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sábado, 6 de fevereiro de 2021

O capitalismo não se preocupa com a vida das pessoas: O exemplo do Bradesco

O capitalismo não se preocupa com a vida das pessoas: O exemplo do Bradesco

Frederico Costa[1]


Em 2020, o Bradesco fechou 1.083 agências físicas e demitiu 7.754 pessoas do quadro de funcionários com o objetivo de conter os custos e reduzir as despesas. Em dezembro, a instituição contava com 3.395 unidades em todo o país, e um quadro de 89.575 trabalhadoras e trabalhadores. Os valores são, respectivamente, 24,2% e 8% inferiores aos números registrados no mesmo período de 2019. Tais medidas adotadas possibilitaram uma redução de R$ 3,2 bilhões ou 6,6% das despesas operacionais. Com isso, a eficiência operacional foi de 46,3% em 12 meses, o melhor desempenho da história do banco (https://interior.ne10.uol.com.br/noticias/2021/02/04/bradesco-fecha-1083-agencias-e-demite-7754--funcionarios-em-2020-203413).
Já em dezembro de 2020, numa teleconferência, Octavio de Lazari Júnior, presidente do Bradesco, afirmou que no 4º trimestre ele terminava de “cortar o mato alto”, em alusão às demissões em massa que o banco vinha fazendo nos últimos meses (https://www.bancarios-es.org.br/para-presidente-do-bradesco-demitir-em-massa-e-cortar-mato-alto/).

Em plena crise, o Bradesco teve o maior lucro entre as empresas de capital aberto listadas na América Latina no primeiro semestre de 2020. Segundo levantamento da Economatica, somando o primeiro e segundo trimestres, o banco teve um resultado de US$ 1,26 bilhão (R$ 6,85 bilhões), com queda de 59% em relação aos seis primeiros meses de 2019. A referida queda foi causada pelo forte aumento de reservas para cobrir eventuais “calotes”, em consequência dos danos econômicos da pandemia. Apesar disso, o setor bancário é o que mais lucra dentre as companhias da América Latina (https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/08/bradesco-e-empresa-latina-que-mais-lucrou-no-primeiro-semestre.shtml).

Esse lucro todo, apesar da crise, não vem do nada, é fruto da atividade de trabalhadores e trabalhadoras bancárias, que fazem parte do proletariado. Esse trabalho não produz mais-valia, mas sua utilidade reside no pressuposto da transferência de mais-valia para o ramo do capital financeiro. Assim, milhares de trabalhadores do Bradesco possibilitam a transferência de uma quota-parte da mais-valia industrial para os banqueiros, além de manter o funcionamento geral do sistema financeiro. Então a base dos lucros exorbitantes do setor financeiro, em particular o Bradesco, é o trabalho não-pago de operários produtores de mais-valia e de bancários, que recebem seus salários de uma parte dessa alíquota de mais-valia.

Esses trabalhadores têm uma função essencial na acumulação capitalista: seu trabalho útil possibilita o processo de valorização do capital pela apropriação de uma parte da mais-valia pela burguesia financeira. No entanto, as tendências de centralização e concentração de capital, a crise econômica, a superexploração do trabalho, a reestruturação produtiva e as dificuldades na organização da resistência operário-popular favorecem demissões massivas como essa do Bradesco. O interessante é que para o capital, os trabalhadores, suas famílias e suas necessidades de existência não passam de “mato alto” a ser cortado em nome da eficiência lucrativa, da concentração de riquezas e dos privilégios de uma minoria cada vez menor. Diante disso, é urgente a necessidade do debate em torno da estatização do sistema financeiro sob o controle de trabalhadores e trabalhadoras.

[1] Professor da Universidade Estadual do Ceará – UECE e coordenador do Instituto de Estudos e Pesquisas do Movimento Operário – IMO.