CAF-Brasil: limites e possibilidades - balanço da greve.
A.J., metalúrgico da CAF, ex-vice presidente da CIPA
No dia 21 de janeiro, os trabalhadores da CAF-Brasil
iniciaram sua 16ª greve em pouco mais de 5 anos de existência da empresa na
cidade de Hortolândia (SP). A greve era em defesa dos empregos e contra a
demissão de 109 trabalhadores.
No dia 22 de janeiro, em assembleia, a empresa ofereceu para
os demitidos: dois (2) salários nominais, quatro (4) meses de vale alimentação
e (5) cinco meses de assistência médica-odontológica, além das verbas
rescisórias. Essa proposta foi aceita e a greve teve fim já no seu segundo dia.
Os 109 demitidos despediram-se dos que ficam e com os olhos cheios de lágrimas,
todos se abraçaram e mais uma vez, finalizou-se uma greve na CAF com retorno
dos trabalhadores a fábrica programado para o dia 25 próximo. Os dias parados
serão pagos pela empresa.
POR QUE NÃO HOUVE LUTA?
Todos que acompanham o movimento operário sabem que não é
qualquer fábrica que faz 16 greves em menos de 6 anos. É quase 3 greves por ano,
então, porque não teve luta?
O setor ferroviário no Brasil foi aquecido com o acontecimento
dos mega-eventos (Copa do Mundo 2014 e Olimpíadas do Rio 2016). Toda uma
infraestrutura de mobilidade urbana foi construída, ela está aquém do que
realmente se necessita no Brasil, mas, a carteira de clientes da CAF foi gorda
nesses últimos 5 anos. Foram feitos CPTM, Metrô SP, Metrô Recife, Metrô de BH e
suas respectivas extensões. Foram 5 anos de alta produção. A CAF-Brasil teve no
seu pico de produção com 1300 funcionários (hoje tem exatos 341).
Com o fim das obras, o setor de construção de trens e metrôs
foi decaindo no Brasil, a Bombardie, fábrica que compete com a CAF, demitiu 60
trabalhadores na primeira semana de janeiro e hoje, existem apenas 40 pessoas
em toda a fábrica. A Alston não está fabricando nenhum vagão nesse último
período. Com isso, a CAF é a única que ainda possui um contrato de produção de
trens para a CPTM que vai até setembro desse ano (no ritmo de um vagão por
semana – no início, fazíamos dois vagões por dia).
DA CPTM ATÉ O AEROPORTO DE GUARULHOS
A esperança de muitos trabalhadores era a obra de construção
dos trens que ligariam o aeroporto de Guarulhos até a estação do Tietê, coisa
que foi adiada pelo governo do PSDB, Geraldo Alckmin, o fechador de escolas
públicas, o que manda a PM bater na juventude. Alckmin adiou esse projeto para
2018, para poder usar isso nas campanhas do PSDB em SP.
O grande problema é que até lá, não existem projetos a serem
executados pela CAF e com isso, os trabalhadores têm que sofrer com demissões.
ESTATIZAÇÃO DA FÁBRICA E
CONTROLE OPERÁRIO DA PRODUÇÃO
A saída imediata seria a ocupação da fábrica pelos
trabalhadores, tal qual fizeram os operários da ocupada fábrica da Flaskô (na
vizinha cidade de Sumaré-SP). Esse seria um primeiro passo da luta pela estatização da fábrica e pelo controle operário da produção, que os operários da Flaskô ainda não conquistaram.
O grande problema é que o movimento operário
metalúrgico em nossa região, ainda não foi preparado para esse tipo de ação, e
nem tem essa consciência política de que: se somos nós que produzimos a
riqueza, somos nós que devemos administrá-la.
Com isso, as demissões continuarão, e minha tarefa como
militante, é continuar fazendo o possível dentro da empresa como operário
metalúrgico e militante da causa comunista. Explicar o marxismo-leninismo
pacientemente as massas, mesmo que lhes custe entender, mas, fazer com que elas
relacionem os ensinamentos da teoria revolucionária frente aos ataques do
sistema capitalista falido. Essa é minha tarefa dentro da empresa, foi por isso
que me transformei em operário metalúrgico.