SWL e Secretariado Americano do CLQI
A Amazon é o maior varejista on line do planeta. A empresa emprega atualmente cerca de 1,3 milhão de pessoas em todo o mundo, o que a coloca entre as 10 maiores instituições empregadoras do mundo, juntamente com o Departamento de Defesa dos EUA, o Exército chinês, o Sistema Nacional de Saúde do Reino Unido e corporações privadas como o MacDonald's e o WallMart.
A Amazon é uma empresa multinacional dos EUA que concentra seus negócios em um serviço de correios baseado no comercio eletrônico global e, secundariamente, em computação em nuvem, streaming e inteligência artificial. É considerada uma das cinco grandes empresas globais de tecnologia que controlam quase tudo que é digital, o comércio, as buscas na internet, informações sobre todos os usuários e mais ainda seus funcionários.
A Amazon compõe o acrônimo "FAGA", juntamente com Google, Apple, Microsoft e Facebook. Esses trustes são responsáveis pelo imperialismo tecnológico, baseado na exploração do trabalho, obviamente, controle de informações, fake news, guerras comerciais, pratica de dumping, evasão de divisas para paraísos fiscais e obsolescência programada.
A maior empresa privada capitalista contemporânea
Durante a pandemia, o dono da Amazon, Jeff Bezos, aumentou em quase 30% a sua fortuna, adicionando US$ 34 bilhões desde janeiro de 2020. Bezos começou o ano de 2020 dono de “modestos” US$ 115 bilhões. Mas, com a pandemia e o aumento das vendas durante o isolamento social, o faturamento e as ações da empresa dispararam.
O slogan da empresa é “trabalhe duro, tenha diversão, faça história”. De fato, os 1,3 milhões de assalariados da Amazon ficaram com a parte do trabalho duro, muito duro, enquanto Bezos se diverte e faz história podendo se tornar o primeiro trilionário do planeta, conseguindo uma ascensão social vertiginosa com uma empresa fundada em 1994. Seu patrimônio líquido cresceu 34 por cento em média nos últimos cinco anos. Em 2012, a Amazon comprou a Kiva Systems para automatizar seu negócio de gestão de estoques. Em 2017, a Amazon comprou o Whole Foods Market, uma multinacional de supermercados de produtos naturais. A aquisição custou US$13,4 bilhões, expandindo o varejo físico da Amazon. O Amazon Prime é um serviço de entrega em 48h que já em 2018 ultrapassou os 100 milhões de assinantes em todo o mundo. Além da Whole, o truste da Amazon agrupa a Alexa, CreateSpace, Kindle, Audible, Audible.com, DPReview, Box Office Mojo, Goodreads, Twitch.tv e AbeBooks, entre muitos outras empresas e tecnologias. Em 2019, a Amazon se tornou a empresa mais valiosa do mundo, ultrapassando a Microsoft.
Intensa exploração do trabalho e antissindicalismo
O crescimento meteórico da maior rede de comercio eletrônico varejista a Amazon se apoia em um regime de trabalho de fato muito duro. Para isso, desmontou todas as tentativas de formação de sindicatos nos EUA ou de sindicalização de seus trabalhadores em sindicatos já existentes, com perseguição e demissões, terror e chantagem, reuniões e cursos de formação antissindicais. Todavia, não a Amazon não tem conseguido evitar greves, inclusive greves selvagens tanto nos EUA como na União Europeia. Nas plantas da Alemanha e Itália os trabalhadores têm realizado poderosas greves e arrancado conquistas.
A empresa estabelece jornadas de até 36 horas seguidas, turnos de 10h-12h, durante os quais, os selecionadores ficam praticamente todo o tempo trabalhando em pé; intervalos de 30 minutos entre os turnos, restrição e monitoramento do uso do banheiro, beber água e troca de luvas de trabalho e pagamento de U$ 15,30 por hora. Muitos trabalhadores vêm morrendo porque têm sido obrigados a trabalhar sob esses ritmos massacrantes e condições insalubres nas instalações da Amazon durante a Pandemia.
No início de 2020, a Amazon demitiu o gerente do galpão JFK8, Christian Smalls, porque ele estava organizando os trabalhadores para não contraírem coronavírus no galpão após sete casos confirmados, ele reivindicava fechar o galpão por 2 semanas e estabelecer licença médica remunerada durante esse período. Após a demissão, imediatamente os executivos da empresa deram início a um plano secreto para transformá-lo em vilão, acuando-o justamente do contrário do que ele reivindicava, de colocar seus colegas de trabalho em perigo ao retornar para o prédio e possivelmente expô-los à Covid-19.
A derrota sindical na batalha de Bessemer
Uma das primeiras lutas pelo direito a sindicalização na Amazon ocorreu em Minnesota, em 2010. Todavia, essa luta não conseguiu impulsionar uma votação interna pela sindicalização. Em 2014, foi a vez dos trabalhadores dos galpões de Dalawere. Essa luta foi mais forte, conseguiu impor uma votação pela sindicalização mas foi derrotada. Em novembro de 2020, os trabalhadores do Centro de Distribuição de Bessemer, de um pobre subúrbio ao norte de Birmingham, no Alabama, onde trabalham cerca de 6.000 pessoas, entraram com um processo no National Labor Relations Board (NLRB) para realizar uma votação de sindicalização.
Em um dos Estados dos EUA com maior tradição antissindical, o Alabama, controlado pelos republicanos foi onde se desenvolveu uma das maiores batalhas recentes pela sindicalização dos trabalhadores da Amazon. A batalha ocorreu por meio de uma votação entre os trabalhadores que decidirão pela filiação ou não ao Retail, Wholesale and Department Store Union, RWDSU, Sindicato do Varejo, Atacado e Loja de Departamento, que representa 100.000 membros em todos os Estados Unidos.
"O Alabama é um dos 27 “estados com direito ao trabalho” onde os trabalhadores não precisam pagar taxas aos sindicatos que os representam porque a legislação patronal “liberou” os trabalhadores do imposto sindical. Na verdade, o estado abriga a única fábrica da Mercedes-Benz no mundo que não é sindicalizada." (Amazon enfrenta maior impulso sindical de sua história).
