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sábado, 26 de março de 2011

EUA

Brutal ataque aos direitos salariais e sindicais dos trabalhadores, Minuteman, Tea Party, recolonização
“democrática”... Obama choca o ovo da serpente

dO Bolchevique #3

Gráfico do valor das horas trabalhadas entre 2001 e 2010
mostra a desvalorização da força de trabalho na Europa e nos EUA
No Estado de Wisconsin, o governador republicano tomou uma medida brutal contra o funcionalismo público que, se não for derrotada, servirá de exemplo para que os capitalistas e seus governos estendam este ataque aos trabalhadores de todo o mundo.

O projeto de lei apresentado por Scott Walker: 1) liquida a negociação coletiva dos empregados públicos sobre a aposentadoria e outros benefícios sociais; 2) reduz a possibilidade de que haja aumentos salariais maiores que a inflação oficial, ou seja, anula a possibilidade de qualquer aumento real de salários, a menos que tal aumento seja aprovado em referendo pela maioria dos votantes; 3) autoriza que os trabalhadores deixem de pagar o imposto sindical e que a filiação aos sindicatos precise ser renovada anualmente; 4) estabelece que os empregados públicos realizem uma contribuição por seus planos de pensão e seguros de saúde.

Encabeçado pelo governador de Wisconsin e patrocinado por Obama, o arrocho fiscal que toma forma nos Estados Unidos faz parte do grande ajuste de contas tendo como justificativa a crise econômica que se abateu no país desde 2007. Justificativa sim, porque a grande burguesia planetária nunca esteve tão rica como agora.

Os lucros das empresas no ano passado foram os maiores da história do império desde quando começaram a ser registrados.

A burguesia trilionária causadora da crise foi presenteada com mais dinheiro estatal em forma de generosos pacotes de “salvação” e mais isenções de impostos enquanto a classe trabalhadora vem sendo sacrificada através de demissões em massa, quebra de contratos e estabilidade de trabalho, perda de direitos de previdência e sindicalização e mais uma série de medidas para desvalorizar a sua força de trabalho, aumentar a mais-valia e quebrar a sua resistência sindical organizada.

Obrigado a se pronunciar após duas semanas de completo silêncio, e pressionado pela opinião pública para agir de acordo com o que havia prometido durante sua campanha em 2007, quando garantiu “piquetear com os trabalhadores caso a estes fosse negado o direito de se organizar e negociar seus salários com o empregador através de sindicatos” (The Daily Caller, 28/02/11), Obama encenou uma crítica ao governo de Wisconsin ao afirmar que as medidas eram um ataque aos sindicatos. Porém, logo em seguida, fez uma outra declaração em sentido oposto, em apoio ao saque dos Estados, alegando saber que os governadores “...estão tendo que tomar decisões sobre as suas forças públicas de trabalho e sei o quanto difícil isso pode ser. Recentemente congelei os salários de empregados federais durante dois anos. Não era algo que queria fazer, mas o fiz por causa da difícil situação fiscal em que estamos. Acredito que todo mundo deve se preparar para sacrificar algo a fim de resolver nossos problemas económicos” (Chicago Tribune, 28/02/11). A grande falácia ecoada aos quatro cantos do país acerca da falência dos Estados membros dos EUA tem sido usada para confundir a classe trabalhadora do país sobre os reais motivos dos saques gigantescos e nunca vistos às conquistas e direitos dos trabalhadores públicos em todas as categorias.

Levado há dois anos à presidência da grandiosa máquina opressora mundial, o senador negro de Illinois leva a cabo a sua escalada ofensiva em uma verdadeira guerra contra a classe operária e seus direitos mais básicos, e contra os povos oprimidos do planeta, obrigados a pagar pela crise do capital.

Afoita para usar a crise econômica e financeira de 2007-2008, a burguesia dá inicio a um gigantesco plano de resgate de capital apostando em Obama para ser, por um lado, a pedra desviadora de atenção do tabuleiro na luta de classes, e por outro, o perfeito advogado do diabo que de uma maneira mais “refinada”, porém tão nociva quanto a de seus antecessores, prepara o terreno para um novo ataque imperialista.

Realizando, com uma roupagem “democrática”, uma ofensiva imperialista mais ampla que a de Bush, na Palestina, Afeganistão, Haiti, Honduras, Iraque, Irã, Coréia do Norte, Egito, Tunísia e Líbia, Obama visa a implementar em ritmos cada vez mais intensos o processo de recolonização engendrado pelos apetites vorazes do capital financeiro pós-crise econômica.

Mesmo antes de entrar para o gabinete presidencial, Obama começa a reaquecer a máquina dos superlucros burgueses ao assumir os compromissos de empresas como a Lehman Brothers, que ao declarar falência livrou-se de todos os seus débitos e compromissos trabalhistas, jogando os mesmos nas costas do Estado. Um exemplo ainda mais óbvio da sua necessidade de mostrar-se a altura do posto que assumiria, deu-se através do financiamento governamental de empresas como a GM no inicio de 2008, quando o dinheiro sangrado dos trabalhadores foi usado para tornar ainda mais robusta as contas bancárias dos seus acionistas através da injeção de liquidez bilionária patrocinada por Obama. A General Motors, que ameaçou falir se não cortasse empregos, salários e conquistas trabalhistas, festejou quase U$ 5 bilhões de lucros em 2010. Ao mesmo tempo em que garantia o livre acesso da burguesia ao dinheiro estatal, ainda em 2008, Obama assinava a lei “FISA Amendments Act of 2008”, dando ao Estado norte-americano total liberdade para vigiar, interceptar, buscar e aprisionar sem necessidade de esclarecimento prévio a qualquer indivíduo ou organização dentro e fora dos Estados Unidos que sobreponha os interesses e a segurança burguesa.

Com a popularidade estrategicamente baixa durante o período das eleições para o congresso norte americano, Obama garantia a manutenção de uma estratégia de revezamento muito conhecida dentro da política burguesa norte americana, em que tanto os democratas quanto os republicanos “comem” do dinheiro do Estado nas mesmas proporções. Assim, Obama perdia nas eleições passadas de novembro de 2010 o apoio do congresso então democrata, passando a cadeira para os republicanos. Porém, se analisarmos essa mudança de roupa do Congresso dentro da perspectiva da luta de classes, percebe-se que isto somente cria as circunstâncias ideais para que Obama possa não só continuar sua ofensiva contra a classe trabalhadora, mas sobretudo aperfeiçoá-la, usando a suposta pressão sofrida pelo congresso como pano de fundo.  Um nítido exemplo dessa medida “bipartidarista” foi a prorrogação da lei “Tax Cuts” criada no governo Reagan através da lei Tax Reform Act em 1986 e reativada no governo Bush. Cheio de munição e reenergizado um mês após as eleições, Obama toma a medida até então mais ousada do seu governo em favor da burguesia, estendendo por mais dois anos o corte de impostos que diretamente beneficia os milionários do país.  “A aprovação da lei (Tax Cuts) no Congresso foi a evidência mais dramática até então de que compromissos bipartidários estão inesperadamente ressuscitando semanas depois das eleições de novembro (The Independent, 18/12/10).” A classe trabalhadora não só dos Estados Unidos, mas de todas as suas semicolônias, é quem vêm pagando esse banquete que há séculos é oferecido às classes dominantes, que se tornaram mais poderosas desde a contrarrevolução nos Estados Operários da URSS e Leste Europeu.

