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segunda-feira, 28 de outubro de 2019

ELEIÇÕES NA TURÍNGIA - ALEMANHA

Die Linke frustra expectativas do eleitorado e favorece ascenso do neonazista AfD 

Partido de Esquerda administra a exploração do capital e comemora a anexação da Alemanha Oriental


Alexander Gauland, parlamentar do AfD no boneco que retrata as duas supostas alas do partido. A ala "liberal" atrofiada de uma ave e a de extrema direita, hiperdesenvolvida de um morcego. Aproveitando-se dessa crença, Gauland dissimula "Ainda não somos nazistas".
No dia 27 de outubro de 2019 houve eleições na Turíngia, um dos 16 estados federais alemães cuja capital é Erfurt. A extrema direita neonazista ganhou do partido da chanceler Ângela Merkel, mas perdeu para um partido de esquerda, o Dei Linke, que já governa o estado desde 2014. Todavia, a esquerda de conjunto perdeu a maioria do parlamento regional.
Na esquerda marxista mundial, a capital turingia ficou famosa pelo folheto "Crítica ao Programa de Erfurt" escrito por Frederich Engels [1]. Trata-se do programa do Partido Social-Democrata da Alemanha aprovado em Outubro de 1891 no Congresso que se efetuou em Erfurt.

O programa de Erfurt representou um avanço em relação ao Programa de Gotha (1875) já duramente criticado por Engels e Marx (que falecera em 1883). Todavia, o programa de Erfurt estava recheado de concessões ao oportunismo que foram minunciosamente criticadas por Engels. Através desse documento, Engels criticou ao oportunismo de toda a II Internacional que tinham no partido social democrata alemão, SPD, a seção mais importante. A direção oportunista e burocrática do SPD ocultou a militância partidária a crítica de Engels. As observações de Engels não foram tomadas em consideração no texto final do programa. Lenin considerava que o silêncio acerca da ditadura do proletariado era a deficiência principal do programa socialdemocrata de Erfurt e de fato uma concessão covarde ao oportunismo.

A Turíngia possui 2,1 milhões de habitantes e é um dos cinco estados orientais, juntamente com Brandemburgo, Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, Saxônia, Saxônia-Anhalt, que antes compunham a antiga Alemanha Oriental (oficialmente, República Democrática Alemã, RDA) que nasceu da derrota do nazismo pela URSS. A RDA foi anexada em 1990 pela Alemanha Ocidental (República Federal da Alemanha, RFA).

A Turíngia foi o primeiro Estado alemão a ter um governador do Die Linke, A Esquerda, também chamado Linkspartei (Partido de Esquerda). Foi fundado em 16 de junho de 2007, a partir da fusão do Partido do Socialismo Democrático (PDS) - sucessor do Partido Socialista Unificado da Alemanha (SED), stalinista, que governou a RDA, nos quarenta anos em que esta existiu - e da Alternativa Eleitoral para o Trabalho e a Justiça Social (WASG), que havia sido constituída na RFA.

A eleição desse partido em 2014 foi uma expressão política do ressentimento e do descontentamento da população da ex-RDA com o processo de anexação e restauração capitalista que eliminou direitos, postos de trabalho, aumentou a sua miséria e baixou sua estima. Acreditavam que votando no partido que tinha sua origem no antigo partido comunista, o SED (sigla em alemão de Sozialistische Einheitspartei Deutschlands) ou Partido Socialista Unificado da Alemanha, encontrariam dirigentes comunistas capazes de lutar por seus direitos e sua altiva memória histórica.

No dia 27 de outubro de 2019 o Die Linke ganhou as eleições regionais. Obteve 30% dos votos, que corresponde a cerca de 29 dos 91 assentos do parlamento estadual. O Linke tende a não conseguir força suficiente para formar um novo gabinete, porque os aliados, social democratas (SPD, -4%, ficando com 8%) e os verdes obtiveram 5% dos votos, perderam força.

