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terça-feira, 4 de outubro de 2011

LÍBIA

A queda de Trípoli revela o novo equilíbrio mundial de forças entre as classes
Declaração do Comitê de Ligação pela Quarta Internacional - CLQI
do O Bolchevique # 6
A OTAN toma Trípoli sob a máscara dos ‘rebeldes’ monarquistas do CNT
Na noite de 21-22 de agosto de 2011, Trípoli caiu para os “rebeldes” do CNT, agentes do imperialismo mundial, com o auxílio de bombas da OTAN, das Forças Especiais de vários países imperialistas e das tropas envidadas pelo Qatar e pelos Emirados Árabes Unidos.
Apesar do fato de que segue existindo uma potencial resistência, é claro que a OTAN e os seus lacaios, os rebeldes do CNT, desferiram um duro golpe contra a independência da Líbia. Nós não sentimos nenhuma satisfação em ter as nossas piores previsões confirmadas.
Na DECLARAÇÃO AOS TRABALHADORES DO MUNDO E À SUA VANGUARDA INTERNACIONALISTA, da Liga Comunista do Brasil, Grupo Revolucionário Marxista da África do Sul e Luta Socialista da Grã-Bretanha, 21 de abril de 2011, nós dissemos:

segunda-feira, 16 de maio de 2011

A CIA NA LIBIA

O caráter contrarrevolucionário dos ‘rebeldes’ de Bengasi
dO Bolchevique #4
'Rebelde' com facão ameaça trabalhadores negros africanos presos.
Seus porta-vozes na mídia imperialista e também na esquerda
revisionista justificam xenófoba carnificina racista dizendo que a
culpa é de Gadafi que contrata mercenários estrangeiros para lutar a
seu lado. Na verdade, em nome da caçada aos "mercenários de
Gadafi", os agentes da CIA de Bengasi perseguem os negros para
de fato desvalorizar ainda mais a força de trabalho no país,
preparando-a para a superexploração
da nova era de extrema rapina imperialista
A guerra civil na Líbia tem provocado um debate mundial na esquerda. Em outro artigo sob o nome de "SU, CMI, L5I, LIT, PO, FT, FLTI: finalmente as ‘internacionais’ revisionistas se reunificam em Bengasi" estabelecemos uma polêmica com várias correntes internacionais e nacionais sobre a questão. A maioria das correntes faz uma dupla contabilidade de simultaneamente rechaçar a intervenção imperialista e reivindicar politicamente as manifestações anti-Gadafi, cuja "defesa" é a justificativa do imperialismo para invadir o país.
Nas linhas seguintes, trataremos de demonstrar o caráter da tal oposição, comprovando que este fenômeno "popular" pró-imperialista não é novo na história contemporânea. Na forma elaborada como ele se apresenta, está presente pelo menos desde o segundo pós-guerra, no início da Guerra Fria. Demonstraremos que, como é uma criatura do imperialismo, a insurgência libia não só é reacionária desde sua gênese, como reacionária de todos os pontos de vista.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

DECLARAÇÃO LC-SF-RMG SOBRE LÍBIA


A Liga Comunista, juntamente com o Socialist Fight (SF, Luta Socialista em português) da Grã Bretanha, e o Revolutionary Marxist Group (RMG, Grupo Marxista Revolucionário) da África do Sul, convergiram no mês de abril em assinar uma declaração conjunta contra a intervenção na Líbia por agentes internos e externos do imperialismo e em defesa de um programa trotskista revolucionário.

O SF é um grupo de camaradas trabalhadores cujo principal dirigente militou no WRP de Gerry Healy entre 1976 e 1985 (ano em que implodiu o WRP, até então uma das maiores organizações a se reivindicar trotskistas no continente europeu). O SF teve uma curta aproximação com o CoReP (Coletivo Revolução Permanente encabeçado pelo Grupo Bolchevique da França, tendência internacional conformada por uma das frações da corrente criada por Stéphane Just após sua ruptura com o lambertismo na década de 1980), mas se afastou desta corrente internacional devido às diferenças sobre a questão líbia.

O SF tem como órgão de divulgação um jornal de mesmo nome. Como pode se identificar na declaração, o SF combate a capitulação dos revisionistas ao imperialismo e ao nacionalismo burguês que marcou a trajetória do healysmo. Além do combate pelas posições principistas contidas no documento que apresentamos aos trabalhadores e a sua vanguarda internacionalista, recentemente os camaradas de SF estiveram profundamente envolvidos em seu país na luta contra os cortes nos serviços públicos realizado pelo governo conservador de David Cameron.

O RMG é um agrupamento de organizações da África do Sul, que estão em um processo de fusão iniciado através do Bolshevik Forum (Fórum Bolchevique) e entre os Bolshevik Study Circles (Círculos de Estudos Bolcheviques) e dos Coletivos Workers Government e Labour Left (CWG, Coletivo Governo Operário e LLC, Coletivo dos Trabalhadores de Esquerda). Os grupos e indivíduos envolvidos no Fórum Bolchevique vêm de diversas origens, mas a maioria compartilha uma experiência comum na Workers Internationalist League of South Africa (WILSA - Liga Internacionalista dos Trabalhadores da África do Sul). A WILSA foi uma tentativa de construir uma organização revolucionária internacionalista trotskista na África do Sul nos anos 1970 e 1980. Em condições difíceis, um significativo grupo surgiu com forte implantação no movimento de massas, incluindo os sindicatos, organizações estudantis e estruturas da comunidade local. No entanto, com a integração do Congresso Nacional Africano ao regime segregacionista burguês sul africano na década de 1990, um setor da direção do WILSA capitulou ao CNA e às expectativas criadas pelo governo Mandela em 1994. Isto levou a ruptura em diferentes ritmos de diversos membros desta organização.

Muitos ex-militantes se reagruparam em torno do CWG e do jornal Qina Msebenzi, ligando-se a princípio internacionalmente a Lennist-Trotskyist Tendency (LTT, conformada por uma ex-ruptura do healismo internacional que hoje é dirigida pelo Workers Action da Grã Bretanha). O CWG na época defendia a convocação de uma Assembleia Constituinte Democrática exigindo sua convocação pelos órgãos de luta contra o regime de transição pactuada com o apartheid. Também fez campanha pela construção de um Partido Operário baseado na ruptura sindical dos trabalhadores com o burguês CNA e seu aliado stalinista, o Partido Comunista Sul Africano. O RMG declara que apesar das dificuldades de construção nas condições da África do Sul, considera ser imprescindível impulsionar uma corrente bolchevique para continuar a luta por um partido da vanguarda revolucionária do proletariado como parte de uma internacional revolucionária, a Quarta Internacional.

Apesar das diferenças políticas e programáticas que a LC possui com o SF e com o RMG, consideramos extremamente progressiva a constituição da declaração abaixo a fim de apontar uma alternativa internacional do trotskismo principista e revolucionário diante da vergonhosa capitulação dos revionistas à atual ofensiva imperialista recolonizadora de Obama.

DECLARAÇÃO AOS TRABALHADORES DO MUNDO E À SUA VANGUARDA INTERNACIONALISTA

Em defesa incondicional da Líbia contra o imperialismo!
Frente Única Militar com Gadafi para derrotar a OTAN e os “rebeldes” armados pela CIA!
Nenhuma confiança no governo de Trípoli! Somente pelo armamento de todo o povo e pela revolução permanente nós poderemos vencer esta luta!

A crise econômica mundial aumentou os apetites do imperialismo para superexplorar a classe trabalhadora e recolonizar as riquezas do planeta. Em nome de salvar os capitalistas da crise especulativa, os governos burgueses de todo o mundo transferiram muito dinheiro dos cofres estatais para o grande capital privado. Agora, os governos burgueses buscam recapitalizar seus cofres. Para isto, impõem sobre a classe trabalhadora o pagamento da conta da orgia financeira, o qual é feito através do ajuste fiscal, do ataque aos salários, às conquistas trabalhistas e sindicais, à previdência social, etc. Isto também provocou aumento do custo de vida das massas e acentuou as disputas interimperialistas pela partilha das semicolônias.

