Frederico Costa[1]
Fragmento de arroz e de feijão (bandinha), ossos de boi e pé de galinha: a dieta da fome |
A alta da inflação e o desemprego, próprios da crise capitalista, são acelerados pelo governo de extrema direita de Bolsonaro e seus apoiadores, pois, enquanto aumentam a inflação e o desemprego, crescem, também, a concentração de renda e os ataques aos direitos sociais da maioria da população.
A mesa de milhões de brasileiros fica cada vez mais precária e vazia. Com o aumento dos preços, cresceu a oferta de arroz quebrado e bandinha (o meio feijão). Estão saindo óleo de soja, feijão e carne, substituídos por banha de porco, lentilha e ovo, mais baratos. A crise tem afetado a própria maneira de fazer comida. Com o botijão de gás custando mais de R$ 100 em algumas cidades, muitas famílias trabalhadoras vêm sendo obrigadas a trocar o fogão por lenha e carvão.
O quadro é esse: enquanto, numa ponta, os preços sobem, na outra, a renda cai. O governo Bolsonaro reduziu a amplitude e o valor do auxílio emergencial, ao mesmo tempo em que a taxa de desemprego atingiu o patamar recorde de 14,7%, no trimestre encerrado em abril. Muitos trabalhadores e trabalhadoras vêm dependendo, cada vez mais, de doações para completar a alimentação.
Em uma situação de insegurança alimentar, isto é, de ameaça de fome, o empobrecimento das famílias trabalhadoras faz com que os primeiros alimentos retirados do cardápio sejam as frutas e as verduras, depois, são retirados a carne e os derivados de leite.
Em Cuiabá, capital do estado do Matogrosso, há registro de filas para doações de restos de ossos de boi. É bom destacar que o prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro, é do MDB; e que o estado é governado por Mauro Mendes do DEM, dois partidos que apoiaram o golpe em 2016 e, hoje, dão sustentação ao governo Bolsonaro. O interessante é que a base econômica de Mato Grosso, atualmente, é o agronegócio, sendo o maior estado produtor de soja (15 milhões de ton.) e algodão em pluma (1,1 milhão de ton.), segundo maior produtor de arroz (1,7 milhão de ton.), quinto produtor de cana-de-açúcar e sétimo, de milho[2].
De 2004 a 2013, no boom das comodities e nos governos reformistas do PT, famílias viram a renda média crescer junto a uma maior distribuição de renda, o que permitiu uma melhora do padrão de consumo, porém, desde 2015, com mais um ciclo de crise capitalista, houve uma regressão social aprofundada pelo golpe de 2016 e pela eleição de Bolsonaro.
Além dos alimentos, corroem o orçamento dos mais pobres o botijão de gás, que acumula alta de 24,25%, em 12 meses até junho, e a conta de luz, que subiu em meio à crise hídrica. Segundo o IBGE, as tarifas de energia residencial acumularam alta de 14,2% em 12 meses até junho. Já as passagens de ônibus urbano tiveram inflação de 0,58%, no acumulado de 12 meses até junho, enquanto os combustíveis aceleraram: óleo diesel (40,74%), etanol (59,61%) e gasolina (42,21%).
Infelizmente, a tendência é de piora. O relatório divulgado pelo Banco Mundial, no dia 20, "Emprego em Crise: Trajetória para Melhores Empregos na América Latina pós-Covid-19", afirma que "No Brasil e no Equador, embora os trabalhadores com ensino superior não sofram os impactos de uma crise em termos salariais, e sofram impactos de curta duração em matéria de emprego, os efeitos sobre o emprego e os salários do trabalhador médio ainda perduram nove anos após o início da crise".
Na verdade, em junho, o Brasil completou 12 meses sem aumento real de salários, conforme o projeto Salariômetro da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas). Segundo recente boletim[3], o reajuste mediano, no mês, ficou 0,6 ponto percentual abaixo da inflação medida pelo INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor). Apenas 27,4% das negociações resultaram em ganhos reais para os trabalhadores.
Noutras palavras, o arrocho salarial, a precarização e a superexploração do trabalho fazem parte do projeto das classes dominantes brasileiras e do imperialismo, o que vem sendo implementado pelo governo atual. Daí a necessidade da luta pelo fim do governo Bolsonaro e de uma alternativa dos trabalhadores. Isso ou mais fome, miséria e exploração.
Notas
[1] Professor da Universidade Estadual do Ceará – UECE e Coordenador do Instituto de Estudos e Pesquisas do Movimento Operário – IMO.
[2] www.coisasdematogrosso.com.br/mato-grosso/nosso-estado/exibir.asp?id=10&item=Agronegocio
[3] salariometro.fipe.org.br/assets/boletins/pdfs/boletim_2021_07.pdf