Reproduzimos abaixo a degravação da entrevista concedida pelo camarada Gerry Downing ao
programa “Daily Politics!” da TV BBC britânica, acerca da ofensiva política
desferida por David Cameron, primeiro ministro conservador contra o camarada.
Downing é dirigente do Socialist Fight, seção irmã da FCT no Comitê de Ligação
pela IV Internacional, o CLQI. O âncora da BBC, Andrew Neil, explica que no dia
anterior (09/03/2016) Cameron demonizou Downing na Câmara dos Comuns com o
intuito de acuar o Partido Trabalhista por ter readmitido o dirigente do
Socialist Fight, por supostamente “defender o Estado Islâmico e os ataques de
11 de setembro / 2001 em Nova York (Torres Gêmeas)”.
Como a FCT esclareceu anteriormente nesta declaração, trata-se de uma ofensiva multifuncional do imperialismo britânico e
da direita do país em ascensão: criminalizar a luta anti-imperialista do
camarada Downing, proletário aposentado, ex-motorista de ônibus; que dirige o
comitê de defesa dos presos políticos republicanos irlandeses (IRPSG) e o CLQI;
aterrorizar e isolar aos imigrantes, campanha em que o primeiro ministro tem se
empenhado pessoalmente e pôr o trabalhismo que recentemente elegeu Jeremy
Corbyn, como líder do partido, um dirigente à esquerda do novo trabalhista blairista (relativo ao ex-primeiro ministro trabalhista, Tony Blair, também conhecido como o poodle de G. W. Bush).
Juntamente com Gerry outros militantes de esquerda foram expulsos do Labour como Tony Greenstein e Jill Mountford.
Juntamente com Gerry outros militantes de esquerda foram expulsos do Labour como Tony Greenstein e Jill Mountford.
A Frente Comunista dos Trabalhadores conclama a todas as organizações anti-imperialistas a repudiar veementemente essa caça as bruxas do imperialismo britânico, parte da escalada da direita mundial de demonização da luta revolucionária e socialista em defesa dos povos oprimidos, enviando moções de repúdio a expulsão de Gerry Downing e de outros camaradas do Partido Trabalhista britânico. A seguir, a entrevista da BBC:
Andrew Neil: Primeiro vamos ouvir
o discurso de David Cameron [vídeo da seção da Câmara dos Comuns em que o
primeiro ministro critica Gerry Downing para atacar o Labour Party por não
colaborar com a “luta antiterror” do governo conservador.]
Cameron: Tanto em âmbito
doméstico como no exterior, os órgãos de segurança estão fazendo progressos com
relação ao terrorismo vindo de Iraque e Síria. Estou espantado com a readmissão
no partido Trabalhista do Sr.Downing. Em seu jornal é afirmado que ele “não
condena os ataques de 11 de setembro e defende o Estado Islâmico na Síria e no
Iraque
Em seguida, o repórter da BBC apresenta Gerry Downing e o SF
Neil: Antes de analisarmos a
questão sobre os ataques de 9/11 vamos falar do seu grupo, o Socialist Fight
Neil: Vocês se auto denominam
seguidores de Karl Marx e apoiam os movimentos revolucionários. Por que vocês
estão no Partido Trabalhista?
Downing: Porque o Partido Trabalhista
é o partido da classe operária na Grã-Bretanha, ele tem ligações com os
sindicatos e organizativamente representa o nível de consciência da classe
trabalhadora.
Neil: É justo dizer então que
você vê a sua presença no Partido Trabalhista como tática, partindo do ponto de
vista que é um partido burguês e que, portanto, não fará as mudanças as quais
vocês defendem?
Downing: O partido pode trazer
algumas poucas mudanças, mas lógico não vai mudar o sistema capitalista por si
mesmo. Mas podemos avançar em algumas coisas. Porque a classe trabalhadora está
sofrendo um ataque desde o governo de Calagham em 1977. O equilíbrio da balança
está indo dos pobres para os mais ricos.
Neil: Vocês estão trabalhando em
conjunto dos outros líderes trabalhistas como o chanceler John McDonell?