Na Europa, da Grécia à Portugal, a resistência popular foi contida pelas direções partidárias e sindicais pró-imperialistas. Nos EUA (Winsconsin) as direções operárias ligadas ao Partido Democrata fizeram o mesmo. Na América Latina, até o momento, mas não por muito tempo, os governos da chamada “centro esquerda” vêm retardando e amortecendo o conflito social através do controle que exercem sobre as organizações de massa. Obama ordenou o início do bombardeio sobre a Líbia quando estava com Dilma Roussef, governo pró-imperialista no Brasil.

Agora, na África, as oposições burguesas liberais das ditaduras da Tunísia e do Egito realizaram acordos de transição democrática para estabilizar os países com novos governos fantoches dos EUA e Israel. Nós não consideramos estes processos como “revoluções árabes” ou “revoluções democráticas”. São levantes populares, expressões genuínas da indignação com os aumentos de preços e aumento da opressão causada pela crise imperialista que começou em 2008, mas o imperialismo procura desviar estas situações potencialmente revolucionárias para ampliar seu domínio na África e no Oriente Médio.

Se o imperialismo não consegue apropriar-se de forma “pacífica” do que quer, como através do fraudulento plebiscito que dividiu o Sudão, a ONU trata de ocupar o país e impor pela força militar suas igualmente fraudulentas eleições como ocorreu na Costa do Marfim. Tudo isto, com o apoio da União Africana e do governo do CNA na África do Sul.

Na Líbia, na Síria e no Irã, o imperialismo busca realizar golpes de Estado com camuflagem “democrática”, aproveitando-se das “insurreições populares” nos países vizinhos. No Irã, os EUA e Israel buscam reeditar a reacionária “revolução verde”. Na Síria, o imperialismo ianque e seu enclave sionista tratam de criar o mesmo cenário de guerra civil fabricado contra a Líbia para justificar outra intervenção militar estrangeira. Na Líbia, o imperialismo realizou um salto de qualidade em sua intervenção. Não apenas pelo que fez depois de iniciado o processo “rebelde”, mas pelo que preparou antes dele. A “revolta” na Líbia não é qualquer tipo de revolução, mas uma contrarrevolução, com uma direção imperialista apoiada e patrocinada pela CIA. É a continuação de uma série de tentativas de restaurar a monarquia e os privilégios tribais em favor dos EUA e da União Europeia, que começaram logo após Gadafi assumir o poder, em 1969, e continuaram esporadicamente desde então. Não por acaso, a bandeira dos “rebeldes” é a bandeira da monarquia imposta pelo imperialismo, do fantoche Rei Idris (1951-1969).

Os rebeldes da Líbia são agentes da CIA desde o princípio, como foram os golpistas anti-Chavez em 2002 na Venezuela. O imperialismo, tendo à frente os EUA e a França, quer balcanizar a Líbia, assim como fez na Iugoslávia, ou dominá-la de conjunto, como no Afeganistão e no Iraque. Pode ocorrer também o que vimos na Bolívia, onde Evo Morales capitulou a uma nova partilha da exploração do gás em favor dos golpistas pró-imperialistas do Leste do país.

Os que patrocinam a noção ingênua de que o que ocorre na Líbia é uma revolução de "massas", como uma continuidade das revoltas na Tunísia e no Egito, esquecem que as massas foram enganadas para apoiar a queda do Muro de Berlim, a Revolução de Veludo (Checoslováquia ), a Revolução Laranja, (Ucrânia) e todas as outras "revoluções" fabricadas pela CIA. Todos estes movimentos foram, na verdade, contrarrevoluções patrocinados pelo imperialismo.

Desde o início da nova escalada de ataques israelenses contra a Palestina, 20 palestinos foram mortos e 50 feridos, na pior ofensiva israelense na Faixa de Gaza dos últimos dois anos. É o ataque mais sangrento desde 2008, quando uma operação militar matou 1.400 palestinos. Somos a favor da destruição do Estado sionista de Israel e de um governo operário e camponês multiétnico, baseado em conselhos de trabalhadores urbanos e rurais.

Por 21 anos, o Partido Nacional Democrático (PND) de Hosni Mubarak no Egito, foi um membro da Segunda Internacional Socialista (IS), ao lado dos Partidos Trabalhistas da Grã-Bretanha, da Austrália e da Nova Zelândia. A Internacional Socialista só expulsou o PND de suas fileiras em janeiro de 2011, após as manifestações de massa que levaram à renúncia de Mubarak, mas não derrotaram o PND. Porém, fiel à sua longa história de defender o imperialismo britânico, o líder do Partido Trabalhista britânico, Ed Miliband, apoiou inequivocamente aos rebeldes de Bengasi e ao bombardeio da Líbia, com base na completamente hipócrita declaração que, "como internacionalistas, temos a responsabilidade e a oportunidade de ajudar na aplicação do direito internacional e salvar os inocentes deste massacre". Usando as tolas ameaças de Gadafi de que “não teria misericórdia, nem piedade", Miliband sancionou o ataque que está matando muito mais pessoas do que Gadafi poderia ter matado. Mas, como um "efeito não intencional” este ataque vai desviar os recursos do petróleo da Líbia para as mãos dos imperialistas ocidentais para que possam investir nos mercados de Wall Street e da City de Londres, retirando recursos das escolas, hospitais e da previdência social líbia e de outros países africanos.

Jim Murphy MP, conselheiro trabalhista do Secretário de Defesa britânico, deu uma sugestão que foi seguida pelo restante da esquerda reformista na Grã-Bretanha e a nível internacional: "A inércia tem prejudicado a causa da liberdade não apenas para as centenas de milhares de pessoas que se têm rebelado contra Gadafi na Líbia, mas em outros países onde as pessoas estão também a lutar por mudanças."

E para os que ainda têm dúvidas sobre as posições assassinas do imperialista Partido Trabalhista, Murphy escreve: "as nossas convicções devem estar com todas as forças britânicas ao redor do mundo, incluindo os mais de 10.000 britânicos no Afeganistão. Essa corajosa ação no espaço aéreo líbio e no Mediterrâneo deve receber todo o apoio que precisa, porque a sua coragem é o que permite a aplicação da resolução da ONU para proteger o povo líbio". Com naturalidade, ele se desmancha em elogios aos massacres “para salvar vidas” de civis e combatentes no Iraque e Afeganistão ou agora na Líbia.

A maior prova de que os “rebeldes” líbios não passam de carniceiros agentes do imperialismo é o fato de invocarem o bombardeio da OTAN contra o seu próprio povo, como fizeram os colaboracionistas em todos os momentos da luta de classes, desde Thiers na Comuna de Paris (1871) até o Líbano (2006). A cada dia que passa fica mais evidente que os agentes nativos do imperialismo são meros abre-alas para a intervenção multinacional no país. São racistas e xenófobos, inimigos da classe operária negra africana que trabalha na Líbia. Em nome da caçada aos “mercenários de Gadafi”, perseguem os negros para de fato desvalorizar ainda mais a força de trabalho no país, preparando-a para a superexploração da nova era de extrema rapina imperialista. Os “rebeldes” líbios são um bando burguês, de trânsfugas do regime Gadafi a serviço do grande capital internacional.

Os agrupamentos políticos que se reivindicam marxistas, que caracterizam os levantes populares desviados nos países árabes como “revoluções”, são demagogos, que adulam e entorpecem as massas em favor da estabilização de novos governos fantoches burgueses pró-imperialistas. Mas o pior é quando estes grupos, em nome do apoio às massas líbias e da luta pela democracia, se aliam à propaganda de guerra midiática imperialista mundial para camuflar este Golpe de Estado da CIA. Os que neste momento se negam a estabelecer uma frente única militar com Gadafi para derrotar externa e internamente os interesses do imperialismo, traem a luta antiimperialita mundial e a luta contra o Estado genocida de Israel que massacra os palestinos, em particular.

