A
Re-primarização/desindustrialização no ABC Paulista
Artigo de Erwin Wolf publicado no Folha do Trabalhador 19
Na
Região do ABC paulista, como efeito retardado da crise capitalista de 2008, vem
ocorrendo a chamada desindustrialização/reprimarização.
No
dia 20 de março de 2014, no caderno de “Economia” do Diário do Grande ABC saiu
uma matéria, assinada pelo jornalista Pedro Souza, com o título de “Indústria
encolhe e serviços contratam 63 mil”.
Logo
no início do artigo conta que
“O mercado de trabalho do Grande ABC vive dias
difíceis quando o assunto é a indústria. O setor perdeu 8.499 trabalhadores em
cinco anos encerrados em fevereiro, período em que o estoque de empregados
formais somou 239.921 posições. No mesmo intervalo, as empresas de serviços
aumentaram o contingente em 63.486 profissionais registrados, o suficiente para
totalizar 338.045 carteiras assinadas no mês passado.”
Em seguida o artigo
menciona que tais dados são do Ministério do Trabalho e Emprego. Observa,
também, o referido periódico que
“o período de comparação, de 2009 a 2014,
abrange o início do impacto da crise financeira mundial no País, que começou em
setembro de 2008 com a quebra do banco norte-americano Lehman Brothers e
influenciou todos os mercados financeiros do mundo, posteriormente os governos
e, consequentemente, as companhias [que] por isso, e pelas incertezas dos
empresários quanto ao futuro da economia do País e de suas próprias
instalações, ele vêm reduzindo o quadro de funcionários como forma de manter as
margens [de lucros] e, muitas vezes, as portas abertas.”; e que “Diretor do
Ciesp (Centro da Indúsdria do Estado de São Paulo) de São Bernardo, Hitoshi
Hyodo se mostrou preocupado com a situação e diz ter consciência de que
fevereiro foi o quarto mês consecutivo de demissões na indústria da região. Ele
entende que a Copa do Mundo de futebol só prejudica a produção do País, tendo
em vista que as atenções se voltam ao evento e são geradas incertezas sobre o
futuro da economia. ‘A perspectiva não é boa. No mínimo, você tira o pé, não
contrata em situação como essa. Deixa o empresário mais atendo ao cenário
econômico.’”
O
Diretor do Ciesp de São Bernardo concluiu que
“Por esse motivo, como também
pela baixa competitividade desencadeada pela alta carga tributária e a entrada
massiva de produtos importados da China no País, Hitoshi acredita que o emprego
na indústria caminhará “de mal a pior” em 2014, e consequentemente, em 2015.”
Já “Para o Diretor do Ciesp de Diadema, Donizete Duarte da Silva, há uma
interpretação errônea do governo federal em comemorar o aumento do emprego em geral,
com base na elevação do contingente de serviços, tendo em vista que o segmento
tem menor remuneração média em relação aos postos da indústria. “Nós temos uma
quantidade de mão de obra extremamente desqualificada, fora do mercado de
trabalho, sem capacidade para atender a indústria quando ela demandar, criando
subempregos e comemorando por isso”, criticou. Sem contar que muitos dos que
perdem sua vaga na indústria dificilmente conseguem se recolocar no setor,
buscando, como alternativa, trabalho em serviços, e ganhando menos.”