Downing: Não, eu não sou seu
amigo pessoal de McDonell. Ele apenas me ajudou nas mobilizações pela minha
reintegração ao meu emprego como motorista de ônibus depois que fui
injustamente demitido. Ele esteve nos piquetes, me ajudou a fazer justiça
conseguindo meu emprego de volta. Mas ele não é meu amigo pessoal.
Neil: Você já atuou com muitos
líderes trabalhistas?
Downing: Sou membro do Partido na
minha região.
Neil: Você se diz membro do
Partido Trabalhista?
Downing: Bem, eu tenho sido. Me
informaram que fui expulso, mas ninguém me informou oficialmente.
Neil: O primeiro ministro disse
que você apoia o ataque de 9/11 e você afirma que isso foi dito fora do
contexto, está correto?
Downing: Sim, eu não defendo nem
os ataques de 9/11 nem o Estado islâmico, de maneira nenhuma! O que eu fazia
era explicar sobre as razões, sobre o porquê daquilo ter acontecido, as razões
do ataque. O que é basicamente o que o imperialismo está fazendo no Oriente
Médio!
Neil: Você escreveu sobre os
ataques de 9/11 dizendo que era justificada a ira dos oprimidos contra os
opressores, e você disse que não os condenaria, que eles tinham motivos
compreensíveis para o 9/1 e o suicídio usando bombas!
Downing: Bem, eu explicaria dessa
maneira: voltando a 1996, quando Madeleine Albright foi questionada do que ela
achava quando meio milhão de crianças iraquianas morreram por causa da sanção
econômica americana. Ela disse que valia a pena! Que era uma escolha difícil,
mas que o preço valia a pena.
Neil: Os ataques de 9/11 não
devem ser condenados?
Downing: Eu penso que o que tem
que ser dito nessas circunstâncias é que a primeira coisa que se deve fazer é
entender do porquê isso aconteceu. Isso não aconteceu porque eles são loucos ou
lunáticos, ou porque eles são más pessoas, aconteceu porque eles estavam
ultrajados sobre o que acontecia na sua terra.
Neil: Você ainda não condena os
ataques de 9/11?
Downing: Eu não usaria a frase
condenar! Porque eu penso, como disse Espinosa: “Eu tenho lutado para não rir,
nem chorar, nem odiar as ações humanas, mas compreendê-las! E entendê-los
significa saber o que aconteceu e por que aconteceu.
Neil: Então você os entende mais
do que os condena?
Downing: Sim, eu entendo os
motivos do porquê aconteceu! Existem artigos que falam das ridículas teorias da
conspiração sobre o 11/9...
Neil: Sobre o Estado Islâmico.
Cameron diz que você os apoia taticamente em termos de apoio militar. É isso
mesmo?
Downing: Não, não apoio. Eu não os
apoio nem militarmente, nem politicamente.
Neil: Posso ler um pouco do
artigo do grupo do qual você é membro? Vocês dizem que não dão apoio político
aos talibãs, sunitas, chiitas, Hamas, Fatah, Kadafi, Assad, Estado Islâmico,
vocês dão apoio militar a eles, mas... você reconhece que o imperialismo é o
maior inimigo da humanidade! Então vocês defendem que a classe operária dê
apoio crítico e ajuda a tática militar para todos os que estão lutando pela
derrota do imperialismo... isso inclui o Estado Islâmico!
Downing: Bem, se você leva em
consideração o que acontece no Afeganistão LÍbia, Síria e no Iraque, esses
países todos foram bombardeados pelos americanos, suas infra-estrurura
totalmente destruídas, por volta de um milhão de pessoas mortas no Iraque! E
isso não produziu absolutamente nenhum progresso, esses Estados não conquistaram
nenhuma democracia, nenhum avanço. Estão pior do que antes!
Neil: Eu entendo suas
argumentações, são legítimas, mas vocês dizem que o resultado disso é defender
apoio crítico e ajuda a tática militar a grupos como o Estado islâmico!