Denunciamos as principais correntes internacionais revisionistas que compartilham formalmente das seguintes posições:

1) caracterizam a existência de uma "revolução árabe" ou "revoluções democráticas" na África e no Oriente Médio;

2) Apoiam os "rebeldes" pró-imperialistas na Líbia

Neste perfil se incluem o Secretariado Unificado da Quarta Internacional (NPA – França, Enlace/PSOL - Brasil); LIT (PSTU - Brasil); UIT (Izquierda Socialista - Argentina); CMI (Socialist Appeal - Grã-Bretanha, Esquerda Marxista do PT - Brasil); CIO (Partido Socialista - Grã-Bretanha, LSR/PSOL - Brasil); IST (SWP - Grã-Bretanha); L5I (Workers Power - Grã-Bretanha); FT (PTS - Argentina, LER - Brasil); FLTI (LOI-DO - Argentina)

Foi a política anti-operária e neoliberal de Gadafi da última década que pavimentou o caminho desta ofensiva reacionária imperialista. Gadafi estabeleceu novos acordos com o imperialismo, destruindo as conquistas dos processos de nacionalização dos meios de produção e das riquezas energéticas pós-1969. Gadafi proibiu os sindicatos e as greves e realizou acordos racistas anti-imigrantes com Berlusconi, patrocinou a campanha eleitoral do fascistóide Sarkozy e privatizou e fez leilões com as riquezas energéticas da Líbia. Deste modo, o caudilho de Trípoli perdeu popularidade junto à população líbia e africana e alimentou o apetite de setores da burguesia nativa em negociar diretamente com o imperialismo, livrando-se do Clã Gadafi.

As massas não podem ter nenhuma confiança no anti-imperialismo de Gadafi. Por isto, reivindicamos o armamento de todo o povo líbio contra o imperialismo e a oposição reacionária. Reivindicamos a defesa incondicional da Líbia contra o imperialismo e seus agentes. Reivindicamos uma frente única militar com Gadafi contra a OTAN e os “rebeldes” monarquistas agentes da CIA. "Rebeldes" que são politicamente semelhantes aos legalistas pró-imperialista do norte da Irlanda, ao Partido da Liberdade Inkatha da África do Sul e os “Contras” da Nicarágua.

Esta foi a tática revolucionária de Lenin e Trotsky diante do levante de Kornilov, ex-general de Kerensky que tentou realizar um golpe de estado na Rússia em agosto de 1917. Os bolcheviques chamaram uma frente única militar e exigiram armas a Kerensky, ao mesmo tempo em que responsabilizaram Kerensky por pavimentar o caminho da reação, e preparam a revolução social. Do mesmo modo, responsabilizamos Gadafi pela reação golpista e impulsionamos as massas a combinar as tarefas da luta anti-imperialista com a luta democrática e socialista para avançar em direção ao estabelecimento de um governo operário e camponês onde o pan-arabismo de Gadafi parou e retrocedeu. A vitória sobre a ofensiva militar imperialista contrarrevolucionária daria um imenso impulso não apenas para que o proletariado líbio acerte as contas com o caudilho de Trípoli, como também impulsionaria a luta dos trabalhadores da Tunísia, Egito, Bahrein, Costa do Marfim, Palestina, Iraque e Afeganistão contra o imperialismo e os capitalistas nativos.

O primeiro passo neste sentido é a luta em nossos próprios países contra as burguesias imperialistas, da Grã Bretanha e semi-coloniais do Brasil e África do Sul. Defendemos a derrota de nossos próprios governos, aliados da recolonização imperialista do proletariado mundial. Defendemos o pleno direito das massas líbias a expropriarem as multinacionais britânicas, brasileiras e sul africanas e a todos os capitalistas na Líbia, em favor da nacionalização sem indenização e sob controle operário.

● Derrotar o imperialismo! Lutar pela soberania, unidade e independência da Líbia com os métodos da revolução permanente!
● Frente única militar com o exército líbio contra o pró-imperialista Conselho Nacional de Transição (CNT) e contra todos os grupos patrocinado pela CIA!
● Construir Comitês Revolucionários em todos os locais de trabalho, estudo e moradia contra a intervenção imperialista!
● Por uma Assembleia Constituinte com base nesses comitês revolucionários.
● Por um governo operário e camponês!
● Em defesa do direito de criação de sindicatos e do direito de greve!
● Não ao controle de imigração, igualdade de direitos e condições de trabalhadores para todos os imigrantes!
● Controle operário dos locais de trabalho e dos campos petrolíferos, subsídios aos alimentos e bens essenciais, salário mínimo vital, pleno emprego para todos; expropriação das empresas e capitais imperialistas!
● Por greves e ocupações para impedir o envio de tropas e munição para atacar a Líbia!
● Por uma Federação Socialista do Norte da África e Oriente Médio!

Declaração assinada por
SOCIALIST FIGHT - Grã Bretanha
REVOLUTIONARY MARXIST GROUP - África do Sul
LIGA COMUNISTA - Brasil
21 de abril de 2011

Socialist Fight
PO Box 59188, London, NW2 9LJ

Revolutionary Marxist Group

sábado, 9 de abril de 2011

A QUESTÃO LÍBIA E O REVISIONISMO DA CMI

Liga Comunista combate posições de Alan Woods e da CMI na USP

No dia 06 de abril, a corrente Esquerda Marxista do PT (EMPT), seção brasileira da Corrente Marxista Internacional (CMI) promoveu uma Conferência com Alan Woods, na Universidade de São Paulo, com o tema “A revolução dos povos árabes e a crise capitalista mundial”.


SOBRE A CMI E A EMPT

A CMI foi fundada por Woods e Ted Grant, depois que ambos foram expulsos do “The Militant” inglês, em 1991, pela maioria dirigida por Peter Taaffe (que logo depois viria a fundar o Committee for a Workers' International, CWI, ao qual é filiado a corrente LSR, do PSOL).

O “Militant” foi uma grande corrente de esquerda do Labour Party (laborismo) até a expulsão de seus principais dirigentes em 1982. Depois de décadas de entrismo sem princípios no laborismo e quase dez anos após a expulsão do “Militant”, a tendência majoritária de Taaffe defendeu a criação de um partido independente e a fração de Woods e Grant reivindicava a continuidade do entrismo. Quando o Labour Party negou-se a lutar contra o poll-tax, imposto por cabeça, que o Partido Conservador queria obrigar a população trabalhadora a pagar, Grant e Woods se opuseram a denunciar o laborismo, considerando “sectarismo” desmascarar a política antioperária e colaboracionista deste partido imperialista para os trabalhadores de seu país.

O CMI é a maior expressão atual do pablismo. Michel Pablo foi o dirigente da IV Internacional que defendeu a liquidação da tendência internacional do marxismo fundada por Trotsky, realizando um entrismo estratégico nos stalinistas Partidos Comunistas. Os seguidores do pablismo estenderam esta concepção liquidacionista do trotskismo para fazer entrismo no laborismo, na social democracia e no nacionalismo burguês. Seguindo esta regra, na Inglaterra a CMI permanece dentro do imperialista Labour Party, no Brasil dentro do PT, no Paquistão dentro do PPP e, na Venezuela, do PSUV. Woods se orgulha de ser o conselheiro “trotskista” de Chavez e sua V Internacional.

A CMI, assim como o CWI, reivindicam como herança programática do “The Militant”, a política em favor de sua própria burguesia imperialista contra a nação oprimida Argentina na guerra das Malvinas; contra a autodeterminação da Irlanda do Norte, além da defesa do Estado nazi-sionista de Israel contra a luta pela emancipação nacional palestina.

