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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

DECADÊNCIA DO IMPERIALISMO DOS EUA CATAPULTA LIDERANÇA REGIONAL DO IRÃ

Decadência do imperialismo dos EUA catapulta liderança regional do Irã

Há uma década da "primavera árabe" imperialista, Irã, Rússia e Síria se fortaleceram. EUA, Israel e Arábia Saudita se desesperam. Para reverter a crise da hegemonia, Biden dá início a uma nova ofensiva.

Extraído do Blog Grupo Emancipação do Trabalho
Versão publicada em inglês pelos camaradas da Fração Trotskista da Grã Bretanha: Decline of US imperialism catapults Iran’s regional leadership


Logo no primeiro dia do governo Biden, foi lançada uma nova operação de invasão da Síria, com 200 soldados e um comboio de 40 caminhões carregados com armas e materiais logísticos da chamada coalizão internacional liderada pelos EUA entrou no interior de Hasaka via al-Walid cruzando a fronteira norte do Iraque para dentro da Síria. Trump havia iniciado uma retirada das tropas do Afeganistão, Iraque e Síria. Biden está tentando repo-las. O democrata nomeou velhos falcões de política externa, muitos dos mesmos responsáveis ​​pelas intervenções abertas e secretas de Obama na Líbia e na Síria no início da chamada 'Primavera Árabe'.
Desde 2011, o governo sírio, com o apoio da Rússia, Irã e o libanês Hezbollah vem resistindo bravamente as ofensivas militares imperialistas. Por isso, o imperialismo vem tentando derrubar o governo libanês, por todos os meios possíveis. Apesar de ser hegemonizado por neoliberais, o governo é composto também pelo Hezbollah, arqui-inimigo de Israel que heroicamente esteve na linha de frente das guerras que derrotam o Estado nazi-sionista, em 2006, no próprio Líbano, e em 2016, na Síria.

Na Líbia, mais recentemente a guerra híbrida contou com a explosão do Porto de Beirute em 4 de agosto de 2020, uma sabotagem, jogado no colo do governo libanês e as jornadas contra a corrupção, capitaneadas por agentes do imperialismo no país. O objetivo da operação é a mudança do regime libanês. Agora, durante o governo Biden, essas manifestações foram incrementadas pelos protestos contra a inflação, a crise econômica, que apesar de justas, são manipuladas externamente, seguindo o mesmo script da chamada primavera árabe, detonada pela insatisfação popular contra os efeitos da crise econômica mundial de 2008.


O novo imperador planetário trata de reeditar de forma acelerada, parecendo querer recuperar o tempo perdido, a política golpista que ele, como vice-presidente, Obama e Hillary deram início há quase uma década e que levou a sangrentos massacres no Egito, Líbia e a guerra sem fim na Síria.

Pirotecnia de Israel e poder crescente real dos herdeiros da primeira superpotência da história

Sincronizado e na vanguarda da nova ofensiva se encontra o Estado de Israel. No dia 13 de janeiro de 2021, o Estado sionista propagou com grande estardalhaço que havia realizado o maior e mais mortífero ataque aéreo contra a Síria desde o início da guerra em 2011, assassinando a 57 pessoas, alegando explicitamente que seu alvo eram os militantes da guarda revolucionária iraniana na Síria.

Vale lembrar que o assassinato de Soleimani, principal dirigente militar iraniano, foi a maior operação militar do governo Trump.

Mas há mais pirotecnia aérea e marketing do que avanços concretos na nova ofensiva da coalizão que na última década vem sendo derrotada palmo a palmo dentro da Síria, enquanto a unidade dos povos oprimidos da região se consolida. A crise dos EUA fortalece seu maior inimigo na região. A decadência do atual imperialismo apoiada em políticas nazi-sionistas, patrocínio de grupos mercenários e sanguinários como o ISIS, e do cerco cruel e crescente contra o Irã desde a revolução de 1979, contraditoriamente, vem catapultando a liderança regional iraniana. Vale lembrar que a Pérsia, atual Irã, derrotou a toda poderosa Mesopotâmia, libertou os hebreus do Cativeiro da Babilônia e revolucionou na política, edificando a primeira superpotência da história mundial.