DESNORTEADOS E COAGIDOS,
OS TRABALHADORES REAGEM PARA NÃO PAGAR A CONTA

Analisando a conjuntura norte americana, o curso dos acontecimentos revela uma escalada gigantesca rumo a fascistização do país.  Não por acaso, antes mesmo da saída de Bush, a grande vedete Sarah Palin entrava em cena, alimentando com seu sorriso, “porte atrativo” e linguagem típica do “Uncle Sam”, o americanismo em camadas da pequena burguesia e da classe trabalhadora. Pregando o credo dos interesses nacionais, a cativante – e muito bem paga – Palin, montava o cenário para o aparecimento do Tea Party. Como time preliminar dos republicanos, pago para pressionar o “commander and chief” norte-americano a acelerar sua ofensiva contra as massas, o Tea Party recebe milhões em doações “anônimas”.

Palin, “a abelha rainha, recebe de corporações como o canal de televisão Fox News nada menos que um milhão por ano” (The New York Magazine, Abril, 2010). Isso sem contar o seu programa de televisão “reality show” Alaska, o palco perfeito usado pela burguesia para a catequização do proletariado acerca dos interesses “nacionais”, como minimização do Estado, xenofobia contra dos imigrantes, discriminação racial, privatizações, etc.

A estratégia é jogar setores da classe trabalhadora uns contra os outros através de um trabalho diário de propaganda. Assim, os trabalhadores norte-americanos, desarmados de qualquer instrumento que os leve ao desenvolvimento da consciência e à compreensão de que esta luta deve ser travada entre classes, se autoflagela e não avança.

O desmantelamento das organizações trabalhistas dentro dos Estados Unidos se intensifica de maneira brutal nessa década, mas esse não é um processo novo. Muito bem articulada, a transferência de empresas durante o período de quebra da indústria norte americana, intensificada pelo neocolonialismo das décadas de 70 a 90, foi um dos motores dessa mudança. Esse processo, fruto da colaboração de classes entre os sindicatos da época e os patrões, desarmou as massas, atrasando em décadas sua organização e abrindo caminhos para significativas perdas de conquistas para a classe trabalhadora. “Já na década de 70, o crescimento do desemprego, da competição internacional e o movimento da indústria contra a sindicalização diminuíram a posição e o poder de barganha de muitos sindicatos americanos, deixando-os vulneráveis a uma ofensiva de controle renovado” (Economic History Association, 01/02/10). Esses desdobramentos meticulosamente preparados pelo imperialismo ianque para intensificar a pilhagem da mão de obra nos Estados Unidos garantiram à burguesia um maior poder de manipulação e opressão sobre as massas.

Um dos exemplos mais nítidos da capitulação e rendição completa dos sindicatos aos interesses do empresariado se vê hoje em Nova Iorque. Numa corrida ao ajuste fiscal pós-crise econômica da casa própria, o multibilionário Bloomberg, num inédito terceiro mandato, presenteia a sua corja de cúmplices “decidindo colocar todo o grosso da crise criada pelos seus queridos amigos bilionários do Wall Street completamente nas costas da classe trabalhadora e das camadas mais pobres da população” (World Socialist, 19/11/10).

Em meados de 2010, Bloomberg anunciava aos quatro cantos a possível falência da cidade de Nova Iorque e a necessidade de um ajuste de U$1,6 bilhões de dólares. O mais interessante é que já no final do ano, “o contador do estado de Nova Iorque Thomas DiNapoli anunciava uma projeção em que Wall Street estava no ranque de conseguir pelo menos U$19 bilhões em lucro, sendo este o quarto melhor ano já visto por eles, e que o famoso bônus anual dado aos executivos e traders iria possivelmente alcançar um novo recorde” (ABC News, 18/11/10).

Num claro ataque aos trabalhadores nova-iorquinos, em que promove o sucateamento e dos serviços públicos, o prefeito anuncia um corte drástico em setores da educação, cultura, limpeza, e transporte público, prejudicando creches, asilos, bibliotecas, instituições culturais, etc. A primeira punhalada aconteceu há poucos dias quando o multibilionário divulgou na mídia burguesa uma lista de demissões de mais de quatro mil professores até junho, caso o sindicato dos professores não aceitasse quebrar o contrato que garante segurança por tempo de trabalho aos professores que estão no sistema por mais de quatro anos. A Federação de Professores Unificados (UFT), numa covarde cooptação ao governo, se nega a seguir o exemplo dos professores de Wisconsin e chamar a categoria para uma paralisação. A orientação do sindicato é para que os professores entrem em contato com os deputados ou senadores novaiorquinos para pressioná-los a ir contra Bloomberg. Tamanha peleguisse pró campanha eleitoral de 2012, não só deixa a categoria isolada e amedrontada, mas sobretudo deixa claro o que o sindicalismo se conduz a um beco sem saída rumo a sua própria liquidação.

Um ataque de proporções monstruosas vem sendo lançado também contra a população imigrante dos Estados Unidos. A recessão da indústria norte-americana intensificada nas décadas de 70 e 80, deixou regiões inteiras da América do Norte completamente ociosas. Através da exploração de novos mercados no país, – como a construção civil e o entretenimento – apresentados à desiludida classe operária como mais uma possibilidade do sonho americano, a burguesia encontrou o “New Deal”. O sonho da casa própria, através de fantásticos financiamentos bancários patrocinados pela burguesia e seus comparsas políticos encantou o país. No pacote também se encontrava a transformação de cidades como Nova Iorque, Las Vegas, Los Angeles e Miami em verdadeiros parques de diversão para adultos. Comprando a idéia vendida pelos burgueses de que tudo era financiável, a classe trabalhadora vivia então a fantasia do poder de compra.

Os supostos “tempos áureos” atraíram milhões de imigrantes do mundo inteiro. Como mão de obra barata, os imigrantes, em sua grande maioria de origem latina, passavam a liderar o trabalho da prestação de serviços manuais, domésticos e de sub-entretenimento. De repente, a classe trabalhadora despossuída de bens se via na condição de não só realizar o sonho da casa própria, mas também manter um padrão de vida pequeno-burguês. Porém, quando realidade e fantasia começam a se separar e as massas, completamente endividadas, percebem que os “bons tempos” de fato nunca existiram, a burguesia mais uma vez usa de suas artimanhas e joga a população contra a sua parte mais pobre, os imigrantes, que passam de explorados a vilões.

MINUTEMAN – A NOVA KU KLUX KLAN

O ataque aos imigrantes é realizado da forma mais brutal pelo fascista Minuteman, milícia da extrema direita fundada por Jim Gilchrist – um dos cães de guerra dos Estados Unidos durante a guerra do Vietnã – que  sequestra, tortura e mata latinos que tentam cruzar a fronteira ou que já estão vivendo no país sem documentos. “Comparado a grupos de exterminio como o Ku Klux Klan usado contra os negros do sul do pais na decada de 60” (The Tribune, 18/07/05), o Minuteman e suas vertentes agem a mando do governo federal e dos governadores dos estados do Arizona, California, Utah, Minnesota e Maine, fazendo o trabalho sujo do terrorismo paraestatal necessário à burguesia nesse momento de aperto dos cintos e contenção de gastos impostos aos trabalhadores.

O Minuteman aterroriza a vida desses trabalhadores e de seus filhos, os quais diariamente temem voltar da escola e ser sequestrados, abusados sexualmente, torturados e mortos, ou até mesmo chegar em casa e não encontrar seus pais, que podem ter tido suas residências invadidas e sido deportados. Os que conseguem sobreviver à pressão, à xenofobia e ao drama de uma sobrevivência ameaçada, terminam os estudos e têm que se sujeitar aos sub-empregos que lhes estão disponíveis, uma vez que encontram-se excluídos da possibilidade de acesso à Universidade.

