Redução
de juros de Dilma favorece banqueiros, aumenta assédio sobre bancários e
burocracia sindical sabota desde já a campanha salarial em virtude das campanhas
eleitorais governistas
Texto de subsídio a contribuição da LC ao Congresso Nacional dos Empregados da CEF
No
dia 02 de junho foi realizado o Congresso Estadual dos Empregados da Caixa
Econômica Federal – FETEC/CUT, São Paulo. O Congresso que contou com a
participação de aproximadamente 100 delegados, tinha como principal objetivo
eleger os delegados para O Congresso Nacional dos trabalhadores do Banco. Como
era previsível, a burocracia cutista nem de longe estava interessada em
discutir os ataques pelo governo Dilma à categoria. Os delegados eleitos nos
locais de trabalho e na assembleia do dia 29 de maio, agora elegeram os
delegados para o 28º CONECEF, que ocorrerá entre os dias 15 e 17 de junho em
Guarulhos, São Paulo.
Os
bancários e, sobretudo os da CEF, sentem o agravamento do assédio moral que já
vinham sofrendo graças às recentes medidas “anti-crise” de redução dos juros
tomadas pelo governo Dilma. A direção da estatal tenciona até pela abertura das
agências aos sábados, ameaçando uma conquista histórica da categoria.
Dentro
de seus locais de trabalho, os bancários efetivos e mais ainda os trabalhadores
terceirizados estão vivendo um clima de grande pressão com vários conflitos
cotidianos provocados pela direção do banco e seus chefetes. Tudo isto porque
vem aumentando a quantidade de trabalho sem que existam trabalhadores para
atender a demanda 1. Esta situação que já era extenuante para todos aqueles que
trabalhavam no Banco, piorou após as medidas de Dilma, o tal “crédito fácil”,
supostamente em favor da facilitação do crédito para a população (clientes)
visando dinamizar o mercado interno. Outra medida recente do governo Dilma, a
extensão do prazo para pagamento dos imóveis financiados de 30 para 35 anos, também
contribuiu para elevar brutalmente a jornada dos bancários da CEF. A tolerância
creditícia de Dilma neste caso visa sobretudo beneficiar a especulação
imobiliária cuja bolha não para de crescer e tende a reproduzir no Brasil o
estouro que vemos hoje na Espanha.
PAUPERIZAÇÃO
RELATIVA ATRAVÉS DA ESCRAVIDÃO POR DÍVIDA
A
suposta “facilitação do crédito” para “permitir o acesso da população aos bens
de consumo”, marca registrada dos governos Lula e Dilma, é um engodo
capitalista que maquia o arrocho salarial, substituindo o reajuste dos salários
– reivindicado pelos trabalhadores mas negado pela burguesia e pelo governo –
por maior endividamento dos trabalhadores. Isto cria para as massas a ilusão de
que finalmente estão tendo acesso aos “sonhos de consumo”. Mas, na verdade,
elas estão trabalhando agora mais do que nunca, em ritmos e jornadas alucinantes,
que resultam em uma lucratividade espetacular para os patrões. Assim, em troca
da “isca” do consumo e cada vez mais escravizados à dívida que esta ilusão cria,
os trabalhadores multiplicam de maneira estratosférica os lucros dos
capitalistas e entre eles os banqueiros. Se o que Marx chamava de pauperização
relativa significava o aumento dos salários de forma bem inferior ao aumento da
riqueza dos patrões 2, temos uma versão bem mais perversa deste fenômeno onde
os salários são arrochados e os trabalhadores escravizados por dívida.
