados para a Libia, a família espartaquista estaria em que trincheira? Atirando contra quem? Isto é difícil de responder porque a “família” simplesmente adota uma posição terceiro-campista, para uma guerra irreal, resumida neste slogan suspenso no ar do IG: “Derrotar a monarquia pró-imperialista e a oposição islâmica! Pela revolução dos trabalhadores contra o Estado policial de Gadafi!” (site do IG, 03/2011). Tratando-se de correntes que possuem suas matrizes nos EUA, o quartel general do genocida ataque a Líbia, esta oposição a tomar o lado militar do país oprimido contra o imperialismo genocida é uma grave capitulação a sua própria burguesia imperialista.
COLETIVO LENIN
O Coletivo Lenin, um agrupamento de ex-militantes do PSTU, simpatizantes das correntes espartaquistas (LCI, TBI, IG), manifestou a princípio a caracterização de que o CNT era uma “frente popular” que “namorava” com a intervenção imperialista. O CL também reivindicava a mesma posição pró-imperialista adotada pelo PSTU e CST: “Nem Gadafi, nem Obama” (Blog do CL, 17/03). Mas, recentemente a corrente corrigiu-se: “Todos os membros do CNT são ligados ao imperialismo, de uma forma ou de outra. Dessa forma temos que fazer autocrítica da posição anterior (no artigo O Conselho Nacional é a cova da revolução), que foi postada por um militante e continha duas caracterizações não aprovadas pelo CL: caracterizava o CNT como uma Frente Popular e dizia que havia um processo revolucionário na Líbia. A Liga Comunista (LC), organização de São Paulo, fez essa crítica a nós em seu jornal (O Bolchevique nº3). Além disso, fizeram mais críticas corretas: 1) o processo líbio não é uma revolução, pois houve a formação de um poder paralelo no leste da Líbia sob controle da oposição, mas isso não tem nada a ver com dualidade de poderes no sentido leninista da expressão, porque o novo governo também é burguês, sendo que não há qualquer organização operária ou organismos de poder de proletários urbanos. Ou seja, os operários e proletários do leste da Líbia estão sendo dirigidos e cooptados pelo CNT, composto pelos mais diversos membros da burguesia pró-imperialistas. O CNT não é um movimento de massas, e sim a cabeça de um governo burguês estabelecido em Bengasi e 2) Na declaração se dizia que o CNT “namorava” com o imperialismo. Isso é verdade em relação às palavras escritas na declaração. Mas a experiência mostrou que o CNT foi formado justamente para pedir uma intervenção militar no país. Por isso, o CNT foi armado desde o seu surgimento pelo imperialismo, como documentos diplomáticos vazados comprovaram, e logo militarizou a luta transformando-a num conflito entre exércitos regulares burgueses que disputam nesse momento o poder na Líbia para ver quem é mais capacho do imperialismo, sendo ambos responsáveis pela morte de milhares de operários e proletários líbios.” (Declaração da Direção do Coletivo Lênin sobre a Líbia: Tarefas políticas e militares na Líbia: frente única contra os ataques da OTAN!, 15/04).
Consideramos progressiva a auto-critica pública realizada pelo CL das duas caracterizações que fez a princípio. A partir de então, queremos realizar uma polêmica mais rigorosa com a atual posição dos mesmos sobre a Líbia. Embora afirmem que estariam por uma “frente única com todos os setores do movimento de massas que estejam campo contrário à operação da OTAN”, não apontam no tabuleiro do mundo real quem seriam estes “setores do movimento de massas”, deixando a dúvida de que poderiam estar supostamente dentro da frente encabeçada pela CNT, em apoio critico à oposição burguesa de Bengasi, ou com o Exército líbio e a população de Trípoli que, efetivamente, se enfrentam com armas na mão contra os agentes internos e externos do imperialismo.
Os trotskistas principistas não comungam com a “teoria dos campos burgueses progressistas”, todavia não podem ter uma posição ambígua diante da luta entre o imperialismo e a nação oprimida. Trotsky foi categórico mesmo diante de um hipotético conflito militar reivindicando uma frente única com o ditador Getúlio Vargas
“Eu estarei do lado do Brasil ‘fascista’ contra a Inglaterra ‘democrática’”
(Conversando com Trotsky, Mateo Fossa, 23/11/1938).