Em 2019, Bessemer com uma taxa de pobreza de 30% da população foi indicada como "A pior cidade para se viver” do Estado do Alabama.
O Alabama foi um dos maiores estados escravistas do sul confederado. Hoje, os negros compõem 25% da população, enquanto a média nacional é de 13%. Mais de 70% da população da cidade é negra. No galpão de Bessemer 85% dos trabalhadores são negros, muito mais do que os 22% para os trabalhadores de outros centros de distribuição do país. Então, após o ano de 2020, marcado pela maior onda de protestos contra o racismo da história dos EUA, a luta sindical se uniu com a luta por dignidade e respeito dos trabalhadores negros em oposição ao racismo contido na exploração capitalista.
No entanto, na votação dentro da fábrica, a luta pela sindicalização à RWDSU foi derrotada por uma proporção de 2 votos para 1. Apenas 738 dos 5.800 trabalhadores da fábrica votaram a favor do sindicato num total de 3.215 eleitores, 1.798 votaram contra , sem contar os votos nulos e disputados. O fato de menos de 13% dos trabalhadores terem votado pela sindicalização na RWDSU é uma derrota que precisa ser explicada.
As causas da derrota apontam as condições necessárias para a vitória
Como quase tudo na vida, várias determinações contraditórias se combinaram para um fenômeno. Uma das causas da derrota foi o fato da Amazon ter jogado pesado em sua campanha, recorrendo a formas distintas de persuasão, desde a intimidação até a realização de simpáticas reuniões antissindicais de doutrinação, apostando em modos distintos para públicos distintos, envolvendo, portanto, a coerção, ameaças de demissões, vigilância e também ao apelo ao individualismo, a desconfiança dos trabalhadores com o sindicato que só estaria interessado em descontos nos contracheques.
A empresa também distribuiu bottons anti-sindicais “Vote No” e “pediu” aos seus funcionários que os exibam nos cordões de seus crachás funcionais: “Quase todo mundo os usa”, afirmou Daniel Tarvese, trabalhador da Amazônia de 36 anos. Muitos trabalhadores jovens também foram seduzidos pela demagogia da empresa nas reuniões antissindicais conduzidas integralmente por gentis instrutores negros,
“Eles foram legais, eles estavam apenas nos contando o que o sindicato fazia – disse Jeremiah Okai, de 19 anos. Foi a apresentação sobre as contribuições sindicais que ajudou a persuadi-lo a votar contra o sindicato Amazon no Alabama – O sindicato] vai tirar dinheiro de mim – disse Okai – Eu não quero que nenhum dinheiro seja tirado de mim.”
Como parte do arsenal dessa guerra híbrida corporativa, a Amazon também apelou para o chamado Efeito Hawthorne, desenvolvido em uma fábrica de lâmpadas na Austrália há um século. Trata-se de incutir nos trabalhadores a crença de que eles eram valorizados, cuidados e que alguém se preocupava com seu local de trabalho, mesmo quando estão sendo submetidos ao risco de morrer por Covid (!). Além disso, nos seminários antissindicais foi feito um teatro de que os trabalhadores estavam tendo a oportunidade de discutirem as mudanças para o aumento da produtividade na empresa, enquanto colaboravam com a negação de seu elementares direitos trabalhistas e sindicais.
Uma das urnas principais foi instalada na frente da empresa e os gerentes insistiam para que os trabalhadores preenchessem as cédulas de votação e depositassem na urna na sua frente, como voto aberto.
Mas isso já era esperado por parte dos patrões e não passa do mais puro fatalismo justificar a derrota apenas porque o outro lado foi mais forte e usou todas suas armas legais e ilegais para ganhar, como tentam justificar o sindicato. Além disso, também não é novidade que foi na espionagem corporativa contra a organização política e sindical dos trabalhadores, em agências de detetives Pinkerton, que nasceram, no início do século XX, as poderosas agências internacionais de espionagem dos EUA.
“Jeff Bezos não seria o homem mais rico do mundo se não fosse versado nos fundamentos da maximização do lucro – entre eles, a supressão dos custos do trabalho e a fuga das regulações. A sindicalização é antitética a esse objetivo porque os sindicatos existem para garantir melhores salários e condições de trabalho mais seguras e confortáveis, o que eleva os custos do trabalho e diminui os lucros. Se Bezos conseguir o que quer, nunca haverá um galpão sequer com trabalhadores sindicalizados na Amazon.” (Empresas como Amazon contratam espiões para reprimir formação de sindicatos o tempo todo ).
O problema é que se por um lado estava a maior valiosa das empresas exploradoras de trabalhadores do mundo, do outro lado, foi realizada uma campanha burguesa e burocrática por parte da direção do movimento pela sindicalização. Esse outro lado limitou-se a realizar uma luta identitária contra o racismo mas não estabeleceu uma só reivindicação concreta dos trabalhadores contra a Amazon, o que é uma função essencial do sindicato, “esquecida” pelo RWDSU e pela arqui-burocrática central sindical AFL-CIO. Também não tentaram construir um movimento nacional e trabalhar com outros sindicatos para tentar atingir várias instalações da Amazon em todo o país ao mesmo tempo.
A campanha pela sindicalização foi apoiado pelo partido Democrata, inclusive com o apoio explícito do senador “socialista” Bernie Sanders, do presidente dos EUA, Joe Biden e até de senadores republicanos como Marco Rubio. Mas a classe trabalhadora dos EUA está por demais enojada com a política dos democratas e de todos os seus representantes políticos tradicionais, incluindo os sindicatos. Não por acaso, Trump foi eleito em 2016 e foi mais votado no Alabama em 2020 por que uma parte do eleitorado da classe trabalhadora, historicamente eleitora dos democratas que protestaram de modo reacionário, seduzidos pelo falso apelo “apolítico” de Trump e rejeitando os políticos tradicionais do establishment, incluindo a AFL-CIO que integra o regime e apoiou o giro pela financeirização da economia, as relocalizações industriais, os fechamentos de fábricas, as reduções salariais que fizeram com que 1/3 dos empregos industriais fossem destruídos nos EUA nos últimos 50 anos.
