TRADUTOR

domingo, 26 de fevereiro de 2012

BRASIL “6o PIB MUNDIAL” 5/5

O retrocesso agro-exportador turbinado na era Lula-Dilma caminha para o esgotamento
dO Bolchevique #8, janeiro de 2012
A frase mais repetida nas últimas semanas por todos os economistas burgueses é que o Brasil “não é mais o país do futuro, mas sim do presente”. O cálculo da classe dominante comissionista brasileira responsável por ampliar os Investimentos Estrangeiros Diretos no Brasil é o seguinte: A China é o dínamo mundial e cresce de forma descolada e na medida que retraem as economias da UE, EUA e Japão. Nós nos colamos à China que é enorme e precisa de muita matéria prima (commodities) para alimentar seu crescimento. Enquanto nós fornecermos o que a China precisa, acompanharemos o crescimento chinês de vanguarda econômica.


Neste quadro, os donos do capital no Brasil giram para a China, que converte-se no principal parceiro comercial brasileiro. Paralelamente, os commodities que respondiam por 40% da pauta de exportação nacional em 1990, atingem a marca de 51% entre 2007 e 2010. Os principais produtos básicos exportados pelo país são minério de ferro, petróleo bruto, carne de frango, café em grão, carne bovina, milho e soja.

Assim, a controversa questão da “desindustrialização do Brasil”, não pode ser encarada como uma mera “tendência mundial que atinge a todos”, como justificam alguns analistas - inclusive que se dizem marxistas - para renegar a caracterização marxista de que a classe operária industrial é o setor do proletariado potencialmente mais revolucionário. Em termos absolutos e também em termos relativos, o operariado (enriquecido numericamente pelo operariado da agro-indústria e da mineração) só aumentou de tamanho em todo planeta desde a revolução industrial. Também não se trata de uma mera barganha da FIESP (embora esta confraria burguesa tire proveito da situação) como analisam os que vêem o fenômeno sob um ponto de vista mesquinhamente nacional. Mais do que a desindustrialização do Ocidente, trata-se da industrialização da China e alguns países vizinhos. A chamada terceira divisão mundial do trabalho muda o eixo de produção mundial para o oriente, que se converte em indústria planetária (e a conversão da China em maior parceiro comercial do Brasil em 2009 só acentuou a desindustrialização do Brasil, basta ver o que aconteceu com a indústria de calçados, têxteis e de brinquedos apesar dos subsídios do Estado brasileiro a estes ramos). Embora na maioria dos países ocidentais o setor de serviços se fortaleça em detrimento da indústria (o que expressa também um período de longa retração econômica imperialista), é preciso notar que a desindustrialização também é um elemento que reflete a recolonização do Brasil. Se em 1980, o parque industrial brasileiro era maior que o da Tailândia, da Malásia, da Coréia do Sul e da China somados, em 2010, a indústria brasileira recuava para menos de 15% do que esses países somados produziram. A tentativa de converter o Brasil em indústria regional da América do Sul na década de 1990 foi estrangulada pelo crescimento da China. Foi então que no governo Lula se impôs o curso da primarização da pauta de exportação do Brasil. O retrocesso reflete uma espécie de volta ao sistema de plantation (quando o Brasil exportava cana e comprava açúcar). No campo mineral, por exemplo, o Brasil representa cerca de 75% do comércio mundial de minério de ferro, mas apenas 2% do comércio total de aço. Agora exporta ferro e compra aço.

Longe do que apregoa a cantilena oficial, o chamado crescimento brasileiro não se apóia em “fundamentos sólidos”, mas sobre bases que o governo não tem o menor controle, como o fluxo de capitais externos e o momentâneo alto preços das commodities. O controle de capitais no Brasil e, obviamente, de todos os países imperializados de uma maneira geral, não passa de uma formalidade fraudulenta. Como se diz no mundo dos negócios tupiniquins, os IEDs que recolhem o IOF (Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguros) é porque têm um mau contador. Assim que a maré mudar lá vem o Brasil descendo a ladeira. E o “boom” dos preços das commodities que tem sustentado os saldos comerciais e vem beneficiando os governos Lula-Dilma desde 2004 parece estar se esgotando.