Por trás de sua posição aparentemente ambígua, o CL demonstra que não rompeu com o campo pró-imperialista, continuando a reivindicar que seria correta uma frente única com as reacionárias mobilizações da oposição burguesa na etapa anterior ao início dos bombardeios da OTAN, ou seja, entre o 17/02 e o 19/03 em nome de disputar a base “insurgente” com a direção burguesa. “Para nós, do Coletivo Lênin, os trabalhadores e comunistas líbios deveriam ter participado das mobilizações contra Gadafi em fevereiro, para disputá-las e tirá-las do controle do CNT... Durante todo esse processo inicial, deveriam levantar a bandeira de Fora Gadafi! Assembleia Constituinte Revolucionária, supervisionada por comitês de trabalhadores e camponeses”. (Declaração da Direção do CL sobre a Líbia: Tarefas políticas e militares na Líbia: frente única contra os ataques da OTAN!, 15/04). Mas não só isto, passada esta fase inicial e mesmo depois de iniciado os ataques imperialistas, por trás de uma enganosa fraseologia “antiimperialista” de “Frente única contra os ataques da OTAN” e de “derrotar as forças imperialistas da OTAN e as pró-imperialistas do CNT, para então derrotar as forças de Gadafi e consolidar a Assembleia Constituinte Revolucionária dos proletários Líbios” o CL põe, assim como os espartaquistas, um sinal de igual entre o Exército armado pelo imperialismo e o Exército do país oprimido, caracterizando que o ocorre hoje é “um conflito entre exércitos regulares burgueses que disputam nesse momento o poder na Líbia para ver quem é mais capacho do imperialismo”. (idem). É uma conclusão totalmente incongruente mas na fantasia criada pelo CL, o exercito de Gadafi está sendo bombardeado por todas as potências imperialistas reunidas porque quer ser mais capacho do imperialismo que a oposição burguesa e, no entendimento do CL, provavelmente, o próprio imperialismo anda sendo parcimonioso na Líbia, talvez porque não concorde com tamanho pró-imperialismo de Gadafi e se contente com menos. Como seria isto, estaríamos vendo o nascimento de um imperialismo anti-imperialista? A OTAN teria se convertido em um organismo de combate aos governos pró-imperialistas? A gadafobia de absolutizar de forma extremada as capitulações ao imperialismo do caudilho de Trípoli, como faz a grande família revisionista, para justificar seu incondicional alinhamento com a oposição libia, conduz o CL não apenas ao ridículo mas acaba por negar o próprio sentido da ofensiva imperialista, recolonizar o país para torna-lo completamente capacho, o que, apesar das capitulações da ultima década, não conseguiu com Gadafi. Para serem consequentes com esta afirmação, os companheiros fluminenses, que já demonstraram neste conflito acreditar na existência de uma força beligerante progressiva no mundo imperializado que não se coloque abertamente em confronto militar com o imperialismo, agora caem no raciocínio de que o imperialismo despeja toneladas de bombas sobre Trípoli para combater as disposições entreguistas de Gadafi.
