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segunda-feira, 6 de abril de 2015

UCRÂNIA - SOCIALIST FIGHT - STALINOFOBIA E STALINOFILIA

Stalinofobia e Stalinofilia na Ucrânia

Segue abaixo texto do Socialist Fight (original aqui), traduzido para o português pelo Espaço Marxista, membro do Comitê Paritário. O SF é a seção britânica do Comitê de Ligação para a Quarta Internacional. O texto aborda as posições que as diversas organizações da esquerda britânica têm adotado sobre a questão ucraniana. Os interessados em conhecer mais a fundo o cenário local e compreender melhor os episódios e grupos citados no texto, podem entrar em contato através do email socialist_fight@yahoo.co.uk.

Tropas ucranianas empurram blindado enguiçado
na debandada de Debaltseve, em meados de fevereiro.
Na Ucrânia há três posições equivocadas que reivindicam o nome do trotskysmo, oscilando entre suas margens e as margens do stalinismo (ao menos na Grã-Bretanha). Essa última é mais ou menos a de uma apoio acrítico a Putin e aos líderes de Donbass. Ninguém nesta lista defende esse posicionamento, apesar de terem sido por muitas vezes falsamente acusados disso por Michael Calderbank e outros por aí para encobrir seus próprios rastros políticos. O único autodeclarado grupo nessa posição são os posadistas, que em verdade se afastaram até mesmo do trotskysmo centrista em meados dos anos 50. Seu correspondente stalinista seria o CPGB (ML) de Harper Brar.

À esquerda deste campo, na política interna britânica, mas à direita na questão imperialista, está toda a gama de grupos centristas pequenos burgueses de origem trotskysta, a AWL, o Socialist Resistance, ligado ao Secretariado Unificado, mandelista, o SWP, Workers Power (e o RCIT baseado na Áustria, ao qual Laurence [Humphries] se juntou), o Socialist Party e o Socialist Appeal britânico (SA, corrente mãe da Esquerda Marxista do PT brasileiro), junto com os grupos internacionais como o NPA francês e os morenistas latino americanos, que tomaram uma espantosa posição pró-imperialista na Líbia e vão pelo mesmo caminho na Síria e na Ucrânia. Eles sequer podem defender um duplo derrotismo, como seria o caso de um conflito inter-imperialista aberto. É um agrupamento se movendo constantemente ao social-chauvinismo de direita, mas há duas exceções que conhecemos.

As exceções são o Workers Party e o Socialist Appeal que adotaram posições relativamente boas na Ucrânia após tomarem posicionamentos muito ruins sobre a Líbia e Síria. O patrocínio do imperialismo anglo-americano a grupos abertamente fascistas lhes chocou e lhes empurrou, de alguma forma, para a esquerda. Mas eles continuam centristas e não trotskystas porque fracassam em defender a derrota de sua própria classe dominante e a vitória de Donbass. Fracassaram em celebrar a vitória das forças antiimperialistas em Debaltseve. Nesse campo se inclui o RCIT e pode ser chamado de "shachtmanista de esquerda", a linha do "nem Washington nem Moscou, mas pela classe trabalhadora mundial". Eles caracterizam a Rússia e a China como imperialistas e têm uma visão pusilânime do conflito, conforme analisamos em nossos artigos sobre o Workers Party [ 1 ] e a saída de Laurence Humphries do RCTI [ 2 ].

Eles postulam uma classe trabalhadora pura, sindicalista, acima de nações e da História, nem pró-imperialista nem antiimperialista, e sim "a classe trabalhadora independente". Tal entidade mítica do shachtmanismo nunca existiu, nem poderia. Trabalhadores são pró-imperialistas, quando pertencem e defendem as nações imperialistas e antiimperialistas se pertencem e defendem nações semicoloniais. Assim, há os agentes e burocratas sindicais que são agentes de segundo classe do Estado burguês, e partido operários burgueses que são partidos capitalistas e imperialistas de segunda classe.

A tarefa do partido revolucionário é fazer com que a classe desenvolva sua consciência, sempre embrionária, por exemplo através da solidariedade com a Resistência Antifascista Ucraniana e esclarecendo os aspectos do conflito

Nos campos do stalinismo e da stalinofobia. Percebemos três tendências na reunião pública do New Communist Party (NCP) que ocorreu há algumas semanas. O CPGB (marxista-leninista) que adota uma posição sobre a imigração próxima da posição do UKIP [o Partido de Independência do Reino Unido, um partido da direita britânica], e defende uma espécie de socialismo em um só país levado ao extremo. E como reflexo destas duas primeiras posições, o CPGB lançou uma nova publicação "provando" que Josef Stálin estava certo nos "Processos de Moscou" de 1936-9. Mas, por outro lado, estão definitivamente a favor da derrota do imperialismo angloamericano e da vitória de Donbass. Tanto eles quanto o NCP celebraram a vitória em Debaltseve, sendo os únicos grupos políticos, além do Socialist Fight / Comitê de Ligação para a Quarta Internacional, que fazem isso. Eles não militam no movimento trabalhista britânico, tendo o tradicional desprezo maoísta pela classe trabalhadora urbana como sendo simplesmente burguesa.

