Em meio aos protestos que
sacodem o Brasil, trabalhadores do Cariri saem às ruas e promovem cerco
por mais de sete horas ao prefeito que reduziu seus salários em 40%
R.N.S., servidor
público federal e S.R., professora da rede pública em
Juazeiro do Norte,
simpatizantes da Liga Comunista
simpatizantes da Liga Comunista
Prefeito de Juazeiro, cercado por manifestantes,
sendo resgatado com ajuda de carro-forte
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Na esteira de ataques desferidos
contra a classe trabalhadora tanto por partidos de esquerda quanto de direita,
em nível nacional e local, Raimundo Macedo (PMDB), prefeito da cidade de
Juazeiro do Norte, segunda maior cidade do Ceará (540 Km da Fortaleza),
resolveu inovar e acreditou que seria uma boa ideia criar uma lei que reduzisse
as gratificações dos professores do município em até 40% e ainda aumentando a
carga horária de trabalho. A “inovação” estava no fato do prefeito municipal ter
atentado contra um princípio sagrado para os trabalhadores positivado até mesmo
na constituição burguesa, a irredutibilidade do valor do salário. Todavia, logo,
logo descobriria que escolheu um péssimo momento para aplicar tal medida.
MANIFESTANTES SITIARAM PREFEITO
ESCRAVAGISTA POR QUASE 7 HORASEm nível nacional estudantes e trabalhadores, tendo como gatilho o aumento das passagens do transporte público na cidade de São Paulo para R$ 3,20, ou seja, um aumento de 20 centavos, seguiram o exemplo dos trabalhadores turcos que, sob o pretexto de lutar contra uma reforma urbana, saíram às ruas para protestar contra a política do primeiro ministro turco, Erdorgan, de apoio aos terroristas sírios em sua luta contra Bashar al Assad. O movimento que inicialmente começou em São Paulo, convocado pelo Movimento Passe Livre se alastrou por todo o país, chegando inclusive a Juazeiro do Norte.
No dia 17 de junho, seguindo o
chamado dos professores em greve, trabalhadores e estudantes da região
metropolitana do Cariri lotaram as ruas de Juazeiro do Norte, tendo como mote o
“Fora Raimundão!” em respostas ao ataque recém desferido contra os professores
do município, numa legítima demonstração de solidariedade de classe. A manifestação, que contava com cerca de
10.000 pessoas, percorreu as ruas do centro da cidade em direção à praça padre
Cícero até que chegaram informações de que o próprio prefeito se encontrava em
uma agência do Banco do Brasil próxima. Com esta notícia imediatamente os
manifestantes cercaram o prédio, mantendo o Prefeito sitiado por quase 7 horas,
sendo libertado apenas por volta da meia noite, diante de uma ação
violentíssima da PM e guarda municipal com ajuda de um carro-forte, deixando
vários feridos entre os manifestantes que foram pegos de surpresa. Até aqui, esse
episódio que teve repercussão inclusive na impressa internacional (veja aqui notícia no New YorkTimes), guarda certa similitude com os protestos ocorridos Brasil à dentro.
PSTU E CONLUTAS DEBILITAM POTENCIAL DA LUTA ATRAVÉS
DA COLABORAÇÃO DE CLASSES E DA POLÍTICA DE LOBBY PARLAMENTAR
Contudo é necessário apontar
algumas diferenças existentes no movimento que eclodiu em Juazeiro do Norte em
comparação com o resto do país. Primeiro, enquanto no resto do Brasil o
movimento é convocado e dirigido pelo MPL ou outras organizações não ligadas
organicamente a partidos ou até mesmo partidos de direita, em Juazeiro é o
sindicato de servidores municipais dirigido pelo PSTU que convoca e dirige o
movimento. Segundo, no Brasil as manifestações, embora possuam apoio da classe
trabalhadora e de estudantes, não possuem uma pauta específica de
reivindicações, abrindo margem para que demandas de corte iminentemente
fascistas (por exemplo, a redução da maioridade penal) sujam no bojo do movimento, enquanto em Juazeiro a linha de frente
das manifestações é o professorado na luta contra os ataques do Prefeito
Raimundo Macedo. Por último, enquanto em outros lugares o PSTU e o conjunto da
esquerda está sendo expulsa dos atos através de ações violentas da direita
fascista, em Juazeiro do Norte este mesmo partido está dirigindo o movimento.
Essas condições teoricamente davam
uma certa vantagem ao PSTU para dar um corte realmente classista ao movimento,
pois é encabeçado por uma importante categoria de trabalhadores, dirigido por
um sindicato da CSP-Conlutas na luta contra um prefeito da direita tradicional
com enorme solidariedade de um amplo setor da classe trabalhadora. Todavia, todo
potencial é abortado na medida em que em nível local o PSTU a reproduz a mesma
tática que adota em nível nacional, ou seja, privilegiar o lobby parlamentar e
a aliança com a política dos partidos governistas para construção de marchas, em detrimento
dos métodos próprios da classe trabalhadora, greve e ocupação. Dessa forma, apesar de ser do conhecimento do
sindicato dos servidores municipais que o prefeito havia apresentado um projeto
de lei com objetivo de reduzir o salário dos professores e aumentar a carga
horária de trabalho até o último momento apostou na pressão sobre os vereadores
vendidos para barrar a proposta, somente chamando os professores à greve depois
da aprovação da medida. Detalhe, embora o sindicato represente todos os
servidores municipais, apenas os professores foram convocados à greve. Além
disso, há relatos de trabalhadores que afirmam que o próprio sindicato tem
orientado que não há necessidades de todos os servidores participarem das
manifestações.
Esta política joga por água
abaixo todo o potencial que em Juazeiro o movimento possui para barrar um
ataque concreto à classe trabalhadora e impor uma pauta específica a um
governo, mesmo que local, se diferenciando das pautas genéricas e sem nenhum
conteúdo de classe no restante do Brasil (fim da corrupção, contra a PEC 37,
etc).
Apesar de toda a política de conciliação
de classes da direção do SISEMJUN, a força do movimento começa a surtir efeito,
já que na terça-feira passada (25/06) em uma reunião com Ministério Público,
Sindicato e Procuradoria do Município a prefeitura sinalizou que voltará atrás
em sua medida de ataque contra os professores. Porém, é sabido que nenhuma
confiança deve ser depositada em nenhum político burguês e somente a luta da
classe trabalhadora será suficiente para barrar esse ataque contra suas condições
de vida. Caso vitoriosa, a luta dos professores de Juazeiro do Norte será uma
referência para o conjunto da classe trabalhadora brasileira.