O partido neonazista, o Alternativa para a Alemanha (AfD) ficou em segundo lugar, com 24% dos votos. Agora com o apoio de 1/4 dos eleitores, obteve mais que o dobro dos votos das eleições passadas. Na Saxônia e em Brandemburgo o AfD já havia ficado também em segundo lugar. O AfD minimiza o holocausto, é anti-imigração, atribuem aos imigrantes todos os problemas sociais alemães. Os neonazistas de hoje, montam, a partir da xenofobia, um discurso mais islamofobico que o antissemita.

"Os candidatos da AfD fazem campanha com frases populares da revolução pacífica que resultou no fim da RDA, como 'O Leste levanta' ou 'Torne-se defensor dos direitos civis' contra o comunismo e os muçulmanos. Björn Höcke, líder da ala de extrema direita do partido, que nunca viveu no leste durante o período comunista, comanda a AfD na Turíngia e vem da Alemanha Ocidental. Mesmo assim, acha que pode dizer que “não fizemos a revolução pacífica para isso, queridos amigos”.

O partido da chanceler Angela Merkel (o CDU, União Democrata Cristã) ficou em terceiro lugar com 22%, 11 pontos a menos que em 2014.

O Die Linke proíbe internamente qualquer debate crítico sobre o Estado de Israel e sua política nazisionista hoje contra os palestinos. Desse modo, o Partido de Esquerda realiza o desvio inverso ao do AfD, enquanto esse último faz populismo antisemita nazista, o primeiro faz populismo sionista oportunista.

O programa do Die Linke silencia sobre a revolução social, faz uma crítica oportunista ao capitalismo e, obviamente, silencia sobre a ditadura do proletariado.

O principal evento comemorativo em 2019 do governo turíngio, presidido pelo Die Linke são os “30 anos da “Revolução Pacífica” acompanhado pelo slogan: Vivemos a Liberdade! A comemoração refere-se a queda do Muro de Berlin e a anexação do Estado operário da Alemanha Oriental pelo imperialismo alemão.

A RDA ruiu pelos erros da reação burocrática da direção stalinista à imensa pressão de todo o capitalismo ocidental, sobretudo, dos quase 2/3 capitalistas do país, ocupado pelas potências aliadas após a segunda guerra mundial.

Pressionada pelo imperialismo por todos seus poros, sobretudo pela vitrine consumista e pela democracia formal construída pelo plano Marshall na Alemanha Ocidental, a RDA possuía uma direção política que defendia o Estado operário com métodos burocráticos, ou seja, que se voltavam contra a democracia operária.

Todavia, a queda do muro, comemorada por toda a mídia capitalista ocidental (e pela quase totalidade da esquerda mundial), representou o fim da própria RDA e a liquidação de várias conquistas sociais e econômicas dos trabalhadores, como o pleno emprego, e a restauração da democracia (ditadura) burguesa imperialista alemã.

A política de desmoralização ideológica impulsionada pelo Dei Linke de apresentar como vitória a derrota histórica que foi o fim da RDA, o segundo mais avançado Estado operário do planeta no século XX, certamente favoreceu da campanha neonazista.

"Muitas pessoas da antiga RDA estão desapontadas, se sentem incompreendidas e invisíveis para a maioria da sociedade no oeste", afirma a socióloga Judith Enders. Os alemães do Leste correspondem a 17% da população do país. Mais importante é sua falta de representação na sociedade alemã como um todo, acrescenta a especialista. Alemães do Leste ocupam apenas 1,7% de todos os cargos de alto escalão na economia, política e administração do país. Depois da reunificação, a elite socialista da RDA foi substituída por alemães ocidentais. Segundo Enders, esse modelo de elite continua se reproduzindo até hoje, depois de 30 anos... De acordo com estatísticas, alemães do Leste ganham relativamente menos do que os ocidentais. Além disso, desde a queda do Muro, centenas de milhares, principalmente jovens, deixaram os estados da antiga RDA. Os que permaneceram enfrentaram o colapso da economia da Alemanha Oriental e elevadas taxas de desemprego. Em média, a taxa de desemprego no Leste é de 6,6% atualmente, enquanto no oeste é de 4,7%." (Por que populistas de direita são tão fortes no Leste da Alemanha)

