Su-24 e suas implicações políticas
Gerry Downing, Socialist Fight, 26-11-2015
Imagem superior, Ministério da Defesa da Turquia. Imagem debaixo Ministério da Defesa da Rússia |
A verdadeira razão para o abate do jato será encontrada nos
desdobramentos dos conflitos geoestratégicos e políticos globais sobre a região.
Em primeiro lugar, deixe-nos lembrar que a orientação estratégica global do
imperialismo estadunidense não mudou, apesar da obrigação firmada pelos países
EUA e da UE de tomar conhecido a opinião pública de suas guerras e aventuras no
exterior depois do Vietnã em 1975 e de seu fracasso em alcançar resultados
decisivos no Afeganistão, o Iraque ou na Líbia. Apesar de derrubarem estes regime
e de bombardearem a infraestrutura dessas nações até uma situação análoga a que
tinha na Idade Média eles não conseguiram garantir a estabilidade dos regimes
fantoches pró-imperialistas. A mudança de regime no Iraque foi frustrante e só fortaleceu
o Irã, outro de seus alvos para “mudança de regime”.
E eles ainda não conseguiram garantir a mudança de regime na
Síria. Continua a ser uma parte vital do objetivo estratégico da política externa
dos EUA. Os dois principais apoiados para esta tarefa, o ISIS e os outros
reacionários jihadistas como o braço da Al Qaeda na região, a Frente Al Nusrah,
sentiram-se ofendidos com as conversações do secretário de Estado John Kerry com
o primeiro-ministro britânico David Cameron sobre um acordo com a Rússia. Isto permitiria
que Assad permanecesse no poder por um período transitório temporário (que, obviamente,
poderia ser estendido indefinidamente), enquanto o ISIS foi derrotado em uma
campanha de bombardeios e foi obrigado a fazer um acordo com os 'moderados'
(que incluem o "moderado" Sharia- jihadistas lei e os quase
invisíveis Exército Sírio Livre da Frente Sul). A inclusão da Rússia na conversação
foi planejada para acalmar a opinião pública interna e permitir que se semeiem dúvidas
sobre os objetivos políticos imperialistas e aprovar os ataques aéreos e o
chauvinismo nacional após o massacre de Paris e desferir um grande golpe contra
a campanha do trabalhista Jeremy Corbyn ao mesmo tempo.
Mas as contradições eram grandes demais para o plano desse
certo, apesar da ânsia de Putin para trabalhar com esse plano; a Rússia ainda
citou a época nostálgica estalinista de colaboração de classes bruta em nome do
antifascismo da aliança na II Guerra Mundial entre Stalin, Churchill e Roosevelt.
O bombardeio por si só não poderia derrotar ISIS, são necessárias tropas
terrestres, o fechamento de suas linhas de abastecimento através da Arábia
Saudita, Qatar e Turquia e de sustentação econômica através das exportações de
petróleo para a Turquia. O envio de tropas dos EUA em qualquer cenário é politicamente
muito arriscado; e todos sabem que as duas forças militares capazes da realização
do enfrentamento contra os mercenários e terroristas em solo sírio são os
curdos sírios e o Exército de Assad.
Os curdos sírios do YPG e seus aliados do PKK não vão se
aventurar muito longe do seu próprio território, não tão longe como Raqqa, por
exemplo. E eles não são aliados politicamente confiáveis, eles colaboraram com
Assad quando lhes convinha e eles se sentiram traídos pelos EUA quando descobriram
que o imperialismo sancionou os ataques aéreos turcos contra eles e
impedindo-os de unificarem na parte oeste do Eufrates com o enclave curdo ao
redor Afrin também no Oeste. A campanha de bombardeios dos EUA NUNCA bombardeou
o ISIS quando ele está lutando contra o exército sírio, para que isso não
contribua na sua sobrevivência. E apenas recentemente, sob pressão da opinião
pública gerada pelo bombardeio russo, os EUA começaram a bombardear timidamente
os caminhões de petróleo bruto do ISIS para a Turquia. Eles têm justificado que
evitam atacar esses alvos muito óbvias o que cortar a maior parte dos recursos econômicos
do ISIS alegando ridiculamente preocupação com as 'vítimas civis', para não
causar "danos colaterais" desumanos, justificativas usadas quando convém
a grande mídia ocidental. Por favor…
Falando em Manila em 19 de novembro, na cúpula anual da APEC
(Cooperação Econômica Ásia-Pacífico, em português), Obama deixou claro que ele
não iria deixar de apoiar os "rebeldes" sírios enquanto Assad ainda
estivesse no poder. Ele reconheceu o Estado islâmico como uma "ameaça
séria", mas os esforços da Rússia na Síria foram destinadas a sustentar
Assad o que criou um grande problema. "No fundo eu não vislumbro uma
situação em que podemos acabar com a guerra civil na Síria, enquanto Assad
continuar no poder", disse ele. [1]
Se reunirmos todos os elementos: inclusive o apoio dos EUA ao
bombardeio turco contra os curdos para manter aberto a fronteira para o ISIS em
Jarabulus, usada pelos combatentes jihadistas internacionais, incluindo os
chechenos é claro que Obama, através das forças especiais da CIA tacitamente apoia
o ISIS, embora ele não possa reconhecer isso publicamente. E, portanto, toda a
conversa das grandes divergências entre os EUA, a Turquia e a Arábia Saudita
são apenas problemas temporários. A derrubada do SU-24 demonstrou o quão
secundários eram esses problemas.
A Turquia abateu o caça russo porque ele estava debilitando
os combatentes jihadistas que guarneciam as linhas de abastecimento para a
Frente Al Nusrah, assim como os EUA tacitamente guarneciam as linhas de
abastecimento do ISIS em Jarabulus e porque a Rússia estava bombardeando os
comboios de petróleo para a Turquia. Os EUA tacitamente indicaram seu “Ok” a
essa ação. Rússia e Assad estão sendo informados de que há um limite muito rigoroso
a “cooperação no combate ao terror” [ 2 ].
Notas:
1. Nov 19, 2015 Obama says Syria settlement needed to
eliminate Islamic State,
http://www.reuters.com/article/2015/11/19/us-apec-summit-obama-syria-idUSKCN0T80KP20151119http://internationaltrotskyism.blogspot.co.uk/2015/11/the-downing-of-russian-su-24-fighter.html
2. http://navalbrasil.com/a-resposta-russa-cruzador-russo-moskva-com-misseis-teleguiados-protegera-grupos-aereos-na-siria/
2. http://navalbrasil.com/a-resposta-russa-cruzador-russo-moskva-com-misseis-teleguiados-protegera-grupos-aereos-na-siria/