Uma das reações progressivas a essa rejeição ao establishment foi a onda “socialista” inédita nos EUA, encabeçada por Bernie Sanders, em 2018-19, que também foi logo traída e enterrada pelo próprio Bernie Sanders.
Então, não é de se admirar que, sob a base da própria alienação do trabalho, do individualismo estimulado na sociedade burguesa, e sobretudo na decadente sociedade estadunidense, tenha dado certo as campanhas da Amazon contra a sindicalização. Mesmo assim, desse filtro da desmoralização e doutrinação patronal, ainda escaparam 1/3 dos trabalhadores dispostos a encarar as consequências da espionagem corporativa e do próprio risco de demissão. E esse 1/3 se deve muito a organização dos trabalhadores em local de trabalho:
“Sem um comitê organizador forte já envolvendo o chefe na ação do chão de fábrica, os trabalhadores não tinham a capacidade de ver o lado positivo potencial do sindicato, porque eles nunca viram o sindicato em ação no chão de fábrica antes de serem chamados a votar para se juntar a ele. ... o comitê organizador já atua como um sindicato, vencendo campanhas no local de trabalho para mudar as coisas e defendendo colegas de trabalho que enfrentam uma disciplina injusta.... Em instalações enormes com milhares de trabalhadores como a Amazon, o processo de construção de um comitê organizador forte e de confiança no comitê organizador por meio de ações combinadas às vezes pode levar anos. A RWDSU havia começado sua campanha em junho passado, quando a indignação com as condições de trabalho inseguras durante o COVID era grande. Embora tenham demonstrado grande impulso e interesse inicial, eles nunca desenvolveram um comitê organizador forte que se preocupasse em construir confiança por meio de ações no chão de fábrica e de organização contra o chefe. Em vez disso, eles precipitaram uma eleição sindical ou fizeram o que é conhecido na organização sindical como "compras quentes", onde os organizadores sindicais esperam tirar vantagem de uma explosão de raiva em uma instalação por coisas como condições de trabalho ruins do COVID para forçar e vencer e uma eleição sindical rápida. No entanto, o apoio inicial do entusiasmo sindical desmoronou sob o peso de uma campanha antissindical sofisticada da Amazon, que combinava ameaças de perda de emprego com promessas de melhoria se os trabalhadores rejeitassem o sindicato. Muitos trabalhadores em entrevistas que votaram contra o sindicato admitiram que sabiam pouco sobre sindicatos. Isso permitiu que a empresa, por meio de reuniões antissindicais, criasse medo sobre a mudança que os sindicatos poderiam trazer, alertando os trabalhadores que seus salários podem realmente diminuir devido a um contrato ou, pior, que suas instalações podem fechar.” (Flawed Approach Sunk Amazon Union Drive, But Birthed National Movement).
Apesar da derrota no Alabama, a luta segue e se internacionaliza por fora e por dentro da Amazon
Uma vitória em Bessemer impulsionaria um efeito dominó em todas as plantas da Amazon nos EUA, com os trabalhadores sentindo-se estimulados a dar um basta nessas condições degradantes de trabalho e de baixos salários. Após a derrota do sindicato, muitos trabalhadores provavelmente enfrentarão retaliações. Mas essa derrota também estimula a construção do trabalho sindical e político de organização da classe de modo paciente por local de trabalho ad hoc. Enquanto se contavam os resultados da batalha de Bessemer, mesmo não sindicalizados, os trabalhadores da Amazon de Chicago deram início a uma nova frente de batalha, com uma greve selvagem, reivindicando aumento salarial de US $ 2 por hora, divisão dos custos de transportes de ida e vinda para o trabalho e modificações no turno de 10,5 horas. Eles se organizam sob o nome de Amazonians United Chicagoland:
Sindicalizar não é um momento, é um processo. Sindicalizar é um processo em movimento quando os trabalhadores se encontram para formular pedidos de reivindicações e um plano para assinar a maioria dos colegas de trabalho. A sindicalização está acontecendo quando colegas de trabalho não envolvido se juntam a ações coletivas contra a gestão e quando um novo membro da comissão organizadora distribui boletins Amazonians United durante a pausa. Estamos a sindicalizar à medida que desenvolvemos um sentimento de família entre nós, enquanto nos reunimos para churrascos e coicebacks, enquanto nos ajudamos uns aos outros durante os momentos de necessidade. Aquela eletricidade no ar depois de enrolarmos um gerente, deixando-o nervoso ao entregar a nossa petição e expressar as nossas exigências em grupo, derrubá-lo e a nós para cima. ... Esse sentimento é o nosso sindicato, um sindicato dos trabalhadores, a chegar ao ser.
Estamos a construir um sindicato real, não um sindicato de negócios inútil, que é simplesmente uma organização extratora de funcionários de advogados para os trabalhadores ligarem. Não estamos interessados em entregar o nosso poder coletivo a um burocrata que aparece a cada três anos para ′′ negociar ′′ um contrato de concessão através de acordos de backroom com os nossos chefes. Não precisamos do reconhecimento do NLRB ou da Amazônia para formar nossa união, crescer nossa união, ou lutar como união. Nosso sindicato somos nós trabalhadores, organizados, atuando coletivamente, construindo unidade, crescendo em solidariedade, lutando como um.