Em 2010, a maioria das seções da CMI da Espanha, Venezuela e Colômbia romperam e criaram a Corrente Marxista Revolucionária, ficando com a maior parte dos aparatos partidários, particularmente nas duas primeiras seções e realizando ainda mais culto ao personalismo chavista. Na Espanha, a Fundação Frederico Engels e o Sindicato dos Estudantes ficaram com a ruptura.

A Esquerda Marxista do PT nasceu de uma ruptura com a corrente lambertista O Trabalho e ligou-se à CMI, convertendo-se em uma corrente chavista. A EMPT administra desde 2002 algumas fábricas ocupadas no Brasil, Todavia, alí não existe controle operário da produção, mas uma administração capitalista “alternativa”, onde a direção da EMPT, que gerencia as fábricas, prioriza o pagamento de agiotas, com quem se associa, e atrasa os salários dos operários. A EMPT apoiou Lula e Dilma sem sequer lançar candidatura própria da corrente para disputar a indicação presidenciável do partido contra a candidata das empreiteiras e a “mãe do PAC”.

O MITO DA “INSURREIÇÃO POPULAR” NA LÍBIA

A atividade deste dia 06 foi realizada na USP e fez parte de um giro internacional da corrente de Woods para surfar na “onda revolucionária nos países árabes” (da brochura que A .Woods veio lançar em suas Conferências, “Tremores Revolucionários: uma análise marxista da atual onda revolucionária nos países árabes”). A LC considera que não existe uma “onda revolucionária” nem “processos revolucionários”, mas revoltas populares que pela ausência da classe operária organizada e menos ainda de partidos revolucionários na condução destes processos, são logo desviados pelo imperialismo e seus agentes fantoches. Estes processos vem sendo controlados pelos remanescentes dos regimes déspotas destituídos nos casos da Tunísia e Egito e pela oposição burguesa, para aprofundar a política de expansão do capital financeiro, com o aumento da exploração sobre os trabalhadores e das riquezas energéticas e naturais desta região.

Não estão ocorrendo “revoluções” nem na Tunísia nem no Egito, mas a substituição controlada pelo imperialismo de governos títeres desgastados, por outros governos burgueses supostamente mais democráticos. A situação da Líbia é distinta dos dois primeiros países porque alí se trata, desde sua origem, de uma mobilização golpista armada pela CIA para substituir o regime de Trípoli por outro governo que realize uma nova e mais profunda partilha do petróleo do país.

Contestando a tese da CMI, compartilhada pela quase totalidade da esquerda mundial, que defende a mobilização golpista patrocinada pela CIA na Líbia, uma militante da Liga Comunista interpelou Woods:

“Eu sou estudante do curso de História da USP e sou membro da Liga Comunista, e queria contribuir com o debate fazendo uma polêmica com a CMI e com o Alan Woods. Eu queria lembrar que em 2002 a gente assistiu a um golpe de Estado na Venezuela, que foi organizado pela CIA e teve o apoio da burguesia venezuelana. Neste momento, neste contexto, os marxistas internacionalistas não poderiam ter outra posição senão a de combater este golpe imperialista e fazer uma frente única militar com o Chavez para expulsar o imperialismo da Venezuela. Hoje o imperialismo se aproveita das revoltas que estão acontecendo no Egito e na Tunísia pra justificar o que ele está fazendo na Líbia. Ele está armando seus agentes dentro da Líbia para tentar recolonizar, com uma intenção clara de recolonizar o país que é o terceiro maior produtor de petróleo da África. E hoje, a CMI, assim como o PSOL e o PSTU e grande parte da esquerda se coloca em apoio a estes golpistas internos, apoiados pelo imperialismo, na Líbia e chamam isto de "revolução". O que eles chamam de "revolução" são estes golpistas que reclamam pelo bombardeio da OTAN sobre o seu próprio povo. Nós sabemos que o Gadafi não merece nenhuma confiança nossa, é um governo burguês e que nós temos todos os motivos do mundo para odiá-lo como ditador. Mas em uma guerra a gente tem que tomar uma posição, tem que escolher, ou a gente vai apoiar o imperialismo que está invadindo a Líbia de uma forma arbitrária, bombardeando civis com o pretexto de fazer uma "ajuda humanitária", talvez a mesma "ajuda humanitária" que fez em Guantânamo, no Iraque e no Afeganistão e em outros países. Então, a nossa posição é estabelecer neste momento, para expulsar o imperialismo que está armando seus agentes dentro da Líbia, é fazer uma frente única militar com Gadafi, expulsar o imperialismo e depois acertar as contas com o ditador Gadafi. Então, esta é a posição que a LC coloca e coloca também que a derrota do imperialismo na Líbia vai favorecer também a que consigamos derrotar o seus governos no Egito, na Tunísia e em todos os países.”

Esta intervenção da LC desmascarou Woods em sua própria Conferência. O dirigente da CMI respondeu argumentando:


“Sobre a questão da Líbia há muita confusão sobre este tema. Ponto número um: Na Líbia ocorreu uma insurreição popular. Temos que apoiar isto, sim ou não? Eu digo sim! 100% sim! É verdade que existem outros elementos, há elementos dúbios aí, Inclusive o ex-ministro de Gadafi e os demais. Mas não podemos apoiar Gadafi sob nenhuma condição. Eu tenho uma excelente relação com o presidente Chavez, mas sobre este tema eu tenho total desacordo com ele.”

O que Woods chama de “insurreição popular” a qual apoia 100% não passa de um complô armado pela CIA que, como afirmou nossa camarada em sua intervenção, aproveitou-se dos levantes populares da região para aplicar o golpe em seu adversário Gadafi a fim de recolonizar o país. Em segundo lugar, o único elemento que quer parecer dúbio entre uma nação oprimida e uma ofensiva imperialista é o próprio Woods, pois não há elementos dúbios entre os trânsfugas do alto comando do exercito, do corpo diplomático e da magistratura líbia com empresários, multinacionais e chefes tribais candidatos a fantoches do imperialismo apoiados em setores de classe média da região mais rica do país, setores tão reacionários quanto os “esquálidos” venezuelanos ou os fascistas secessionistas bolivianos.

A maior prova de que os “rebeldes” líbios não passam de carniceiros agentes do imperialismo é o fato de invocarem o bombardeio da OTAN contra o seu próprio povo, como fizeram os colaboracionistas em todos os momentos da luta de classes desde Thiers, na Comuna de Paris (1871), até hoje.

A cada dia que passa fica mais evidente que os agentes do imperialismo não só são meros abre-alas, aríetes para a intervenção multinacional no país, como se declaram abertamente racistas e xenófobos, inimigos da classe operária negra subsaariana que compõem uma imensa massa de trabalhadores na Líbia, perseguindo a todos em nome da caçada aos “mercenários de Gadafi” para de fato desvalorizar ainda mais a força de trabalho no país, preparando-o para a superexploração da nova era de extrema rapina imperialista.

