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sexta-feira, 14 de setembro de 2018

CIÊNCIA EVOLUTIVA E LUTA DE CLASSES

Do domínio do homem sobre a natureza a luta pelo socialismo
Leon Carlos e Humberto Rodrigues

Reproduzimos abaixo um artigo inédito em nosso blog, desenvolvico sobre o que foi publicado no jornal Folha do Trabalhador 23 (maio/2015)

Nossa espécie, o homo sapiens, se caracteriza por um desenvolvimento dinâmico de seus instrumentos de produção. Esta situação foi algo inédito na história natural do planeta. Não por acaso o Departamento I, produtor os bens de produção [ 1 ] é onde se concentra hoje em dia – o núcleo sino-russo – as tendências mais dinâmicas do capital, em detrimento da estagnação do núcleo imperialista EUA-UE, mais ricos, embora mais dependentes do rentismo, do cassino financeiro global que China e Rússia. Antes de tudo, o homem deve fazer suas necessidades biológicas e para isso deve construir instrumentos de produção (ferramentas, em sua fase mais avançada máquinas, etc.), com os quais extrai os recursos da natureza e os transforma em riqueza.

A acumulação do Departamento I no núcleo Eurásico é uma herança dos mega-Estados Operários que precisa ser compreendida em função da evolução histórica da espécie e que aponta o limite do capitalismo, já que o próprio capitalismo não o pode desenvolver plenamente, pela queda da taxa de lucros a partir do crescimento do Departamento I.

Todavia, a decadência capitalista que originou o imperialismo, impôs um cerco econômico desastroso sobre os Estados operários, hipertrofiando neles o Departamento III, dos gastos estatais e das forças destrutivas. Sendo assim, os Estados Operários, e as novas potências capitalistas herdeiras de sua estrutura, desenvolveram mais o D1 e o D3. Assim que hoje de forma dialética as tendências evolutivas e as forças destrutivas se combinam para fazer o dinamismo econômico do núcleo Eurásico.

O crescimento do D1 no núcleo Eurásico é uma reminiscência progressiva da herança de um período em que esta parte do planeta estava em transição para um modo de produção superior [ 2 ] que só podem desenvolver-se sob uma base universal. Isto também explica que os custos enormes da política nacionalista da burocracia de “socialismo em um só país”, em última instância resultantes da pressão e do cerco imperialista sobre os Estados Operários, obrigaram a tais estados a desviarem uma enorme massa de recursos para reagir a este cerco, investindo no D3. Apesar de defendermos o pleno direito dos Estados operários e oprimidos a desenvolverem todos os recursos bélicos contra o imperialismo, registramos que a oposição burocrática a política revolucionária do internacionalismo proletário hipertrofiou de tal maneira o D3 que a drenagem de recursos para sustentar a burocracia e a indústria armamentista exauriu a economia dos Estados Operários, em especial a URSS. Essa debilidade foi explorada pelos EUA quando obrigou a URSS a defender-se com a longa ocupação militar do Afeganistão na década de 1980.

A transição em direção ao socialismo foi bloqueada primeiramente para em seguida regredir graças as deformações burocráticas nos Estados Operários. Todavia, esta derrota histórica, demonstra também que apenas o socialismo pode liberar toda a potencialidade criativa da humanidade e construir uma forma superior de sociedade, não sem respeitar as leis da natureza, mas justamente se apoiando nestas leis para criar o futuro e defender a natureza a qual a humanidade integra e dialeticamente se desenvolve sobre a mesma.

Tudo isto se dá em um momento presente onde a luta pelo socialismo se insere como objetivo estratégico da própria luta contra as oligarquias burguesas russa e china, escravizadora dos poderosos proletariados russos e chinês.

Notas

1. O conceito ‘Departamento econômico’ é primeiramente formulado por Marx (1973, vol. II, 3 seção). Para compreender a reprodução ampliada do capital em escala nacional, Marx opera uma separação da economia em Departamento I (D1), produtor de bens de produção (de capital) e Departamento II (D2), produtor de bens de consumo. O departamento III, foi previsto por Marx, mas não tão desenvolvido teoricamente, uma vez que não tinha se desenvolvido também na prática como vem a ocorrer a partir da I Guerra Mundial. O D3 é aquele que vai consumir não as mercadorias, mas as não-mercadorias, assim conceituadas pelo economista e ex-senador Lauro Campos em “A crise da ideologia keynesiana” (1980).
2. Entendemos por modo de produção a articulação entre as forças e as relações de produção.