TRADUTOR

segunda-feira, 20 de maio de 2019

GEOPOLÍTICA E NOVO GOLPE NO BRASIL

As conexões geopolíticas ocultas para a possibilidade de um novo Golpe no Brasil

Click aqui para acessar o vídeo da entrevista: As Conexões Geopolíticas ocultas para a Possibilidade de um Novo Golpe no Brasil 
(em Youtubers de Esquerda Uni-vos!!!)
Transcrevemos abaixo a entrevista do Prof. Fábio Sobral a jornalista Marina Valente, no programa Democracia no Ar na TV Atitude Popular, no dia 16 de maio de 2019.

MV - Temos o risco de uma ditadura militar no Brasil?

Nós temos um risco pior. É isso eu queria falar aqui. As pessoas estão olhando só para o Brasil. Eu não olho só para o Brasil. Eu sei que nós somos parte, desde 2013, de uma articulação internacional, de um novo tipo de guerra, que tenta definir a adesão dos países a um projeto do Pentágono. Isto está tudo documentado. É a doutrina Donald Rumsfeld [Secretário de Defesa dos EUA] e do Almirante Arthur Cebrowski [Conselheiro de Rumsfeld].

Eles já elaboraram o seguinte plano: vamos cercar a Rússia e a China. Ao mesmo tempo nós vamos dividir o mundo em três grandes áreas de influência.

Uma que vai ter a normalidade institucional, vai receber as matérias-primas vindas das colônias para esses países e eles manterão sua vida econômica, política e institucional normal.

[Haverá] um segundo grupo semi-caótico e um terceiro grupo caótico. Esse último seria o Causistão, como diz o jornalista brasileiro, grande analista da política do mundo, o Pepe Escobar e o extraordinário repórter francês Thierry Meyssan, no site Voltaire.net. É engraçado porque lá tem todos os documentos oficiais. Você pode acessar. Não é nada por ouvir dizer ou Teoria da Conspiração.

Já houve um golpe na democracia - não digo que foi um golpe militar exatamente - quando o general Villas Bôas Correa interferiu no STF. Al nós passamos do golpismo contra Dilma á um golpismo ainda maior, institucional, em que as forças armadas se colocaram como donas do governo. É a tutela do governo, tanto que o número de militares no governo é muito presente. Mas há uma ameaça pior, que é demonstrada pela ida de Bolsonaro a sede da Cia junto com um ou dois dos seus filhos. O que mostra que eles estão nesse grupo, que é representado por Mike Pompeo [Secretário de Estado dos EUA] no governo americano, orientado pelo Steve Bannon [Ex-Estrategista-chefe da Casa Branca]. O Olavo de Carvalho, que é orientador deles local, é um simples seguidor dessa concepção do Steve Bannon.

E qual é a concepção? Vamos atacar a Venezuela. Não vamos atacar com tropas americanas. Vamos atacar com tropas colombianas e brasileiras, produziu caos naquela região. Por que? Porque aí você impede que o petróleo, a grande quantidade de petróleo que vai para a Índia e para China, de seguirem. Aí você bloqueia um petróleo, bloqueia uma fonte de matéria-prima gigantesca para esses dois países.

E o pessoal esquece outra coisa: com isso eles podem aderir a um bloqueio do minério de ferro a China, oriundos do Pará, de Minas Gerais. Por que esse estouro de barragem? A explosão de extração de minério ultrapassou todos os limites. Hoje o Brasil corresponde a mais ou menos 30 a 35% minério de ferro que a China precisa. Ela responde em grande parte com seu minério de ferro, mas é de baixa qualidade. Aí tem o minério da Austrália o minério do Brasil. Se eles bloquearem 30% do minério de ferro da China, você bloqueia a China (O Brasil é o segundo maior produtor de Minério de Ferro). 

Então, o objetivo é maior. O objetivo é participar desse bloqueio global que o Trump tem urdido constantemente. Eles sabem que em 2030 a China ultrapassará os Estados Unidos em todos os critérios: militar, tecnológico, de consumo, de produção, em todos os critérios. Então eles têm pouquíssimo tempo para tentar impedir a superação do seu império por uma nova estrutura multipolar mundial.

Para isso ele se baseiam em quê? Por que aquelas quase 200 armas na casa do miliciano que deu os tiros em Marielle? Por que? As armas eram o fuzil M-27, inaugurado pelos fuzileiros navais americanos em dezembro 2018. Estavam lá quase 200 fuzis do mesmo calibre, do mesmo tipo. Eu acho que eles preparavam uma provocação sabe? Por isso que o Olavo de Carvalho batia no exército. Porque o exército tem sido formado pelos textos de um general já falecido chamado Avellar Coutinho (Bolsonaro e os Quartéis: a loucura com método). Um olavista completo formando as camadas médias e baixas do exército, a partir da visão do Olavo de Carvalho.

Os generais que estão no governo Bolsonaro foram formados - o programa econômico é o mesmo certo – mas eles foram formados a partir do PSDB. Basta ver a candidatura do PSDB ao governo do estado do Ceará. De quem foi? de um general; a candidatura em outros locais foi de generais. Então, esses Generais são Psdbistas, por isso o programa da reforma da Previdência, de eliminação da educação pública, de redução ou extinção dos Direitos Trabalhistas, redução de garantia sociais e políticas públicas, garantias sociais. Esse grupo é PSDB. Mourão é um representante do PSDB típico, da Fiesp. Eu diria mais, a Fiesp hoje tem uma dimensão mais clara do que o próprio PSDB.