Como parte desta concepção, mais adiante o CL comete outros desvios de princípio sobre a questão: “os marxistas não priorizam a defesa de pequenas conquistas de determinado governo, e sim a auto-organização dos trabalhadores, que é muito mais fácil numa democracia burguesa do que numa ditadura burguesa. Por isso, não são indiferentes ao regime ou acham que é tudo a mesma coisa, como os anarquistas e ultra-esquerdista.” Também não somos indiferentes à ditadura escancarada da burguesia ou a democracia burguesa, acreditamos que em certos e muito limitados aspectos (porque com um aparato repressivo muito maior e mais sofisticado, hoje prendem, torturam e matam mais que na ditadura), desfrutamos de condições mais favoráveis à organização dos trabalhadores do que sob o AI-5. Todavia, primeiro que os marxistas com métodos da revolução permanente defendem e reivindicam a extensão de todas as conquistas favoráveis ao proletariado, mesmo as que pareçam como meras concessões de governos hostis à classe trabalhadora (como são às nacionalizações, às leis trabalhistas, democráticas e civis). Do contrário, não defenderíamos as nacionalizações deformadas realizadas nos governos burgueses nem as conquistas oriundas da expropriação da propriedade privada nos Estados Operários no Leste Europeu etc. Reivindicamos a nacionalização sem indenização e sob o controle operário, não confundindo nossas reivindicações operárias revolucionárias com o estatismo burguês e o keinesianismo, nem emprestamos qualquer apoio político a qualquer governo burguês ou stalinista, mas realizamos a defesa destas conquistas pois como bem sabemos há pelo menos 71 anos:
“Ainda que as conquistas tenham sido desfiguradas pela pressão de forças hostis, aqueles que são incapazes de defender as posições tomadas nunca conquistarão outras novas”
(Trotsky, Em defesa do marxismo, 25/04/1940)
Em segundo lugar, vimos em sua defesa da “auto-organização dos trabalhadores”, o CL repetir o mesmo culto ao espontaneísmo e ao autonomismo que as correntes revisionistas do marxismo e o anarquismo. O CL rejeita o bombardeio militar mas segue a reboque do bombardeio midiático imperialista, acreditando como genuinamente espontânea a falaciosa “insurreição popular líbia” durante todo um mês em que o imperialismo previamente comoveu a opinião pública mundial em favor de sua ofensiva militar.
Muitas correntes justificam sua capitulação ao que denominamos de contrarrevolução “com forma democrática” em nome da complexidade dos conflitos atuais e acusam os marxistas de sectarismo em relação às lutas espontâneas das massas árabes, argumentos que a CMI e o PSTU esgrimiram contra a LC nos debates ocorridos nos últimos meses em São Paulo. Uma coisa é a progressiva ação espontânea das massas na Tunísia, Egito e Bahrein. Outra coisa é o reacionário e demagógico culto ao espontaneísmo realizado pelos revisionistas e outra coisa é o processo líbio que, diferentemente da Tunísia, Egito e Bahrein, nada teve de progressivo nem espontâneo. É aí onde os revisionistas tão “preocupados” com a complexidade dos fenômenos da luta de classes, desprezam as diferenças e particularidades de cada conjuntura para secamente identificar os acontecimentos da Líbia como um mero desdobramento da “revolução árabe” iniciada na Tunísia, prestando um imenso favor ao imperialismo ao legitimar a farsa de sua ação humanitária para salvar a “revolução Líbia” do “sangrento ditador Gadafi”.
Não descartamos a possibilidade de que houve setores populares e nativos na gênese da orquestração golpistas e inclusive agora apoiando a carniceira intervenção militar da OTAN contra seus próprios irmãos líbios e africanos. Não somos populistas, não nos guiamos pela oscilação da consciência das massas e este é o motivo principal pelo qual “priorizamos” a construção de um partido revolucionário mundial dos trabalhadores para organizar a luta das massas sobre a “auto-organização” das mesmas. Esta concepção, criada pelos pais do primeiro partido marxista da história a conquistar o poder pela via revolucionária, é a ideia mais importante, mais valiosa, deixada como herança pelos nossos mestres bolcheviques. Se o nosso objetivo é a auto-organização das massas, como defendem os anarquistas, para que criar um partido mundial centralizado da revolução?
Nós, da Liga Comunista, acreditamos que esta concepção é a chave da complexidade da luta de classes do nosso tempo, nestas décadas pós-URSS, em que a crise de direção revolucionária deu um salto de qualidade e o mundo é influenciado profundamente pela propaganda contrarrevolucionária imperialista que se serve de setores das massas atrasadas para maquiar sua ofensiva recolonizadora e promover “revoluções” pró-imperialistas nos Balcãs, Leste Europeu, ex-repúblicas da URSS, no Tibet, na Venezuela, Bolívia, Irã, Síria e agora na Líbia. Conceber que em todos estes processos só existiram burgueses é desconhecer a teoria marxista enunciada por Trotsky que supõe a existência de “massas reacionárias” é “atribuir as massas rasgos de santidade” independente de sua consciência atrasada.
