ESCRACHOS CONTRA AS “VIÚVAS DA DITADURA MILITAR” SE MULTIPLICAM EM TODO O BRASIL
Construir a revolução social para liquidar com os
assassinos do capital de ontem, ainda mais criminosos hoje
assassinos do capital de ontem, ainda mais criminosos hoje
Esta é uma nota conjunta produzida pelo Coletivo Lenin e a Liga Comunista, que participaram em São Paulo no dia 1o. de Abril na manifestação contra a direita pró-ditadura.Nas últimas semanas, ao completar-se mais um aniversário da ditadura militar no Brasil (1964-1985), nos deparamos com uma cena decrépita: Um movimento de comemoração do Golpe Militar, batizado pelos golpistas de “Revolução”, orquestrado pelos velhos reacionários da Reserva das Forças Armadas, além de antigos torturadores e agentes da repressão política. Esses canalhas que foram e seguem sendo protegidos pelos governos “democráticos” de Sarney a Dilma, para não serem julgados pelos seus crimes de tortura e assassinatos durante a ditadura, pressionam o governo Dilma para que a “Comissão da Verdade” acabe em pizza, limitando-se a ser mais midiática do que efetiva, mantendo as aparências democráticas do regime sem apurar os fatos documentados pelos próprios militares, sem levar nenhum dos criminosos militares à julgamento. Durante toda a ditadura os números aproximados da repressão foram de 50 mil presos políticos, 20 mil torturados, quase 5 mil civis foram cassados e quase 400 mortos e desaparecidos políticos entre os grupos de esquerda e considerados suspeitos de pertencerem a estes pela ditadura, além de centenas de camponeses assassinados.
A ditadura foi uma operação montada pelos EUA através da CIA, articulada com os setores mais ricos da burguesia brasileira para garantir a remessa de lucros, a consolidação das multinacionais, o pagamento da dívida externa e ceifar as aspirações de independência nacional, reforma agrária, controle das riquezas energéticas, ensino público e gratuitos,... da população trabalhadora brasileira. A elite dos agentes da repressão foi treinada pelo Pentágono em sinistras universidades de assassinos como a conhecida “Escola das Américas” situada no Panamá, responsável pelo adestramento de facínoras como o General brasileiro Castelo Branco, o argentino Galtieri e o panamenho Noriega. É importante destacar que o mesmo imperialismo e sua mídia venal que treinaram agentes internos para realizar golpes militares na América latina a partir de setores da classe dominante cipaia do continente, utiliza-se dos mesmos métodos e também chama de "revoluções árabes" aos golpes que neste momento recolonizam países como a Líbia e Síria (truque que seduz parte da esquerda como o PSOL e o PSTU).
A acumulação de riquezas para o grande capital resultante do aumento da repressão política produziu o chamado “milagre econômico brasileiro”, especialmente depois do AI-5, com a ampliação do terror estatal entre 1969 e 1973 (os anos de chumbo do governo Médici). Ao ano o PIB do país chegou a crescia 10% e a construção civil 15%. Para assegurar esta acumulação capitalista era necessário acentuar a exploração de classe e para fazer isto sem que a classe reagisse foi preciso impor o terror estatal, daí as torturas, prisões, desaparições e milhares de intervenções diretas nos sindicatos.
Hoje, sob a democracia burguesa, a intervenção nas entidades de massa se dá sob a base da cooptação e corrupção direta ou indireta das direções sindicais e de um governo dos dirigentes de esquerda que ontem faziam oposição a ditadura militar.
No atual período histórico reacionário em que vivemos no Brasil, numa atmosfera de grande repressão às greves e movimentos de sem-tetos, de estudantes ou trabalhadores, tanto a burguesia nacional do governo PT e a direita tradicional do PSDB tem em comum a necessidade de manter a classe trabalhadora desorganizada e fragmentada para manter o ritmo frenético de exploração dos operários brasileiros, impulsionado pelos mega-eventos e “revitalizações” de grandes extensões urbanas em favor da especulação imobiliária e turística e das grandes corporações de empreiteiras. Somente as PMs do Rio e de São Paulo matam juntas mil pessoas todos os anos o que resulta só nestas duas capitais em 17 mil mortos desde o fim do regime militar. O aparato repressivo não só foi não foi desmontado com foi extremamente sofisticado com as novas tecnologias bélicas e de comunicação e altos investimentos estatais.
O crescimento de alguns setores empresariais como a indústria da construção civil voltou ao patamar da época do “milagre brasileiro” construindo obras como as usinas de Girau e Belo Monte, onde os trabalhadores voltam a se rebelar contra a super-exploração patronal da era Dilma.
