Pela frente única contra o fascismo!
Reproduzimos a nota do blog Espaço Marxista, membro do
Comitê Paritário
espacomarxista.blogspot.com.br/
Eis que a direita ocupou as ruas neste domingo, 15/ 03,
atendendo às convocatórias da grande mídia e dos grupos de seu campo-
integralistas, "Revoltados on line", "Movimento Brasil
Livre", Clube Militar et caterva-, com as pautas mais reacionárias da
agenda brasileira: do impeachment do governo petista à volta dos militares,
tudo permeado pelos bordões de "Brasil não é Cuba (ou Venezuela)" e
"Nossa bandeira nunca será vermelha" (sic). Quem teve a abnegação
masoquista de assistir ao dominical "Fantástico", pôde perceber a
euforia com que as manifestações pelo Brasil eram noticiadas.
Conforme consignamos em nossa ruptura com o PCB (aqui), o
mandato de Dilma Rousseff tem presenciado a escalada de uma onda reacionária,
que, integrada que é à própria reação imperialista mundial (típica do momento
de crise do capitalismo e da ausência da contra-hegemonia soviética), vai
ganhando mais e mais espaço na sociedade brasileira, o que justificou, por
parte da oposição de esquerda, o voto crítico no PT no segundo turno de 2014
como forma de retardar tal escalada reacionária. Apesar de quase derrotado no
pleito, o PT não aprendeu a lição e manteve sua política, ainda mais rebaixada,
de conciliacionismo e de contrarreformas, se distanciando de seu cada vez mais
evanescente lastro social. Assim, em meio a facadas nas costas por parte dos
(mui) amigos do PMDB (como na imposição de Eduardo Cunha), de denúncias do caso
"Lava jato" e da vontade expressa do tucanato de sangrar Dilma, o
governo petista observa a direita ocupando em peso as ruas das capitais
brasileiras, e isso ainda no terceiro mês de seu segundo mandato.
Fica evidente que o conciliacionismo de classes proposto
pelo PT chega aos estertores, com a pequena burguesia assustada com a ascensão
dos estratos populares beneficiados pelas políticas compensatórias dos últimos
anos, e, racista e elitista que é, temendo sua identificação com os mesmos, e
com a grande burguesia interessada em um representante do capital "puro
sangue", que possa acelerar o ritmo das contrarreformas já em vigor,
inclusive com a privatização das grandes empresas nacionais remanescentes
(Petrobras, Correios, CEF etc.). Mantenho minha caracterização do PT como
partido burguês com influência de massas, conforme esmiuçado aqui e aqui. Salta
aos olhos que mesmo essa influência, esse contato, esse lastro social, ainda
que nas mãos de um partido não-revolucionário, causa ojeriza e narizes torcidos
na elite e nos aspirantes à elite.
O ascenso reacionário parece ter um alvo óbvio, que é o
partido no poder, o PT, mas é mais óbvio ainda que essa reação se volta contra
toda e qualquer coisa que tenha o menor verniz progressista. Como nas
"Jornadas de junho" de 2013, capítulo desse atual momento, envergar
uma peça de vestuário de cor vermelha é motivo suficiente para o xingamento, a
coação, a ameaça e a agressão física. Os "anos de chumbo" são
endeusados, o golpe militar é pregado sem o menor pudor, e, como em uma nova
guerra fria, os comunistas tornam-se novamente comedores de criancinhas a
entregar o país aos cubanos e venezuelanos.
Esse cenário, que tende a se agravar, exige a união de todos
os movimentos sociais e progressistas, em uma frente única antifascista que
possa resistir à escalada reacionária. É evidente que dada a agudização do
momento, tal frente deve albergar (ou melhor, é preciso que albergue)
organizações e movimentos "governistas", dado que são essas
organizações e movimentos -MST, CUT, UNE-, ainda que engessadas
burocraticamente pelo petismo, as únicas que têm força para colocar a massa nas
ruas, ao contrário dos pequenos grupos sectários sem a menor inserção social.
Mais que isso: estando o PT ameaçado de golpe pela direita, há que cerrar
fileiras com o PT. Temos por princípio repudiar a política de escolha do
"mal menor", conforme gizado nas considerações sobre o PT nos links
disponibilizados acima. Mas aqui, contudo, trata-se de outra coisa: a
necessidade elementar de resistência diante da ameaça fascista. Nesse sentido,
emblocar com o PT não consiste em defender o PT, e sim em defender a classe
trabalhadora brasileira que seria lançada em um retrocesso histórico com a
ruptura da ordem democrático-burguesa de 1988.
Dilma derrubada pelos trabalhadores é um grande passo para o
socialismo, mas Dilma derrubada pela extrema-direita é a contrarrevolução que
triunfa, parafraseando Trotsky. Os esquerdistas, contudo, não compreendem o
momento e insistem em se portar como vanguarda da classe sem que a classe
sequer tome conhecimento de sua existência. Serão os primeiros a tombar caso o
ovo da serpente ecloda.