Sem partido, sem centralização política
da ação revolucionária, não há revolução
da ação revolucionária, não há revolução
Do Especial 96 anos da Revolução Bolchevique 4/8, no Folha do
Trabalhador # 19
Humberto Rodrigues
Dentre todos os socialistas e
rebeldes sociais de toda sorte, incluindo os precussores anarquistas e os
terroristas populistas, foram os bolcheviques os responsáveis por conduzir a
luta de classes até a expropriação do capital. Isto não foi por acaso. Não foram
as bombas populistas contra personalidades e instituições odiadas pelas massas,
não foi a mera rebeldia espontânea, nem a “auto-organização” da população,
concepções que voltaram a moda hoje, que catapultaram o movimento ao seu
estágio superior e universal que a revolução de outubro atingiu. Foi um partido
comunista de vanguarda da classe trabalhadora centralizado democraticamente e
hierarquicamente disciplinado que dirigiu o maior passo dado pelas massas em
toda a história da luta de classes. Sem teoria revolucionária, não haveria
movimento revolucionário como já insistia Lenin mesmo antes da revolução de
1905, revolução que criou os sovietes.
Lenin aprimora suas concepções de
“O Que fazer?” de 1902, quando teve como principais adversários o espontaneísmo,
o tradeunismo e o populismo. Sob as ricas experiências do combate a degeneração
social democrata, tanto dos mencheviques quanto da social democracia alemã, do
curso do processo revolucionário de 1917 quando lança suas famosas “teses de
abril”, da derrota da revolução alemã de 1918 e da própria guerra civil russa,
as concepções se aprimoram e se desdobram nas principistas resoluções dos
quatro primeiros congressos da III Internacional.
A MAIOR LIÇÃO DA REVOLUÇÃO DE
OUTUBRO
Fazendo um balanço da tomada do
poder pelas massas em 1917, Trotsky deduz em sua obra “Lições de outubro” que a
classe operária também não pode fazer valer seus interesses históricos de forma
independente de uma direção revolucionária centralizada e fundida com as
massas: “Não pode triunfar a revolução proletária sem o partido, a parte do
partido ou por um substituto do partido” (Leon Trotsky, Lições de Outubro).
Desde o advento da luta de classes, muito antes do próprio modo de exploração
capitalista, os explorados se rebelam, conquistam interesses imediatos ou são
derrotados, mas foi somente em outubro de 1917, sob a direção de um instrumento
que organiza a luta por uma estratégica comunista revolucionário que a luta é
classes conduzida até o estabelecimento de um Estado operário. como destaca
Trotsky, a principal lição de outubro
“No ano de 1917, a Rússia passava
por sua maior crise social. Alguém certamente poderia dizer, entretanto, com
base em muitas lições da história, que, se não houvesse o Partido Bolchevique,
a imensurável energia revolucionária das massas teria se esgotado em
infrutíferas explosões esporádicas e os maiores levantes teriam terminado nas
ditaduras mais contra-revolucionárias. A luta de classes é o motor principal da
história. Ela exige um programa correto, um partido firme, uma direção corajosa
e digna de confiança — não heróis de salão, com suas frases parlamentares, mas
revolucionários, prontos para ir até o fim. Essa é a maior lição da Revolução
de Outubro” (Writings of Leon Trotsky 1935-36, p. 166).
Todavia, como explicar então a
vitória de revoluções como na China, Iugoslávia, Coréia do Norte, Cuba, Vietnã,
apesar de que nenhuma delas possuía a sua frente um partido semilar ao bolchevique
e às vezes nenhum partido?
PRIMEIRAMENTE há que se destacar que precisamente nas últimas
décadas quando prevaleceu principalmente entre a juventude o rechaço a rigidez
bolchevique, de combate a forma de organização centralizada e de vanguarda, sob
a influencia da reação democrática patrocinada pelo imperialismo e sua ofensiva
anti-comunista pós-URSS, nenhuma revolução social foi realizada. Se nas últimas
décadas não houve nenhuma revolução social vitoriosa foi porque não existiu um
partido. Como nos ensinou Trotsky “A. revolução proletária não pode triunfar
sem o Partido, contra o Partido ou através dum sucedâneo dele. Este é o
principal ensinamento dos últimos dez anos. É certo que os sindicatos ingleses
podem tornar-se uma poderosa alavanca da revolução proletária; em certas
condições e durante um determinado período, poderão até, por exemplo,
substituir os Sovietes operários. Mas, sem o apoio do Partido comunista e, com
mais forte razão, contra ele, não serão capazes disso; só se a propaganda
comunista se tornar preponderante no seu seio é que poderão desempenhar esse
papel. Pagamos demasiado caro esta lição sobre o papel e importância do
Partido, para não a termos retido integralmente.” (Lições de outubro, 1924).
SEGUNDO, a história da luta de classes sem direções bolcheviques
por todo o ultimo século da menos ainda razão aos preconceitos autonomistas.
Desde a revolução bolchevique de 1917 até hoje, dentre TODOS os processos
revolucionários existentes, em sua totalidade, sem uma direção revolucionária,
sem uma teoria revolucionária e sem um sadio regime centralista democrático, ou
seja, mesmo sem um partido do tipo bolchevique, só triunfaram os processos que
tiveram em sua direção instrumentos políticos mais centralizados e hierarquizados
que os partidos políticos do proletariado, só triunfaram sob uma direção de
exércitos centralizados de trabalhadores. Esta inegável experiência histórica é
suficiente para enterrar de vez com todos os preconceitos anarquistas contra a
centralização e pela horizontalização das organizações.
EM TERCEIRO LUGAR, passada a fase inicial da luta em que o
imperialismo e a burguesia não deixaram outra alternativa a direções como o
maoismo ou o castrismo do que a ruptura com suas próprias concepções
originárias e a condução prática e empírica da expropriação da propriedade privada
dos meios de produção as revoluções foram conduzidas ao próprio estrangulamento
pela política de suas direções. Stalinistas de todas as colorações se opunham a
teoria revolucionária internacionalista, a revolução permanente e ao centralismo
democrático. Estas direções não bolcheviques adotaram no refluxo da luta
revolucionária em seus respectivos Estados operários o chauvinismo nacionalista
do “socialismo em um só país” (as vezes em uma pequena ilha, Cuba, ou em meio
país, Coreia do Norte). Esta política contrarrevolucionária agravou o bloqueio imposto
pelo imperialismo e em meio ao refluxo da luta de classes burocratizou os
nascentes Estados operários, pavimentando o caminho da restauração do
capitalismo e da contrarrevolução social com apoio de massas como ocorreu no
Leste europeu, oriundos de processos de expropriação burocrática e onde as
novas gerações nasceram tendo como principal adversário a opressora e
parasitária burocracia stalinista.