Todo esse perverso ataque encontra respaldo na legislação norte americana, que considera crime inclusive dar água ou ajudar diretamente a um imigrante indocumentado e faz parte de uma campanha de renacionalização da “América”, a qual, por sua vez, está embasada no ódio aos imigrantes e no desespero dos radicais brancos, que jogam sobre as costas dos imigrantes a culpa pela falência do “American Way Of Life”.

Diariamente centenas de corpos sao jogados no deserto. A propria Janice Brewer, governadora do Arizona, que neste mês de março está passando férias com sua amiga Palin no Alaska, para se safar dos crimes cometidos, declarou a imprensa que “as suas patrulhas haviam encontrado muitos corpos no deserto, uns queimados e outros apenas deitados com a cabeça decepada” (The Washington Post, 11/07/10).

Em maio de 2009, em Pima County, no Arizona, Shawna Forde juntamente com seus amigos do “Minuteman em Defesa da America, invadiu a casa de uma familia de imigrantes e matou a sangue frio a garota Brisenia Flores e seu pai“. Aparentemente Brisenia pediu compaixao pela sua vida antes de receber um tiro na cabeça” (Center for American Progress, 15/02/11).

Não por acaso, Shawna Forde é o braço direito de “Jim Gilchrist e Chris Simcox, capatazes que oficialmente receberam apoio político em 2005, de setenta e um deputados do país, assim como outros políticos incluindo o governador da California, Arnold Schwarzenegger, que planejam a reforma imigratória Caucus, a qual explicitamente apóia o projeto Minuteman” (World Socialist, 20/05/2005).

Assim como Brisenia e seu pai, muitos outros imigrantes tem sido assassinados sem nenhuma chance de defesa ou apelo, e todos se calam em reverência ao solo nacional. Todos os que se erguem na luta em defesa dos trabalhadores imigrantes com ou sem documentação, são demonizados e acusados de anti-nacionalistas, anti-mais empregos, anti-saúde gratuita para quem paga imposto, pró-terroristas!

No inicio desse ano, mais uma vez, o mundo assistiu de perto o massacre de Tucson no Arizona, onde seis pessoas foram assassinadas e outras dezenove foram baleadas por tentarem pela “via democrática” reinvindicar junto a deputada local, Gabrielle Giffords, algum socorro aos imigrantes. 

Se analisarmos os desdobramentos políticos sob uma ótica classista, concluiremos que a perseguição aos imigrantes foi intensificada após os protestos no Primeiro de Maio de 2006, quando estes saíram às ruas das principais cidades dos Estados Unidos numa demonstração de força jamais vista no país. Os mais de cinco milhões de imigrantes, em diferentes cidades dos EUA, protestavam contra a draconiana lei de imigração CIRA proposta pelo governo Bush, que transformaria 11 milhões de imigrantes indocumentados em criminosos. Conhecido como o “grande boicote americano”, o protesto não reuniu apenas imigrantes, mas outras fileiras da classe trabalhadora que gritavam contra o desemprego, contra a invasão do Iraque e contra o sucateamento da educação. Porém, numa reação imediata e esmagadora, o rolo compressor burguês deu início a uma bilionária campanha fascista, fazendo a luta de classes retroceder para uma esfera racial e cultural.

O que hoje observamos é um crescente processo de ataques às conquistas duramente obtidas pelo proletariado norte americano, que a cada dia que passa vê o resultado de antigas vitórias serem subtraídos pela burguesia do principal Estado imperialista do planeta.

Diante dessa política francamente reacionária, que é aplicada com a co-gestão das mega-mafiosas direções sindicais burocráticas (AFL-CIO), e que cada vez mais incorpora elementos de caráter fascista – xenofobia, racismo, machismo, homofobia – chamamos os trabalhadores dos EUA a se organizarem para combater essas políticas anti-operarias e antisindicais, construindo organismos de luta nos locais de trabalho que impulsionem e deem continuidade às mobilizações que se iniciam e tendem a se fortalecer na luta contra a reação burguesa.

Contrária às previsões do impressionismo pequeno-burguês de que o recrudescimento do fascismo ianque não se daria na própria gestão Obama, alimentando ilusões de garantias democráticas no atual governo imperialista, o que se vê na realidade é a execução brutal da ofensiva contra os trabalhadores de todo o mundo sob a batuta de Obama. O atual mandatário da Casa Branca nada mais faz do que reeditar a política de seu antecessor Theodore Roosevelt: “Fale macio, carregue um porrete e irá longe”.

Como aprendemos com Trotsky, “Na ausência de um poderoso partido revolucionário do proletariado, uma combinação de semi-reformas, de frases esquerdistas [que nos dias de hoje nem precisam ser tão esquerdistas, bastam ser frases ‘democráticas’ e dúbias, como as que Obama utilizou em defesa dos sindicatos] de gestos ainda mais à esquerda e repressões, podem ser muito mais úteis à burguesia do que o fascismo” (Está na Alemanha A Chave da Situação Internacional, 26/11/1931).

É preciso sair da defensiva para a ofensiva. A derrota dos planos escravocratas do capital imperialista e principalmente de sua ala mais reacionária, a do capital financeiro nazi-sionista –  onde são gestadas em sua maioria as concepções e políticas ultrarreacionárias como o racismo e a xenofobia – depende de que nossos irmãos trabalhadores da América do Norte se emancipem de sua burguesia imperialista pela construção de um verdadeiro Partido da Quarta Internacional.

Ana de Souza, professora da rede pública do
Estado de Nova Iorque e membro da LC

segunda-feira, 21 de março de 2011

BALANÇO DO "FORA OBAMA!" NO RIO EM 20/03

Protesto na Cinelândia rompe barreira política imposta pela burocracia dirigente da CUT, MST, PCdoB e CSP-Conlutas ao "Fora Obama!"
dO Bolchevique # 4
Combativo "Fora Obama!" em frente ao Teatro Municipal
fura o cerco político dos pelegos e do aparato repressivo do imperialismo, Dilma e Cabral
No dia 18 de março, a partir da concentração na Candelária, CUT e CTB boicotaram a passeata de protesto ao Consulado dos EUA no centro Rio de Janeiro contra a presença de Obama. O PSTU e a CSP-Conlutas apostaram neste ato para amortecer a disposição de luta do ativismo, inclusive de parte de sua militância, a fim de evitar um forte protesto no dia em que Obama estaria no país. A serviço do FBI, a PM de Cabral prendeu 13 militantes neste pequeno protesto do dia 18 para intimidar as possíveis manifestações que viessem a se organizar no dia 20 de março.

Dois dias depois, quando Obama já se encontrava no Rio de Janeiro, não foi, porém, a truculência dos aparatos repressivos dos lambe botas brasileiros Dilma e Cabral (tanques, o Batalhão de Operações especiais do Exército, Bope, PM e Guarda Municipal) ou a própria máquina assassina do imperialismo montado no Rio (FBI e CIA) o que impediu o avanço da manifestação. Quem freou o movimento a menos de três quarteirões do Teatro Municipal, onde se encontrava o comandante em chefe do imperialismo mundial, principal responsável por toda exploração e violência do mundo, foi a vergonhosa política conciliadora da CUT, Sindipetro, MST, PT, PCdoB, PSTU, PSOL e CST/Unidos que levou os manifestantes a um beco sem saída, literalmente encurralando-os para depois "serem forçados" a dispersá-los, e tomar o caminho de casa.

A Liga Comunista agrupou seus militantes de São Paulo e Rio de Janeiro a partir do dia 19/03, confeccionou faixas e bandeiras, constituiu a “Frente Única Contra a Presença de Obama no Brasil” com organizações de trabalhadores, estudantes e sem teto cariocas: Frente Internacionalista dos Sem Teto, Rede Estudantil Classista e Combativa e Coletivo Lênin, em torno de um manifesto com posições políticas comuns. No protesto, distribuímos o manifesto da frente e uma declaração própria, os quais reproduzimos logo abaixo.

