Para a vitória do movimento contra os
interesses dos empresários e seus governos
é preciso que a classe operária organizada
entre em cena nos protestos
Estamos vivendo dias históricos no Brasil. Trata-se
dos maiores protestos de massa do país desde o Fora Collor na década de 90 e as
"Diretas Já!", na década de 80 do século passado. Pelo menos 300 mil
pessoas foram às ruas ontem, 17/06, nas principais capitais do Brasil e em mais
dezenas de outras cidades. O aumento das passagens de ônibus, retardado por
seis meses, foi a gota d´água que faltava para o transbordamento da
insatisfação popular contra o aumento geral do custo de vida, ainflação, a
deterioração dos salários, o endividamento crescente da população assalariada,
a disparada do custo dos aluguéis, dos alimentos, enquanto cataratas de verbas
estatais são destinadas para a Copa das Confederações, Copa do Mundo de
futebol, Olimpíada, etc.
Dilma, que até poucos dias posava de governante
mais popular o país, que juntamente com Lula, havia tirado a população da
miséria, trazido os mega-eventos para o Brasile absorvido e/ou debilitado a
oposição de direita, foi vergonhosamente vaiada na abertura da Copa das
Confederações e não pode mais esconder a crescente insatisfação popular contra
a conjuntura política criada por seu governo, acrescida da chegada da crise
econômica no país, que até então também era ocultada. Diante da dimensão que
ganharam os protestos, a burguesia e suas instituições buscam controlar o
movimento e não mais bater de frente com o mesmo. O governo Alckmin (PSDB) diz
agora "estar aberto ao diálogo", enquanto Haddad (PT) monta um
Conselho Municipal de Transportes. Dilma e seus porta-vozes fingem em suas
declarações que as manifestações não se opõem ao seu governo e a seus mega
eventos. A mídia burguesa, que demonizou os protestos por semanas, busca agora
apadrinhá-los, adestrá-los ao pacifismo e isolar os setores mais radicalizados
da juventude.
Os governos estaduais PSDB, PMDB, PT, etc, que
atacaram truculentamente os manifestantes nos protestos anteriores adotaram um
tom conciliador no discurso, mas a brutalidade segue a mesma ou piora em alguns
episódios como na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, no Palácio dos
Bandeirantes em São Paulo, nas principaisavenidas de Porto Alegre, no centro de
BH e na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, onde a polícia disparou balas
de chumbo contra os manifestantes e carregou nas bombas de gás lacrimogênio. No
Rio, pelo menos meia dúzia de manifestantes foram hospitalizados com tiros de
balas de chumbo.
Haddad, prefeito de São Paulo, que governa a
vitrine do PT para as eleições ao governo do Estado de 2014, que antes dizia
ser impossível baixar a passagem, após os protestos do dia 17 mudou o discurso
para defender o incremento nos subsídios municipais na tarifa dos ônibus. O
prefeito petista argumenta que se no Brasil o Estado arca em média com 1/3 dos
custos dos transportes em subsídios, na Europa a média é de 2/3. Com isso,
acena ao empresariado paulista que pode superar o tucanato no desvio de verbas
estatais para os bolsos do patronato.
Nós da Liga Comunista defendemos, nenhum subsídio
para o empresariado, verbas públicas para o transporte, a saúde e a educação
públicas e gratuitas, pela estatização de todos os transportes coletivos, da
saúde e da educação sob o controle dos trabalhadores e passe livre para toda a
população trabalhadora e para a juventude.
Esse movimento de massas precisa da adesão da
classe trabalhadora organizada. É fundamental que as direções e oposições
classistas dos aparatos sindicais combatam para arrastar nossas categorias para
a luta, superando os limites pequeno burgueses do atual movimento (conciliador,
pacifista e apartidário), nutrindo a rebelião popular em curso de um norte
estratégico de classe. Precisamos unir os estudantes e a juventude com os
operários das fábricas, canteiros de obras, refinarias e pararmos esse país.
Nossa pequena organização, a Liga Comunista, que faz parte da categoria dos
metalúrgicos de Campinas e participa da greve da multinacional CAF,
iniciada no dia 20 de maio, já sente em
nossa luta o reflexo desta rebelião popular, forçando o patronato a sair do impasse
em que se encontram as negociações. Reciprocamente, os trabalhadores
organizados podem superar a mentalidade conciliadora das direções do atual
movimento em favor não apenas da redução da passagem, mas também da melhoria
do transporte, saúde e educação para o conjunto da classe trabalhadora,
melhoria consistente que só pode ocorrer a partir da estatização sob controle
dos próprios trabalhadores.