Então, o que é preciso para sindicalizar a Amazônia? Vai ser preciso perseverança, humildade e luta. Vai levar muitos trabalhadores com um profundo empenho em organizar a propagação por todas as instalações da Amazônia, formando OCs que enfrentam questões que repercutem com colegas de trabalho. Cada vez que ganhamos uma mudança através da organização, os colegas de trabalho veem o poder de agir coletivamente. É assim que começamos as transformações em todo o local de trabalho desde a mentalidade individualista padrão para uma mentalidade coletiva. É assim que criamos uma cultura de militância onde todos colocamos nossos gestores incompetentes no lugar deles em vez de curvar nossas cabeças ao desrespeito deles. Cada comissão organizadora, comprometida com os princípios dos Amazonenses Unidos, é a fundação da nossa união, e crescemos a partir daí, desenvolvendo coletivamente nossa estratégia e visão à medida que vamos. ” https://www.facebook.com/AUChicagoland
Não bastasse o trilionário patrão escravocrata, o racismo capitalista, a Casa Branca imperialista passando -se de aliada, a burocracia sindical democrata, não bastasse todos esses obstáculos contra sua emancipação, alguns "trotskistas" que aparecem para ajudar, atrapalham ainda mais. A organização ISCFI, dona do site WSWS, faz campanha contra a sindicalização lançando panfletos que dizem não se organizem nos sindicatos, organizem-se com o WSWS (!?). Bezos agradece e mais ainda agradecem os Democratas imperialistas porque com essa política sectária os trabalhadores mais conscientes, repudiarão a esterilidade "trotskista" e continuarão sendo enganados por Sanders e Biden.
Mesmo empiricamente, os trabalhadores mais combativos e consciente da Amazon sabem que precisam se organizar para a luta contra os patrões e se os patrões perseguem a atividade sindical, mesmo que a maioria dos sindicatos seja burocratizada, é necessário impulsionar a organização sindical da classe. E nesse sentido seguem a luta os trabalhadores da Amazon de Chicago, ou da Alemanha e da Itália.
Uma empresa de tipo Correios capitalista, como modelo de instituição socialista
Como acreditava Lenin, o sindicato é uma escola da luta de classes, a primeira frente única dos trabalhadores contra seus patrões. A partir dessa escola da luta econômica e imediata é possível avançar para a luta política e estratégica. A partir da luta contra um capitalista individual ou corporação, para a luta contra todo o capital, contra o sistema de conjunto e assim, avançar na consciência do proletariado pela expropriação dos expropriadores, por uma nova ordem social e econômica. A consciência comunista não se edifica apenas depois da passagem pela luta sindical, mas não existe organização comunista com trabalho proletário de massas, com renuncia ao trabalho imediato e econômico.
Logo, logo, mesmo os setores mais conservadores, mas a retaguarda do proletariado da Amazon vai perceber que foram tapeados com mentiras e técnicas de persuasão. As ilusões passarão, o medo passará, só restará a sobrecarga de trabalho, a escravidão e miséria. A luta contra a Amazon é uma escola de luta de classes contemporânea.
A empresa pareceu politicamente mais forte que a vontade manifesta do presidente dos EUA e seu partido. Como se tratava dos interesses dos trabalhadores, o apoio dos Democratas e de Biden não passou de proselitismo. Biden foi tão veemente na defesa da sindicalização dos trabalhadores da Amazon quando desinteressado na vitória dos mesmos. Poderia ter usado qualquer artifício estatal para pressionar Bezos, mas não o fez. “Não seria ético”, na lógica deles.
Bezos agiu como se as palavras do presidente fossem letra morta, e a Casa Branca também, para angústia dos “socialistas” e sindicalistas democratas e o grande acordo seguinte demonstraram o quão eram palavras ao vento a declaração de Biden. No dia, 13 de abril à Blue Origin, empresa aeroespacial fundada por Jeff Bezos, realizou um lucrativo negócio com o Estado dos EUA. Bezos assinou um contrato de 2,5 milhões de dólares com o Pentágono para projetar uma espaçonave movida a energia nuclear. O comandante em chefe do Pentágono é Biden. O resultado dessa disputa também aponta quem manda na relação entre o Estado imperialista e as corporações monopolistas globais, cada vez mais poderosas.
Amazon e EUA, Alibaba e China
Nesse sentido, é um bom parâmetro de comparação a relação contraditória entre o Estado chinês e o conglomerado Alibaba, cujos negócios, assim como os da Amazon, se baseiam no comercio eletrônico. A Alibaba é responsável por 60% do volume de entregas na China.
O estado capitalista chinês bem sabe que precisa manter o controle do mercado e das corporações para não perder o controle da economia se seus planos são seguir sua rota de superação dos EUA. Contra o multimilionário chinês Jack Ma, dono do Alibaba, o governo chinês impôs pesadas multas e bloqueou a abertura de capitais do Ant Group nas Bolsas de Xangai e Hong Kong. Com mais de 1,2 bilhão de usuários, o Ant Group é, na prática, a maior fintech do mundo.
Segundo o governo e a imprensa chinesa, Ma foi freado por realizar acordos de aquisição contrários as leis antitruste e ter anunciado que iria realizar o maior IPO (a oferta pública inicial de ações) da história das Bolsas de Valores. “Se deixarem a empresa sem controle, o seu próprio controle pode ser corroído. ‘Prevenir a expansão desordenada do capital’.
A tecnoburocracia chinesa, que reivindica como referência sua formação no materialismo dialético (sob os vícios maoístas), sabe que controlar o crescimento de um multimilionário individual é fundamental para seguir com o avanço planificado do capitalismo chinês. Por isso, enquanto os EUA amargam a perda imparável se não por uma guerra mundial de sua hegemonia no globo, o capitalismo chinês segue, por enquanto, pujante. A economia da China cresceu 18,3 % no primeiro trimestre de 2021, em comparação com o mesmo período de 2020. Foi o maior aumento no produto interno bruto (PIB) desde que os dados trimestrais começaram a ser coletados no início da década de 1990. 2021 superou até o recorde anterior aumento de 15,3% no primeiro trimestre de 1993.