A vitória sobre o Rei da Lídia, Creso, o homem mais rico de sua época, foi parte da conversão da Pérsia na primeira grande potência regional da história

Como retrata Magnier:

Na Síria, uma fonte militar com poder de decisão nos diz que “Israel foi capaz de atingir muitos equipamentos militares e destruiu muitos hangares”. Entretanto, há cerca de meio milhão de hangares na Síria que não contêm necessariamente armas e mísseis iranianos. Israel está planejando destruir a todos? Israel é capaz de erradicar as forças iranianas e seus aliados? É um bombardeio de propaganda, servindo (o Primeiro Ministro israelense Benyamin) Netanyahu? Israel está tentando atrair a simpatia dos países ocidentais para coletar assistência financeira? O objetivo é ter um apoio ocidental incondicional para todos os atos de Israel? Israel está sem dúvida tentando demonizar o Irã, embora a presença do Irã na Síria seja a pedido oficial do governo. Israel não conseguiu expulsar o Irã da Síria apesar de todos os seus berros e bombardeios. Hoje o Irã estabeleceu uma presença maciça na Síria que antes da guerra síria havia sido negada tanto ao Irã quanto a seus aliados, em Al-Mayadeen, Albu Kamal, Deir Ezzor, T3, Al-Sukhnah, Kajab e Palmyra, alcançando Homs. Da mesma forma, foram estabelecidos centros em Handarat, ao norte de Aleppo.”

“Israel começou a realizar manobras defensivas por medo de que seu inimigo pudesse avançar e tomar uma posição nos territórios que está ocupando, principalmente no norte de Israel que faz fronteira com o sul do Líbano. Os esforços estratégicos israelenses não conseguiram impedir o Hezbollah de estocar seus mísseis de precisão iranianos. Também fracassou em empurrar o Irã para fora da Síria mesmo quando desfrutou de quatro anos de apoio ilimitado da administração Trump e de uma presença russa amigável. Netanyahu se escondeu sob o manto de Putin para bombardear a Síria. Mesmo assim, o Irã está na Síria para ficar. Israel perdeu tanto a batalha quanto a guerra. Pode continuar realizando seu show aéreo enquanto a Rússia não o impedir”, concluiu a fonte. (Elijah J. Magnier, A Rússia fecha um dos olhos para os bombardeios israelenses na Síria?)

De fato, considerando que o resultado geopolítico da derrubada de Saddan Hussein não foi o fortalecimento dos EUA ou Israel mas do Irã sobre todo o Iraque; considerando que o resultado da “primavera árabe” na península arábica não foi a estabilização do domínio da ditadura da Arábia Saudita sobre a região, mas sua derrota para uma força militar infinitamente mais débil, a guerrilha iemenita, apoiada pelo Irã; considerando que o Hezbollah libanês, impulsionado pelo Irã, a guarda revolucionária do Irã foram, ao lado da Rússia e das próprias forças de Assad impuseram a mais humilhante derrota da frente sionista-estadunidense na Síria, é inescapável a conclusão de que o Irã é o grande vitorioso da década que começou com a primavera árabe imperialista e que o país se consolida como uma potência regional em meio a crise de hegemonia dos EUA e de Israel na região.

Na base desta expansão de seu poder geopolítico está a expansão de seu poder econômico e cultural, apesar de todas as sansões e sabotagens impostas pelos EUA e Israel a nação persa. A integração dos povos da região contra o imperialismo se realiza concretamente através do Plano Irã-Iraque-Síria para avançar na histórica Ferrovia Transnacional 'Land-Bridge' (em tradução literal, Ponte de Terra), como sendo o braço do mega projeto chinês da nova rota da seda (Belt and Road Initiative) na região, fazendo a ponte entre a China e o Mediterrâneo através de uma rota terrestre por dentro do Oriente Médio.

Literatura de propaganda fundamentalista patrocinada pelos EUA e Israel reconhece a expansão iraniana no "vácuo criado por um declínio percebido do poder dos EUA no Oriente Médio"

Simultaneamente, a Rússia está aumentando suas forças na Síria. As Forças Armadas de Moscou enviaram mais reforços e equipamento militar pesado ao aeroporto de Al-Qamishli enquanto reforçam sua presença a leste do rio Eufrates. As Forças Armadas russas enviaram mais tropas para a linha de frente com os militares turcos perto da cidade-chave de Tal Tamr. Entre Rússia e Turquia há uma relação permanente de tensão e associação. A Rússia também enviou recentemente mais navios para patrulhar a costa mediterrânea da Síria, a partir da base naval de Tartus. 

