Agora sim, começou a verdadeira primavera, a antiimperialista, no mundo árabe e muçulmano!
Em mais de 15 países, por
três continentes, manifestações de massas tomam embaixadas e multinacionais,
invadem e destroem representações diplomáticas, atacam tropas de ocupação e queimam
bandeiras dos EUA, Alemanha, Inglaterra e de Israel.
Na Tunísia, o chamado berço
da tão reverenciada “primavera árabe”, centenas de manifestantes atacaram com
bombas e ocuparam o complexo da Embaixada dos EUA em Tunis e uma escola dos EUA
foi saqueada (neste caso, os expropriadores são expropriados) pela multidão.
Embaixadas da Alemanha e da
Grã-Bretanha foram também invadidas por 10 mil pessoas na capital do Sudão,
Cartum. No lugar das bandeiras nacionais foram hasteados símbolos islâmicos e o
fogo tomou conta de parte dos prédios.
No Líbano, país dividido
pelos alinhamentos com a “primavera” imposta pelos agentes da OTAN (“Exército Livre
da Síria”) no país vizinho, a Síria, uma loja da rede de fast-food KFC foi destruída
em Trípoli e a visita do Papa vem sendo amplamente rechaçada por protestos.
No Iêmen, que desde janeiro
de 2011 é sacudido por uma das poucas “primaveras” contra a dominação
imperialista, a revolta deu um salto de qualidade e de imediato os EUA
despacharam marines para intervir abertamente no país, algo que não realizaram
nem no recente ataque à Líbia de Kadafi.
A propósito, na Líbia a
oposição anti-CNT se fortaleceu e ajustou contas com o representante maior dos
EUA no país, um dos principais articuladores da investida golpista que derrubou Kadafi. Depois de matar o embaixador estadunidense centenas de pessoas
voltaram a protestar sob os gritos de "Obama, Obama, nós somos todos Osamas",
em referência a Osama bin Laden, dirigente da Al-Qaeda assassinado a mando de Obama por um comando militar que invadiu o Paquistão em 2011.
Na Síria, as forças pró-OTAN
correm o risco de serem esmagadas se o organismo militar imperialista ou algum
de seus títeres não intervierem diretamente no país.
Após pactuar a eleição
fraudulenta de Mohamed Morsi com a Junta Militar, a Irmandade Muçulmana tenta
limpar a cara com seus seguidores convocando um protesto de "um
milhão" na Praça Tahrir contra a provocação ianque em meio aos ataques à
embaixada americana no país. Um posto de observação da ONU na Península do
Sinai foi alvo de beduínos egípcios.
Em Jerusalém, centenas de
palestinos enfrentaram as forças de segurança israelenses ao serem impedidos de
chegar até o consulado dos Estados Unidos em Jerusalém Oriental.
Em Dhaka, capital de
Bangladesh, os manifestantes exigiam que o embaixador americano fosse convocado
e fizesse um pedido formal de desculpas no Parlamento, condenando o filme.
A Índia registrou protestos
em diferentes cidades. Em Chennai, manifestantes jogaram pedras no consulado
americano e fizeram bandeiras chamando o presidente Barack Obama de terrorista.
Em Jacarta, na Indonésia, 500
pessoas protestaram diante da embaixada americana, enquanto em Amã, capital da
Jordânia, cerca de 2.000 pessoas fizeram manifestações.
Milhares de pessoas também
protestaram no Iraque, na Faixa de Gaza controlada pelo Hamas, assim como no
Irã. No Paquistão, protestos em grandes cidades exigiam a morte do realizador
do filme.
Agora as massas árabes
percebem de forma cada vez mais crescente o papel pró-imperialista das saídas
abertas pela falaciosa “primavera árabe”. Está começando a verdadeira primavera
antiimperialista no mundo árabe e muçulmano. Este movimento ocorre logo após as
violentas repressões sofridas pelo proletariado mineiro na África do Sul
(Marikana) e na Guiné (vide artigos neste blog sobre estes conflitos), depois
que entraram em confronto direto contra as multinacionais como a britânica
Lonmin e a brasileira Vale que exaurem as riquezas naturais destes países em
favor do imperialismo.
