O que perdemos? Por que vencemos?
Raimundo Dias, trabalhador do INSS, membro da FCT e
colaborador do Folha do Trabalhador
Seis anos após a greve de 2009 do INSS, quando a categoria
saiu totalmente desmoralizada em virtude da derrota sofrida, os trabalhadores
da Previdência Social se levantaram novamente em greve por reajuste salarial,
condições dignas de trabalho e contra a política salarial do governo em relação
às aposentadorias.
Esta greve foi diferente das demais em todos os aspectos:
representou a ruptura com o quadro de letargia dos últimos anos, radicalizou-se
pela base, inclusive com a adesão espontânea de gerentes, e aconteceu no
momento em que o governo promove uma grande ofensiva contra os direitos
trabalhistas e previdenciários do conjunto da classe trabalhadora.
Após 85 dias de total arrogância do governo, que
inicialmente sequer se dispôs a negociar, os trabalhadores superaram sua
intransigência e lhe impuseram importantíssimas conquistas, a saber: reajuste
salarial de 10.8%, dividido em duas vezes, a primeira a ser paga a partir de
agosto de 2016 e a segunda a partir de janeiro de 2017; incorporação da Gdass para
efeito de aposentadoria em três parcelas a partir de janeiro 2017 (esta
gratificação corresponde a 70% da remuneração da categoria e atualmente o
servidor que se aposenta só recebe metade da mesma); aumento do auxílio
alimentação dos atuais R$ 373,00 para R$ 458,00; auxílio pré-escolar dos atuais
R$ 74,00 para R$ 321,00; supressão da punição aos servidores em caso de erro
administrativo, previsto na IN 74; retorno ao interstício de 12 meses para
progressão funcional (atualmente são 18 meses), entre outras coisas.
Todavia, a maior vitória dos trabalhadores do Seguro Social
não foi de cunho econômico, mas político. Ao superar o clima de apatia e
leniência da direção da Fenasps (dirigida majoritariamente pelo PSOL) com os
ataques desferidos pelo governo contra os direitos da classe trabalhadora nos
últimos anos, a categoria saiu da greve com um espírito de que a única forma de
deter a eliminação das conquistas da classe trabalhadora é através da luta.
Do ponto de vista da solidariedade de classe, foi uma greve
ainda mais vitoriosa, pois jamais na história recente dos trabalhadores da
Previdência Social houve uma greve em que todos lutaram por o direito imediato
de alguns se aposentarem com dignidade. Jamais se viu uma greve em que todos
lutaram por condições de melhor atender aos companheiros de outros setores do
proletariado. Também jamais se viu uma greve onde gerentes esqueceram que são
“cargos de confiança” do governo e se enxergaram como parte integrante de uma
categoria, se negando a aplicar as punições de corte de ponto e colocando suas
funções à disposição; jamais se viu casos como o de um companheiro do Ceará
que, após ter sofrido um acidente, negou-se a entrar de licença médica por
considerar estar traindo o movimento.
Todos estes fatos demonstram que a greve dos trabalhadores
do INSS representou um tremendo avanço de consciência, pois trouxe coesão e
devolveu o espírito de luta e solidariedade à categoria, que hoje, mais que
nunca, esta unida e confiante em sua capacidade de lutar e vencer!