De que oposição precisamos
para construir uma luta vitoriosa contra os banqueiros e o governo Dilma,
patrão dos bancos públicos?
por Ismael Costa
Simpatizante da LC, cipeiro e
delegado ao 28º CONECEF,
intervém no plenário do Congresso defendendo
a tese do
agrupamento “Uma classe”
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Entre os dias 15 a 17 de
junho ocorreu em Guarulhos (SP) o 28º Congresso Nacional dos Empregados da
Caixa Econômica Federal( CONECEF ). O Congresso contou com a presença de 321
delegados. Estiveram presentes os agrupamentos sindicais: Articulação Bancária,
CTB, CSD, MNOB/CSP-Conlutas, Intersindical, Uma Classe, Bancários de Base e
Unidos para lutar.
Embora a luta pela melhoria
das condições de trabalho fosse o tema central do fórum, a direção do movimento
(PT e PCdoB), completamente comprometida com o capital financeiro e com o
governo Dilma só pode limitar-se a sabotar qualquer luta contra o assédio moral
e a opressão crescente nos locais de trabalho. E o pior é que conscientemente a
Contraf/CUT usa este tema, no qual é cúmplice da direção do banco, como artifício
distracionista para não avançar na discussão sobre a reposição das enormes
perdas salariais, que na CEF ultrapassam os 100%.
Assim, para impedir o livre
debate e deliberação no Congresso entre as delegações, todas as tramas
políticas e burocráticas foram utilizados, como: expositores (Dieese)
defensores de que o Brasil está cada vez melhor e os bancários obtendo vitórias
nas campanhas salariais – campanhas evidentemente sabotadas – enquanto as
correntes de oposição ficaram de fora da mesa do Congresso; divisão dos
congressistas em grupos controlados burocraticamente pela Contraf-CUT com
impedimento de que os próprios delegados participassem de outros grupos que não
os previamente impostos pela divisão dos congressistas realizada pela
burocracia.
Mesmo com toda a
burocratização, os camaradas do agrupamento “Uma classe”, do qual fazemos
parte, combateram as traições da burocracia e reivindicaram a reposição
integral das perdas salariais, a antecipação da campanha salarial e a
estatização do sistema financeiro sob o controle dos trabalhadores.
Na defesa das teses em
plenário, uma das companheiras do grupo, delegada sindical e cipeira, destacou
a importância da organização de base por local de trabalho, incluindo os
trabalhadores das lotéricas e os terceirizados. A camarada também desmascarou
que o tão propalado “Brasil como país de classe média” com “pleno emprego” se
realiza através da precarização do trabalho e da expansão do consumo que se dá
pelo aumento do crédito e do endividamento em níveis altíssimos das famílias.
Por sua vez, a tal “paz social” que reina no país é mantida pela política da
burocracia sindical que nos setores mais desorganizados da classe trabalhadora
realiza um papel policial (Jirau, canteiros de obras da Copa e PAC) e tem um papel
de contenção das lutas nos setores mais organizados da classe como petroleiros,
bancários e metroviários. Vale destacar a importância desta denúncia na fala da
camarada porque quem dirige o principal sindicato dos metroviários do país, o
de São Paulo, é exatamente o PSTU (que na oposição bancária dirige o MNOB) onde
recentemente foi abortada uma poderosa greve desta categoria em menos de 4h
através de um acordo rebaixado, inferior ao orientado pelo próprio Tribunal
Regional do Trabalho, acordo que já tinha sido rejeitado amplamente pelos
trabalhadores na assembléia que deflagrou a greve. Por isso, a construção de
uma oposição classista nos bancários, passa longe de constituir-se como uma
tendência sindical “conselheira de esquerda” ou colaboradora do PSTU, que
desmontou a recente greve nos metroviários.
Um outro camarada, cipeiro,
também defendeu a tese da tendência em plenário, destacando a necessidade de
que os próprios bancários tomem a luta em suas mãos, que as assembléias de
greve sejam a instância máxima de deliberação, elegendo o comando de greve, ou
seja, que não exista delegado nato para o comando (delegados sindicais,
cipeiros e dirigentes indicados pela burocracia), mas sim que este seja
construído no próprio calor da luta e votado pelas próprias assembleias de
greve. Na falação, o camarada denunciou o golpe da Articulação na greve de 2011
em São Paulo quando a burocracia dividiu a categoria por banco e retardou o
horário da assembléia para a gerentada e demais fura-greves poderem deformar a
votação: “que não aconteçam mais situações vergonhosas como a que aconteceu no
dia 5 de outubro em que setores de oposição ganharam votações, mas não levaram.