Depois que o caudilho venezuelano, a serviço da boliburguesia venezuelana e do capital multinacional, reprimiu de maneira brutal os operários de seu país em luta na Fábrica de Sanitários Maracay, na Sidor e na Mitsubich, Woods estabeleceu “uma excelente relação com o presidente Chavez”. Mas quando Gadafi reprime aos golpistas da CIA, o dirigente da CMI declara que não apoia Gadafi sob nenhuma condição, enquanto apóia Chavez em tudo mais, à exceção da defesa vacilante que o caudilho venezuelano faz do caudilho líbio. Discordamos da posição de Chavez e Castro porque “apesar de se oporem à intervenção militar imperialista no país africano, propõem ao regime de Trípoli várias medidas e fóruns diplomáticos de capitulação e renuncia à soberania do país. Tais medidas, se levadas a termo, na melhor das hipóteses, manteriam temporariamente o atual governo no poder ao custo de maiores concessões politicas e econômicas do que as que já fez Gadafi nos últimos oito anos e que, certamente provocariam enormes perdas aos trabalhadores na Líbia em favor de uma nova partilha imperialista da nação árabe tal como acabou de ser promovida no Sudão.” (ESPECIAL ÁFRICA DO NORTE E ORIENTE MÉDIO 4/4, “SU, CMI, L5I, LIT, UIT, PO, FT, FLTI: finalmente as “Internacionais” revisionistas se ‘reunificam’ em Bengasi”, dO Bolchevique #4, abril/2011). Mas, temos que reconhecê-lo, neste assunto, as posições do “conselheiro trotskista britânico” são muito mais servis ao imperialismo do que as do aconselhado mandatário venezuelano.

CMI E EMPT SÃO CRIAÇÕES DO DOMESTICADO “TROTSKISMO” LABORISTA E PETISTA

A Woods se aplica perfeitamente a crítica que uma vez Trotsky fizera da submissa direção do movimento operário britânico:

“Os criadores de pombos ingleses conseguiram, por seleção artificial, criar uma variedade de bicos cada vez mais curtos. Mas chegou o momento em que o bico do pombo pintinho se tornou tão curto que o pobre animal não consegue romper o ovo e morre na casca, vítima da abstenção forçada a toda a violência, comprometendo até o progresso futuro da variedade de bicos curtos. Se nossa memória não falha, Macdonald pode ler este exemplo em Darwin. Seguindo o caminho, tão agradável a Macdonald, das analogias com o mundo orgânico, se pode dizer que a habilidade política da burguesia inglesa consiste em encurtar o bico revolucionário do proletariado a fim de não permitir que ele fure a casca do Estado capitalista. O bico do proletariado é seu partido. Tomando em conta a Macdonald, Thomas, Sr e Sra. Snowden, é preciso reconhecer que o trabalho de seleção dos bicos curtos e das cabeças brandas tem sido um êxito brilhante para a burguesia inglesa, já que estes senhores e essa dama não são bons para perfurar a casca do capitalismo nem são bons para nada”
(Sobre certas particularidades dos dirigentes operários ingleses, em "Aonde vai a Inglaterra?", 03/05/1926).

Ainda que não depositemos a menor confiança que Gadafi vá lutar de forma consequente para derrotar a ofensiva da OTAN e dos EUA, ainda bem que a luta anti-imperialista na Líbia não depende dos conselhos de Woods. Se dependesse, ela seguramente morreria dentro da casca, como morreria também a luta pela emancipação nacional irlandesa e da palestina.

Apesar das aparentes diferenças políticas, em essência, as organizações EMPT, DS e OT no PT, CST e LSR no PSOL, e PSTU compartilham dos mesmos vícios tradeunistas devido a habilidade da burguesia brasileira de encurtar o bico revolucionário do trotskismo nacional, através da escola laborista do PT.

POR TRÁS DO “NÃO À INTERVENÇÃO IMPERIALISTA”, 100% DE APOIO AOS GOLPISTAS QUE REIVINDICAM A INTERVENÇÃO DA OTAN

No balanço que realizou sobre a Conferência, a EMPT apresenta do seguinte modo a intervenção da companheira da LC: “O discurso foi seguido por uma sessão de perguntas e debate, durante o qual alguns sectários descontentes tentaram, sem sucesso, provocar o palestrante sobre o tema da Líbia mais uma vez, buscando ligar o posicionamento de Chávez com a posição da Corrente Marxista Internacional... Os sectários haviam declarado que a posição correta para os marxistas deveria ser a de fazer uma frente única militar com Gadafi contra os imperialistas.” (Alan Woods fala sobre a crise capitalista mundial e a revolução árabe na USP, site da EMPT, 07/04/2011). http://www.marxismo.org.br/index.php?pg=artigos_detalhar&artigo=735; http://www.marxist.com/brazil-alan-woods-university-sao-paulo.htm.

No desespero de não se contrapor à opinião pública imperialista anti-Gadafi, a corrente de Woods trata de repudiar qualquer suspeita de tentarem identificar suas posições incondionalmente anti-Gadafistas com as de Chavez sobre a Líbia e mente de forma descarada, acusando a Liga Comunista de “buscar ligar o posicionamento de Chavez com a da CMI”. Na verdade, como fica evidente no vídeo, o que a EMPT acusa de “provocação” foi o fato da LC ter desmascarado que por trás do “não À intervenção imperialista na Líbia” de Woods está o seu apoio aos golpistas que reivindicam a intervenção imperialista.

Fica evidente pelo balanço feito pela EMPT quem são os verdadeiros sectários no debate, quem usa métodos burocráticos contra seus adversários esquivando-se sequer de nominá-los. Todavia, tomamos como elogio sermos acusados de sectários pela corrente que por décadas liquidou o trotskismo na Inglaterra na condição de ala esquerda do imperialismo laborista, a corrente oportunista que já há 20 anos considerava “sectário” denunciar o saque cometido pela sua própria burguesia imperialista sobre a população trabalhadora inglesa. Se nós da Liga Comunista somos sectários, a “internacional” de Woods é algo estranho ao marxismo revolucionário e nós da LC buscamos criar um Partido Mundial dos Trabalhadores que em nada se assemelhe a esta prostituição do marxismo a serviço do imperialismo.

quinta-feira, 17 de março de 2011

ESPECIAL - ÁFRICA DO NORTE E ORIENTE MÉDIO 3/4

Combater com um programa operário e revolucionário a ofensiva dos EUA/OTAN camuflada de “rebelião” militar-monarquista

Artigo do ESPECIAL - ÁFRICA DO NORTE E ORIENTE MÉDIO
dO Bolchevique #3
Missão "humanitária" dos EUA e OTAN na Líbia, o país que possui as maiores reservas de petróleo da África e a 9a maior do mundo

Estranhamente, a chamada “revolução líbia” já nasceu armada. EUA, UE, Japão e cia. confiscaram os investimentos econômicos internacionais do Estado líbio. A Liga Árabe e a ONU suspenderam o país de seus fóruns. Foi acionado o Tribunal Penal Internacional contra Gadafi e seu clã.

Meios de comunicação do mundo todo, da CNN à Al Jazeera, divulgaram cataratas de informações falsas para sensibilizar preventivamente a opinião pública mundial em favor de uma nova ocupação militar imperialista “humanitária” a la Iugoslávia, Afeganistão e Iraque. Primeiro disseram que Gadafi haveria fugido do país e se refugiado na Venezuela. Desmentida esta informação, foi denunciado que Gadafi havia bombardeado a população de Tripoli, capital do país, matando cerca de 250 pessoas. Sobre isto, vale a pena ver a reportagem de Maurizio Matteuzzi, correspondente do Il Manifesto, um jornal de esquerda independente italiano, que foi a Tripoli constatar a veracidade das denúncias da grande mídia.

Obama anuncia o abandono do "multilateralismo". Não esperou pela ONU para agir. Já movimentou a 5ª Frota e a força aérea mais poderosa da história para articular a invasão militar “humanitária”, convidado pelo “Conselho Nacional de Transição” composto por ex-ministros, empresários, generais, juízes e chefes tribais monarquistas e islâmicos libios. A reação da “comunidade internacional” também é bem diferente em sua “solidariedade” com os protestos oposicionistas. Sai em socorro da oposição libanesa e trata de sufocar os protestos no Bahrein. A mando de Washington, o aparato repressivo da Arábia Saudita foi enviado para reprimir os protestos do Bahrein. “Curiosamente, os manifestantes em Bengasi teriam abolido a bandeira verde da Líbia do topo do principal Tribunal de Justiça da cidade, substituindo-a pela bandeira da antiga monarquia - deposta em setembro de 1969 pelo golpe que levou Gadafi ao poder. A maioria dos manifestantes não tem sequer memória do rei Idris, primeiro e único monarca do país - já que ele foi destronado há mais de 40 anos, e mais da metade da população do país tem menos de 25.” (BBC Brasil, 21/02/2011). Longe de ser uma inacreditável nostalgia de um tempo não vivido por parte da juventude líbia, o uso da simbologia monarquista pela direção made in CIA do movimento anti-gadafista, representa a volta de um regime líbio criado e dominado pelas potências imperialistas no curto período entre o fim da segunda guerra e a tomada do poder por Gadafi.