“A turbosoja desacelera. Outro esgotamento iminente é o boom da soja brasileira. Isto ainda não está evidente. Espera-se que em 2012 a produção que alimenta a China alcance 78 milhões de toneladas (ante 75,5 milhões de 2011). Parte do aumento é devido à adoção crescente de uma nova variedade de soja com crescimento rápido, que matura em 90 dias em comparação com os 120  do grão tradicional. Isto irá permitir ao Brasil dar um salto também na produção de milho, uma vez que uma grande área usada pela soja poderá estar disponível para uma segunda colheita. Considerando todas as culturas, as exportações extensivas de outubro de 2010 a setembro de 2011 faturaram US$ 85 bilhões. Isso representou um aumento de 33,6% em relação ao período anterior. Curiosamente, esta melhoria deveu-se ao aumento médio de 25,9% no preço do dólar e apenas 6,1% em volume de exportação. A lucratividade baseada nos preços externos não vai durar para sempre’, adverte Rubens Ricupero [ex-ministro da Fazenda do governo Itamar que caiu porque falou demais]. E recorda que “até a aparição da China, os mercados tinham um crescimento orgânico muito pequeno’. Como exemplo, menciona que “o café não conheceu esta demanda e cresce apenas um ou dois pontos anuais”. Como resultado temos o Brasil, o grande produtor de café também e ‘o segundo maior mercado consumidor do produto porque os chineses até agora não tomam muito café’ [o crescimento da indústria cafeeira nacional é uma referência real para as perspectivas do crescimento de qualquer ramo da produção nacional baseada no mercado interno, mesmo se tratando do café que, depois da cana de açúcar e até a crise de 1929, quando o café representava 70% de tudo que o Brasil exportava, foi o principal produto de exportação nacional, a soja da época]. No caso da soja, os problemas no horizonte imediato são “internos”: os custos de produção seguem crescendo. Um deles é fundamental: a quantidade de fertilizantes* que devem ser usados nas terras tropicais, naturalmente pobres em nutrientes, é muito grande: 450 kg por hectare. Onze vezes mais que na Argentina (40 kg) e quinze vezes mais que nos EUA (30 kg). Logo, estão aí os limites físicos. Segundo a Aprosoja, a associação que nucleia aos produtores (sic), na última década a produção subiu 200%, no entanto a área plantada aumentou apenas 48%. Este é o resultado da contribuição da biotecnologia e das técnicas de plantio direto, ferramentas que já deram sua maior contribuição. Do ponto de vista da expansão mesma, ela tem sido fundamentalmente através da colonização, para uns, ou de destruição, para outros, de grande parte da vasta zona conhecida como “Cerrado”, uma savana tropical de quase dois milhões de km quadrados, que ocupa o centro-sul do país, equivalente em tamanho a seis Alemanhas ou a duas Venezuelas. Desta forma, alguns analistas têm advertido que tal exploração não seria financeiramente sustentável em alguns setores do Cerrado sem o apoio financeiro estatal. Para Silvia Matos, ‘nosso problema crônico é que o custo Brasil já estaria afetando o agronegócio’. As vantagens comparativas, ‘apesar de todos nossos problemas logísticos, o custo tributário e o boom dos preços (efeito China) permitiram um crescimento muito bom no setor, mas acredito que este também está se esgotando.” (America Economia, Edição internacional, janeiro de 2012).

Embora alguns economistas esperem compensar a decadência prevista no preço das commodities com o petróleo do pré-sal, não é por demais lembrar que “dada a quantidade de investimentos necessários, certamente a exploração do petróleo do pré-sal retirará recursos de outros setores, podendo inviabilizá-los a longo prazo.” (idem).

O esgotamento da primarização do Brasil. Apesar das dimensões do país, a fronteira agrícola não é lá muito grande. “O solo da Amazônia possui uma fina e única camada de nutrientes, portanto se esta for retirada, os minérios e sais presentes na terra acabam deixando o solo improdutivo e irreversível. Após a colheita da soja, o correto a se fazer seria deixar o solo “descansar” para recuperar os nutrientes perdidos durante a plantação, mas os latifundiários continuam plantando, visando o lucro imediato. Os estados do Pará, Rondônia e Mato Grosso, são responsáveis pela quase totalidade da soja plantada no bioma Amazônia. Só o estado de Mato Grosso concentra 90% do cultivo, e está sendo ocupado por produtores rurais, na maioria descendentes dos migrantes do Sul, que desenvolvem o chamado agronegócio. O avanço da fronteira agrícola tem como principal combustível o consumo de grãos por EUA, Europa e a Ásia, que têm poucas áreas para expandir sua agricultura. A China, por exemplo, está recentemente aumentando o seu consumo de carne bovina, suína e aves, e estas são alimentadas com ração de soja produzida no Brasil.” (Thaís Morioka e Lucas Negrão, A infreável fronteira agrícola). Não por acaso, a plantação sojeira que obteve maior rentabilidade no cerrado avança impiedosamente sobre as terras indígenas do Mato Grosso do Sul e no Paraguai onde os maiores plantadores de soja são brasiguaios. Em outras palavras a manutenção do modelo agro-exportador da turbosoja brasileira comissionista da Cargill, da Bung, etc. requer uma expansão do uso da terra rumo às fronteiras agrícolas do Paraguai e quiçá Uruguai por parte do latifúndio “brasileiro”. Em resumo, na melhor das hipóteses, o Brasil “potência” revive algo parecido com o ciclo de crescimento anterior à crise de 1930 baseado em um modelo agro-exportador, aquém inclusive da industrialização de economia substitutiva pós-segunda guerra mundial.

* Não é a toa que o Brasil é o maior importador mundial de fertilizantes. 90% dos fertilizantes usados na produção agrícola nacional é importada. Este volume está bem acima do que é importado por outros países com elevada produção de alimentos. Por sua vez, apenas três multinacionais controlam a venda de fertilizantes para o Brasil, são a Bunge, a Cargill e a Yara.