A concepção de partido bolchevique dos trotskistas se funda na ideia que:
“as massas não são, em absoluto, iguais a si mesmas, existem massas revolucionárias, massas passivas e massas reacionárias. Em diferentes períodos as mesmas massas são inspiradas por sentimentos e objetivos diferentes. É precisamente deste fato que se depreende a necessidade de uma organização centralizada de vanguarda. Somente o partido, usando da autoridade conquistada, pode superar as oscilações da própria massa. Atribuir à massas rasgos de santidade e reduzir seu programa a uma ‘democracia’ formal, equivale a dissolver-se na classe tal como ela é, passar da vanguarda a retaguarda e renunciar, desse modo, as tarefas revolucionárias.”
(As massas não tem nada a ver com isto, Apêndice II de A moral deles e a nossa, 09/06/1939).
A Liga Comunista chama os companheiros a serem consequentes em sua autocrítica, a se debruçarem cientificamente sobre o caráter artificial e pró-imperialista da chamada “insurreição líbia” desde sua gênese, a romperem com a opinião pública burguesa e com a capitulação escandalosa à mesma tanto do espartaquismo quanto do morenismo na questão Líbia.
DO CONCILIACIONISMO PRÓ-IMPERIALISTA AO CONCILIACIONISMO PRÓ-NACIONALISTA
WORKERS REVOLUTIONARY PARTY
O WRP inglês, ou o que restou do outrora poderoso WRP implodido em 1985, quando, financiado por Gadafi, chegou a possuir um jornal diário, o News Line. Na época, a enorme corrente de G. Healy, que tinha entre suas fileiras a principal atriz britânica, Vanessa Redgreave, era a defensora internacional do nacionalismo árabe e em particular do Gadafismo. O WRP com muito menos “disposição” que no passado continua a defender sem o menor traço de independência de classe ao caudilho burguês: “o líder líbio, o coronel Gadafi, permanece em Trípoli, lutando pela independência da Líbia... A classe dominante britânica vinha tratando a Líbia como um primo perdido. Na reunião entre Blair e Gadafi em 2004 em uma tenda no deserto, Blair sussurrou palavras doces ao ouvido de Gadafi, a fim de ganhar grandes contratos de petróleo. Agora com um levante de direita reacionária em curso, a hiena britânica está mostrando os seus dentes, tratando Gadafi em seus meios de comunicação como um “cachorro louco”, que deve ser derrubado, estimulada pela esperança de que algum estado islâmico de Bengasi se estabeleça por cima do cadáver de Gadafi, para lhe entregar o petróleo da Líbia. Foi um grande erro de Gadafi não colocar a si mesmo e a Líbia na linha da frente daqueles que apoiam a revolução que começou na Tunísia e se espalhou para o Egito. Instamos as massas da Líbia e da juventude para tomar sua posição ao lado do coronel Gadafi para defender as conquistas da revolução líbia, e desenvolvê-las.” (The News Line: Editorial, 23/02/2011).
Já faz pelo menos quatro anos que as hienas vêm recebendo o petróleo do próprio Gadafi, não da forma como queriam, mas recebendo. Em 2007, British Petroleum (BP) – que juntamente com ExxonMobil-ESSO, a ChevronTexaco e a Shell compõe o poderoso cartel do petróleo mundial conhecido como “As 4 Irmãs” – assinou um contrato com a Corporação de Investimento da Líbia, em 2007, para explorar duas áreas, uma envolvendo perfuração em águas profundas na Bacia de Sirte, no Mar Mediterrâneo, e outra no deserto no oeste do país. E não foi por erro, mas por instinto de classe burguês que o caudilho não se colocou na linha de frente das revoltas populares da Tunísia e Egito.
LIGA BOLCHEVIQUE INTERNACIONALISTA
A LBI, apesar de tomar o lado correto da luta, em defesa incondicional da nação oprimida Líbia contra a ofensiva imperialista e fazer um chamado à frente única militar com as forças do regime Gadafi, limita-se a reivindicar um programa anti-imperialista não operário e não revolucionário.