Os conselheiros militares dos EUA e da OTAN já estavam articulados com a oposição burguesa e com parte do staff de Gadafi à espera de uma oportunidade para desatar um golpe de Estado. A operação foi planificada então para coincidir com as revoltas árabes nos países vizinhos para induzir a opinião pública a acreditar que os protestos haviam se espalhado espontaneamente da Tunísia e do Egito até chegar à Líbia.

O que acontece hoje na Líbia é uma combinação das táticas golpistas imperialistas que vimos recentemente na Bolívia, Equador e Irã, se encaminhando para uma invasão militar “humanitária” a la Balcãs.

Em 2002, uma frente insurgente “revolucionária” orquestrada diretamente pela CIA reuniu setotes do Exercito venezuelano e empresários para realizar um golpe militar contra Chavez.

Em 2007, na Bolívia, uma conspiração burguesa dos departamentos da parte oriental do país deflagraram um movimento separatista armado para negociar diretamente com o imperialismo a riqueza energética desta parte do país. Em fevereiro de 2011, quatro anos depois da ofensiva armada pró-imperialista, foi confirmada a suspeita de que o movimento golpista tinha sido de fato articulado pela CIA através do boliviano croata Eduardo Rozsa Flores, patrocinado pelo milionário empresário Branko Marinkovic, ex-presidente do opositor comitê Pró Santa Cruz. Marinkovic é ligado à falange fascista croata conhecida como Ustasha, enricou com o separatismo nos Balcãs na década de 1990. A Iugoslávia era um Estado Operário burocratizado que foi despedaçado por uma guerra fratricida impulsionada pelos EUA, Alemanha e França.

Em 2009, a CIA realizou um golpe militar bem sucedido em Honduras, substituindo Manuel Zelaya presidente filo-bolivariano e pondo em seu lugar um governo mais sintonizado com os interesses de Washington.

Em 2010, no Equador, uma greve policial quase descamba em um golpe militar contra o presidente bolivariano Rafael Corrêa.

Na Venezuela, assim com no Irã, de tempos em tempos, toma fôlego uma onda de “mobilizações de massa” encabeçada pelas respectivas oposições burguesas pró-EUA.

O imperialismo aprende e desenvolve o know how da contrarrevolução. A autoproclamada “vanguarda revolucionária do proletariado”, composta por partidos que também se dizem marxistas e trotskistas, além de não aprender nada com a história, acaba apoiando as contrarrevoluções imperialistas.

A RECOLONIZAÇÃO DA LÍBIA E A DESASTROSA EXPLORAÇÃO DO PETRÓLEO NOS EUA

Após a alta do petróleo de 2008 e em meio a crise econômica mundial, os EUA trataram de elaborar saídas para a escassez crescente do minério a fim de poupar suas reservas. “O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush pediu hoje ao Congresso para retirar os impedimentos para aumentar a produção nacional de petróleo e acusou os democratas de parte da culpa da alta do preço do combustível por seu ‘obstrucionismo’. Bush urgiu os congressistas a suspenderem a proibição de construir instalações petrolíferas na plataforma continental americana em alto mar, vigente dos EUA desde 1982 para evitar o impacto ambiental e a possibilidade de vazamentos. O candidato republicano à Casa Branca, John McCain, apoia a proposta de Bush, mas seu adversário, Barack Obama, e as principais lideranças democratas a rejeitam.” (UOL economia, Efe, 21/06/2008).

Uma vez no governo, Obama deu continuidade ao plano de Bush e o resultado foi o maior vazamento petrolífero da história, responsável por séculos de danos ambientais sobre os oceanos e o conjunto do planeta, ocasionado pela transnacional British Petroleum, uma das maiores petroleiras do mundo e membro do cartel das “Quatro Irmãs”, juntamente com a ESSO, Texaco e a Shell. Depois do mega desastre, a administração Obama voltou atrás, tratou de secundarizar as metas de aumento da produção nacional e recorreu à tradicional pilhagem colonial. E é aí que entram a ofensiva recolonizadora sobre a África e o Oriente Médio e, em particular, sobre a Líbia.

Segundo dados da Energy Information Administration (2009), a Líbia possui reservas de 46,5 bilhões de barris de petróleo (10 vezes mais que o Egito) e os EUA, 20,6 bilhões, ou seja, a Libia possui mais que o dobro das reservas de petróleo dos EUA. O país africano tem a maior reserva e está entre o três maiores produtores de petróleo de seu continente, possui a 9ª maior reserva do planeta e é o 12º maior exportador mundial do cobiçado produto. Antes da chamada crise do petróleo nos anos 70, a Líbia foi um dos maiores produtores da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), com mais de três milhões de barris diários (bpd). Por um breve período, produziu mais que a Arábia Saudita, a âncora da Opep. Depois da estatização da indústria petrolífera, promovida por Gadafi nos anos 1970, a produção caiu muito, afetada por sanções internacionais e cotas (sabotagem) da Opep. A produção diária total do país antes da “guerra civil” era de 1,6 milhões bpd.

Washington aproveitou o clima de revoltas no norte da África e Oriente Médio para recuperar o terreno perdido, primeiro para o Estado burguês líbio e, após a guinada privatista e desnacionalizante de Gadafi na última década, para a União Europeia no controle do petróleo do país. Diante da determinação estratégica dos EUA em recolonizar o país, as potências europeias tratam de apoiar a ofensiva, acreditando que ao livrar-se do regime de Gadafi, que do ponto de vista imperialista ainda controla em excesso a economia do país, sobrará mais “ouro negro” para todos os invasores. As revoltas populares dos países vizinhos têm possibilitado ao imperialismo diminuir as tensões políticas e promover governos gerentes dos interesses multinacionais mais baratos frente aos apetites renovados do capital imperialista saído da crise de 2007-2008. Por isto, a ofensiva golpista na Líbia se justifica ainda mais pelo anacronismo que representa ainda o atual regime de Trípoli, apesar de todo seu giro “neoliberal” na ultima década.

A OCUPAÇÃO MILITAR IMPERIALISTA DA LIBIA JÁ COMEÇOU

Depois de isolar Gadafi, estrangular economicamente o regime, a OTAN prepara o bombardeamento, agora sim, de Trípoli e a entrada aberta das tropas oficiais do imperialismo sem as camuflagens “populares” na guerra.

De fato, a invasão já começou, através do ingresso dos conselheiros militares para orientar a frente monarquista. Um elemento que vem sendo ocultado pela mídia e principalmente pelo movimento golpista. “Centenas de conselheiros militares dos EUA, Inglaterra e França chegaram a Cirenaica, a leste da província separatista da Líbia. Esta é a primeira vez que a América e a Europa intervieram militarmente em qualquer uma das revoltas populares que estão acontecendo pelo Oriente Médio desde Revolução Jasmim da Tunísia no início de janeiro. Os conselheiros, incluindo oficiais de inteligência, desembarcaram de navios e embarcações com mísseis nas cidades costeiras de Bengasi e Tobruk quinta-feira 24 de fevereiro, para organizar as unidades paramilitares, ensiná-los a usar as armas capturadas das instalações do exército líbio, treiná-los para combater as unidades Muammar Kadafi combater vindo a retomar Cirenaica e preparar infra-estrutura para a chegada adicional de tropas estrangeiras. Unidades egípcias estão entre as tropas cogitadas para se somarem mais tarde.” (DEBKAfile, Conselheiros Militares dos EUA na Cirenaica, 25/02/2011). As tropas egípcias serão enviadas pelo “novo” governo da Junta Militar.

