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segunda-feira, 18 de março de 2013

NOVAS TECNOLOGIAS MILITARES E LUTA DE CLASSES

Um povo que oprime outros com drones,
será também oprimido pelos drones
operados por sua burguesia imperialista
Carta ao Leitor dO Bolchevique#15
Os drones (zangões em inglês) ou os VANTs (Veículos Aéreos Não Tripulados) são instrumentos de espionagem e/ou ataques militares possíveis graças ao desenvolvimento de tecnologias de informação, coleta de dados e de destruição cada vez menores e mais leves que por isto podem ser acopladas ao aeromodelismo. A eminente expansão da utilização dos drones pelas polícias dos EUA e logo de muitos outros países segue as tendências de aumento do controle social que a burguesia e seu Estado necessitam exercer cada vez maior sobre a população. Seu atual uso em grande escala no Paquistão e em menor no Oriente Médio e África corresponde as demandas militares, políticas e econômicas do imperialismo.

Obama ascendeu em meio ao abalo no equilíbrio capitalista provocado pela crise econômica de 2008, e o descontentamento mundial contra o intervencionismo militar de Bush. Na relação entre os Estados, o rompimento deste equilíbrio pode ocasionar guerras ou, de forma menos intensa, guerras cambiais, bloqueios econômico,... e o estabelecimento de áreas de domínio blindado a um país imperialista, ou a um bloco de países imperialistas.

A CRISE DE 2008 AQUECEU UMA
NOVA GUERRA DE MOVIMENTOS NO OCEANO PACÍFICO

Aproveitando-se do desequilíbrio capitalista, emergem a China e a Rússia, dois Estados de formação histórica excepcional pelo fato de terem realizado as tarefas democráticas burguesas de libertação nacional (tarefas pendentes e não realizadas pelos países semi-coloniais), mediante ditaduras proletárias burocratizadas. Estes dois países, mais a China que a Rússia, canalizaram, até agora, a decadência da restauração capitalista através da extrema centralização política, de grandes reservas energéticas ou de enormes exércitos de trabalho, além de permanecerem sendo potencias nucleares em expansão de suas capacidades militares [1].


Se é verdade que paulatinamente a restauração capitalista consome as vantagens comparativas através, por exemplo, da apropriação privada das terras no campo ou pela privatização do que é oferecido como salário indireto (baixos custos de habitação, transporte, moradia, saúde e educação), aumentando os custos de produção e os preços dos alimentos e da terra e, logo, contratendenciando o crescimento excepcional até agora.

Até 2020, Washington pretende reposicionar 60% dos seus 285 porta-aviões, navios e submarinos no Oceano Pacífico. Atualmente, a frota de guerra norte-americana divide-se equitativamente entre o Atlântico e o Pacífico. Tem havido um significativo aumento do número de exercícios militares na região dos EUA, Coréia do Sul, Taiwan, Japão, Coreia do Norte, Austrália. Obama girou o foco das intervenções militares diretas do Oriente Médio para a guerra de posições em torno da China (não por acaso o contingente militar no Afeganistão triplicou na gestão do democrata). Também reorienta a tática imperialista para a chamada de “liderança na retaguarda” de outras nações cujas tropas assumem a linha de frente intervencionista, como a França, Turquia, Israel, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Qatar, contra a Líbia e agora na Síria e o Mali.

No entanto, longe de diminuir as odiadas torturas e execuções “cirúrgicas” por bombardeios de aviões praticadas pela administração Bush, Obama ampliou-as com menor custo financeiro e político. É então que entram em cena os drones, um aeromodelismo militar para espionagem e assassinato em todo planeta, de forma furtiva, sem deslocamento de tropas por ar ou por mar, nem baixas humanas.