O NCP se posiciona muito bem na Ucrânia mas seu o artigo sobre as greves de ônibus em Londres é comparável ao do Workers Party, que girou para a direita na política doméstica; ele aceita a boa fé dos burocratas, que estariam fazendo seu melhor pelos motoristas explorados pelas empresas de ônibus. A noção de que tais burocratas possam ser cúmplices dessa exploração não é sequer cogitada. Uma parcela de propaganda ultraesquerdista contra um decente grupo de camaradas. Mas, não pode ser ao mesmo tempo antiimperialista e anti-operário, apesar de muitos tentarem. Em algum momento as contradições amadurecerão e uma tendência se sobressairá sobre a outra

E também o "Morning Star", cujos dois porta-vozes participaram da SARU também, obviamente representantes da tendência esquerdista do partido. Mas, falando sério, examine qualquer cópia do "Morning Star" e ficará claro que se trata da voz da burocracia do TU, os apologistas de todas as burocracias de esquerda e apenas levemente críticos dos burocratas de direita. E, também suave e hesitantemente, críticos do Trabalhismo. A revolução é uma memória distante, apenas sonhos reformistas desconectados da política diária.

Mas na luta contra o imperialismo o stalinismo deve ser criticamente apoiado, assim como apoiamos Trabalhistas contra o [partido conservador] Tory. Escolher o imperialismo contra aquilo que nada mais é que parte do movimento da classe trabalhadora, como o Partido Trabalhista, é traição de classe, levando a stalinofobia ao extremo do anticomunismo e do social-chauvinismo. O Partido Comunista combate o fascismo na Ucrânia porque está obrigado em razão de sua sobrevivência e de sua história, assim como Kadaffi, Assad, Saddam, o Talibã, al-Qaeda e ISIS o enfrentaram ou estão enfrentando, apesar de anteriormente terem sido clientes do imperialismo.

Podemos sugerir seriamente que o stalinismo é mais ou menos contrarrevolucionário que o Partido Trabalhista britânico, por exemplo? São ambas tendências contrarrevolucionárias internacionalmente, mas de formas diferentes, como falamos acima. Nessa diferença, assim como nos conflitos entre o imperialismo angloamericano e o imperialismo franco-germânico, o trotskysmo revolucionário deve buscar seu caminho. Porque é dessa crítica que o trotskysmo revolucionário se reconstruirá.

Notas

(1) Workers Power’s backsliding on Ukraine- link

(2) Reply by the LCFI to the Resignation of Laurence Humphries from the Socialist Fight Group/LCFI- link

Adendo

Trotsky: Teoricamente é possível apoiar o candidato stalinista. É uma forma de aproximação com os trabalhadores stalinistas. Quero dizer, sim, conhecemos esse candidato. Mas daremos apoio crítico. Podemos repetir em pequena escala o que faríamos se Lewis fosse indicado.

Teoricamente isso não é impossível. Seria difícil, é verdade- mas por ora é apenas uma análise. Eles, é claro, diriam, não queremos o seu apoio. Responderíamos, não apoiamos vocês, e sim os trabalhadores que apóiam vocês. Nós lhes alertamos, mas seguimos com eles na experiência. Esses líderes trairão vocês. É necessário encontrar uma aproximação com o partido stalinista. Teoricamente não é impossível apoiar os candidatos deles com advertências duras. Isso os guiaria. O quê? Como?

Kay: Mas em Boston os stalinistas não admitiriam sequer que passássemos pelo portão. Eles chegaram a expulsar nosso camarada.

Trotsky: Eu sei. Eles chegaram a atirar contra nós. Mas dezenas de milhares de trabalhadores estão com eles. Eu não sei exatamente quantos. É difícil determinar. Claro, nós sofreríamos a indignação de Burnham. Shachtman diria, "vejam, eu previ isso: capitulação ao stalinismo". Haveria mesmo uma considerável aversão em nossas fileiras. Mas a questão são os trabalhadores stalinistas. A classe trabalhadora é decisiva. Com garantias, alertas, por que não considerar isso? Browder é uma canalha pior que Lewis? Eu duvido. Ambos são canalhas.