UMA GUERRA PARA AUMENTAR A EXPLORAÇÃO SOBRE A CLASSE OPERÁRIA E O PETRÓLEO LIBIO

Diferentemente do Egito e Tunísia, “antes da crise começar, a economia do país passava por um ‘boom’. O Fundo Monetário Internacional (FMI) acredita que a Líbia tenha crescido 10,6% ano passado, e que venha a crescer cerca de 6,2% em 2011.” (BBC Brasil, 21/02/2011). A crise social, unindo inflação alimentar com desemprego, foi o combustível das revoltas tunisianas e egípcias. A juventude desempregada foi um dos fatores determinantes na destituição de Ben Ali. O ingresso dos trabalhadores egípcios e em particular dos têxteis foi decisivo para a renúncia de Mubarak.

Embora a Líbia não tenha passado imune à inflação alimentar, assim como a Venezuela, o país importa grande parte do que consome, os efeitos da inflação foram amortecidos graças a um relativo embora decrescente controle do Estado sobre o petróleo. Ao contrário dos vizinhos, detentores de uma enorme massa de jovens desempregados, o país, cuja classe operária nativa é muito pequena, é uma nação que atrai os jovens dos outros com sua oferta de emprego a salários relativamente maiores do que os pagos no restante da África. Isto é notável pelo intenso processo migratório da classe operária fugindo da “guerra civil” fustigada pelo imperialismo. Dos seis milhões de habitantes, quase dois milhões são trabalhadores estrangeiros. 1,5 milhões são egípcios, 50 mil bengaleses, 15 mil indianos e um grande número de paquistaneses. 30 mil turcos constituem a maior parte dos trabalhadores da construção civil. 200 são brasileiros funcionários de empresas de construção civil como a Andrade Gutierrez e a Odebrecht como operários ou engenheiros.

Ao total, a Odebrecht contratou para trabalhar no país 3.200 funcionários. Além dos brasileiros, a empresa explora tailandeses, vietnamitas, filipinos e egípcios. A maioria esmagadora da classe operária que trabalha na Líbia está momentaneamente se repatriando em seu país de origem.

GADAFI, DO PAN-ARABISMO AO NEOLIBERALISMO

A fraudulenta independência da Líbia foi a primeira “independência” de um país a ser realizada pela própria ONU que também instituiu uma monarquia títere dos EUA e de Israel no país. A era Gadafi na Líbia começou em 1969, quando um grupo de oficiais liderados por Muammar al Gadafi, derrubaram a monarquia num golpe de Estado sem derramamento de sangue, estabelecendo uma República inspirada no nacionalismo nasserista. Isolado pelo imperialismo e pelo sionismo que preferiam o servil rei Idris e sabotado pelos fantoches da OPEP, a partir de 1970, Gadafi expulsou os efetivos militares estrangeiros e decretou a nacionalização das empresas, dos bancos e dos recursos petrolíferos do país. O governo passou a controlar os preços das mercadorias, o comércio, o crédito e o câmbio, restringindo as importações. As exportações de petróleo da Líbia passaram a ser totalmente controladas pelo governo, fornecendo cerca de 95% de sua receita de exportação. A nacionalização da imensa riqueza do petróleo deu meios ao governo líbio para melhorar as condições de vida da população. De acordo com estimativas de 2004 do governo dos EUA, 82% da população adulta total é alfabetizada (92% dos homens e 72% das mulheres). A educação primária é gratuita e obrigatória. O número de médicos e dentistas aumentou sete vezes entre 1970 e 1985, resultando em um médico por cada 673 cidadãos (na rede pública da cidade de São Paulo há regiões em que a disponibilidade é de 1 médico para 20 mil habitantes). No Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU a Líbia ocupa o 53º lugar no ranking do IDH (o Brasil está em 73o lugar e o Egito 101o).

Depois da Guerra do Yom Kippur, em 1973, a Líbia pressionou seus parceiros árabes a não exportar petróleo para os Estados que apoiaram Israel. Opôs-se à iniciativa do lambe-botas egípcio Sadat, de restabelecer a paz com Israel, e participou ativamente, junto com à Síria, da chamada “frente de resistência” em 1978. Seu apoio à Organização para a Libertação da Palestina (OLP) se intensificou, e a cooperação com os palestinos se estendeu a outros grupos guerrilheiros de países não árabes, que receberam ajuda econômica líbia.

A rejeição a Israel, as manifestações antiamericanas e a aproximação com a União Soviética, por parte da Líbia, marcaram a conduta do governo nacionalista na década de 1980. As relações da Líbia com os Estados Unidos se deterioraram quando os ianques impuseram um embargo às importações de petróleo líbio e sanções econômicas ao país. O governo de Gadafi foi implicado no atentado terrorista de uma discoteca em Berlim Ocidental frequentada por militares americanos. A ONU impôs sanções à Líbia em 1992-93 depois do governo líbio ter sido implicado no atentado do voo Pan Am 103 em Lockerbie, Escócia, em 1988 e no bombardeio de um voo francês sobre o Níger em 1989. O presidente dos EUA, Ronald Reagan ordenou, em abril de 1986, um bombardeio da aviação americana a vários alvos militares em Trípoli e Bengasi, causando a morte de 130 pessoas. Gadafi saiu ileso, mas perdeu uma filha quando sua casa foi atingida.

A contrarrevolução na URSS fez com que os anos 1990 fossem anos de severo isolamento político e econômico e declínio para a Líbia. As sanções e embargos comerciais provocaram o aumento dos custos de importação e de inflação na economia doméstica da Líbia, resultando em um padrão de deterioração da vida da maioria dos seus cidadãos. Grupos de oposição militante islâmicos executaram vários ataques contra o governo, incluindo uma série de tentativas para assassinar Gadafi. Uma tentativa de golpe militar teve lugar em 1993, mas os líderes do golpe e os grupos de oposição islâmicos foram reprimidos. Em 1995-97 Gadafi realizou uma ofensiva militar na Cirenaica, que era o centro de grande parte da oposição.

Durante o período de 1999-2003, Gadafi realiza sua guinada à direita cumpridos todos os termos das resoluções da ONU (Conselho de Segurança) necessárias ao levantamento das sanções contra a Líbia. Após o 11 de setembro, o ditador ofereceu sua colaboração aos EUA para combater o terrorismo internacional declarando em seu site “O fenômeno do terrorismo não é um motivo de preocupação para os EUA sozinhos. É uma preocupação para o mundo inteiro”. O estreitamento cada vez maior das relações entre o caudilho e o imperialismo fez com que Gadafi aplicasse planos neoliberais, privatistas, entreguistas que corroem e já destruíram várias conquistas sociais produzidas pela nacionalização dos meios de produção das décadas anteriores.

“ESTAVAM COM GADAFI E GRITAVAM CONSIGNAS DEFENDENDO A VELHA REVOLUÇÃO, POR ISTO OS MATAMOS”

A “rebelião” atual começou na cidade de Al-Baida, no noroeste e daí se estendeu a outras cidades. Nesta cidade se fundou no século XIX o movimento islâmico conservador criado por Mohamed al-Sanusi. Este movimento se expandiu pela região da Cirenaica e teve ao longo das ultimas décadas repetidos enfrentamentos com Gadafi, a quem consideram demasiado liberal em sua interpretação do islã. A CIA se aproximou do movimento islâmico Sanusi, que por influência da ONU ao final da II Guerra instituiu um breve reinado no país, para montar suas bases “insurgentes”. Os Sinusi controlam a cidade de Begasi, centro da rica região leste do país. Coordenados pelo ministro da justiça desertor, juízes e advogados ocuparam o escritório da Procuradoria General na cidade.