Nádia Silva, trabalhadora de São Bernardo do Campo, ABC paulista, fala pela LC,
na concentração na estação do metrô Glória no Rio de Janeiro
Participamos da reunião preparatória para a atividade no Sindipetro no dia 16, da passeata do dia 18 e do ato da Glória do dia 20/03 com oradores da corrente. Nessa última atividade, através de sua militante trabalhadora de São Bernardo do Campo/SP, Nádia Silva, a LC denunciou o retardamento da saída da protesto da Glória em direção a Cinelândia, orquestrado pela direção governista do ato. Denunciou também a sanguinária intervenção militar do imperialismo na Líbia ordenada por Obama a partir do Rio na noite anterior. Nádia chamou uma frente única militar com Gadafi para derrotar os EUA e a OTAN sem apoiar politicamente o governante burguês com o qual as massas líbias logo devem acertar as contas. Em seguida, a companheira ressaltou que a força e a firmeza de nossa marcha naquele dia seria um passo determinante para a imediata libertação dos companheiros presos, caminhando até o teatro municipal, onde estava se realizando mais uma cena da peça teatral imperialista que visa preservar a máscara “democrática” e “popular” de Obama, enquanto o carniceiro bombardeia o povo líbio, a fim de melhor manipular a opinião pública e mais facilmente exercer as façanhas de sua opressão capitalista sobre o planeta.

Com atraso proposital, para cansar os manifestantes, finalmente a marcha saiu da Glória em direção à Cinelândia, sempre sendo freada por um combinado da direção do movimento, CSP-Conlutas, CUT, MST, PSTU, PCdoB e PSOL, com a assassina PM fluminense de Cabral até ser completamente contida a três quarteirões da Cinelândia sem a necessidade de nenhum aparato policial bloqueá-la. A direção do protesto covardemente conduziu a manifestação para um beco sem saída politico e logístico, uma vez que o quarteirão onde fomos orientados a parar era uma rua onde a tropa de choque facilmente nos reprimiria, encurralando a todos. Os mesmos dirigentes trataram de nos aterrorizar com argumentos de que “a cavalaria estava na praça” e que haveria um “banho de sangue” se o protesto continuasse,...

“PARA NOSSOS PRESOS LIBERTAR, É PRECISO AVANÇAR!”

Neste momento, apesar da tentativa de intimidação e do cerco reacionário que a direção do movimento impôs ao setor mais combativo da manifestação, nós polarizamos contra a política colaboracionista com palavras de ordem pela continuidade da marcha anti-Obama até onde fosse possível, inclusive para pressionar os governos Dilma e Sérgio Cabral a libertarem nossos presos políticos reféns da luta anti-imperialista, cantando palavras de ordem como “Para nossos presos libertar é preciso avançar”, “Vem vamos embora que esperar não é fazer, quem sabe faz a hora não espera acontecer”; “Por que parou? parou por que?”, “O povo unido é povo forte, não teme a luta, não teme a morte. Avante, companheiros! Essa luta é minha e sua. Unidos venceremos e a luta continua!”.

UOL Notícias registra faixa da Liga Comunista na Concentração da passeata na Glória,
Atrás da faixa da LC, o carro de som que foi apreendido pela PM de Sérgio Cabral
O PSTU orientou sua militância, em crise diante da polarização, a se dirigir para a sede do partido, onde seriam reenquadrados e mais uma vez entorpecidos de que “tudo que era possível fazer tinha sido feito” e que a “atividade foi plenamente vitoriosa”. Os governistas e os satélites deste bloco conciliacionista foram para casa ou contar vantagem na internet. Diante da sabotagem, a LC, FIST, RECC e CL se dirigiram ao Teatro, onde vieram a se agrupar também as Brigadas Populares, PCR, Morena-CB. As demais organizações se enquadraram completamente naquele momento às orientações conciliadoras que a CUT-PCdoB-Conlutas quiseram impor ao conjunto da manifestação. Após furarmos o bloqueio político da CSP-Conlutas e Cia e, em seguida, o bloqueio policial na Rua Evaristo da Veiga, fomos até a praça protestar, contidos finalmente pelo Batalhão de Operações especiais do Exército de Dilma, protetor do showmício vip de Obama.

APESAR DOS PELEGOS, “YES, WE CAN!” PROTESTAR CONTRA OBAMA!

A LC e a frente única cumpriram o que convocaram nos seus manifestos e declarações: “Devemos marchar até o Teatro Municipal para demonstrar, em alto e bom som, nosso rechaço à presença do carniceiro do imperialismo no Brasil, na Líbia, no Iraque, Afeganistão e Haiti.” (Declaração da Liga Comunista ao 20/03); “Vamos caminhar hoje até onde pudermos contra Obama e o Imperialismo!” (Manifesto da Frente Única Contra a Presença de Obama no Brasil).

Em frente ao Teatro Municipal, os manifestantes fizeram uma barricada política cantando palavras de ordem contra Obama, Dilma, Cabral, o Caveirão e a Globo por todo o tempo que decorreu a farsa montada pelo governo brasileiro em repúdio ao imperador “democrata” carniceiro e seus lambe-botas tupiniquins. A LC e outras organizações puxaram várias palavras de ordem como “Fora já, fora já daqui, Obama da Líbia e Dilma do Haiti!” e “Estão no mesmo saco, Obama e caveirão. Libertem nossos presos, abaixo a repressão!”. Os que levaram o “Fora Obama!” até onde suas forças permitiram, não encontraram nenhuma cavalaria e muito menos sofreram o falacioso “banho de sangue” utilizado pelos pelegos para amedrontar a luta anti-Obama.

A lição que tiramos desta batalha é que as direções conciliadoras são o maior freio para a luta anti-imperialista e anticapitalista, se esquivam do combate consequente contra a repressão policial, utilizam a prisão de seus companheiros como mero marketing político virtual e desarticulam a luta de massas, o método do movimento operário para obrigar nossos algozes a recuar. Parafraseando o próprio líder imperialista, “Sim, era possível” realizar um poderoso “Fora Obama!” e o corajoso protesto de todos os que queriam protestar na praça da Cinelândia demonstrou isto. 

sábado, 19 de março de 2011

DECLARAÇÃO AO "FORA OBAMA!" NO RIO EM 20/03

Fora Obama da Líbia, Brasil, Afeganistão, Iraque e Haiti!
Liberdade imediata para todos os presos políticos da manifestação do dia 18/03 encarcerados por Dilma e Cabral!
dO Bolchevique # 4
Míssil Tomahaw lançado de Destroyer USS Barry contra a Líbia na noite de 19/03/2011

EUA, França, Reino Unido, Canadá e Itália estão bombardeando a Líbia agora, realizando a maior intervenção militar internacional desde a invasão do Iraque. Após a derrota da oposição monarquista pró-imperialista para as forças do governo Gadafi, o imperialismo deu início a um feroz ataque sobre Trípoli pelo controle integral do petróleo líbio, em nome de prestar ajuda “humanitária” para fazer do país um novo Afeganistão ou Iraque.

Enquanto isso, no Brasil, o chefe dos carniceiros imperialistas vem posar de estadista democrático no palanque armado por Dilma, PT, CUT, CTB e demais centrais pelegas. CUT e Conlutas (PSTU, PSOL) marcam “atos de protestos” a quilômetros dos cordões policiais do FBI, PF e PM, o que poupará o trabalho do aparato repressivo. Ao mesmo tempo em que “organizam” esta impotente simulação de protesto, PSTU e PSOL emblocam-se politicamente com o próprio Obama, reivindicando o “Fora Gadafi!”.