Esse
quadro acima, descrito pelo Jornal Diário do Grande ABC, confirma o acerto da
posição defendida pela Vanguarda
Metalúrgica, corrente sindical metalúrgica do cinturão industrial de Campinas,
impulsionada pela LIGA COMUNISTA, que em sua tese para o 11º Congresso do
Sindicato dos Metalúrgicos de Campinas e Região, criticou a tese da corrente
ASS (uma composição entre anarco-sindicalistas e o petismo sindical de Campinas),
conforme Folha do Trabalhador, n. 18, set/2013, pág. 3:
“2 na
desindustrialização histórica do Brasil. A ASS desconsidera a
desindustrialização dos últimos 30 anos e apenas avalia micro-recuperações
pontuais e momentâneas de alguns setores da indústria e não do conjunto do
parque industrial que hoje corresponde a apenas 14,8% do PIB. Para a ASS, a
desindustrialização, uma tendência predominante desde meados da década de 80 é
mera choradeira chantagista do empresariado sobre o governo para obter mais
isenções fiscais e incentivos. Ao contrário do que parece, no imediato, esta
avaliação debilita a luta contra o desemprego e contra a precarização
trabalhista e engrossa o discurso petista oficial de apenas passarmos por uma
“marolinha”. E, no imediato, esta
posição míope para a política de dependência econômica, retrocesso produtivo e
colonial alavancados na década neoliberal de 1990 e aprofundados pelos governos
do PT que privilegia as montadoras e a agro-indústria em detrimento do
desenvolvimento do departamento I da economia. Em outras palavras-, o
capitalismo brasileiro não apenas não caminha para alcançar o sonho do Brasil
potência como os problemas históricos e estruturais são agravados com a
concentração de terras e a dependência tecnológica. Como afirmamos em nossa
tese: “nem ceder a chantagem patronal e pelega em nome da crise, nem negar a
desindrustrialização, ficando desarmados politicamente para combater os ataques
dos patrões...nem juros altos para os banqueiros, nem juros baixos para os
industriais! nacionalização dos bancos e
da indústria sob o controle dos trabalhadores !”
Recentemente,
a LIGA COMUNISTA, aprofundando a discussão sobre a economia brasileira, vem
discutindo a questão da reprimarização, em razão do artigo “O Governo Lula e a
recolonização econômica do Brasil”, do companheiro NAZARENO GODEIRO do PSTU, no qual é enfatizado que
“O Brasil se especializou em produção e
exportação de commodities, dependente de recursos naturais, produção em larga
escala e monocultivo para exportação: um retrocesso em direção a uma economia
de cunho colonial, dependente do capital estrangeiro.” Além disso, “O recente boom exportador da
América do Sul foi essencialmente centrado nas commodities destinadas aos
mercados globais. Houve um retrocesso frente ao Brasil industrializado e
produtor de manufaturas. A economia
brasileira nasceu como primária exportadora, avançou entre 1950 e 1980 para uma
economia produtora de manufaturas, e retornou, sob o neoliberalismo, a uma
economia primária-exportadora.” E que
“Desta forma, o Brasil ingressou na década de 1990 com uma dupla cara:
exportador de manufaturas para o Mercosul e exportador de matérias primas para
o mundo.”
Observa
GODEIRO, que
“Enquanto a indústria em
geral perdia peso na economia, as empresas de mineração e alimentos cresciam
com médias de dois dígitos anuais.”; que “O salto das exportações de bens
primários é o elemento novo da economia brasileira nos últimos 10 anos. O governo
Lula incentivou e dirigiu o processo de reprimarização da economia brasileira.
Em 2010, pela primeira vez desde 1978, o Brasil exportou mais commodities que
manufaturados.”.
Por
outro lado, de certa forma, GODEIRO dá
razão à LIGA COMUNISTA quando esta fala em desindustrialização, ao explicar
que: “Reprimarização não é sinônimo de desindustrialização, pois o agranegócio,
a mineração, a siderurgia, o petróleo e a petroquímica, são setores
industriais. Pode usar o termo “desisndustrialização” somente de forma
relativa, já que a indústria de transformação no Brasil perdeu espaço para o
setor industrial primário.”; e que “Mirando a economia brasileira no seu
conjunto e em dinâmica, existe um processo de desindustrialização, já que a
indústria perde peso para o setor de serviços no conjunto da economia. Essa
desindustrialização é relativa porque não se trata do fechamento e destruição
física da indústria brasileira (ainda que milhares de indústrias que não
conseguem concorrer com a China, estão falindo), mas perda de peso da indústria
na produção nacional. Em 1985, toda a indústria aportou 48% ao PIB brasileiro,
em 2009 se reduziu a apenas 25%.”
Assim,
constatamos a desindustrialização, ainda de forma relativa, como coloca GODEIRO, combinada com a reprimarização,
com o Brasil passando a produzir produtos de baixo valor agregado, as chamadas
commodities, destinadas ao mercado internacional.
A
compreensão da conjuntura econômica é fundamental para traçarmos a linha
política da classe operária para enfrentar a patronal, sem ceder à sua choradeira
e à da pelegada, colocando a
nacionalização dos bancos e da indústria, sob o controle dos trabalhadores.