Turquia, Azerbaijão e Armênia

A Turquia busca esmagar qualquer organização curda dentro do território Sírio. Os curdos são uma nacionalidade oprimida sem Estado ou território próprio que habitam a Turquia (15 milhões), a Síria e o Iraque e em outros 23 países. Durante a guerra civil síria que começou em 2011, o presidente Bashar al-Ásad emitiu um decreto concedendo cidadania aos habitantes de origem curda, da qual eles estavam privados desde 1962. Todavia, uma fração dos curdos que se apresenta como “Forças Democráticas da Síria” (SDF) foi criada, patrocinada e armada pelos EUA, que também apoiaram o Estado Islâmico, a AlQaeda e todos os bandos mercenários imagináveis para derrubar o governo Assad. Para não permitir que a Síria se tornasse uma forte base militar da oposição curda, a Turquia realizou várias incursões militares em território sírio. O imperialismo patrocina então um guerra de caos que tem como principal vítima a população síria. O SDF luta contra o governo da Síria e contra a Turquia que também luta contra o governo da Síria para controlar a região ocupada pelo SDF.

“Um cerco foi imposto pela SDF nas cidades de Al-Hasakah e Qamishli, fechando as entradas e saídas dos bairros controlados pelo exército sírio e impedindo que os suprimentos de comida cheguem até eles.” ( Separatistas curdos patrocinados pelos EUA sitiam cidades sírias em Hasakah ) https://www.syrianews.cc/us-sponsored-kurdish-sdf-separatists-besiege-syrian-cities-in-hasakah/

Há poucos meses se desatou a guerra Nagorno-Karabaj, entre o Azerbaijão, apoiado pela Turquia, e a Armênia, que desejava mas não obteve apoio militar da Rússia. Diante da crise de hegemonia do imperialismo a Turquia trata de ampliar sua influência na região transcontinental onde se localiza, participando de disputas na Síria, Iraque, Mediterrâneo e no Cáucaso. Trata de ampliar seus domínios em regiões onde o controle da OTAN se fragilizou. O Sem o apoio de Putin a Armênia, o Azerbaijão ganhou a guerra. O governo armênio, do primeiro-ministro Nikol Pashinyan, um liberal muito próximo do capital europeu que ascendeu ao poder por uma “revolução de veludo”. A derrota armênia desencadeou fortes protestos de rua no país exigindo a renúncia de Pashinyan ao grito de “Nikol traidor” “Armênia sem Nikol".

Roma não paga aos traidores. Essa é a sina dos aliados vacilantes de Putin, dos governantes de países que foram antigos estados operários quando flertam com o Ocidente atlantista. São golpeados ou quase pelo próprio Ocidente. Foi assim com os governos da Ucrânia (Yanukóvytch), Bieolorússia (Lukashenko) e agora com a Armênia (Pashinyan). Nesse último caso da guerra Azerbaijão-Armênia, a vitória turca pode não ser uma derrota russa, mas sim uma derrota do imperialismo.

Tudo indica que o próximo período será de ações mais desesperadas do imperialismo e do sionismo na região. Quanto mais perdem terreno maior será sua selvageria. Como nos ensinou o revolucionário bolchevique “No período da crise, a hegemonia dos Estados Unidos será mais completa, mais aberta e implacável do que no período de prosperidade.” Leon Trotsky, Crítica ao Programa da Internacional Comunista, 1928.

Todavia, apesar de defendermos incondicionalmente o Irã contra EUA e Israel, alertamos que o atual presidente iraniano semeia confusão. O xeique Hassan Rohani, tanto por ser um interlocutor amistoso do imperialismo dentro da burocracia estatal iraniana quanto por representar os interesses da burguesia persa, não merece qualquer confiança dos trabalhadores na luta antiimperialista.

Nessa disputa, os trabalhadores do mundo todo têm um lado. Estão do lado oposto ao do imperialismo, de Israel, da Arábia Saudita e todos seus agentes políticos e militares, responsáveis pelos golpes, pela fome, miséria e por tornar a pandemia mais mortal contra a maioria da população mundial. Portanto, o que beneficia aos oprimidos e explorados do mundo é a derrota dessa ofensiva imperialista e de sua guerra híbrida. Os marxistas lutam com seus irmãos trabalhadores e povos oprimidos em qualquer parte do planeta contra o grande capital mundial, apontando que nenhuma vitória nos é suficiente nos marcos capitalistas e defendem um programa e uma estratégia independentes dos governos que se enfrentam com o imperialismo.