Subestimando um papel independente que a classe trabalhadora teria que cumprir neste processo, acaba superestimando supostos resquícios nacionalistas do gadafismo, chegando a afirmar que do país não sai uma gota de petróleo para os EUA. “Ao contrário da Venezuela, à Líbia não exporta uma gota sequer de petróleo para os EUA, uma resolução constitucional remanescente da nacionalização das reservas de petróleo.” (“Os métodos torpes com que Gadafi defende a Líbia da agressão imperialista”, site da LBI, 24/02/2011). Isto não é verdade e a LBI minimiza a capitulação pró-imperialista de Gadafi. O problema não é que Gadafi “não exporte uma gota de petróleo para os EUA” por uma suposta resolução constitucional, o problema é que esta exportação é pouca para os apetites do imperialismo ianque.
Um mês depois a LBI volta a repetir a asneira em um artigo cujo o título pergunta se “é possível derrotar as forças do imperialismo alimentando falsas ilusões no regime de kadaffi?”: “A Casa Branca não admite que a Líbia não exporte uma gota sequer de petróleo para os EUA, uma resolução constitucional remanescente da nacionalização das reservas de petróleo, ainda que o regime nacionalista tenha aberto concessões a empresas estrangeiras europeias.” (site da LBI, 28/03/2011).
Para sermos generosos, esta afirmativa da LBI está pelos menos há oito anos defasada em relação à realidade. As capitulações subsequentes de Gadafi na era pós-URSS e após a “guerra ao terror” desatada pela gestão Bush solaparam a resistência econômica “anti-imperialista” do regime gadafista. Em 14 de agosto de 2003, a Líbia concordou em indenizar as famílias dos bombardeamentos de 1988, com U$ 2,7 bilhões, a serem liberados em três parcelas: a primeira na sequência de um levantamento de sanções da ONU, a segunda após o levantamento das sanções dos EUA, e a terceira depois que a Líbia fosse removida pelos EUA da lista de Estados patrocinadores do terrorismo. Em 22 de dezembro de 2003, a Líbia anunciou o abandono de seu programa nuclear. Os EUA elogiam a medida, mas afirmam que vão manter as sanções econômicas, até que ver indícios de cumprimento das mesmas. Em 04 de junho de 2004, o Secretário adjunto de Comércio dos EUA, William H. Lash, anunciou que a Líbia enviou o seu primeiro carregamento de petróleo bruto para os EUA desde retomada dos laços entre os dois países. Em 20 de setembro de 2004, Bush assinou a ordem executiva 12.543, suspendendo a maioria das sanções dos EUA contra a Libia, para o reestabelecimento de vários contratos e o fim das limitações de importação entre as petrolíferas ianques com a Líbia.
Desde 2005 a Líbia promove leilões de suas reservas petrolíferas (como o governo Lula fez várias vezes sobre as reservas descobertas pela Petrobrás) marcando o retorno das empresas norte-americanas ao país. Costumam vencer a disputa nos leilões as empresas quem oferecerem o maior lance em favor da estatal petroleira National Oil Corporation (NOC) nos lucros a serem obtidos pela exploração do petróleo líbio.
A partir de então a Amerada Hess Corporation em conjunto com seus parceiros do grupo Oasis ConocoPhillips e a Marathon Oil retornaram a Líbia. Agora estas empresas têm o interesse de EXPANDIR seus negócios. A Conocophillips é a terceira maior empresa petrolífera dos EUA, detém a participação de 16,3% em concessões da Líbia Waha Oil Company (WOC).
Em maio de 2006, os EUA oficialmente removeram a Líbia de sua lista de estados que patrocinam o terrorismo.
A WOC é a segunda maior companhia de petróleo e gás da Líbia, foi criada em 1956 e opera como concessionária da estatal NOC, fundada por Gadafi em 1970, em sistema de joint venture com as empresas americanas ConocoPhillips, Marathon e Amerada Hess. Essas empresas voltaram a trabalhar como parceiros desde janeiro 2006 depois de ter suspendido sua sociedade em 1986, quando o presidente ianque Ronald Reagan emitiu uma ordem executiva para que todas as empresas petrolíferas dos EUA se retirassem da Líbia.
Para a WOC trabalham mais de 3.200 petroleiros, em sua maioria (90%) cidadãos líbios. A concessionária também está associada a alemã Wintershall e a francesa Total.