Se estas direções vacilam em protestar contra Obama, o imperialismo, de Trípoli ao Rio, não hesita em reprimir barbaramente. Para intimidar qualquer tentativa de manifestação no dia 20/03, os lambe-botas locais do império, Dilma e Sérgio Cabral, prenderam, nos presídios de Bangu e Água Santa, 13 manifestantes de esquerda que participaram da passeata do dia 18/03 no Consulado dos EUA na capital carioca. 10 deles, militantes do PSTU.

Não podemos fingir que protestamos, se deixamos a repressão e a exploração avançar livremente. Na Líbia, defendemos frente única militar com Gadafi, porém sem apoiar politicamente nem confiar no regime de Trípoli, e reivindicando o armamento de todo o povo contra a ofensiva recolonizadora por agentes externos ou internos. No Rio, devemos marchar até o Teatro Municipal para demonstrar, em alto e bom som, nosso rechaço à presença do carniceiro do imperialismo no Brasil, na Líbia, no Iraque, Afeganistão e Haiti.


ABAIXO NOTA DA FRENTE ÚNICA PARA O
ATO ANTI-OBAMA NO RIO DE JANEIRO, 20/03


Vamos caminhar hoje até onde pudermos contra Obama e o Imperialismo!

Todos estamos aqui hoje porque dizemos nos opor à presença de Obama no Brasil. Entretanto, alguns parecem ter se esforçado para garantir que os protestos contra o chefe-mor do imperialismo seriam esvaziados. A CUT, Força Sindical, CTB e outras centrais que apóiam Dilma, não colocaram esforço para construir este ato. Achamos que isso tem um motivo político e não que é simples “desorganização”. Já que é Dilma, a chefe do Estado burguês brasileiro, a anfitriã de Obama, os lideres sindicais que apóiam este governo vão fazer de tudo para não “envergonhá-lo” diante do imperialismo. Acreditamos que por nos opormos aos acordos econômicos de Dilma com o imperialismo, não podemos participar dessa sabotagem de dentro do nosso próprio movimento.

De forma parecida, alguns setores da oposição de esquerda tem se limitado ao “calendário oficial” proposto pelos burocratas sindicais para frustrar a luta dos trabalhadores. Além de convocar inicialmente um ato ainda mais distante de onde estará Obama (no Largo do Machado, a 8 quilômetros da Cinelândia!) do que este marcado pelas grandes centrais, a CSP-Conlutas, dirigida pelo PSTU e pelo PSOL, não está tomando nenhuma iniciativa para se opor ao rumo que os burocratas querem dar – um ato “só para não dizer que não fizemos nada” e sem nenhuma ousadia.

Achamos que isso não é o suficiente para demonstrar nossa insatisfação contra o imperialismo, não apenas no Brasil, mas também no Haiti, no Iraque, Afeganistão e no que está sendo feito na Líbia. Se os burocratas que hoje lideram a CUT e outras centrais governistas não querem se chocar contra o governo, apesar dos claros ataques contra trabalhadores e oprimidos, os verdadeiros inimigos do imperialismo deveriam organizar uma medida que coloque outra pauta na mesa. É a isso que nos propomos, já que outros setores de oposição, como PSTU e PSOL não querem lançar uma ação independente dos capachos de Dilma que lideram as centrais.

Existe risco de que hoje essas lideranças nem queiram sair da Glória (concentração do ato marcado pelas grandes centrais, que fica também distante, a quase 2 quilômetros de onde estará Obama), e demais locais de concentração, ou talvez dêem apenas alguns passos, usando como justificativa a repressão policial para nem ameaçar caminhar pela cidade, afastando os manifestantes do chefe imperialista. Achamos que o ato de hoje deve chamar o máximo de atenção inclusive para defender os companheiros de algumas dessas organizações citadas, que foram presos no ato contra Obama na última sexta-feira, e estão até agora presos nas celas do Estado burguês.

Hoje chamamos todos a caminhar até onde pudermos! Nós, membros de uma frente composta por trabalhadores e estudantes classistas, organizações revolucionárias trotskistas, organizações de sem-teto, de favelas e de torcedores independentes, nos opomos aos governistas sindicais e seus satélites, que não querem fazer um ato combativo. Queremos que todos os ativistas honestos caminhem conosco num sinal de oposição firme ao imperialismo, ao capitalismo, ao terrorismo e genocídio de Estado e em repúdio a esta sabotagem. Vamos tentar, ainda que sejamos poucos, a ir até onde for possível.

Fora Obama do Afeganistão, Iraque, Haiti, Líbia e Brasil!
Pela liberdade imediata de todos os presos políticos que lutam contra os assassinos de Estado, inclusive aqueles 13 na justa manifestação da última sexta-feira contra Obama!

Frente Única Contra a Presença de Obama no Brasil

quinta-feira, 17 de março de 2011

ESPECIAL - ÁFRICA DO NORTE E ORIENTE MÉDIO 3/4

Combater com um programa operário e revolucionário a ofensiva dos EUA/OTAN camuflada de “rebelião” militar-monarquista

Artigo do ESPECIAL - ÁFRICA DO NORTE E ORIENTE MÉDIO
dO Bolchevique #3
Missão "humanitária" dos EUA e OTAN na Líbia, o país que possui as maiores reservas de petróleo da África e a 9a maior do mundo

Estranhamente, a chamada “revolução líbia” já nasceu armada. EUA, UE, Japão e cia. confiscaram os investimentos econômicos internacionais do Estado líbio. A Liga Árabe e a ONU suspenderam o país de seus fóruns. Foi acionado o Tribunal Penal Internacional contra Gadafi e seu clã.

Meios de comunicação do mundo todo, da CNN à Al Jazeera, divulgaram cataratas de informações falsas para sensibilizar preventivamente a opinião pública mundial em favor de uma nova ocupação militar imperialista “humanitária” a la Iugoslávia, Afeganistão e Iraque. Primeiro disseram que Gadafi haveria fugido do país e se refugiado na Venezuela. Desmentida esta informação, foi denunciado que Gadafi havia bombardeado a população de Tripoli, capital do país, matando cerca de 250 pessoas. Sobre isto, vale a pena ver a reportagem de Maurizio Matteuzzi, correspondente do Il Manifesto, um jornal de esquerda independente italiano, que foi a Tripoli constatar a veracidade das denúncias da grande mídia.

Obama anuncia o abandono do "multilateralismo". Não esperou pela ONU para agir. Já movimentou a 5ª Frota e a força aérea mais poderosa da história para articular a invasão militar “humanitária”, convidado pelo “Conselho Nacional de Transição” composto por ex-ministros, empresários, generais, juízes e chefes tribais monarquistas e islâmicos libios. A reação da “comunidade internacional” também é bem diferente em sua “solidariedade” com os protestos oposicionistas. Sai em socorro da oposição libanesa e trata de sufocar os protestos no Bahrein. A mando de Washington, o aparato repressivo da Arábia Saudita foi enviado para reprimir os protestos do Bahrein. “Curiosamente, os manifestantes em Bengasi teriam abolido a bandeira verde da Líbia do topo do principal Tribunal de Justiça da cidade, substituindo-a pela bandeira da antiga monarquia - deposta em setembro de 1969 pelo golpe que levou Gadafi ao poder. A maioria dos manifestantes não tem sequer memória do rei Idris, primeiro e único monarca do país - já que ele foi destronado há mais de 40 anos, e mais da metade da população do país tem menos de 25.” (BBC Brasil, 21/02/2011). Longe de ser uma inacreditável nostalgia de um tempo não vivido por parte da juventude líbia, o uso da simbologia monarquista pela direção made in CIA do movimento anti-gadafista, representa a volta de um regime líbio criado e dominado pelas potências imperialistas no curto período entre o fim da segunda guerra e a tomada do poder por Gadafi.