Nas duas últimas décadas, isolado em meio à ofensiva imperialista pós-URSS incrementada com a guerra ao terror de Bush, o caudilho militar líbio abandona sua retórica anti-imperialista dos anos 70 e 80, quando na esteira do pan-arabismo nasserista e após o ascenso popular mundial de 1968 destronou a monarquia e nacionalizou grande parte da economia líbia, e inicia a desnacionalização da economia do país. A União Europeia saiu na frente apropriando-se de 78% das exportações líbias, deixando os EUA “na lanterninha” com apenas 7%. Ao baixar a guarda para as investidas comerciais do imperialismo, Gadafi estimulou os apetites de uma parte de seu staff.

Os últimos discursos do caudilho, despolitizados, irresponsáveis e agressivos, reforçaram a munição da mídia de propaganda de guerra imperialista  para caricaturar Gadafi como um tirano enlouquecido e favorecer a campanha militar fratricida da frente opositora.

Excepcionalmente a própria imprensa burguesa revela as atrocidades do campo imperialista: “Em Shahat, também no leste, os rebeldes prenderam dezenas de mercenários  de 15 a 18 anos recrutados no vizinho Chad. Outros muitos tem sido executados. ‘Estavam com Gadafi e gritavam consignas defendendo a velha revolução, por isto os matamos’, conta friamente um dos guardiães” (El país, 25/02/2011). Estranhamente os chamados “mercenários” morrem reivindicando a revolução enquanto os “libertadores” e “democratas” os executam impiedosamente como carniceiros. A campanha militar dos monarquistas da CIA, ovacionada como “revolução” por não poucos revisionistas do trotskismo, choca por sua crueldade: “Numa cena violenta em Al Ugayla, a leste de Ras Lanuf, um rebelde gritava a poucos centímetros do rosto de um jovem africano detido sob a suspeita de ser mercenário: ‘Você estava portando armas, sim ou não? Você estava com as brigadas de Gaddafi, sim ou não?’. O jovem, em silêncio, foi empurrado até cair de joelhos no chão de terra. Um homem colocou uma pistola perto do rosto do rapaz, mas um jornalista protestou dizendo ao homem que os rebeldes não são juízes.” (Reuters, 3/032011).

“TRAGAM O BUSH!”

Diferente das revoltas populares que provocaram até algumas deserções verdadeiras no Egito e na Tunísia, os carniceiros do campo imperialista na Líbia, iniciam sua “rebelião” já muito bem armados. “Os rebeldes estão armados com lançadores de foguetes, canhões antiaéreos e tanques” (Reuters, 3/032011). São financiados pela associação da burguesia local e chefes tribais da Cirenaica onde operam as principais transnacionais petrolíferas a eles associados. Para deixar a batalha por Trípoli ainda mais favorável aos “rebeldes” da CIA, os próprios, para dar legitimidade à nova aventura militar colonialista dos EUA, “pediram na quarta-feira que a ONU autorize bombardeios aéreos estrangeiros contra supostos mercenários estrangeiros a soldo do regime.” (idem). Mas não só isto, “na quinta-feira, os rebeldes propuseram também a adoção de uma zona de exclusão aérea, ecoando o apelo feito pelo vice-embaixador líbio na ONU, que rompeu com Gadafi.” (idem). O Secretário de Defesa dos EUA se antecipou e esclareceu o que seria a tal zona de exclusão aérea tão propalada pela imprensa nos últimos dias e que causou um certo descompasso entre os EUA e a União Européia acerca dos ritmos e formas da intervenção militar. Robert Gates esclareceu: “Vamos chamar as coisas por seu devido nome. Uma zona de exclusão aérea começa por um ataque à Líbia para destruir suas defesas aéreas” (Reuters, 03/03/2011). Sendo levado adiante este plano militar, a invasão pode começar com a destruição da aviação libia e o controle de seu espaço aéreo.

Enquanto os jovens que lutam ao lado do regime de Trípoli reivindicam uma revolução a qual identificam falsamente com a luta antiimperialista, os verdadeiros mercenários da CIA não ocultam seus ídolos. Para fechar com chave de ouro sem deixar dúvidas sobre a inclinação ideológica e politica dos “rebeldes” eles reivindicaram: “Tragam o Bush! Façam uma zona de exclusão aérea, bombardeiem os aviões”, gritava o soldado rebelado Nasr Ali, referindo-se à zona de exclusão aérea imposta no Iraque em 1991, quando o presidente dos EUA era George W. Bush.” (Reuters, 3/032011).

Desesperado, o caudilho de Trípoli ameaça tomar uma medida excepcional, transgredindo uma regra básica da política capitalista, quebrar o monopólio da violência do Estado burguês e armar a população contra o campo imperialista.

“Gadafi decidiu armar a seus fiéis para travar sua última batalha na capital. O arsenal da cidade está agora à disposição daqueles que querem fazer a guerra por sua conta, contra seus próprios vizinhos, levantados em seus bairros contra Gadafi. Sua ideia de dar armas aos civis ameaça desatar uma matança na capital. (O drama líbio. El país, 26/02/2011). A medida do ditador líbio deixa mais desesperados os porta-vozes da grande burguesia. As massas líbias organizadas devem se armar com os arsenais que o governo finalmente pôs a sua disposição. Devem colocar o fuzil sobre o ombro de Gadafi e disparar contra o imperialismo e seus agentes que buscam duplicar a exploração das riquezas dos líbios a serviço dos EUA e UE, os inimigos “número 1” da população trabalhadora de todo o mundo. Ao fazer isto, não depositarão nenhuma confiança, não emprestarão nenhum apoio político ao clã Gadafi, que pavimentou o caminho da reação, a quem os trabalhadores não podem ver senão com ódio de classe e contra quem se preparam para acertar as contas.

É provável que, no meio da luta, Gadafi capitule, como Milosevic, Saddan Hussein e tantos outros políticos burgueses que tiveram que realizar um enfrentamento militar com seus amos imperialistas.

Os verdadeiros revolucionários também não podem dissimular seu lado nesta guerra, odeiam Gadafi, mas a vitória do imperialismo seja da forma como for, sobre o ditador de Trípoli significará maior exploração dos trabalhadores nativos e estrangeiros em solo libio e maior pilhagem do petróleo do país. Por sua vez, a derrota do campo imperialista, daria um poderoso impulso à consciência nacional e democrática do país, pavimentando um genuíno ascenso popular para a derrota da guinada política pró-imperialista de Gadafi e ao final de sua própria ditadura. Um programa operário e revolucionário neste conflito não pode ser outro que estabelecer uma frente única militar com Gadafi, sem depositar nenhuma confiança na autodefesa do regime decrépito. Pela defesa incondicional da Líbia contra o imperialismo e seus agentes golpistas em solo Líbio. Pelo armamento de todo o povo contra a recolonização “democrática” imperialista. Pelo controle operário de Trípoli, dos campos petrolíferos, de todas as cidades do país. Pela separação do Estado da Igreja. Pela igualdade dos trabalhadores imigrantes e das mulheres trabalhadoras. Salário igual para trabalho igual. Os milhões de trabalhadores terceirizados contratados pelas multinacionais que atuam na Líbia devem lutar por sua efetivação no Estado líbio, pela nacionalização sem indenização e sob o controle operário das transnacionais petrolíferas, construtoras, etc, incluindo a “brasileiras” Odebrecht, Andrade Gutierrez. Pela expropriação do imperialismo e do conjunto da burguesia libia, incluindo o clã de Gadafi rumo a um governo operário e camponês e a uma verdadeira conflagração revolucionária em toda a região pela expulsão do imperialismo e construção da Federação das Repúblicas Soviéticas da África e Oriente Médio.