Vitoriosa hoje, a Amazon prepara as condições de sua derrota estratégica amanhã
O proprietário da Amazon é o mais rico capitalista individual do planeta. A Amazon é o maior varejista on line. A Amazon com todas as suas armas nos oferece as condições mais sofisticadas do capitalismo contemporâneo para aprendermos a lutar contra ele. Até agora, o parasita Bezos e seu séquito tem se saído melhor nas batalhas. Mas o nosso lado aprende, se fortalece em número, antes da primeira onda da pandemia, em março de 2020, a Amazon anunciou que iria contratar mais 100 mil trabalhadores para seus galpões do Canadá e EUA. E igualmente importante é que a experiência das batalhas seleciona melhor os comandantes da luta do nosso lado, fazendo os burocratas democratas serem superados por novas lideranças combativas. Também aprendemos como vencer seus agentes secretos, suas armadilhas tecnológicas, sua espionagem cibernética. A Amazon venceu a batalha do Alabama, mas a empresa de tipo correios privados, hoje dominada pela ditadura do capital perderá um dia a guerra de classes.
A dinâmica das corporações globais como a Amazon impõe a necessidade da organização da luta internacional dos trabalhadores, o que transcende a atividade corporativa dos sindicatos locais. O próprio caráter global dessas corporações capitalistas gera as premissas materiais para que essa organização da luta internacional seja possível.
Referindo-se as empresas de correios de sua época, Lenin indicara na sua obra "Estado e Revolução":
"Mais ou menos em 1870, um espirituoso social democrata considerava o correio como um modelo de instituição socialista. Nada mais justo. Atualmente, o correio é uma administração organizada, segundo o tipo de monopólio do Estado capitalista.”
Todavia, as empresas tipo correio conhecidas pelos socialistas do início do século eram monopólios estatais e nacionais. A Amazon é um monopólio privado e multinacional, ou seja, submetida a uma administração global organizada, que funde comércio eletrônico e produção. Lenin continua:
O imperialismo transforma, pouco a pouco, todos trustes em organizações do mesmo tipo. Os simples trabalhadores, famintos e sobrecarregados de trabalho, continuam submetidos a burocracia burguesa, mas o mecanismo da empresa social está pronto. Uma vez derrubados os capitalistas, uma vez quebrada pela mão de ferro dos operários armados, a resistência dos seus exploradores, uma vez demolida a máquina burocrática do Estado atual, estaremos diante o mecanismo admiravelmente aperfeiçoado livre do "parasitas" e que os próprios trabalhadores Unidos podem muito bem pôr em funcionamento contratando técnicos, contramestres e contadores e pagando-lhes, a todos, pelo seu trabalho como a todos os funcionários "públicos" em geral, um salário de operário. Eis a tarefa concreta, prática e imediatamente realizável em relação a todos os trustes, destinada a libertar da exploração os trabalhadores; essa tarefa já foi iniciada praticamente, no domínio governamental, pela Comuna de Paris.
Devemos levar em conta essa experiência. Toda a vida econômica organizada a maneira do correio, na qual os técnicos, os fiscais e contadores todos os funcionários receberão um vencimento que não exceda o salário de um operário sobre a direção de um controle do proletariado armado - eis o nosso objetivo imediato. Eis o Estado, eis a base econômica de que necessitamos. Eis o que aniquilará o parlamentarismo, mantendo, no entanto, as instituições representativas; eis o que fará dessas instituições, atualmente prostituídas à burguesia, instituições a serviço das classes trabalhadoras."
A Amazon é uma empresa multinacional dos EUA que concentra seus negócios em um serviço de correios baseado no comercio eletrônico global e, secundariamente, em computação em nuvem, streaming e inteligência artificial. É considerada uma das cinco grandes empresas globais de tecnologia que controlam quase tudo que é digital, o comércio, as buscas na internet, informações sobre todos os usuários e mais ainda seus funcionários.
A Amazon compõe o acrônimo "FAGA", juntamente com Google, Apple, Microsoft e Facebook. Esses trustes são responsáveis pelo imperialismo tecnológico, baseado na exploração do trabalho, obviamente, controle de informações, fake news, guerras comerciais, pratica de dumping, evasão de divisas para paraísos fiscais e obsolescência programada.
A maior empresa privada capitalista contemporânea
Durante a pandemia, o dono da Amazon, Jeff Bezos, aumentou em quase 30% a sua fortuna, adicionando US$ 34 bilhões desde janeiro de 2020. Bezos começou o ano de 2020 dono de “modestos” US$ 115 bilhões. Mas, com a pandemia e o aumento das vendas durante o isolamento social, o faturamento e as ações da empresa dispararam.
O slogan da empresa é “trabalhe duro, tenha diversão, faça história”. De fato, os 1,3 milhões de assalariados da Amazon ficaram com a parte do trabalho duro, muito duro, enquanto Bezos se diverte e faz história podendo se tornar o primeiro trilionário do planeta, conseguindo uma ascensão social vertiginosa com uma empresa fundada em 1994. Seu patrimônio líquido cresceu 34 por cento em média nos últimos cinco anos. Em 2012, a Amazon comprou a Kiva Systems para automatizar seu negócio de gestão de estoques. Em 2017, a Amazon comprou o Whole Foods Market, uma multinacional de supermercados de produtos naturais. A aquisição custou US$13,4 bilhões, expandindo o varejo físico da Amazon. O Amazon Prime é um serviço de entrega em 48h que já em 2018 ultrapassou os 100 milhões de assinantes em todo o mundo. Além da Whole, o truste da Amazon agrupa a Alexa, CreateSpace, Kindle, Audible, Audible.com, DPReview, Box Office Mojo, Goodreads, Twitch.tv e AbeBooks, entre muitos outras empresas e tecnologias. Em 2019, a Amazon se tornou a empresa mais valiosa do mundo, ultrapassando a Microsoft.
Intensa exploração do trabalho e antissindicalismo
O crescimento meteórico da maior rede de comercio eletrônico varejista a Amazon se apoia em um regime de trabalho de fato muito duro. Para isso, desmontou todas as tentativas de formação de sindicatos nos EUA ou de sindicalização de seus trabalhadores em sindicatos já existentes, com perseguição e demissões, terror e chantagem, reuniões e cursos de formação antissindicais. Todavia, não a Amazon não tem conseguido evitar greves, inclusive greves selvagens tanto nos EUA como na União Europeia. Nas plantas da Alemanha e Itália os trabalhadores têm realizado poderosas greves e arrancado conquistas.