Os conselheiros militares dos EUA e da OTAN já estavam articulados com a oposição burguesa e com parte do staff de Gadafi à espera de uma oportunidade para desatar um golpe de Estado. A operação foi planificada então para coincidir com as revoltas árabes nos países vizinhos para induzir a opinião pública a acreditar que os protestos haviam se espalhado espontaneamente da Tunísia e do Egito até chegar à Líbia.

O que acontece hoje na Líbia é uma combinação das táticas golpistas imperialistas que vimos recentemente na Bolívia, Equador e Irã, se encaminhando para uma invasão militar “humanitária” a la Balcãs.

Em 2002, uma frente insurgente “revolucionária” orquestrada diretamente pela CIA reuniu setotes do Exercito venezuelano e empresários para realizar um golpe militar contra Chavez.

Em 2007, na Bolívia, uma conspiração burguesa dos departamentos da parte oriental do país deflagraram um movimento separatista armado para negociar diretamente com o imperialismo a riqueza energética desta parte do país. Em fevereiro de 2011, quatro anos depois da ofensiva armada pró-imperialista, foi confirmada a suspeita de que o movimento golpista tinha sido de fato articulado pela CIA através do boliviano croata Eduardo Rozsa Flores, patrocinado pelo milionário empresário Branko Marinkovic, ex-presidente do opositor comitê Pró Santa Cruz. Marinkovic é ligado à falange fascista croata conhecida como Ustasha, enricou com o separatismo nos Balcãs na década de 1990. A Iugoslávia era um Estado Operário burocratizado que foi despedaçado por uma guerra fratricida impulsionada pelos EUA, Alemanha e França.

Em 2009, a CIA realizou um golpe militar bem sucedido em Honduras, substituindo Manuel Zelaya presidente filo-bolivariano e pondo em seu lugar um governo mais sintonizado com os interesses de Washington.

Em 2010, no Equador, uma greve policial quase descamba em um golpe militar contra o presidente bolivariano Rafael Corrêa.

Na Venezuela, assim com no Irã, de tempos em tempos, toma fôlego uma onda de “mobilizações de massa” encabeçada pelas respectivas oposições burguesas pró-EUA.

O imperialismo aprende e desenvolve o know how da contrarrevolução. A autoproclamada “vanguarda revolucionária do proletariado”, composta por partidos que também se dizem marxistas e trotskistas, além de não aprender nada com a história, acaba apoiando as contrarrevoluções imperialistas.

A RECOLONIZAÇÃO DA LÍBIA E A DESASTROSA EXPLORAÇÃO DO PETRÓLEO NOS EUA

Após a alta do petróleo de 2008 e em meio a crise econômica mundial, os EUA trataram de elaborar saídas para a escassez crescente do minério a fim de poupar suas reservas. “O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush pediu hoje ao Congresso para retirar os impedimentos para aumentar a produção nacional de petróleo e acusou os democratas de parte da culpa da alta do preço do combustível por seu ‘obstrucionismo’. Bush urgiu os congressistas a suspenderem a proibição de construir instalações petrolíferas na plataforma continental americana em alto mar, vigente dos EUA desde 1982 para evitar o impacto ambiental e a possibilidade de vazamentos. O candidato republicano à Casa Branca, John McCain, apoia a proposta de Bush, mas seu adversário, Barack Obama, e as principais lideranças democratas a rejeitam.” (UOL economia, Efe, 21/06/2008).

Uma vez no governo, Obama deu continuidade ao plano de Bush e o resultado foi o maior vazamento petrolífero da história, responsável por séculos de danos ambientais sobre os oceanos e o conjunto do planeta, ocasionado pela transnacional British Petroleum, uma das maiores petroleiras do mundo e membro do cartel das “Quatro Irmãs”, juntamente com a ESSO, Texaco e a Shell. Depois do mega desastre, a administração Obama voltou atrás, tratou de secundarizar as metas de aumento da produção nacional e recorreu à tradicional pilhagem colonial. E é aí que entram a ofensiva recolonizadora sobre a África e o Oriente Médio e, em particular, sobre a Líbia.

Segundo dados da Energy Information Administration (2009), a Líbia possui reservas de 46,5 bilhões de barris de petróleo (10 vezes mais que o Egito) e os EUA, 20,6 bilhões, ou seja, a Libia possui mais que o dobro das reservas de petróleo dos EUA. O país africano tem a maior reserva e está entre o três maiores produtores de petróleo de seu continente, possui a 9ª maior reserva do planeta e é o 12º maior exportador mundial do cobiçado produto. Antes da chamada crise do petróleo nos anos 70, a Líbia foi um dos maiores produtores da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), com mais de três milhões de barris diários (bpd). Por um breve período, produziu mais que a Arábia Saudita, a âncora da Opep. Depois da estatização da indústria petrolífera, promovida por Gadafi nos anos 1970, a produção caiu muito, afetada por sanções internacionais e cotas (sabotagem) da Opep. A produção diária total do país antes da “guerra civil” era de 1,6 milhões bpd.

Washington aproveitou o clima de revoltas no norte da África e Oriente Médio para recuperar o terreno perdido, primeiro para o Estado burguês líbio e, após a guinada privatista e desnacionalizante de Gadafi na última década, para a União Europeia no controle do petróleo do país. Diante da determinação estratégica dos EUA em recolonizar o país, as potências europeias tratam de apoiar a ofensiva, acreditando que ao livrar-se do regime de Gadafi, que do ponto de vista imperialista ainda controla em excesso a economia do país, sobrará mais “ouro negro” para todos os invasores. As revoltas populares dos países vizinhos têm possibilitado ao imperialismo diminuir as tensões políticas e promover governos gerentes dos interesses multinacionais mais baratos frente aos apetites renovados do capital imperialista saído da crise de 2007-2008. Por isto, a ofensiva golpista na Líbia se justifica ainda mais pelo anacronismo que representa ainda o atual regime de Trípoli, apesar de todo seu giro “neoliberal” na ultima década.

A OCUPAÇÃO MILITAR IMPERIALISTA DA LIBIA JÁ COMEÇOU

Depois de isolar Gadafi, estrangular economicamente o regime, a OTAN prepara o bombardeamento, agora sim, de Trípoli e a entrada aberta das tropas oficiais do imperialismo sem as camuflagens “populares” na guerra.

De fato, a invasão já começou, através do ingresso dos conselheiros militares para orientar a frente monarquista. Um elemento que vem sendo ocultado pela mídia e principalmente pelo movimento golpista. “Centenas de conselheiros militares dos EUA, Inglaterra e França chegaram a Cirenaica, a leste da província separatista da Líbia. Esta é a primeira vez que a América e a Europa intervieram militarmente em qualquer uma das revoltas populares que estão acontecendo pelo Oriente Médio desde Revolução Jasmim da Tunísia no início de janeiro. Os conselheiros, incluindo oficiais de inteligência, desembarcaram de navios e embarcações com mísseis nas cidades costeiras de Bengasi e Tobruk quinta-feira 24 de fevereiro, para organizar as unidades paramilitares, ensiná-los a usar as armas capturadas das instalações do exército líbio, treiná-los para combater as unidades Muammar Kadafi combater vindo a retomar Cirenaica e preparar infra-estrutura para a chegada adicional de tropas estrangeiras. Unidades egípcias estão entre as tropas cogitadas para se somarem mais tarde.” (DEBKAfile, Conselheiros Militares dos EUA na Cirenaica, 25/02/2011). As tropas egípcias serão enviadas pelo “novo” governo da Junta Militar.

