Aliança patronal-pelega impede a
forte greve dos bancários de conquistar mais
V. ativista da frente sindical "Avante, bancários!"
A greve nacional dos bancários em 2015, que durou 21 dias, reúne vários elementos que apontam para uma avaliação de vitória no aspecto político, em comparação com a campanha salarial do ano passado. Já no plano econômico, foi o pior reajuste das últimas campanhas, pois o aumento real é de míseros 0,12%.
A derrota econômica e política da greve de 2014 animou o governo e os banqueiros a avançarem nos planos de privatização da Caixa Econômica Federal (abertura do capital da Caixa Seguridade), no assédio moral sistemático e cobrança de metas em todos os bancos (metas individuais na Caixa e no BB) e ainda desatou uma perseguição política contra a atuação sindical de ativistas, como Juliana Donato (BB), ativista da oposição bancária de São Paulo.
Agora, em meio ao “ajuste fiscal” de Dilma e Levy contra os trabalhadores e em favor da grande burguesia, banqueiros e governo propuseram índices vergonhosos de reajuste, abaixo até da rebaixada inflação oficial do período, de 9,88%.
Como parte do giro à direita na conjuntura política, que inclui a terceirização total e medidas provisórias antitrabalhistas e anti-previdenciárias, os banqueiros resolveram "dar uma banana" para os burocratas da Contraf/CUT, com quem eles contam todo ano para desmontar as greves. O governo petista e a Fenaban também resolveram adotar a insultante política de abonos em detrimento de reajustes salariais, copiando a política anteriormente criticada pela burocracia sindical petista nos governos tucanos de FCH.
Desmoralizada e ameaçada de tornar-se politicamente disfuncional, a burocracia sindical bancária foi obrigada a pelo menos simular alguma radicalização na atual campanha salarial. Neste ano realizaram mais ações em grandes concentrações, ainda que tenham sido ações mais midiáticas, pois seus piquetes são do tipo "queijo suiço", onde entram muitos fura-greves, ao contrário das ações das oposições ("Avante, bancários!" e MNOB), que promoveram os chamados "trancaços", onde nenhum fura-greve entrava.
Mesmo assim, a crise no esquema patronal-pelego foi benéfica à base bancária que neste ano ampliou o movimento no BB, com forte adesão das gerências médias, e na CEF, com os trancaços nos Centros Tecnológicos e o fechamento de um número maior de agências em relação às últimas greves. Nos bancos privados, há vários anos não se via uma participação tão forte na greve.
Essa fortíssima adesão comprova a disposição de luta dos trabalhadores bancários para barrar qualquer plano de ajuste governamental e contra a superexploração imposta pelos banqueiros, único setor da economia a obter lucros estratosféricos, mesmo em tempos de crise. Somente no primeiro semestre de 2015 os bancos obtiveram um lucro de 33,6 bilhões de reais, 27,3% maior que no mesmo período do ano passado.
Apesar da greve estar em ascenso, com o crescimento das adesões na sexta-feira (23/10), o comando nacional, onde a Contraf/CUT é maioria, orientou a aceitação da proposta rebaixada da Fenaban, alegando que a greve tinha atingido o seu limite. Em S.Paulo, como vem acontecendo já há várias campanhas, os bancos - principalmente CEF e BB - em conluio com a burocracia pelega, convocaram gerentes e demais fura-greves para comparecerem às assembleias e votar na proposta dos banqueiros.
Na assembleia da Caixa, que teve mais de 2 mil presentes, a votação foi claramente dividida, mas a mesa, composta pelos cutistas Sindicato e Apcef, não aceitou que houvesse contagem de votos com o uso de urnas, declarando a vitória da proposta dos banqueiros e determinando o fim da greve. No Banco do Brasil o script foi semelhante. Mais uma vez funcionou a aliança patronal-pelega para desmontar as greves.
As centenas de bancários da CEF, que ao final de mais uma farsa na quadra do sindicato, entoaram em uníssono para a burocracia: "vendidos" e "central única dos traidores", refletiam a indignação de uma categoria que lutou bravamente, saindo de uma proposta de 5,5% e chegando aos 10% de reajuste. Com o fortalecimento da greve, marcada pela ampla participação da base, fortes piquetes e pelas ações unitárias dos diversos setores da oposição bancária, poderíamos ter arrancado muito mais do governo e dos sanguessugas do sistema financeiro.