Como afirmamos há poucos
dias: “Os movimentos do mundo árabe evoluíram para duas variantes hegemônicas:
1) os levantes espontâneos sem direção revolucionária nem protagonismo operário
organizado, como no Egito, foram cooptados e manobrados pelo imperialismo; 2) a
dinâmica dos processos como na Líbia e Síria é desde sua gênese diretamente
controlada por agentes do imperialismo. No caso líbio, podemos assinalar o fuzilamento
massivo de operários por parte das forças do CNT. Operários em sua maioria
originários da África Subsaariana e que por sua vez, compõem a maior parte da
classe operária Líbia. Os que depois disto não viram onde se encontrava a
trincheira de classe não merecem ser chamados marxistas. Com a palavra o
operariado negro atacado pelos ‘rebeldes de Bengasi’:
http://www.youtube.com/watch?v=FzmamhtoAPU.” (vide em “REVOLUÇÕES ÁRABES” OUCONTRA-REVOLUÇÕES DEMOCRATIZANTES?, em REVISANDO O REVISIONISMO II, A herançaque nós renunciamos da política Frente Populista do Partido Obrero)
A atual revolta teve como
estopim a reação legítima a uma nova provocação imperialista lançada na
fatídica data de 11 de setembro, através de um filme do produtor
judeu-americano Sam Bacile, apoiado pelo pastor fundamentalista Terry Jones. O
filme ataca de forma reacionária e preconceituosa a religião muçulmana. Esta
rebelião multicontinental poderá ser o ponto de virada levando do empantanamento
atual das forças mercenárias pró-OTAN na Síria a derrota de toda a operação.
Além
disto, o envolvimento da Al Qaeda em alguns ataques anti-EUA torna a situação realmente
complicada para o imperialismo que pretendia continuar poupando-se dos custos
políticos de uma ação direta contra Damasco continuando a recorrer aos serviços
da Al Qaeda na Síria como já o fizera na Líbia. O grupo guerrilheiro novamente
morde a mão do dono como fizera no 11 de setembro. O plano inicial contava com
a colaboração de Tariq al Fadhli, um antigo comandante iemenita da Al Qaeda que
havia chegado a um acordo com os EUA e Arábia Saudita para enviar 5.000 combatentes
do grupo para ajudar os “rebeldes” a derrotar Bashar al Assad na Síria. Todavia,
Washington e Ryad foram longe demais na manipulação da primavera árabe, acabando
por criar um efeito boomerang, provocaram a agora primavera islâmica. Isto cria reveses crescentes na nova cruzada que tem como fim o controle do Irã. É importante notar como o tema destes protestos ingressou nas eleições presidenciais estadunidenses. O debate principal entre os candidatos a
imperador acerca da crise da economia imperialista que não encontra uma solução nos marcos da nação estadunidense tende a buscar a saída em uma nova aventura militar recolonizadora de toda a região rebelada.
Obama prometeu vingança, babando
de ódio como Bush após o 11 de setembro. O imperador reconheceu a dimensão do
problema: “Não há dúvida que são dias difíceis” (idem), cobrou responsabilidade
dos aparatos repressivos títeres como a junta militar do Egito que por trás das
eleições fraudulentas segue governando para o imperialismo e do qual recebe 1,5
bilhão de dólares por ano em “assistência militar” e ameaçou: “Continuaremos a
fazer tudo o que pudermos para proteger os americanos que estão servindo fora
do país. Quer isso signifique aumentar a segurança de nossos postos
diplomáticos, trabalhando com os países anfitriões – que têm a obrigação de
garantir segurança — e deixar claro que a justiça virá para aqueles que
causarem danos aos americanos” (idem).
Se a “primavera árabe” foi abertamente apoiada pelo imperialismo como a modernização democrática de toda a região semi-colonial — no que foi acompanhado por não poucos agrupamentos oportunistas e centristas que se dizem trotskistas (LIT, CMI, CRCI, L5F, FT, FLTI, etc.) — agora, em uníssono, o imperialismo demoniza o que denomina de “ira islâmica”.