Outro
argumento em favor das medidas “anti-crise” é o de que a redução das taxas de
juros cobradas pelos bancos privados diminuiria o spread bancário (diferença
entre a taxa de juros que os banqueiros tomam emprestado e a que eles
emprestam) e conseqüentemente reduziria os custos da produção e da circulação
de mercadorias. Em contrapartida os banqueiros da Febraban exigiram que o
governo sacrificasse a já minguada “rentabilidade” das cadernetas de poupança, que
mal alcança o rendimento dos falaciosos índices de inflação oficiais, para
estimular a transferência das aplicações da poupança para os fundos de renda
fixa que passam a remunerar pelo o triplo da poupança 3. E todavia, os
banqueiros, que a contra-gosto reduziram os juros, aumentaram a restrição ao
crédito.
Mas
se para o centrismo trotskista basta limitar-se a criticar os aspecto monetários
da política governista, os defensores de uma revolução social dirigida pelo
proletariado não podem se dar ao luxo de desprezar o fato de que o objetivo central
da redução dos juros bancários é a maior drenagem da mais-valia extraída do trabalho
produtivo, ou seja, do proletariado industrial, pelo capital financeiro via
sistema bancário através do estímulo a contração de mais empréstimos. Empurrado
pelo Estado, melhor dizendo, através dos bancos estatais, o proletariado
acertará o que deve com os bancos privados.
A
suposta competição interbancária por quem capta mais clientes em busca de
empréstimos é uma falsa idéia patrocinada pela mídia burguesa para encobrir o
favorecimento dos banqueiros na operação (“Crédito nos bancos estatais cresce 2
vezes mais que nos privados” manchete principal do Estado de São Paulo em
04/06/2012). Como no Proer e no Prouni, o “crédito fácil” é mais uma transferência
de dinheiro estatal para o capital privado custeada pelos trabalhadores de uma
forma menos explicita do que os casos da compra do Panamericano pela CEF ou
agora o saneamento escandaloso do rombo aplicado pelos banqueiros donos do
Cruzeiro do Sul (ligados ao Bradesco). Basta ver que não houve nenhum
significativo aumento na contratação de empréstimos nos bancos privados. Porque
os próprios bancos privados sequer fizeram uma encenação para maquiar a
operação oferecendo mais linhas de crédito. “Dados do Banco Central mostram
crescimento de 1,9% na carteira das instituições estatais em abril em relação a
março, mais que o dobro dos 0,7% verificados nos bancos privados.” (O Estado de
São Paulo, 03/06/2012). Vale destacar que os banqueiros além de não se
interessarem em fornecer mais empréstimos aos pequenos clientes, no pouco que
reduziram suas taxas de juros ainda aumentaram as restrições ao crédito. Logo
de imediato a medida “para incentivar o consumo interno” resultou no efeito
contrário e pela primeira vez desde o início do governo Lula a venda de carros
despencou em abril (mês de aquecimento e não de retração das vendas de
veículos). Foi então que novamente o governo Dilma sai em amparo do grande
capital e realiza mais uma renúncia fiscal reduzindo mais uma vez o IPI do
setor automotivo para reduzir o estoque dos veículos nos pátios das montadoras que já começaram a demitir.
A
redução dos juros bancários está a serviço dos banqueiros, induzindo os
trabalhadores já inadimplentes a contraírem dívidas na CEF e no BB para
saldarem as dívidas nos bancos privados que já não podiam pagar. Assim, graças
ao governo Dilma os banqueiros conseguem ampliar de forma estratosférica o
montante de riquezas que desviam da produção para o ao capital bancário.
Uma
comprovação de que esta “linha de crédito” acabará no bolso dos banqueiros é
dada pelo levantamento realizado por outro setor da burguesia enciumado com
mais este presente dado pelo governo Dilma ao capital financeiro. Os
comerciantes paulistas agrupados na FECOMÉRCIO-SP (Federação do Comércio de
Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo) anunciaram sem muito ânimo que
o efeito da queda dos juros sobre suas vendas será irrisório uma vez que
“injetará no máximo 10 bilhões de reais para o consumo, cifra que equivale a
pouco mais de 1% do total previsto de vendas do comércio varejista neste ano” (Estado
de São Paulo, 21/04/2012).