UMA GUERRA PARA AUMENTAR A EXPLORAÇÃO SOBRE A CLASSE OPERÁRIA E O PETRÓLEO LIBIO

Diferentemente do Egito e Tunísia, “antes da crise começar, a economia do país passava por um ‘boom’. O Fundo Monetário Internacional (FMI) acredita que a Líbia tenha crescido 10,6% ano passado, e que venha a crescer cerca de 6,2% em 2011.” (BBC Brasil, 21/02/2011). A crise social, unindo inflação alimentar com desemprego, foi o combustível das revoltas tunisianas e egípcias. A juventude desempregada foi um dos fatores determinantes na destituição de Ben Ali. O ingresso dos trabalhadores egípcios e em particular dos têxteis foi decisivo para a renúncia de Mubarak.

Embora a Líbia não tenha passado imune à inflação alimentar, assim como a Venezuela, o país importa grande parte do que consome, os efeitos da inflação foram amortecidos graças a um relativo embora decrescente controle do Estado sobre o petróleo. Ao contrário dos vizinhos, detentores de uma enorme massa de jovens desempregados, o país, cuja classe operária nativa é muito pequena, é uma nação que atrai os jovens dos outros com sua oferta de emprego a salários relativamente maiores do que os pagos no restante da África. Isto é notável pelo intenso processo migratório da classe operária fugindo da “guerra civil” fustigada pelo imperialismo. Dos seis milhões de habitantes, quase dois milhões são trabalhadores estrangeiros. 1,5 milhões são egípcios, 50 mil bengaleses, 15 mil indianos e um grande número de paquistaneses. 30 mil turcos constituem a maior parte dos trabalhadores da construção civil. 200 são brasileiros funcionários de empresas de construção civil como a Andrade Gutierrez e a Odebrecht como operários ou engenheiros.

Ao total, a Odebrecht contratou para trabalhar no país 3.200 funcionários. Além dos brasileiros, a empresa explora tailandeses, vietnamitas, filipinos e egípcios. A maioria esmagadora da classe operária que trabalha na Líbia está momentaneamente se repatriando em seu país de origem.

GADAFI, DO PAN-ARABISMO AO NEOLIBERALISMO

A fraudulenta independência da Líbia foi a primeira “independência” de um país a ser realizada pela própria ONU que também instituiu uma monarquia títere dos EUA e de Israel no país. A era Gadafi na Líbia começou em 1969, quando um grupo de oficiais liderados por Muammar al Gadafi, derrubaram a monarquia num golpe de Estado sem derramamento de sangue, estabelecendo uma República inspirada no nacionalismo nasserista. Isolado pelo imperialismo e pelo sionismo que preferiam o servil rei Idris e sabotado pelos fantoches da OPEP, a partir de 1970, Gadafi expulsou os efetivos militares estrangeiros e decretou a nacionalização das empresas, dos bancos e dos recursos petrolíferos do país. O governo passou a controlar os preços das mercadorias, o comércio, o crédito e o câmbio, restringindo as importações. As exportações de petróleo da Líbia passaram a ser totalmente controladas pelo governo, fornecendo cerca de 95% de sua receita de exportação. A nacionalização da imensa riqueza do petróleo deu meios ao governo líbio para melhorar as condições de vida da população. De acordo com estimativas de 2004 do governo dos EUA, 82% da população adulta total é alfabetizada (92% dos homens e 72% das mulheres). A educação primária é gratuita e obrigatória. O número de médicos e dentistas aumentou sete vezes entre 1970 e 1985, resultando em um médico por cada 673 cidadãos (na rede pública da cidade de São Paulo há regiões em que a disponibilidade é de 1 médico para 20 mil habitantes). No Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU a Líbia ocupa o 53º lugar no ranking do IDH (o Brasil está em 73o lugar e o Egito 101o).

Depois da Guerra do Yom Kippur, em 1973, a Líbia pressionou seus parceiros árabes a não exportar petróleo para os Estados que apoiaram Israel. Opôs-se à iniciativa do lambe-botas egípcio Sadat, de restabelecer a paz com Israel, e participou ativamente, junto com à Síria, da chamada “frente de resistência” em 1978. Seu apoio à Organização para a Libertação da Palestina (OLP) se intensificou, e a cooperação com os palestinos se estendeu a outros grupos guerrilheiros de países não árabes, que receberam ajuda econômica líbia.

A rejeição a Israel, as manifestações antiamericanas e a aproximação com a União Soviética, por parte da Líbia, marcaram a conduta do governo nacionalista na década de 1980. As relações da Líbia com os Estados Unidos se deterioraram quando os ianques impuseram um embargo às importações de petróleo líbio e sanções econômicas ao país. O governo de Gadafi foi implicado no atentado terrorista de uma discoteca em Berlim Ocidental frequentada por militares americanos. A ONU impôs sanções à Líbia em 1992-93 depois do governo líbio ter sido implicado no atentado do voo Pan Am 103 em Lockerbie, Escócia, em 1988 e no bombardeio de um voo francês sobre o Níger em 1989. O presidente dos EUA, Ronald Reagan ordenou, em abril de 1986, um bombardeio da aviação americana a vários alvos militares em Trípoli e Bengasi, causando a morte de 130 pessoas. Gadafi saiu ileso, mas perdeu uma filha quando sua casa foi atingida.

A contrarrevolução na URSS fez com que os anos 1990 fossem anos de severo isolamento político e econômico e declínio para a Líbia. As sanções e embargos comerciais provocaram o aumento dos custos de importação e de inflação na economia doméstica da Líbia, resultando em um padrão de deterioração da vida da maioria dos seus cidadãos. Grupos de oposição militante islâmicos executaram vários ataques contra o governo, incluindo uma série de tentativas para assassinar Gadafi. Uma tentativa de golpe militar teve lugar em 1993, mas os líderes do golpe e os grupos de oposição islâmicos foram reprimidos. Em 1995-97 Gadafi realizou uma ofensiva militar na Cirenaica, que era o centro de grande parte da oposição.

Durante o período de 1999-2003, Gadafi realiza sua guinada à direita cumpridos todos os termos das resoluções da ONU (Conselho de Segurança) necessárias ao levantamento das sanções contra a Líbia. Após o 11 de setembro, o ditador ofereceu sua colaboração aos EUA para combater o terrorismo internacional declarando em seu site “O fenômeno do terrorismo não é um motivo de preocupação para os EUA sozinhos. É uma preocupação para o mundo inteiro”. O estreitamento cada vez maior das relações entre o caudilho e o imperialismo fez com que Gadafi aplicasse planos neoliberais, privatistas, entreguistas que corroem e já destruíram várias conquistas sociais produzidas pela nacionalização dos meios de produção das décadas anteriores.

“ESTAVAM COM GADAFI E GRITAVAM CONSIGNAS DEFENDENDO A VELHA REVOLUÇÃO, POR ISTO OS MATAMOS”

A “rebelião” atual começou na cidade de Al-Baida, no noroeste e daí se estendeu a outras cidades. Nesta cidade se fundou no século XIX o movimento islâmico conservador criado por Mohamed al-Sanusi. Este movimento se expandiu pela região da Cirenaica e teve ao longo das ultimas décadas repetidos enfrentamentos com Gadafi, a quem consideram demasiado liberal em sua interpretação do islã. A CIA se aproximou do movimento islâmico Sanusi, que por influência da ONU ao final da II Guerra instituiu um breve reinado no país, para montar suas bases “insurgentes”. Os Sinusi controlam a cidade de Begasi, centro da rica região leste do país. Coordenados pelo ministro da justiça desertor, juízes e advogados ocuparam o escritório da Procuradoria General na cidade.