A votação foi falsificada”. Click aqui e veja o vídeo da assembléia
(http://www.youtube.com/watch?v=kx8sWne6OuM). O camarada também defendeu a
unidade da classe trabalhadora “contra todas as barreiras impostas pela
burguesia quanto pelas burocracias sindicais”. O fim de todas as barreiras
entre efetivos, estagiários, terceirizados, trabalhadores em lotéricas por que
isto fortalece a nossa luta. E continua o camarada: “Defendemos também a
efetivação sem concursos público tanto dos terceirizados quanto dos
estagiários, pois a capacidade deles é provada diariamente no trabalho que eles
realizam. Defendemos também a extensão dos direitos dos trabalhadores da Caixa
Econômica para os trabalhadores das lotéricas. [sobre isto ler Box anexo a esta
matéria: NOSSA LUTA CONTRA A TERCEIRIZAÇÃO - Efetivação sem concurso dos precarizados e contratação viasindicato de novos trabalhadores! Em defesa dos plenosdireitos sindicais e trabalhistas,trabalhou em banco bancário é!] Defendemos a
unificação das lutas como a que começou a ser realizada ano passado com os
correios. Que a isonomia também saia do papel, pois cada vez está constando
apenas como uma palavra. Fim das metas e do assédio moral pois nós não aceitamos
nenhum tipo de meta [as outras teses se opõe apenas as metas abusivas]. Tendo
meta vai ter assédio moral que está destruindo a saúde dos bancários, não só da
Caixa mas dos bancários em geral, com problemas de todo tipo: psiquiátricos,
ortopédicos, alcoolismo,... Defendemos também a antecipação da campanha
salarial. Uma questão fundamental para o nosso agrupamento é uma bandeira que
foi abandonada e defendida em muitos Congressos anteriormente: A estatização do
sistema financeiro sob o controle dos trabalhadores porque desde o início do
século XX quem domina o mundo é o capital financeiro. Por isto nós defendemos a
estatização e a criação de um banco estatal único sob o controle dos
trabalhadores e da população em geral”.
O mesmo camarada também
conseguiu fazer aprovar no grupo de discussão em que estava a extensão do
direito a voto para representante de CIPA de terceirizados, estagiários e
jovens aprendizes, rumo a conquista de plenos direitos, como também o de ser
eleito como cipeiro ou delegado sindical, parte da luta para a integração plena
e efetivação destes setores mais precarizados da categoria. Outra proposta
defendida pelo camarada e aprovada pelo seu grupo foi a defesa da extensão da
pausa de 10 minutos para todos os funcionários que trabalham com entrada de
dados, avançando sobre a proposta aprovada no 27º CONECEF que se restringia
apenas ao trabalhadores que atendem público. Todavia, é preciso extender este
direito elementar de pausa para o descanso durante o trabalho também para os
terceirizados e estagiários.
Durante o Congresso, o MNOB
costurou um manifesto com amplos setores da oposição à Contraf/CUT e também da
situação (CTB/PCdoB e Intersindical/PSOL) em vários sindicatos do país. O
manifesto deste frentão assinado também pelos agrupamentos “Bancários de Base”
e “Unidos pra Lutar” (CST/PSOL) ficou bem ao gosto do arqui-governista PCdoB.
Tanto é assim que apesar de criticar a falta de independência política da
CONTRAF/CUT, em todo o documento que possui 633 palavras Dilma não é citada uma
só vez e não há absolutamente uma só crítica ao seu governo, gerente da CEF e
principal responsável por todos os ataques aos bancários, desde os econômicos
até diretamente o adoecimento dos trabalhadores.
Por ser um documento para
atrair a CTB/PCdoB (que dentre outros desvios é a favor da restrição aos
direitos dos terceirizados) e não para defender uma alternativa de combate e de
oposição que nos leve a derrotar a direção da CEF e o governo Dilma na campanha
salarial, o agrupamento “Uma Classe” se recusou a assinar o manifesto do
Frentão.
O balanço político do 28º
CONECEF alerta ao conjunto dos empregados da CEF que não podem esperar pela
burocracia da CONTRAF/CUT para organizarmos nossa campanha salarial, precisamos
construir desde já em cada local de trabalho os embriões dos futuros piquetes
de greve que a exemplo do piquete que deu origem ao agrupamento “Uma classe”
levou adiante a greve de 2011, a fim de que consigamos realizar uma greve
vitoriosa, unificando-nos com outras categorias em luta e derrotando o conjunto
da burocracia sindical e o governo Dilma.