A Marathon Oil Corp possui 16% da WOC na Bacia de Sirte. O seu programa de exploração de 2009 incluiu a perfuração de quatro poços, juntamente com cinco poços em desenvolvimento. A Hess Corp produziu 22.000 bpd na Líbia em 2009. Junto com seus parceiros do grupo Oasis, Hess possui uma participação de 8 % da WOC. Hess também é dona de toda a Área offshore 54 (plataforma petrolífera no Mar Mediterrâneo), onde perfurou um poço exploratório em 2008. A Occidental Petroleum Corp é a 4ª maior companhia petrolífera dos EUA, ganhou US$ 243 milhões em vendas líquidas da Líbia em 2009, ou menos de 2 % de seu total. A produção aumentou em 2010, e Oxy tem planos para duplicar a sua produção a partir da Líbia em 2014.
Como mostramos no gráfico impresso nO Bolchevique #3, menos de 10% de todo o petróleo da Líbia é exportado para os EUA via WOC e a imposição de uma nova repartição da rapina para suas companhias é um dos principais motivos da guerra atual promovida por Washington contra Trípoli. “O comércio de petróleo da Líbia está praticamente paralisado, enquanto os bancos se recusam a realizar pagamentos em dólar por causa das sanções americanas contra o regime do ditador Muammar Gadafi, disseram fontes à agência Reuters. As restrições, que se seguem à decisão das grandes companhias de petróleo dos EUA de suspender seus negócios com a Líbia, afetam o abastecimento de refinarias em países como França e Itália.” (Estado de São Paulo, 09/03/2011). Obviamente, esta suspensão temporária dos negócios, faz parte do plano dos EUA para estrangular financeiramente o regime de Trípoli e, após a derrota de Gadafi, controlar uma parcela maior do petróleo do país em relação ao que já controla hoje.
Os apetites dos EUA pelo petróleo líbio redobraram depois do mega-desastre com a exploração do petróleo na plataforma continental dos EUA, o maior da história, por um lado, e pela descoberta de três novas jazidas de petróleo offshore na bacia de Sirte em novembro passado, por outro. “A empresa petrolífera líbia “Waha Oil Company” descobriu três novas jazidas de petróleo offshore na bacia de Sirtes, no centro da Líbia, anunciou a Companhia Nacional Líbia de Petróleo (NOC) no seu site... A Líbia possui reservas de petróleo estimadas em 60 biliões de barris e de gás avaliadas em mil e 500 biliões de metros cúbicos. Ela mantém uma produção petrolífera entre 1,3 e 1,7 milhão de barris/dia com a ambição de a elevar para três milhões de barris/dia e uma produção de dois milhões e 600 pés cúbicos de gás por dia.” (África 21, 09/11/2010).
Além disto, o tsunami e o acidente nuclear japonês acentuam ainda mais a valorização mundial do petróleo e multiplicam a disposição do imperialismo para a recolonização da mina de ouro negro que é a Líbia.
Um programa revolucionário para a Líbia pressupõe a luta pelo controle por parte do proletariado petroleiro armado em aliança militar com o Exército líbio contra a oposição entreguista de todas as riquezas do país, das instalações da NOC e suas concessionárias, a luta pelo controle do comércio exterior e planificação econômica com a expropriação sem indenização de todo o capital imperialista e o controle efetivo de todas as gotas do petróleo e todos os centímetros cúbicos de gás pelos trabalhadores, ou seja, pressupõe realizar a luta democrática e anti-imperialista com métodos da revolução permanente e de ditadura revolucionária do proletariado, estendendo a luta anticapitalista até onde nenhum governo burguês é capaz de fazer.