Sem resolver os problemas reais e imediatos do proletariado, subrepresentado politicamente, submetido as desigualdades regionais e ao desemprego, através do enfrentamento com o grande capital alemão, a esquerda joga água no moinho do neonazismo. Desse modo, mesmo ganhando as eleições e governando, a esquerda apenas administra a crise capitalista e deixa a população trabalhadora a mercê do proselitismo radical que encontra um bode expiatório em algum setor historicamente oprimido e mais fragilizado da sociedade, jogando a culpa os imigrantes, turcos, muçulmanos, sírios e judeus por todos os males da sociedade alemã.

São os capitalistas os culpados e beneficiários dos males da sociedade capitalista. Ao fazer a disputa no terreno burguês os comunistas devem ser parlamentares e governantes de um novo tipo, ao contrário de frustar as expectativas eleitorais dos trabalhadores como fazem todos os oportunistas e reformistas, devem atender as demandas imediatas das massas ao custo do acirramento da luta de classes, utilizando todas as ferramentas conquistadas pela disputa eleitoral contra o próprio caráter burguês do Estado e contra a burguesia. Quem precisa de um severo ajuste é o capital. Uma política consequente de combate as mazelas da sociedade capitalista conduz a expropriação dos expropriadores. Do contrário, ao renunciar a luta anticapitalista pela revolução social e pelo socialismo, o oportunismo apenas fabrica as condições econômicas, sociais e ideológicas que possibilitam ao capitalismo lançar mão de seus cães nazistas para aprofundar, a divisão social, o terror e a exploração da classe trabalhadora. Mais do que nunca, quem pode verdadeiramente frear o nazismo são suas vítimas em luta conjunta e organizada para esmagar o mesmo, é a frente única antinazista de autodefesa dos trabalhadores e imigrantes, formada pela base social de todos os partidos de esquerda alemã, da juventude, dos trabalhadores estrangeiros, judeus e muçulmanos.

Nota:

1. O trabalho Zur Kritik des sozialdemokratischen Programmentwurfs 1891 (Para a Crítica do Projecto de Programa Social-Democrata de 1891) representa um modelo de luta intransigente de Engels contra o oportunismo, por um programa marxista revolucionário da social-democracia alemã. O motivo imediato que o suscitou foi o projecto de programa do Partido Social-Democrata da Alemanha enviado a Engels. O projecto tinha sido redigido pela direcção do partido para o Congresso de Erfurt, no qual seria necessário aprovar um novo programa em substituição do programa de Gotha de 1875. As observações críticas de Engels, bem como o trabalho de Marx Crítica do Programa de Gotha então publicado por insistência sua exerceram grande influência na posterior discussão e elaboração do projecto de programa.O programa aprovado no Congresso do Partido Social-Democrata da Alemanha que se realizou em Erfurt de 14 a 21 de Outubro de 1891 foi um grande passo em frente em comparação com o programa de Gotha; foram eliminados do programa do partido os dogmas lassallianos reformistas, foram formuladas de um modo mais exato as reivindicações políticas e econômicas. O programa dava uma fundamentação científica da inevitabilidade da queda do regime capitalista e da sua substituição pelo socialista, indicava-se claramente que o proletariado devia conquistar o poder político para levar a cabo a transformação socialista da sociedade.
Ao mesmo tempo, o programa de Erfurt sofria de graves erros, dos quais o principal era a ausência da tese da ditadura do proletariado como instrumento de transformação socialista da sociedade. Deste modo, a observação mais importante de Engels não foi tida em consideração na elaboração do texto definitivo do programa.
A direcção da social-democracia manteve inédito durante muito tempo o trabalho de Engels Para a Crítica do Projecto de Programa Social-Democrata de 1891; a obra só foi publicada na revista Neue Zeit em 1901.