E
não é por puro peleguismo que a burocracia sindical só finge que é contra o
assédio moral enquanto deixa que ele ocorra de forma crescente em nosso local
de trabalho. Como a LC já criticamos mais de uma vez:
“Hoje,
os sindicatos funcionam como verdadeiras empresas capitalistas contra seus
associados trabalhadores. O sindicato dos bancários, a APCEF e a FENAE
converteram-se em empresas com estruturas capitalistas que se associam aos
banqueiros e especuladores, participando do mercado financeiro través dos
fundos de pensão. E não só isto, através de parcerias como a FENAE/PAR
CORRETORA com a Caixa, os dirigentes sindicais se associam ao capital
financeiro para aumentar as metas de lucratividade e venda de produtos, ao
assédio moral sobre os próprios bancários. Por fim, as entidades sindicais que
deveriam nos representar e nos defender contra o assédio moral e a exploração,
passam a nos superexplorar também. Não é a toa que estes vendidos entregam
nossas campanhas salariais e apenas fingem lutar contra o assedio moral. Há
muito estes pelegos são sócios de nossos patrões, recebendo gordas comissões de
sua parceria empresarial pela superexploração que massacra os bancários.” (“BANCÁRIOS- SÃO PAULO, Por uma oposição de verdade para a APCEF!”, dO Bolchevique #3, 14/03/2011)
Todavia,
nada disto foi discutido, nem um plano de ação foi preparado para a campanha
salarial que evidentemente precisa ser antecipada diante de tantos ataques. Mas
a direção do Sindicato dos Bancários de São Paulo fez foi liquidar a toque de
caixa o próprio Congresso Estadual.
Um
simpatizante da LC e cipeiro da CEF, ativista da tendência sindical “uma Classe”,
construída em 2011 a partir do piquete de greve da Agência Sete de Abril na
cidade de São Paulo elegeu-se delegado para o 28º CONECEF.
Ismael Costa
Humberto Rodrigues
1.
Isto é assim porque para o banqueiros os trabalhadores do banco representam um
custo ao qual ele quer reduzir. Não é por acaso que a principal causa dos
problemas de saúde dos bancários reside na sobrecarga de trabalho e no assédio
moral. O Banco opõe-se a contratação de funcionários suficientes para realizar todo
o trabalho necessário porque para o patrão (mesmo sendo o Estado) os bancários
são custos a serem restringidos. Diferente do operário fabril que ao
transformar a natureza material cria valor e logo em certa medida, quanto mais
operários explora mais lucros tem o patrão da indústria. Embora sejam
necessários ao sistema bancário, os trabalhadores bancários permitem a
realização do lucro do banqueiro (principalmente através da cobrança de juros
bancários) mas não são produtores de riqueza material, não produzem valor que já
foi produzido na esfera da produção e só pode ser originado em uma parte da
mais-valia explorada do proletariado industrial.
2.
A lucratividade do sistema financeiro cresceu 550% nos dois governos de Lula,
saltando de R$ 34 bilhões para R$ 170 bilhões. No mesmo período, os bancários
tiveram apenas 56% de reajuste salarial.
3.
Antes das novas regas da caderneta de poupança, o rendimento desta aplicação
preferencial dos trabalhadores era de 0,5% ao mês + TR (equivalente a 6,17% ao
ano + TR). Agora, com a poupança vinculada a taxa Selic, caso a Selic seja
maior que 8,50%, a rentabilidade da poupança é a mesma que já conhecemos: 6,17%
ao ano + TR. Mas caso a Selic seja menor ou igual a 8,50%, a rentabilidade será
de 70% da Selic + TR. A tendência atual é que a com a Selic em torno de 8,2%, a
TR seja zero. Assim, o rendimento efetivo da poupança será apenas os 70% da
Selic. Ou seja, a poupança, o principal investimento do proletariado e dos
pequenos poupadores foi desvalorizada para 0,55% ficando abaixo até da inflação
oficial.