AEROMODELISMO ASSASSINO IMPERIALISTA

Entre identificar e destruir um alvo inimigo dos EUA, antes a CIA levava em média três dias. Agora, com os aviões-robôs, bastam cinco minutos. Há 7.000 deles em operação. Relatórios da Agência de Jornalismo Investigativo Britânica (BIJ, na sigla em inglês) mostram que “no mínimo 2.629 pessoas foram mortas até agora por ataques de drones da CIA no Paquistão”. Todavia, o governo colaboracionista do Paquistão discorda deste número e diz que foram aproximadamente quatro mil mortes. Mas o senador republicano Lindsey Graham, um partidário do uso dos drones, citou abertamente número que superam até os do governo Paquistanês e das agências de notícias: ‘Matamos 4.700’, afirmou Graham em estimativas citadas pelo site informativo Easley Patch. O senador nazi-ianque disse que o programa drone “tem sido muito eficaz, nós não temos quaisquer tropas naquela área...” e antecipa os planos contra os imigrantes latinos: “Drones são necessários ao longo da fronteira com os EUA: Eu não quero armá-los, mas precisamos de drones ao longo da fronteira, para que possamos realmente controlar a imigração ilegal”. [2]

Ao nomear John Brennan, um defensor dos drones e das técnicas de tortura, para o comando da CIA, Obama ratificou sua aposta nesta como a sua principal arma de guerra. A “guerra ao terror” rebatizada por Obama de uma abstrata e singela denominação de “operações de contingência no além-mar” é agora muito mais eficaz embora menos visível como o são os próprios drones.

No dia 20 de outubro de 2011, quando o governante líbio Muamar Kadafi fugia da cidade de Sirte em um comboio, foi um drone Predator, americano, que primeiro disparou um míssil e interceptou os carros. Em setembro de 2012, um drone bombardeou o carro de Anwar al Awlaki, o americano de origem árabe no Iêmen. Ele e mais três outros posteriormente identificados como membros da Al Qaeda foram fulminados.

OBAMA AGORA APONTA SEUS VANTs ASSASSINOS
CONTRA OS PRÓPRIOS ESTADUNIDENSES


John Brennan repudiado por antivistas anti-drones nos EUA,  07/02/2013

A partir do último precedente Obama quer lançar seus aviões robôs que custam 1/3 dos caças comuns a caçada de “terroristas” estadunidense dentro do próprio território. E logo adaptá-los para o combate policial nas cidades. Como um tubo de ensaio do imperialismo, o enclave militar sionista, uma extensão avançada do Estado policial imperialista contra os povos oprimidos, e primeiramente contra os palestinos, já está com movimentos bastante avançados para lançar enxames de drones e quadrotors voadores, drones vespas para vigilância, ataques seletivos, injeções letais, etc.

“Um povo que subjuga outro forja suas próprias cadeias”, parafraseando esta antiga formulação marxista, um povo que caça e mata outros com drones será também caçado e morto pelos drones operados por sua burguesia imperialista. Enquanto seguir sendo intoxicado por sua burguesia imperialista e pela aristocracia sindical que também estimula a xenofobia e os preconceitos criminosos contra os povos oprimidos, o proletariado estadunidense tem como destino ser monitorado pelo “grande irmão”, agora também via drones, e ser alvo dos disparos dos mesmos. Somente a unidade internacional do proletariado de todos os países em uma grande conflagração revolucionária antiimperialista e anticapitalista poderá estabelecer que serão nossos inimigos os esmagados e não nós por sua parafernalha destruidora.

RQ-170


"Notícias da defesa do Irã: RQ-170, um manual sobre a Besta de Kandahar"

Enquanto os pacifistas se preocupam em pedir explicações e esclarecimento sobre o uso dos drones (com o quê o próprio Obama demagogicamente concordou [3]) e realizar impotentes manifestações para conter o uso desta tecnologia militar, os marxistas devem encarar esta arma de forma como encaram todas as armas que possam ser usadas em favor do combate ao imperialismo e seu aparato repressivo. Em que pese nossas diferenças de classe inconciliáveis com a burguesia teocrática e reacionária iraniana, saudamos que o Irã, nação oprimida e sob a mira da próxima guerra imperialista, tenha conseguido abater um drone RQ-170 e que após exibi-lo como troféu de guerra, tenha estripado o artefato, apropriado-se de sua tecnologia e vendido para outras nações oprimidas como parte da “guerrilha tecnológica e informática”.