A empresa estabelece jornadas de até 36 horas seguidas, turnos de 10h-12h, durante os quais, os selecionadores ficam praticamente todo o tempo trabalhando em pé; intervalos de 30 minutos entre os turnos, restrição e monitoramento do uso do banheiro, beber água e troca de luvas de trabalho e pagamento de U$ 15,30 por hora. Muitos trabalhadores vêm morrendo porque têm sido obrigados a trabalhar sob esses ritmos massacrantes e condições insalubres nas instalações da Amazon durante a Pandemia.
No início de 2020, a Amazon demitiu o gerente do galpão JFK8, Christian Smalls, porque ele estava organizando os trabalhadores para não contraírem coronavírus no galpão após sete casos confirmados, ele reivindicava fechar o galpão por 2 semanas e estabelecer licença médica remunerada durante esse período. Após a demissão, imediatamente os executivos da empresa deram início a um plano secreto para transformá-lo em vilão, acuando-o justamente do contrário do que ele reivindicava, de colocar seus colegas de trabalho em perigo ao retornar para o prédio e possivelmente expô-los à Covid-19.
A derrota sindical na batalha de Bessemer
Uma das primeiras lutas pelo direito a sindicalização na Amazon ocorreu em Minnesota, em 2010. Todavia, essa luta não conseguiu impulsionar uma votação interna pela sindicalização. Em 2014, foi a vez dos trabalhadores dos galpões de Dalawere. Essa luta foi mais forte, conseguiu impor uma votação pela sindicalização mas foi derrotada. Em novembro de 2020, os trabalhadores do Centro de Distribuição de Bessemer, de um pobre subúrbio ao norte de Birmingham, no Alabama, onde trabalham cerca de 6.000 pessoas, entraram com um processo no National Labor Relations Board (NLRB) para realizar uma votação de sindicalização.
Em um dos Estados dos EUA com maior tradição antissindical, o Alabama, controlado pelos republicanos foi onde se desenvolveu uma das maiores batalhas recentes pela sindicalização dos trabalhadores da Amazon. A batalha ocorreu por meio de uma votação entre os trabalhadores que decidirão pela filiação ou não ao Retail, Wholesale and Department Store Union, RWDSU, Sindicato do Varejo, Atacado e Loja de Departamento, que representa 100.000 membros em todos os Estados Unidos.
"O Alabama é um dos 27 “estados com direito ao trabalho” onde os trabalhadores não precisam pagar taxas aos sindicatos que os representam porque a legislação patronal “liberou” os trabalhadores do imposto sindical. Na verdade, o estado abriga a única fábrica da Mercedes-Benz no mundo que não é sindicalizada." (Amazon enfrenta maior impulso sindical de sua história).
Em 2019, Bessemer com uma taxa de pobreza de 30% da população foi indicada como "A pior cidade para se viver” do Estado do Alabama.
O Alabama foi um dos maiores estados escravistas do sul confederado. Hoje, os negros compõem 25% da população, enquanto a média nacional é de 13%. Mais de 70% da população da cidade é negra. No galpão de Bessemer 85% dos trabalhadores são negros, muito mais do que os 22% para os trabalhadores de outros centros de distribuição do país. Então, após o ano de 2020, marcado pela maior onda de protestos contra o racismo da história dos EUA, a luta sindical se uniu com a luta por dignidade e respeito dos trabalhadores negros em oposição ao racismo contido na exploração capitalista.
No entanto, na votação dentro da fábrica, a luta pela sindicalização à RWDSU foi derrotada por uma proporção de 2 votos para 1. Apenas 738 dos 5.800 trabalhadores da fábrica votaram a favor do sindicato num total de 3.215 eleitores, 1.798 votaram contra , sem contar os votos nulos e disputados. O fato de menos de 13% dos trabalhadores terem votado pela sindicalização na RWDSU é uma derrota que precisa ser explicada.
As causas da derrota apontam as condições necessárias para a vitória
Como quase tudo na vida, várias determinações contraditórias se combinaram para um fenômeno. Uma das causas da derrota foi o fato da Amazon ter jogado pesado em sua campanha, recorrendo a formas distintas de persuasão, desde a intimidação até a realização de simpáticas reuniões antissindicais de doutrinação, apostando em modos distintos para públicos distintos, envolvendo, portanto, a coerção, ameaças de demissões, vigilância e também ao apelo ao individualismo, a desconfiança dos trabalhadores com o sindicato que só estaria interessado em descontos nos contracheques.
A empresa também distribuiu bottons anti-sindicais “Vote No” e “pediu” aos seus funcionários que os exibam nos cordões de seus crachás funcionais: “Quase todo mundo os usa”, afirmou Daniel Tarvese, trabalhador da Amazônia de 36 anos. Muitos trabalhadores jovens também foram seduzidos pela demagogia da empresa nas reuniões antissindicais conduzidas integralmente por gentis instrutores negros,
“Eles foram legais, eles estavam apenas nos contando o que o sindicato fazia – disse Jeremiah Okai, de 19 anos. Foi a apresentação sobre as contribuições sindicais que ajudou a persuadi-lo a votar contra o sindicato Amazon no Alabama – O sindicato] vai tirar dinheiro de mim – disse Okai – Eu não quero que nenhum dinheiro seja tirado de mim.”
Como parte do arsenal dessa guerra híbrida corporativa, a Amazon também apelou para o chamado Efeito Hawthorne, desenvolvido em uma fábrica de lâmpadas na Austrália há um século. Trata-se de incutir nos trabalhadores a crença de que eles eram valorizados, cuidados e que alguém se preocupava com seu local de trabalho, mesmo quando estão sendo submetidos ao risco de morrer por Covid (!). Além disso, nos seminários antissindicais foi feito um teatro de que os trabalhadores estavam tendo a oportunidade de discutirem as mudanças para o aumento da produtividade na empresa, enquanto colaboravam com a negação de seu elementares direitos trabalhistas e sindicais.
