Enquanto a ofensiva imperialista espera estagnada a reeleição de Obama, a resistência antiimperialista ressurge sob a percepção da falácia da “primavera árabe”
Muito tem se falado das gafes elitistas e reacionárias de Mitt Romney e que de tão imbecil o republicano perderá as eleições presidenciais de seis de novembro. Todavia, para além de revelar mais uma vez que a elite empresarial planetária precisa de quadros profissionais como gestores de seus interesses políticos, o papel principal da candidatura republicana é, sobretudo, pressionar Obama pelas tarefas que a economia imperialista exige neste momento.
O atual presidente foi incumbido de reduzir a maior dívida pública de todos os tempos, potenciada pelas campanhas militares de Bush e pelos “salvamentos” das grandes corporações desde a crise de 2008. Para a elite ianque ele tem vacilado em promover uma recuperação das taxas de lucro com a urgência que ela reivindica. Isto ele só pode fazer dando continuidade à campanha belicista do antecessor na recolonização da África e Ásia, cruzada que tem como escalas fundamentais a Síria e o Irã. Em nível interno, como demanda Romney, Obama precisa eliminar gastos sociais do Estado imperial para reduzir o déficit público e ao mesmo tempo levar a sua própria classe operária à escravidão, fazendo cair os custos de produção nos EUA, ingredientes fundamentais para a recuperação econômica da economia imperialista.
Provavelmente, até as eleições presidenciais a ofensiva imperialista continuará estagnada: os “rebeldes” Sírios, o ELS, não disporão da intervenção militar externa direta como dispôs o CNT líbio; o governo sionista tornar-se-á cada vez mais apreensivo com o avanço do programa nuclear iraniano sem poder bombardear o país; até a troika vem retardando uma nova ofensiva contra a Grécia. “O Relatório da UE e do FMI sobre a capacidade de gerenciamento da dívida da Grécia deve ser adiado para depois da eleição nos EUA, disseram autoridades e diplomatas da UE. O objetivo das autoridades é evitar qualquer choque à economia global antes de 6 de novembro, data do pleito presidencial norte-americano” (Reuters, 21/09/2012).
Todavia, entre duas ofensivas militares, as massas árabes percebem o papel pró-imperialista das saídas abertas pela falaciosa “primavera árabe”, como destacamos no artigo “Protestos anti-EUA: Agora sim, começou a verdadeira primavera, a antiimperialista, no mundo árabe e muçulmano!” assinado pela TMB argentina em conjunto com a LC. Por trás da manifesta “ira islâmica”, como agora demoniza a mídia imperialista que antes glorificava a “primavera árabe”, vem à tona a ira antiimperialista. Sendo a religião o reflexo espiritual da miséria real do homem em uma sociedade opressora, a eliminação da alienação religiosa pressupõe o combate às condições de miséria e barbárie impostas pela dominação imperialista. Nas condições atuais, tal combate parte da tática de estabelecer uma frente única antiimperialista com todas as direções políticas que se enfrentam com o grande capital colonialista e tem como estratégia a revolução permanente contra os limites burgueses destas próprias direções.
Nos setores mais organizados da classe no continente africano, onde segue a secular pilhagem das riquezas naturais e a escravidão assalariada negra, o operariado mineiro se levanta contra o arrocho salarial e o desemprego. Contagiados pela luta dos mineiros de Marikana contra a multinacional britânica Lomnin, vários outros se levantaram na própria África do Sul e também na Guiné contra a “brasileira” Vale. No calor dos acontecimentos, os companheiros sul africanos do Coletivo Qina Msebenzi, que possuem ativistas mineiros, distribuem um panfleto agitativo que a LC reproduziu no Brasil e nesta edição dO Bolchevique e a TMB em Buenos Aires, realizando um ato conjunto com outros agrupamentos de esquerda na Embaixada sul africana na Argentina. Como era de se esperar, o governo da burguesia negra sul africana, do CNA/Cosatu/PC, recorreu às leis do apartheid e criminalizou os mineiros pela assassinato de quase meia centena de operários que ele próprio cometeu, no maior massacre desde o fim legal do apartheid em 1994. Tal medida servia para chantagear os trabalhadores a aceitar o acordo proposto pela mineradora britânica, que ainda que rebaixado frente aos seus super-lucros teve de elevar sua proposta inicial de 5% para 22% de reajuste salarial.
No Brasil, a LC quebrou o silêncio imposto pela colaboração de classes sendo lamentavelmente a única organização de toda a esquerda a denunciar o massacre de ativistas pela mineradora Vale na Guiné e a reivindicar a luta pela expropriação de nossa própria burguesia, sócia minoritária do imperialismo, no artigo: “Toda solidariedade ao proletariado guineano contra a multinacional “brasileira”! Pela expropriação da Vale sem indenização e sob o controle da população trabalhadora!”, também reproduzido nesta edição.