Downing: Apoio tático significa
que nós nos opomos ao bombardeio dos EUA contra eles! Não estamos a favor dos
bombardeios, porque forçosamente envolve a morte do que eles chamam de efeitos
colaterais, (a morte) de um número altíssimo de civis!
Neil: E sobre ajuda militar
tática?
Downing: Se você analisar o
imperialismo como seu principal inimigo, você vai se opor às ações dele, é uma
questão lógica!
Neil: Você sempre será pela
expulsão do imperialismo americano do Oriente Médio, etc!
Neil: Vocês dizem que é preciso
enfrentar a questão judaica, o que é a questão judaica?
Downing: O fato de que Israel
cometer crimes horríveis contra os Palestinos, fazem bombardeios, e os
bombardeios são apresentados pela mídia como um ataque contra terroristas!
Neil: Mas trata-de de Isarel e
não da questão judaica!
Downing: Não é a questão judaica...
É o sionismo mesmo!
Neil: Falando sobre sionismo,
vocês afirmam que o sionismo joga um papel importante na política em todos os
avançados países capitalistas, os sionistas estão por trás das caças às bruxas
contra Jeremy Corbyn! Afirmam que o sionismo joga papel decisivo nos três
principais partidos políticos, que o sionismo está na vanguarda em fomentar o
ódio anti-islâmico nas políticas do ocidente, e o sionismo está na vanguarda no
papel dos ataques contra os trabalhadores! Parece pra mim, vocês vêem a questão
judaica como uma conspiração sionista?
Downing: Não, não é uma
conspiração sionista. É algo muito material, ou seja, o número de milionários e
bilionarios defensores do sionismo entre as classes dominantes dos EUA e Europa
em geral, é sobre o seu poder econômico e político, que leva a situações
ridículas...é sobre o poder econômico e político!
Neil: Vocês pensam que os
sionistas, como você os chama, exercem um papel decisivo em tudo isso!
Downing: Obviamente eles têm
papel decisivo, a maioria tem dupla nacionalidade, a maioria.
Neil: Isso não soa parecido com
que os nazistas diziam na Alemanha nos anos 30, que “os ricos judeus
controlavam a economia alemã”?
Downing: De fato não é isso. Se
você observar o que Netanyahu diz... ele diz que “de fato o holocausto foi
causado pelo grande mufti (líder religioso muçulmano) de Jerusalém e não pelos
nazistas...
Neil: Eu quando leio a lista de
todas as coisas de que você acusa o sionismo, parece por demais, não quero te
pressionar demais , mas estão cheias do “Protocolo de Sião”.
Downing: Não, nós rejeitamos
completamente o “Protocolo de Sião”. O artigo é baseado nos fatos políticos e
materiais da supremacia da autoridade política dos políticos sionistas entre as
classes dominantes nos EUA e Europa, isso não tem nada a ver de fato com a sua
origem judaica.
Neil: Você ouviu tudo! Suponho
que esteja feliz que o sr. Downing não esteja mais no Partido trabalhista!
Philip Collins (redator de
discursos de Tony Blair, membro da ala liberal do LP e jornalista do jornal “The
Times”): Com certeza, pois o sr. Downing com essas propostas não se enquadra em
um Partido que não se propõe a fazer a revolução. O partido é reformista, os
sindicatos existem para melhorar as condições dos trabalhadores, mas eles não
são organizações revolucionárias, por tudo isso, o sr. Downing não pode ficar
no Partido Trabalhista!
Downing: Eu penso que uma das
razões pela minha readmissão é que no passado o partido já teve muitas pessoas
como eu em suas fileiras, que disseram coisas muito parecidas com as que eu
defendo hoje, sobre como ir além do capitalismo. São ambições que devemos
defender para o mundo atual!
Neil: Você pensa que o partido
sob a direção de Jeremy Corbyn é receptivo para suas idéias socialistas
atualmente?
Downing: Eu penso que sim, se
eles me permitirem, pois afinal de contas, eles aceitam dentro do partido
políticos da direita, não posso entender como não aceitarem pessoas como eu!
Neil: Você entrará com recurso
contra decisão?
Downing: Com certeza!