A contrarrevolução na URSS, não foi combatida, sequer admitida e menos ainda estudada pelos que se reivindicam revolucionários hoje, mais além de raras excessões
Humberto Rodrigues
A destruição final na URSS, após 74 anos de existência, em agosto de 1991, foi a maior derrota da classe trabalhadora e do comunistas nos últimos 50 anos. É preciso reconhecer essa verdade e dizê-la por mais amarga que ela seja. Esse é um ponto de partida para compreender a realidade atual para os que querem modificá-la, para todo aquele que tenha como estratégia a luta pelo comunismo. As lições dessa derrota são tão ou mais importantes para o nosso tempo quanto as lições de outubro de 1917 e as das causas da degeneração burocrática nas décadas seguintes.Assim como a revolução, a contrarrevolução precisa ser estudada. Uma compreensão clara da liquidação da URSS serve as lutas do presente e do futuro. Reivindicamos a URSS e o conjunto das experiências dos Estados operários criados no século XX, criticando as limitações e desvios cometidos.
A tragédia não se circunscreveu ao campo econômico nem aos povos da antiga URSS, atingiu as últimas gerações de lutadores sociais e também foi uma tragédia política e teórico-ideológica para o proletariado mundial.
A destruição final na URSS, após 74 anos de existência, em agosto de 1991, foi a maior derrota da classe trabalhadora e do comunistas nos últimos 50 anos. É preciso reconhecer essa verdade e dizê-la por mais amarga que ela seja. Esse é um ponto de partida para compreender a realidade atual para os que querem modificá-la, para todo aquele que tenha como estratégia a luta pelo comunismo. As lições dessa derrota são tão ou mais importantes para o nosso tempo quanto as lições de outubro de 1917 e as das causas da degeneração burocrática nas décadas seguintes.Assim como a revolução, a contrarrevolução precisa ser estudada. Uma compreensão clara da liquidação da URSS serve as lutas do presente e do futuro. Reivindicamos a URSS e o conjunto das experiências dos Estados operários criados no século XX, criticando as limitações e desvios cometidos.
A crise que levou a liquidação final do agosto de 1991 foi consequência do esgotamento da economia da URSS, comprometida pelo:
1. Isolamento da URSS (atenuado pela existência e relação entre a URSS e parte dos outros Estados operários), agravado pela política de "socialismo em um só país", por um lado, e pela guerra econômica permanente de boicotes, sanções e bloqueios do imperialismo, por outro;
2. Pela corrida armamentista, como economia de guerra. Se o investimento em forças destrutivas é benéfico a economia política imperialista, a mesma política econômica exaure as forças produtivas de um Estado operário. Nesse contexto, o envolvimento da URSS na Guerra do Afeganistão, com o esforço de guerra concentrado, foi o golpe de misericórdia, caindo na armadilha do imperialismo (explicado em "A aventura do imperialismo no Afeganistão foi um golpe contra a revolução");
3. Pela conciliação, endividamento burocráticos, medidas liberais, desmantelamento da planificação e do controle do comércio exterior ao longo dos 74 anos que desenbocaram na Perestroika e na Glasnost;
4. Por fim, a liquidação completa dos organismos de democracia operária pela burocratização de Stalin, continuada por Kruschev, Brejnev, Andropov, Gorbachov, fez com que na batalha decisiva em que a burocracia se dividiu entre restauracionistas e conservadores não existissem organismos de massas independentes das duas alas para lutar por um destino que atendesse aos interesses imediatos e históricos da maioria da população da URSS.
O colapso do golpe burocrático de Yanayev (explicado por nós em "A contrarrevolução do bloco soviético ainda traumatiza a humanidade") e o contragolpe restauracionista de Ieltsin impôs a derrota histórica e deu início a pilhagem do Estado operário e outras 14 repúblicas pelo capital financeiro imperialista. Segundo o escritor geopolítico William Engdahl, em sua obra “Manifest Destiny – Demcracy as Congnitive Dissonance” (2018):
“Boris Yeltsin e seus "reformadores do mercado livre" eram parte de uma das operações secretas de saque mais criminosas na história da CIA. Foi o estupro da Rússia por um círculo corrompido de generais soviéticos traiçoeiros, juntos com seus protegidos jovens seleção KGB, que foram transformados através da operação em oligarcas bilionários. Esse estupro econômico só foi possível através de bancos ocidentais e da chamada "máquinas da democracia" de Washington sob três presidentes sucessivos - Ronald Reagan, George H.W. Bush e Bill Clinton. (1)
A tragédia não se circunscreveu ao campo econômico nem aos povos da antiga URSS, atingiu as últimas gerações de lutadores sociais e também foi uma tragédia política e teórico-ideológica para o proletariado mundial.