Então esse grupo aqui representa esse aspecto. É um aspecto que foi deixado para trás pela estratégia dos Estados Unidos. Para os EUA não interessa mais esse negócio de produção industrial no Brasil. Interessa esse objetivo maior: a China. Para isso, Bolsonaro pode contar com grupos milicianos. Não estou dizendo que ele dirige os grupos. Ainda não estou dizendo isso, que ele dirige os grupos milicianos. Acho que ele não dirige, mas os grupos milicianos estão nesse esquema dos filhos do Bolsonaro que foram na Europa conversar com grupos de extrema-direita.

Esses grupos de extrema-direita tiveram uma participação militar ativa nas manifestações na Ucrânia, atirando inclusive no seu próprio pessoal para dizer que eram as tropas governamentais. Aí tem as armas desse porte guardadas na casa de um miliciano. Tem uma liberação de 5 mil munições pesadas “ponto 45” para particulares (Decreto que facilitou porte permite compra de armas antes restritas a polícia e Exército; veja quais). Tem um Clube de Tiro ponto chamado “ponto 38” super suspeito em Florianópolis, onde o Adélio Bispo treinou, onde o Carlos Bolsonaro foi treinar, onde a pessoa que matou o delegado responsável pelas investigações da morte do Teori Zavascki foi morto por uma pessoa que treinava lá (Assassino de delegado que investigava morte de Teori frequentava mesmo clube de tiro que Adélio e Carlos). Então tem uma série de combinações muito graves.

Eu acho que eles perderam espaço por sua própria incompetência, pelos ataques que promoveram. Mas eles contam com um grupo de apoio. Basta ver a pesquisa que o banco BTG pactual fez entre os empresários. O nível de apoio do Bolsonaro entre médios e pequenos empresários é muito alto: 69% apoiam o que ele está fazendo.

Tem também os médios empresários. Um grupo grande mais ou menos de 20% da população brasileira está integralmente com esse projeto. O Olavo de Carvalho falou: Olha esses grupos de direita que entraram no Congresso são traidores. E o que é que os olavistas querem? Acreditam que é preciso extinguir o Congresso, que é preciso extinguir o Supremo (STF).

O Olavo de Carvalho disse que essas afirmações daquele General Santos Cruz e do Mourão é de quem já está quase morrendo. Eles podem te dar um passo atrás mas o objetivo é esse: Golpear. É por isso que eu não chamo golpe militar, será um golpe miliciano. O Mourão é um projeto do PSDB. Ele está fora desse tempo geopolítico mundial. Há uma enorme adesão de forças policiais e militares a esse projeto do Bolsonaro. Recentemente escutei uma conversa entre três policiais que diziam: o Coronel falou que a gente não deve obedecer a Governador, a gente obedece a presidente. Então você tem forças policiais civis, militares. Você vê os assassinatos com tiro na cabeça de Snipes, atiradores de elite, assassinos de elite, que atiraram em um rapaz que era professor. Há uma política de extermínio de camadas populares. Isso é típico dos momentos de genocídio popular. Tem um governador absolutamente alucinado que é aquele Witzel que é claramente uma base de apoio desse sistema que está instaurado desse projeto geopolítico.

Então tem esse bloco. Tem o bloco dos PSDBistas, que são os Generais. E tem o bloco do departamento de Justiça americano. Há uma contradição interna nos Estados Unidos. Uma coisa é a CIA, outra é o FBI. O FBI está ligado ao departamento de justiça. Por isso esse confronto entre o Bolsonaro e o [Sérgio] Moro. Por isso ele queimou o Moro. O Moro pensou inclusive em ir para o departamento de justiça americano ocupar um cargo lá de investigação de crime de colarinho branco.

Então tem dois projetos distintos aqui e o projeto do Mourão no meio. Aí tem adesão de mídias que não estão sendo contempladas com verbas ao projeto Mourão, como o caso da Globo, e da Fiesp também. Tem o projeto do Bolsonaro que é um projeto ligado e sistema internacional, claramente ligado ao Mike Pompeo e ao Steve Bannon. Um projeto de desorganização caótica da Venezuela. Mas não pensem que fica na Venezuela. A guerra dessa na Síria não ficou na Síria. Ultrapassa as fronteiras. Entra pela Amazônia. Desorganiza a região inteira. Há a possibilidade de boicotar o minério de ferro para a China, talvez até a soja. Então esses latifundiários nas lojas vão pagar pesado. Os do Gado vão pagar pesado, porque o projeto não os inclui.

Então você tem essas três possibilidades. Cada uma pior que a outra:

1. Um golpe miliciano;

2. a confirmação da tutela militar, e essa tutela militar em nada se diferencia do projeto econômico e político do Bolsonaro. Basta ver que o Mourão esteve reunido aí nesses dias em que estava como presidente em exercício para ver o projeto de parcerias de privatização de infraestrutura estatal. Ele só falou sobre as manifestações, que é um direito protestar mas é absolutamente favorável ao corte na educação, nas esferas educacionais;

3. E o terceiro projeto é o do Moro, esperando o impeachment do Bolsonaro, para que ele possa concorrer. [Se ele cair] antes de 2020, é obrigatória uma nova eleição.

Então é esse o belo quadro em que nós estamos, que melhorou significativamente porque a força do povo tem que começar a surgir.

Tem uma outra via que é porque o pessoal do Ciro que está tentando também se viabilizar para presidente para essa possibilidade do impeachment anterior a 2020 e para isso ele vem tentando se mostrar confiável, como um candidato que não seria o Moro, que tem se desgastado, mas ele quer ocupar esse lugar do PSDB.