Uma das urnas principais foi instalada na frente da empresa e os gerentes insistiam para que os trabalhadores preenchessem as cédulas de votação e depositassem na urna na sua frente, como voto aberto.
Mas isso já era esperado por parte dos patrões e não passa do mais puro fatalismo justificar a derrota apenas porque o outro lado foi mais forte e usou todas suas armas legais e ilegais para ganhar, como tentam justificar o sindicato. Além disso, também não é novidade que foi na espionagem corporativa contra a organização política e sindical dos trabalhadores, em agências de detetives Pinkerton, que nasceram, no início do século XX, as poderosas agências internacionais de espionagem dos EUA.
“Jeff Bezos não seria o homem mais rico do mundo se não fosse versado nos fundamentos da maximização do lucro – entre eles, a supressão dos custos do trabalho e a fuga das regulações. A sindicalização é antitética a esse objetivo porque os sindicatos existem para garantir melhores salários e condições de trabalho mais seguras e confortáveis, o que eleva os custos do trabalho e diminui os lucros. Se Bezos conseguir o que quer, nunca haverá um galpão sequer com trabalhadores sindicalizados na Amazon.” (Empresas como Amazon contratam espiões para reprimir formação de sindicatos o tempo todo ).
O problema é que se por um lado estava a maior valiosa das empresas exploradoras de trabalhadores do mundo, do outro lado, foi realizada uma campanha burguesa e burocrática por parte da direção do movimento pela sindicalização. Esse outro lado limitou-se a realizar uma luta identitária contra o racismo mas não estabeleceu uma só reivindicação concreta dos trabalhadores contra a Amazon, o que é uma função essencial do sindicato, “esquecida” pelo RWDSU e pela arqui-burocrática central sindical AFL-CIO. Também não tentaram construir um movimento nacional e trabalhar com outros sindicatos para tentar atingir várias instalações da Amazon em todo o país ao mesmo tempo.
A campanha pela sindicalização foi apoiado pelo partido Democrata, inclusive com o apoio explícito do senador “socialista” Bernie Sanders, do presidente dos EUA, Joe Biden e até de senadores republicanos como Marco Rubio. Mas a classe trabalhadora dos EUA está por demais enojada com a política dos democratas e de todos os seus representantes políticos tradicionais, incluindo os sindicatos. Não por acaso, Trump foi eleito em 2016 e foi mais votado no Alabama em 2020 por que uma parte do eleitorado da classe trabalhadora, historicamente eleitora dos democratas que protestaram de modo reacionário, seduzidos pelo falso apelo “apolítico” de Trump e rejeitando os políticos tradicionais do establishment, incluindo a AFL-CIO que integra o regime e apoiou o giro pela financeirização da economia, as relocalizações industriais, os fechamentos de fábricas, as reduções salariais que fizeram com que 1/3 dos empregos industriais fossem destruídos nos EUA nos últimos 50 anos.
Uma das reações progressivas a essa rejeição ao establishment foi a onda “socialista” inédita nos EUA, encabeçada por Bernie Sanders, em 2018-19, que também foi logo traída e enterrada pelo próprio Bernie Sanders.
Então, não é de se admirar que, sob a base da própria alienação do trabalho, do individualismo estimulado na sociedade burguesa, e sobretudo na decadente sociedade estadunidense, tenha dado certo as campanhas da Amazon contra a sindicalização. Mesmo assim, desse filtro da desmoralização e doutrinação patronal, ainda escaparam 1/3 dos trabalhadores dispostos a encarar as consequências da espionagem corporativa e do próprio risco de demissão. E esse 1/3 se deve muito a organização dos trabalhadores em local de trabalho:
“Sem um comitê organizador forte já envolvendo o chefe na ação do chão de fábrica, os trabalhadores não tinham a capacidade de ver o lado positivo potencial do sindicato, porque eles nunca viram o sindicato em ação no chão de fábrica antes de serem chamados a votar para se juntar a ele. ... o comitê organizador já atua como um sindicato, vencendo campanhas no local de trabalho para mudar as coisas e defendendo colegas de trabalho que enfrentam uma disciplina injusta.... Em instalações enormes com milhares de trabalhadores como a Amazon, o processo de construção de um comitê organizador forte e de confiança no comitê organizador por meio de ações combinadas às vezes pode levar anos. A RWDSU havia começado sua campanha em junho passado, quando a indignação com as condições de trabalho inseguras durante o COVID era grande. Embora tenham demonstrado grande impulso e interesse inicial, eles nunca desenvolveram um comitê organizador forte que se preocupasse em construir confiança por meio de ações no chão de fábrica e de organização contra o chefe. Em vez disso, eles precipitaram uma eleição sindical ou fizeram o que é conhecido na organização sindical como "compras quentes", onde os organizadores sindicais esperam tirar vantagem de uma explosão de raiva em uma instalação por coisas como condições de trabalho ruins do COVID para forçar e vencer e uma eleição sindical rápida. No entanto, o apoio inicial do entusiasmo sindical desmoronou sob o peso de uma campanha antissindical sofisticada da Amazon, que combinava ameaças de perda de emprego com promessas de melhoria se os trabalhadores rejeitassem o sindicato. Muitos trabalhadores em entrevistas que votaram contra o sindicato admitiram que sabiam pouco sobre sindicatos. Isso permitiu que a empresa, por meio de reuniões antissindicais, criasse medo sobre a mudança que os sindicatos poderiam trazer, alertando os trabalhadores que seus salários podem realmente diminuir devido a um contrato ou, pior, que suas instalações podem fechar.” (Flawed Approach Sunk Amazon Union Drive, But Birthed National Movement).