Nas duas últimas décadas, isolado em meio à ofensiva imperialista pós-URSS incrementada com a guerra ao terror de Bush, o caudilho militar líbio abandona sua retórica anti-imperialista dos anos 70 e 80, quando na esteira do pan-arabismo nasserista e após o ascenso popular mundial de 1968 destronou a monarquia e nacionalizou grande parte da economia líbia, e inicia a desnacionalização da economia do país. A União Europeia saiu na frente apropriando-se de 78% das exportações líbias, deixando os EUA “na lanterninha” com apenas 7%. Ao baixar a guarda para as investidas comerciais do imperialismo, Gadafi estimulou os apetites de uma parte de seu staff.

Os últimos discursos do caudilho, despolitizados, irresponsáveis e agressivos, reforçaram a munição da mídia de propaganda de guerra imperialista  para caricaturar Gadafi como um tirano enlouquecido e favorecer a campanha militar fratricida da frente opositora.

Excepcionalmente a própria imprensa burguesa revela as atrocidades do campo imperialista: “Em Shahat, também no leste, os rebeldes prenderam dezenas de mercenários  de 15 a 18 anos recrutados no vizinho Chad. Outros muitos tem sido executados. ‘Estavam com Gadafi e gritavam consignas defendendo a velha revolução, por isto os matamos’, conta friamente um dos guardiães” (El país, 25/02/2011). Estranhamente os chamados “mercenários” morrem reivindicando a revolução enquanto os “libertadores” e “democratas” os executam impiedosamente como carniceiros. A campanha militar dos monarquistas da CIA, ovacionada como “revolução” por não poucos revisionistas do trotskismo, choca por sua crueldade: “Numa cena violenta em Al Ugayla, a leste de Ras Lanuf, um rebelde gritava a poucos centímetros do rosto de um jovem africano detido sob a suspeita de ser mercenário: ‘Você estava portando armas, sim ou não? Você estava com as brigadas de Gaddafi, sim ou não?’. O jovem, em silêncio, foi empurrado até cair de joelhos no chão de terra. Um homem colocou uma pistola perto do rosto do rapaz, mas um jornalista protestou dizendo ao homem que os rebeldes não são juízes.” (Reuters, 3/032011).

“TRAGAM O BUSH!”

Diferente das revoltas populares que provocaram até algumas deserções verdadeiras no Egito e na Tunísia, os carniceiros do campo imperialista na Líbia, iniciam sua “rebelião” já muito bem armados. “Os rebeldes estão armados com lançadores de foguetes, canhões antiaéreos e tanques” (Reuters, 3/032011). São financiados pela associação da burguesia local e chefes tribais da Cirenaica onde operam as principais transnacionais petrolíferas a eles associados. Para deixar a batalha por Trípoli ainda mais favorável aos “rebeldes” da CIA, os próprios, para dar legitimidade à nova aventura militar colonialista dos EUA, “pediram na quarta-feira que a ONU autorize bombardeios aéreos estrangeiros contra supostos mercenários estrangeiros a soldo do regime.” (idem). Mas não só isto, “na quinta-feira, os rebeldes propuseram também a adoção de uma zona de exclusão aérea, ecoando o apelo feito pelo vice-embaixador líbio na ONU, que rompeu com Gadafi.” (idem). O Secretário de Defesa dos EUA se antecipou e esclareceu o que seria a tal zona de exclusão aérea tão propalada pela imprensa nos últimos dias e que causou um certo descompasso entre os EUA e a União Européia acerca dos ritmos e formas da intervenção militar. Robert Gates esclareceu: “Vamos chamar as coisas por seu devido nome. Uma zona de exclusão aérea começa por um ataque à Líbia para destruir suas defesas aéreas” (Reuters, 03/03/2011). Sendo levado adiante este plano militar, a invasão pode começar com a destruição da aviação libia e o controle de seu espaço aéreo.

Enquanto os jovens que lutam ao lado do regime de Trípoli reivindicam uma revolução a qual identificam falsamente com a luta antiimperialista, os verdadeiros mercenários da CIA não ocultam seus ídolos. Para fechar com chave de ouro sem deixar dúvidas sobre a inclinação ideológica e politica dos “rebeldes” eles reivindicaram: “Tragam o Bush! Façam uma zona de exclusão aérea, bombardeiem os aviões”, gritava o soldado rebelado Nasr Ali, referindo-se à zona de exclusão aérea imposta no Iraque em 1991, quando o presidente dos EUA era George W. Bush.” (Reuters, 3/032011).

Desesperado, o caudilho de Trípoli ameaça tomar uma medida excepcional, transgredindo uma regra básica da política capitalista, quebrar o monopólio da violência do Estado burguês e armar a população contra o campo imperialista.

“Gadafi decidiu armar a seus fiéis para travar sua última batalha na capital. O arsenal da cidade está agora à disposição daqueles que querem fazer a guerra por sua conta, contra seus próprios vizinhos, levantados em seus bairros contra Gadafi. Sua ideia de dar armas aos civis ameaça desatar uma matança na capital. (O drama líbio. El país, 26/02/2011). A medida do ditador líbio deixa mais desesperados os porta-vozes da grande burguesia. As massas líbias organizadas devem se armar com os arsenais que o governo finalmente pôs a sua disposição. Devem colocar o fuzil sobre o ombro de Gadafi e disparar contra o imperialismo e seus agentes que buscam duplicar a exploração das riquezas dos líbios a serviço dos EUA e UE, os inimigos “número 1” da população trabalhadora de todo o mundo. Ao fazer isto, não depositarão nenhuma confiança, não emprestarão nenhum apoio político ao clã Gadafi, que pavimentou o caminho da reação, a quem os trabalhadores não podem ver senão com ódio de classe e contra quem se preparam para acertar as contas.

É provável que, no meio da luta, Gadafi capitule, como Milosevic, Saddan Hussein e tantos outros políticos burgueses que tiveram que realizar um enfrentamento militar com seus amos imperialistas.

Os verdadeiros revolucionários também não podem dissimular seu lado nesta guerra, odeiam Gadafi, mas a vitória do imperialismo seja da forma como for, sobre o ditador de Trípoli significará maior exploração dos trabalhadores nativos e estrangeiros em solo libio e maior pilhagem do petróleo do país. Por sua vez, a derrota do campo imperialista, daria um poderoso impulso à consciência nacional e democrática do país, pavimentando um genuíno ascenso popular para a derrota da guinada política pró-imperialista de Gadafi e ao final de sua própria ditadura. Um programa operário e revolucionário neste conflito não pode ser outro que estabelecer uma frente única militar com Gadafi, sem depositar nenhuma confiança na autodefesa do regime decrépito. Pela defesa incondicional da Líbia contra o imperialismo e seus agentes golpistas em solo Líbio. Pelo armamento de todo o povo contra a recolonização “democrática” imperialista. Pelo controle operário de Trípoli, dos campos petrolíferos, de todas as cidades do país. Pela separação do Estado da Igreja. Pela igualdade dos trabalhadores imigrantes e das mulheres trabalhadoras. Salário igual para trabalho igual. Os milhões de trabalhadores terceirizados contratados pelas multinacionais que atuam na Líbia devem lutar por sua efetivação no Estado líbio, pela nacionalização sem indenização e sob o controle operário das transnacionais petrolíferas, construtoras, etc, incluindo a “brasileiras” Odebrecht, Andrade Gutierrez. Pela expropriação do imperialismo e do conjunto da burguesia libia, incluindo o clã de Gadafi rumo a um governo operário e camponês e a uma verdadeira conflagração revolucionária em toda a região pela expulsão do imperialismo e construção da Federação das Repúblicas Soviéticas da África e Oriente Médio.