Dessa forma o eixo de luta comum entre os trabalhadores, em favor de justiça para antigos combatentes da esquerda revolucionária que foram torturados e assassinados pelos múmias da ditadura, é uma demanda democrática que pode servir de ponta pé inicial para reorganizar a esquerda e o movimento fragmentado, assim até mesmo saindo da demanda democrática mais básica para poder encaixar demandas transitórias ao socialismo através da reorganização do movimento operário no Brasil. Além disso, para punir os torturadores e agentes da ditadura, ainda limitado aos marcos do Estado Burguês, é necessário a revogação da Lei da Anistia do final dos anos 70 e que foi feita pelos próprios militares golpistas para se safarem de serem julgados pelos seus crimes ao fim da ditadura, o que lhes permitiu que vivam até hoje em completa liberdade. Ou seja, mesmo a demanda democrática mais básica, a investigação dos documentos oficiais e o conseqüente julgamento dos torturadores, se encontra inviável no próprio Estado Democrático Burguês, mostrando uma contradição que só poderá ser superada com a forte mobilização das organizações de esquerda em conjunto com os trabalhadores, numa postura muito mais firme e combativa do que o que temos visto até hoje e que denuncie não só os crimes dos militares durante a ditadura militar, mas também os crimes atuais perpetrados pelo Estado "Democrático" contra os trabalhadores, camponeses e trabalhadores do campo, sem-teto, estudantes e moradores das comunidades ocupadas pelas UPPs, todos perseguidos, presos e mortos hoje pelas "democráticas" PMs seja por ordem do Estado ou de forma mafiosa como as Milícias do Rio.
As organizações de esquerda pronto reagiram ao movimento reacionário dos milicos e torturadores em diversas cidades do país, como no Rio e em São Paulo. No Rio a manifestação de diversas organizações de esquerda contra a comemoração do Golpe de 64 pelos militares foi na histórica Cinelândia, em frente ao evento reacionário organizado no Clube Militar. Foi chamada a tropa de choque da PM de Sérgio Cabral (vitaminada pelos governos Lula e Dilma) para “proteger” os militares, que enquanto ficavam atrás do cordão da PM faziam provocações aos militantes de Esquerda. Como resposta foram jogados ovos nos militares provocadores, e imediatamente a PM reagiu com spray de pimenta e porrada, e ao final dois militantes foram presos. Essa postura combativa da esquerda do Rio teve repercussão nacional, e às “viúvas da ditadura” foi dado o recado. Em São Paulo houve na mesma semana uma manifestação no domingo 1o de Abril, em que também várias organizações se uniram para malhar vários locais históricos da reação pró-ditadura, como a sede da TFP (Tradição Família e Propriedade), o túmulo do fascista brasileiro Plínio Salgado, a sede da Folha de São Paulo (cujos carros de distribuição do jornal agiam a serviço da repressão, onde foi o momento mais tenso do ato), e ao final sede do antigo DOPS. Temos que destacar também que em várias cidades de diferentes regiões do país já foram organizados escrachos públicos aos velhos torturadores e agentes da ditadura, como forma de humilhar esses velhos inimigos dos trabalhadores que saíram impunes da ditadura e hoje vivem acomodados com gordas pensões.
Por fim, sabemos que o movimento de justiça aos militantes que tombaram lutando contra a ditadura não pode se limitar aos marcos democratizantes do Estado Burguês. Mesmo na Argentina onde alguns torturadores e agentes da ditadura foram julgados e condenados, a maioria dos casos de desaparecimentos e assassinatos não foram apurados e mantém-se em liberdade os velhos dirigentes militares e civis das ditaduras.
É preciso impulsionar mais protestos e além dos torturadores, devem ser alvo dos escraches também o Sergio Cabral (pelas UPPs), o Naji Nahas (por Pinheirinho), o Kassab (pela Cracolândia), o Alckmin (pela repressão na USP, Pinheirinho,...) e dos empresários, como o Boilsen que são (foram do caso do dono da Ultragás) os verdadeiros mandantes dos crimes realizados para que eles acumulassem suas fortunas. Liquidar toda a máquina de guerra repressiva contra a população trabalhadora, aprimorada desde a ditadura militar, que está em pleno funcionamento contra nossas lutas e segue fazendo vítimas hoje!
Dessa forma, a única maneira de fazer completa justiça aos antigos camaradas torturados e mortos na ditadura será levando as reivindicações muito além das que as burguesias democráticas podem conceder em termos de justiça. Assim, somente um governo direto dos trabalhadores poderá por em prática a nossa demanda por justiças aos nosso antigos companheiros que deram suas vidas não só pelo fim da ditadura, mas pela construção do próprio socialismo. E é justamente isso a esquerda reformista esquece: Os militantes que tombaram na ditadura não morreram pela democracia burguesa, mas pelo estabelecimento da ditadura do proletariado, a verdadeira democracia operária.