A LBI mente em favor de Gadafi. Baseados em premissas falsas não podemos estabelecer uma luta anti-imperialista consequente, algo que jamais devemos esperar dos governos burgueses. Diante do golpismo pró-imperialista de Kornilov os verdadeiros bolcheviques souberam se posicionar com inteira independência de classe diante do governo burguês de Kerensky:
“Mesmo agora, não devemos sustentar o governo de Kerensky. Seria faltar aos princípios. Mas, então, dir-se-á, não se deve combater Kornilov? Certamente sim. Mas, entre combater Kornilov e sustentar Kerensky há uma diferença, um limite, que certos bolcheviques transpõem, caindo no “conciliacionismo”, deixando-se arrastar pela torrente dos acontecimentos”
(História da Revolução Russa, Leon Trotsky)
OS REBELDES CONTRARREVOLUCIONÁRIOS SÃO O ARÍETES DA RECOLONIZAÇÃO IMPERIALISTA
Neste momento, o plano do imperialismo é bombardear incessantemente as áreas controladas pelo governo até aniquilar as defesas de Gadafi, massacrando barbaramente a população civil das cidades não controladas pela oposição golpista, até que o regime vire uma galinha morta ou renda-se antes disto para que os agentes nativos do imperialismo tomem a capital.
Desde o dia 02 de março os abre-alas do golpe de Estado imperialista na Líbia invocam a entrada em cena da máquina assassina do imperialismo para completar o serviço que começaram. Em parte de seu plano os rebeldes foram contemplados no dia 19 de março e desde então jorra do céu uranio emprecido sob a cabeça da população oprimida líbia. Mas, se a “zona de exclusão aérea” tal como a imposta na Iugoslávia em 1999 não for suficiente, o imperialismo terá que lançar mão de uma invasão terrestre como no Iraque e Afeganistão.
Embora internamente, para o povo líbio, seja politicamente mais inteligente negar que irão realizar um golpe de estado montados em uma intervenção militar imperialista contra um governo historicamente identificado pelas massas por sua retórica pan-arabista, anti-imperialista e antiisraelense, em uma prova de que estão pouco se lixando com a própria população, a burguesia de Bengasi reivindica abertamente o massacre da população de seu país e se congratula com os genocidas da laia de Hillary Clinton, Sarkozy e John MaCain a intervenção militar imperialista para legitimar em definitiva a mesma perante os olhos da comunidade internacional.
Nenhuma reação “humanitária” parecida se vê da “comunidade internacional” nem tampouco da revisionista esquerda trotskista em relação a Costa do Marfim onde a França realizou uma intervenção militar direta e um golpe de Estado apoiado em eleições fraudulentas, nem no Barhein, sede da 5ª Frota de patrulha dos EUA do Golfo Pérsico, onde se extrai uma boa parte dos recursos energéticos consumidos no planeta, onde tem havido uma brutal repressão do trilhionário governo títere sunita contra a população xiita desarmada que corresponde a 75% dos cidadãos do país e que, se fossem bem sucedidos em sua luta democrática e anti-imperialista poderiam contagiar as duas minas de petróleo fundamentais do imperialismo, a dos Emirados Árabes e da Arábia Saudita, onde a população tem realizado mobilizações de forma crescente.
A “reunificação” revisionista mundial em torno do mito que a ofensiva imperialista tem como objetivo liquidar a mítica “revolução líbia” encobre uma vergonhosa capitulação do conjunto destes partidos à camuflagem do imperialismo.
Embora não possuam nenhum peso de massas e menos ainda na África e no Oriente Médio, as correntes revisionistas do marxismo revolucionário contribuíram e contribuem a sua maneira para que o imperialismo preparasse o terreno de legitimação e justificação de sua ofensiva pelo “Fora Gadafi!”. O que significa liquidar o regime que apesar de toda sua guinada neoliberal nos últimos anos, ainda conserva a condição de ser, de longe o que detém o mais alto Índice de Desenvolvimento Humano no ranking da ONU na África e onde as crianças até antes do início da guerra civil tinham mais chances de completar a faculdade do que nos EUA.
Desta forma os revisionistas continuam a liquidação da IV Internacional como instrumento de emancipação do proletariado, iniciada por Pablo.
Nós da LC dizemos claramente aos honestos militantes de base destas correntes: vossa direção lhes engana ou se auto-engana. Seja como for, não serve para ajudar o proletariado a avançar em sua consciência política. Está do outro lado, faz parte do rebanho burguês e propaga as mentiras da grande mídia do capital, se deixa levar pela máscara de “revolta popular” (um disfarce nem tanto convincente assim, pois para qualquer observador um pouco atento fica evidente que se trata de monarquistas armados invocando uma intervenção militar imperialista) de nossos piores inimigos.