No campo teórico, a contrarrevolução potenciou a mais eficaz máquina da propaganda anticomunista desde o macarthismo nos EUA, na década de 50. Neoliberalismo, pós-modernismo, identitarismo são variantes dessa ofensiva ideológica anticomunista, catapultada por esses processos contrarrevolucionários, ainda que sejam escolas de pensamento conservador ou reacionário que tenham sido criadas antes dos processos de 98-91.
Dentro do movimento operário e das direções majoritárias do movimento de massas e de esquerda, essa ofensiva contribuiu para um salto de qualidade no aburguesamento da social democracia e do conjunto das direções conciliadoras. Essa derrota também se expressa no aborto, ou apodrecimento precoce dos processos de acumulação de consciência de classe desde a vitória no Vietnã, em 1975.
O trotskismo, crítico das direções hegemônicas e tradicionais e que poderia ter assumido um papel protagonista nas lutas com o retrocesso da social democracia e do stalinismo, fez pior que as duas primeiras tendências. No trotskismo reinou a confusão, o charlatanismo de vender derrota como vitória, a indiferença em relação as valiosas conquistas do passado da luta de classes. A quase totalidade do que se autoproclamou trotskismo festejou com o imperialismo o fim da URSS e de quase todos os Estados operários.
No plano da política-econômica, a tendência majoritária na maioria das nações e momentos foi a perda de direitos políticos, econômicos e sociais dos trabalhadores, o que se convencionou genericamente chamar de neoliberalismo ou globalização.
Dentro do movimento operário e das direções majoritárias do movimento de massas e de esquerda, essa ofensiva contribuiu para um salto de qualidade no aburguesamento da social democracia e do conjunto das direções conciliadoras. Essa derrota também se expressa no aborto, ou apodrecimento precoce dos processos de acumulação de consciência de classe desde a vitória no Vietnã, em 1975.
Nas últimas quase cinco décadas, nenhum dos processos revolucionários desembocaram na expropriação da burguesia como classe em qualquer país, nem na conquista do poder pela classe trabalhadora, basta verificar nos processos revolucionários do Irã, Nicarágua, Burkina Faso,... Nem ocorreu sequer de modo deformado como ocorreram os processos revolucionários pós-1917, sobretudo pós segunda guerra. Esse período de retrocessos relativamente curto em termos históricos, faz com que vários lutadores sociais contemporâneos acreditem que a revolução social seja um fenômeno ultrapassado. Para muitos da nova geração, o século XX não teria inaugurado a era das revoluções proletárias. Acreditam apenas que as revoluções proletárias foram um fenômeno exclusivo do século passado.
O trotskismo, crítico das direções hegemônicas e tradicionais e que poderia ter assumido um papel protagonista nas lutas com o retrocesso da social democracia e do stalinismo, fez pior que as duas primeiras tendências. No trotskismo reinou a confusão, o charlatanismo de vender derrota como vitória, a indiferença em relação as valiosas conquistas do passado da luta de classes. A quase totalidade do que se autoproclamou trotskismo festejou com o imperialismo o fim da URSS e de quase todos os Estados operários.
No plano da política-econômica, a tendência majoritária na maioria das nações e momentos foi a perda de direitos políticos, econômicos e sociais dos trabalhadores, o que se convencionou genericamente chamar de neoliberalismo ou globalização.
Na defensiva, desorganizado, sem partidos que pelo menos o ajudassem a diferir aliados de inimigos, vitórias de derrotas, o proletariado acumulou perdas em todos os terrrenos: organizativos, na consciência, nas condições de vida. O que fez com que também na retaguarda, a consciência de certas frações do proletariado retrocedesse do conservadorismo para novas versões do reacionarismo (neofascismo, trumpismo, bolsonarismo).
As forças militantes comunistas, revolucionárias e internacionalistas representam apenas uma pequena minoria do movimento dos trabalhadores hoje. Mas nunca foram majoritárias, nem nos períodos revolucionários. Com determinação, compreensão dialética e materialista da história, vontade de lutar pela clareza programática, é possível reagrupar os quadros revolucionários preparados para a luta na atual conjuntura e para novas revoluções sociais.
Notas
1. William Engdahl, em sua obra “Manifest Destiny – Democracy as Congnitive Dissonance”, p. 29, 2018.