Também reproduzimos neste O Bolchevique 11 um artigo do Socialist Fight britânico acerca da luta pela emancipação nacional na Irlanda do Norte “O Sinn Fein ajoelha-se perante a Rainha como parte do seu giro à direita” e registramos que por capitulações similares duas “internacionais” pseudo-trotskistas sofreram baixas recentes: “Líbia e Síria: Os que uivaram com os lobos*, CMI e LIT, sofrem na própria pele o preço da traição à luta antiimperialista”.
Queremos chamar a atenção dos leitores para uma elaboração nova de nossa corrente a partir de estudos sobre a restauração capitalista na China e na Rússia: No artigo: “Olimpíadas de Munique, Moscou, Los Angeles e Londres: Um triste e melancólico espetáculo de degeneração imperialista do esporte”. Neste texto, desenvolvemos embrionariamente a concepção do “desenvolvimento desigual e combinado, a teoria da revolução permanente frente a restauração capitalista e o desempenho nas olimpíadas dos países que realizaram tarefas democráticas e nacionais via expropriação da propriedade privada” que nos servirá para avaliar os processos restauracionistas nas últimas duas décadas e as particularidades desses processos e sua enorme importância para a luta de classes mundial na atualidade.
Por fim, abordamos a via mais pérfida de como o imperialismo tratará de aplicar os planos de austeridade e de escravização do proletariado brasileiro, contando com a participação fundamental da Central Única dos Trabalhadores. Esta que foi outrora instrumento de luta econômico do proletariado é hoje o mais eficaz instrumento para a realização da reforma sindical e trabalhista que nem o governo Lula conseguiu realizar. A CUT, através de seu principal sindicato, o dos Metalúrgicos do ABC, pôs em curso a pior ameaça de traição contra a classe trabalhadora: O famigerado Acordo Coletivo Especial. Resumidamente trata-se da consolidação jurídica definitiva dos acordos anti-operários e escravagistas entre os pelegos e os patrões através de uma reforma sindical e trabalhista falsamente apoiada no “chão de fábrica” através da criação de “Comissões Sindicais de Empresa”. A partir da aprovação do ACE, os trabalhadores não poderão mais reverter na justiça, apoiando-se na Constituição de 1988 ou na CLT, os acordos coletivos pelegos.
Além de denunciar esta punhalada, também militamos por um combate proletário efetivo aos ataques capitalistas. Tal proposta está contida no artigo da página seguinte: Por um Encontro Nacional Metalúrgico de Base para organizar uma greve geral contra o ACE. Esta iniciativa foi sugerida por um operário de uma fábrica de São Paulo e nós da LC a abraçamos decididamente. Tal proposta parte da mobilização real de cada categoria para organizarmos todo o proletariado em um verdadeiro Congresso Nacional de toda a classe trabalhadora, que tenha como perspectiva a superação da influência das burocracias sindicais da CUT, FS, CTB, etc., responsáveis no Brasil pela derrota do proletariado diante da ofensiva escravocrata imperialista.
Todavia, a principal resistência à concretização deste Encontro reside nas próprias fileiras daqueles que se dizem se opor ao ACE, na tacanhez das burocracias reformistas das Intersindicais, da Conlutas e do centrismo. Uns se opõem ao Encontro Nacional Metalúrgico de Base porque sendo incapazes de mobilizar a própria base, se contentam em realizar debates e abaixo-assinados restritos aos aparatos sindicais, acadêmicos e juristas simpatizantes ou a propor marchas olímpicas de lobby parlamentar em Brasília que embora ampliem a discussão sobre o tema são impotentes para derrotar a burguesia, o governo e os pelegos que querem impor o ACE. Neste terreno, se encontra a chamada esquerda cutista e a Conlutas que acaba de coompactuar vergonhosamente mais uma vez com a GM, assinando um acordo salarial rebaixado e à margem das negociação do bloco dos quatro sindicatos metalúrgicos paulistas (SJC, Campinas, Limeira e Baixada Santista). A ASS, por sua vez, se opõe porque teme organizar suas próprias bases e expô-las ao debate político com outras bases metalúrgicas. Então, preventivamente, evita a politização de seu “feudo sindical” contrapondo-se ao Encontro. Por fim, o centrismo porque se opõe a disputar a consciência dos trabalhadores do setor produtivo e milita à margem do operariado fabril ou simplesmente porque faz seguidismo às burocracias sindicais da Conlutas ou Intersindicai(S).
Desejamos aos leitores boa leitura e convocamos os mesmos a engajarem-se conosco neste combate. Assim como a burguesia precisa de centenas de quadros profissionais para assegurar seu domínio político sobre o globo, o proletariado também necessita construir seu estado-maior de quadros revolucionários para derrotar os capitalistas e tomar de assalto o poder em escala planetária, estratégia que somente a IV Internacional reconstruída poderá organizá-lo para cumprir.