Existindo em um infinito número de variedades e tamanhos, os drones são muito mais baratos e, portanto acessíveis aos países oprimidos (o Brasil desenvolve várias modalidades). Assim como utilizam-se de mísseis cuja plataforma de lançamento são jumentinhos, logo os guerrilheiros palestinos, trucidados por bombardeios mortíferos de urânio empobrecido da aviação isralense, também terão seus aeromodelos militarizados ou “drones caseiros” [4].

A POSIÇÃO DOS MARXISTAS SOBRE OS DRONES
Como bem identificou Karl Marx em sues estudos sobre o cruel domínio britânico sobre a Índia:

“na história humana há qualquer coisa semelhante a retribuição; e uma das regras da retribuição histórica é que o seu instrumento seja forjado não pelos agredidos mas pelos agredidos” 
(A revolta na Índia, Londres, 4/09/1857).

Como parte das próprias leis da luta de classes, o proletariado não poderia ter ralizado as revoluções que realizou abrindo mão das armas mais destruidoras desenvolvidas pelas classes dominantes e limitando-se as pouco ofensivas pedras, arco e flexas, etc. Assim como defendemos o direito dos Estados operários burocratizados e nações oprimidas desenvolverem plenamente a tecnologia de guerra nuclear, a insurgência antiimperialista e anticapitalista terá de se apropriar cada vez mais das novas tecnologias militares “forjadas pelos agressores”, como parte da guerra de classes mundial e nacional.

Diante de tão avançada máquina de destruição nas mãos de nossos piores inimigos alguns céticos poderão objetar que a revolução social que já tá difícil torna-se impossível. Contra este argumento invocamos a resposta de Trotsky para os filisteus de sua época:

“Mas de onde tirar armas para todo o proletariado? objetam novamente os céticos, que tomam sua inconsistência interior por uma impossibilidade objetiva. Esquecem que a mesma questão foi colocada em todas as revoluções ao longo da história. E, apesar de tudo, as revoluções triunfantes marcam etapas importantes no desenvolvimento da humanidade.

O proletariado produz armas, transporta-as, constrói os arsenais em que são depositadas, defende esses arsenais contra si mesmo, serve no exército [5] e cria todo o equipamento deste último. Não são fechaduras nem muros que separam as armas do proletariado, mas o hábito da submissão, a hipnose da dominação de classe, o veneno nacionalista. Basta destruir esses muros psicológicos e nenhum muro de pedra resistirá. Basta que o proletariado queira ter armas e as encontrará. A tarefa do partido revolucionário é despertar no proletariado essa vontade e facilitar sua realização.

Eis porém que Frossard e algumas centenas de parlamentares, jornalistas e funcionários sindicais assustados lançam seu último argumento, o de mais peso: ‘Podem as pessoas sérias, em geral, pôr suas esperanças no êxito da luta física depois das últimas experiências trágicas da Áustria e da Espanha? Pensai na técnica atual: os tanques! os gases! os aviões!!!’ Este argumento demonstra somente que algumas “pessoas sérias” não só não querem aprender nada como, medrosas, esquecem o pouco que aprenderam em outros tempos. A história dos últimos vinte anos demonstra, de modo particularmente claro, que os problemas fundamentais nas relações entre as classes, assim como entre as nações, são resolvidos pela força. Os pacifistas esperaram durante muito tempo que o progresso da técnica militar tornasse a guerra impossível. Durante décadas, os filisteus repetiram que o progresso da técnica militar tornaria impossível a revolução. No entanto, guerras e revoluções seguem seu caminho. Nunca houve tantas revoluções, até mesmo revoluções vitoriosas, como depois da última guerra, que exatamente revelou toda a força da técnica militar.

