A um passo da conversão de partido pequeno burguês em partido burguês
O Congresso Nacional do PSOL, que ocorreu nos dias 03 e 04 de dezembro, centrou seus debates na ampliação do arco de alianças do partido nas eleições municipais de 2012. Deliberou por ampla maioria por aliar-se ao PV de Gabeira no Rio de Janeiro, ao PTB em Macapá e ao PCdoB em Belém. Além disto, o Congresso aprovou por abrir um diálogo com Marina para discutir as futuras eleições presidenciais e lançar candidatura própria em 2014, ou seja, procurar Marina que está sem partido para ser a candidata do PSOL, posição defendida pela APS, a maior corrente do partido, que elegeu o Deputado Federal Ivan Valente para presidir a legenda de agora em diante.
O alinhamento entre as tendências políticas do partido para composição de chapas na disputa para a sua direção nacional seguiu de certo modo as identidades políticas estabelecidas durante as polêmicas do Congresso: Chapa 1 (MES e CST), 77 votos; Chapa 2 (MTL-Dissidência do MES em Pernambuco), 67; Chapa 3 (Parte Enlace-CSOL-LSR), 46; Chapa 4 (APS-Parte Enlace-TLS), 139. Embora algumas correntes posassem de contrárias as coligações burguesas, como a CST/UIT, durante todo o Congresso a CST aliou-se ao MES, que reivindica o patrocínio empresarial da Gerdau e Taurus, que apoiou Paulo Paim ao Senado pelo PT e defende para 2012 a coligação com o PV de Gabeira no Rio. Além disto, o MES dirige o DCE da USP onde comprovadamente anda conspirando com a Reitoria contra a greve geral e a ação direta estudantil (clique aqui para entrar na página do Facebook WikiUsp foraPM). Um dos elementos principais desta unidade, destacado pela CST, é que ambas as correntes são defensoras da recolonização da Líbia e da Síria, recolonização vendida pela propaganda de guerra da grande mídia imperialista e reproduzida por estas correntes pequeno burguesas como sendo “revoluções”. A CST apresentou os carniceiros mercenários do CNT armados pela CIA como “revolucionários”, e agora ambas, CST e MES, reivindicam para a Síria o mesmo roteiro macabro imposto a Líbia.
Por sua vocação eleitoralista sobrepujar de longe as aspirações pela ampliação de sua intervenção sindical e relação com a classe trabalhadora, o debate sindical do PSOL - cujas tendências se distribuem entre as diversas centrais e agrupamentos (Intersindical, CSP-Conlutas, Unidos pra Lutar) - sobre a estratégia do partido neste âmbito previamente indicados para serem discutidos no Congresso foi completamente secundarizado e por fim empurrado com a barriga para a realização de uma Conferência Sindical do partido no primeiro semestre de 2012.
Marina Silva, que reivindica a política econômica dos governos FHC e Lula, que teve como vice o empresário da Natura, que representa um setor do grande capital nacional e estrangeiro com quem estabeleceu laços tanto quando era Ministra quanto em sua candidatura que declarou ter arrecadado R$ 24 milhões de reais, representa hoje um espectro político mais burguês e amplo que o PSOL. Por possuir um capital político eleitoral maior que o do PSOL, Marina não vê hoje vantagens para identificar-se com este partido, o que não impede de vir a fazê-lo depois das eleições de 2012 se este partido vier a aburguesar-se de forma mais consistente. E é esta a meta da direção do partido, expresso de forma mais consequente pelas teses do MTL e dissidentes do MES chamada “Um passo em direção ao Brasil Real”. Esta estratégia partidária segue de vento em polpa com as resoluções do III Congresso de aprofundar o curso do cretinismo eleitoral e fisiológico traçado desde a fundação do partido, para aliançar-se despudoradamente com todas as agremiações burguesas, não importando que sejam elas governistas, ligadas a oposição de direita burguesa (PV) ou o quanto sejam corruptas como o PTB e o PCdoB, Assim, o PSOL joga por terra a imagem vestal que o partido buscava ser identificado em troca de mais espaço no horário eleitoral, mais financiamento burguês de campanha, mais chances de cargos no legislativo e no executivo, etc. Alcançado este objetivo e tendo conquistado alguma das capitais pleiteadas, o partido deverá converter-se gradualmente de partido cujo programa é burguês e a composição social pequeno burguesa, para um partido administrador do Estado capitalista e cujo programa e composição social amadureça e aproxime-se a um dos tantos partidos burgueses marginais do país como são o PV, PPS e PSB.
Plinio de Arruda Sampaio costuma repetir que na década de 80 diziam que ele representava a ala direita do PT (quando, por exemplo, na disputa interna pela candidatura do partido à prefeitura de São Paulo, Plínio representou a direita contra a candidatura de Erundina) e agora representa a esquerda do PSOL sem que ele tenha mudado suas convicções nas últimas três décadas. A lógica também vale para a dinâmica da relação PSOL-Marina. Enquanto esta última consolida-se como uma alternativa real na sucessão de Dilma, o PSOL tratará de dar os passos que forem necessários para adequar-se aos padrões burgueses que atendam ao espectro político de Marina.
Apesar das diferenças de matizes entre as tendências, algo as unificava: vários dos oradores no Congresso repetiram como um mantra que o que mais precisava ser rechaçado no partido era o espírito de grupo de propaganda, e em nome deste combate "para levar o socialismo e a liberdade" para "o Brasil real" o PSOL toma pela enésima vez na história o velho atalho oportunista para enfiar o pé na jaca no que existe de mais podre da política burguesa nacional.
O curso daqueles que honestamente desejam levar o socialismo às massas é outro e começa exatamente pelo que os dirigentes oportunistas do PSOL mais hostilizam, a criação de uma liga de propaganda que saiba combinar a elaboração de um programa genuinamente marxista revolucionário para nossa época, ou seja, trotskista, com a agitação polí¬tica revolucionária sobre as massas. Todo atalho que se esquive destas tarefas conduzirá ao oportunismo ou ao sectarismo. Foram a agitação, a propaganda e a organização política bolcheviques, forjados em um combate encarniçado contra os oportunistas precussores do PSOL, mencheviques e social-democratas que também buscavam alojar-se a qualquer custo dentro do Estado capitalista, os meios que canalizaram a insatisfação dos trabalhadores para a preparação consciente da tomada do poder através da revolução social e à instauração de sua ditadura revolucionária. Eis o único e verdadeiro meio até hoje conhecido para alcançarmos o socialismo e a liberdade para amplas massas da população trabalhadora.