Os marxistas sabem muito bem
das limitações que possuem estes movimentos conduzidos por direções burguesas e
pequeno burguesas, como a Irmandade Muçulmana, o Hamas, a Al Qaeda, o Hizbollah ou o Talibã. Estas limitações se aprofundam quando se apóiam no fanatismo
religioso. Mas, não há como ignorar que por trás da aparência de conflito por
um estopim meramente religioso, está objetivamente e em sua essência a maior e
mais ampla revolta espontânea antiimperialista mundial das últimas décadas
contra as representações diplomáticas, militares e comerciais imperialistas em
toda a região. Os marxistas compreendem que sendo a religião o reflexo espiritual da miséria real do homem em uma sociedade opressora, a eliminação da alienação religiosa pressupõe o combate às condições de miséria e barbárie impostas pela dominação imperialista. Não por acaso, o fanatismo religioso é maior nas
sociedades dominadas pelo imperialismo do que no interior dos países
imperialistas.
Rompendo com o materialismo contemplativo feuerbachiano para produzir um programa que levasse a prática revolucionária da luta de classes, Marx analisa a essência da questão: "Feuerbach não vê, por isso, que o próprio 'sentimento religioso' é um produto social e que o indivíduo abstrato que analisa pertence na realidade a uma determinada forma de sociedade." (Tese 7 sobre Feuerbach, 1845). Por isto, não nos deixamos confundir nem influenciar pela propaganda de guerra do imperialismo com sua ideologia pós-moderna de atribuir a rebelião intercontinental ao fanatismo religioso, como tentou fazer Hillary: “Os povos do Egito, Líbia, Iêmen e Tunísia não trocaram a tirania de um ditador pela tirania de uma turba” (UOL, 14/09), declarou a Secretária de Estado estadunidense durante cerimônia em memória dos americanos mortos em um ataque ao consulado dos EUA em Bengasi, na Líbia, nesta semana. O ataque deixou quatro mortos, incluindo o embaixador dos EUA no país, Christopher Stevens. A grande mídia capitalista que havia comemorado a ausência da influência da Al Qaeda e de outros organismos insurgentes de cunho religioso na "primavera árabe", agora está se deparando com a profunda influência do fundamentalismo religioso como elemento canalizador da hostilidade antiimperialista nesta primavera de verdade.
Rompendo com o materialismo contemplativo feuerbachiano para produzir um programa que levasse a prática revolucionária da luta de classes, Marx analisa a essência da questão: "Feuerbach não vê, por isso, que o próprio 'sentimento religioso' é um produto social e que o indivíduo abstrato que analisa pertence na realidade a uma determinada forma de sociedade." (Tese 7 sobre Feuerbach, 1845). Por isto, não nos deixamos confundir nem influenciar pela propaganda de guerra do imperialismo com sua ideologia pós-moderna de atribuir a rebelião intercontinental ao fanatismo religioso, como tentou fazer Hillary: “Os povos do Egito, Líbia, Iêmen e Tunísia não trocaram a tirania de um ditador pela tirania de uma turba” (UOL, 14/09), declarou a Secretária de Estado estadunidense durante cerimônia em memória dos americanos mortos em um ataque ao consulado dos EUA em Bengasi, na Líbia, nesta semana. O ataque deixou quatro mortos, incluindo o embaixador dos EUA no país, Christopher Stevens. A grande mídia capitalista que havia comemorado a ausência da influência da Al Qaeda e de outros organismos insurgentes de cunho religioso na "primavera árabe", agora está se deparando com a profunda influência do fundamentalismo religioso como elemento canalizador da hostilidade antiimperialista nesta primavera de verdade.
Para desenvolver todo o potencial
desta revolta antiimperialista é preciso superar a alienação religiosa que a
contém e dotá-la de consciência política comunista contra o grande capital e
seus fantoches, construindo o partido mundial da revolução socialista para
varrer a dominação imperialista, destruir o títere sionista, libertando ao povo
palestino e ao conjunto dos povos da região da barbárie através de uma
verdadeira primavera socialista.
Liga Comunista - Brasil
Tendência Militante
Bolchevique - Argentina