Sob a forma de novidades, Frossard e Cia. apresentam velhos esquemas: se limitam a invocar, em lugar de fuzis automáticos e metralhadoras, tanques e aviões de bombardeio. Respondemos: atrás de cada máquina há homens, e esses homens não são apenas instrumentos técnicos, mas possuem também laços sociais e políticos. Quando o desenvolvimento histórico coloca diante da sociedade uma tarefa revolucionária inadiável, como questão de vida ou morte, quando existe uma classe progressiva a cuja vitória se encontra ligada a salvação da sociedade, a própria marcha da luta política abre diante dela as possibilidades mais diversas: assim que paralisar a força militar do inimigo, apoderar-se dela, ao menos parcialmente. Na consciência de um filisteu, essas possibilidades se apresentam sempre como “êxitos ocasionais”, devidos ao acaso, que nunca mais se repetirão. De fato, em toda grande revolução verdadeiramente popular, abre-se todo tipo de possibilidade, nas combinações mais inesperadas, porém no fundo completamente naturais. Mas, apesar de tudo, a vitória não se produz por si mesma. Para utilizar as possibilidades favoráveis, é preciso uma vontade revolucionária, uma firme resolução de vencer, uma direção sólida e audaciosa.”
(Trotsky Leon, O armamento do proletariado, em Aonde vai a França, outubro de 1934). [5].

“LOGO VERÁ QUE NOSSAS BALAS SÃO PARA OS NOSSOS GENERAIS!”

Um dos elementos destacados acima por Trotsky e também contido na letra da “Internacional”:

“Se a raça vil, cheia de galas,
Nos quer à força canibais,
Logo verá que as nossas balas,
são para os nossos generais!”


que induz aos alto comandos capitalistas a tendência de substituição dos exércitos regulares por exércitos mercenários e destes por ciborgs ou drones para diminuir a influência da insurgência antiimperialista sobre o elemento humano (e portanto passivo das contradições da luta de classes) que está por trás das armas do imperialismo.

LIBEDADE PARA BRADLEY MANNIN!

Bradley Mannin é um caso típico em que os esforços do imperialismo não foram suficiente para conter as contradições dentro da inteligência militar imperialista. Mannin era analista de inteligência lotado no batalhão de suporte da 2ª Brigada da 10ª Divisão da Estação de Operação de Contingência dos EUA no Iraque. Foi preso desde 2010, acusado pelo vazamento de um vídeo do ataque de um helicóptero a civis em 12 de julho de 2007 em Bagdá e de 150 mil documentos ao Wikileaks.
Por permitir o livre acesso de informações (habeas data) sobre parte dos crimes cometidos pela máquina mortífera da grande burguesia ianque, Mannin foi detido sob condições desumanas e ilegais na base militar de Quantico (no estado de Virginia): apesar de ter sido acusado, não lhe é permitido falar com um juiz, e em vez disso, ele fica preso e torturado, contra o princípio de habeas corpus, em confinamento solitário. [6]

Os revolucionários de todo mundo devem lutar pela libertação de Mannin como de todos os soldados que de uma forma ou de outra voltaram as armas para os seus generais imperialistas. Mannin é um preso político da guerra de classes do século XXI.
Notas:
[1] Só em 2012 a China pôs em funcionamento seu primeiro porta-aviões, o “Liaoning”, contra 12 dos EUA (10 nucleares e 2 convencionais). A quantidade de porta-aviões e secundariamente a de seus submarinos nucleares representam a capacidade de projeção de força do país e define seu status enquanto potência militar. Superpotência, no caso dos EUA. França, Reino Unido, Rússia e China são grandes potências. Não por acaso apenas estes 5 países fazem parte como membros permanentes e com poder de veto do Conselho de Segurança da ONU. Uma vez que os porta-aviões são a principal plataforma militar de expansão do domínio terrestre de um país sobre as águas oceânicas. Além disto, a China vem criando outras armas capazes de diminuir esta desvantagem. http://www.youtube.com/watch?v=wVwQAHsaDmM
[2] http://easley.patch.com/articles/sen-graham-i-support-drone-strikes
[3] http://www.googes.com.br/obama-americanos-merecem-saber-mais-sobre-guerra-com-drones/
[4] http://futurepredictions.com/2012/11/wired-magazines-chris-anderson-takes-leave-to-focus-as-ceo-on-3d-robotics-drone-sales-to-demilitarize-and-democratize-drones-for-mass-consumption/#comment-337504
[5] http://www.marxists.org/portugues/trotsky/1934/franca/cap02.htm#ti11
[6] http://www.bradleymanning.org/