Apesar da derrota no Alabama, a luta segue e se internacionaliza por fora e por dentro da Amazon
Uma vitória em Bessemer impulsionaria um efeito dominó em todas as plantas da Amazon nos EUA, com os trabalhadores sentindo-se estimulados a dar um basta nessas condições degradantes de trabalho e de baixos salários. Após a derrota do sindicato, muitos trabalhadores provavelmente enfrentarão retaliações. Mas essa derrota também estimula a construção do trabalho sindical e político de organização da classe de modo paciente por local de trabalho ad hoc. Enquanto se contavam os resultados da batalha de Bessemer, mesmo não sindicalizados, os trabalhadores da Amazon de Chicago deram início a uma nova frente de batalha, com uma greve selvagem, reivindicando aumento salarial de US $ 2 por hora, divisão dos custos de transportes de ida e vinda para o trabalho e modificações no turno de 10,5 horas. Eles se organizam sob o nome de Amazonians United Chicagoland:
Sindicalizar não é um momento, é um processo. Sindicalizar é um processo em movimento quando os trabalhadores se encontram para formular pedidos de reivindicações e um plano para assinar a maioria dos colegas de trabalho. A sindicalização está acontecendo quando colegas de trabalho não envolvido se juntam a ações coletivas contra a gestão e quando um novo membro da comissão organizadora distribui boletins Amazonians United durante a pausa. Estamos a sindicalizar à medida que desenvolvemos um sentimento de família entre nós, enquanto nos reunimos para churrascos e coicebacks, enquanto nos ajudamos uns aos outros durante os momentos de necessidade. Aquela eletricidade no ar depois de enrolarmos um gerente, deixando-o nervoso ao entregar a nossa petição e expressar as nossas exigências em grupo, derrubá-lo e a nós para cima. ... Esse sentimento é o nosso sindicato, um sindicato dos trabalhadores, a chegar ao ser.
Estamos a construir um sindicato real, não um sindicato de negócios inútil, que é simplesmente uma organização extratora de funcionários de advogados para os trabalhadores ligarem. Não estamos interessados em entregar o nosso poder coletivo a um burocrata que aparece a cada três anos para ′′ negociar ′′ um contrato de concessão através de acordos de backroom com os nossos chefes. Não precisamos do reconhecimento do NLRB ou da Amazônia para formar nossa união, crescer nossa união, ou lutar como união. Nosso sindicato somos nós trabalhadores, organizados, atuando coletivamente, construindo unidade, crescendo em solidariedade, lutando como um.
Então, o que é preciso para sindicalizar a Amazônia? Vai ser preciso perseverança, humildade e luta. Vai levar muitos trabalhadores com um profundo empenho em organizar a propagação por todas as instalações da Amazônia, formando OCs que enfrentam questões que repercutem com colegas de trabalho. Cada vez que ganhamos uma mudança através da organização, os colegas de trabalho veem o poder de agir coletivamente. É assim que começamos as transformações em todo o local de trabalho desde a mentalidade individualista padrão para uma mentalidade coletiva. É assim que criamos uma cultura de militância onde todos colocamos nossos gestores incompetentes no lugar deles em vez de curvar nossas cabeças ao desrespeito deles. Cada comissão organizadora, comprometida com os princípios dos Amazonenses Unidos, é a fundação da nossa união, e crescemos a partir daí, desenvolvendo coletivamente nossa estratégia e visão à medida que vamos. ” https://www.facebook.com/AUChicagoland
Não bastasse o trilionário patrão escravocrata, o racismo capitalista, a Casa Branca imperialista passando -se de aliada, a burocracia sindical democrata, não bastasse todos esses obstáculos contra sua emancipação, alguns "trotskistas" que aparecem para ajudar, atrapalham ainda mais. A organização ISCFI, dona do site WSWS, faz campanha contra a sindicalização lançando panfletos que dizem não se organizem nos sindicatos, organizem-se com o WSWS (!?). Bezos agradece e mais ainda agradecem os Democratas imperialistas porque com essa política sectária os trabalhadores mais conscientes, repudiarão a esterilidade "trotskista" e continuarão sendo enganados por Sanders e Biden.
Mesmo empiricamente, os trabalhadores mais combativos e consciente da Amazon sabem que precisam se organizar para a luta contra os patrões e se os patrões perseguem a atividade sindical, mesmo que a maioria dos sindicatos seja burocratizada, é necessário impulsionar a organização sindical da classe. E nesse sentido seguem a luta os trabalhadores da Amazon de Chicago, ou da Alemanha e da Itália.
Uma empresa de tipo Correios capitalista, como modelo de instituição socialista
Como acreditava Lenin, o sindicato é uma escola da luta de classes, a primeira frente única dos trabalhadores contra seus patrões. A partir dessa escola da luta econômica e imediata é possível avançar para a luta política e estratégica. A partir da luta contra um capitalista individual ou corporação, para a luta contra todo o capital, contra o sistema de conjunto e assim, avançar na consciência do proletariado pela expropriação dos expropriadores, por uma nova ordem social e econômica. A consciência comunista não se edifica apenas depois da passagem pela luta sindical, mas não existe organização comunista com trabalho proletário de massas, com renuncia ao trabalho imediato e econômico.
Logo, logo, mesmo os setores mais conservadores, mas a retaguarda do proletariado da Amazon vai perceber que foram tapeados com mentiras e técnicas de persuasão. As ilusões passarão, o medo passará, só restará a sobrecarga de trabalho, a escravidão e miséria. A luta contra a Amazon é uma escola de luta de classes contemporânea.
A empresa pareceu politicamente mais forte que a vontade manifesta do presidente dos EUA e seu partido. Como se tratava dos interesses dos trabalhadores, o apoio dos Democratas e de Biden não passou de proselitismo. Biden foi tão veemente na defesa da sindicalização dos trabalhadores da Amazon quando desinteressado na vitória dos mesmos. Poderia ter usado qualquer artifício estatal para pressionar Bezos, mas não o fez. “Não seria ético”, na lógica deles.
Bezos agiu como se as palavras do presidente fossem letra morta, e a Casa Branca também, para angústia dos “socialistas” e sindicalistas democratas e o grande acordo seguinte demonstraram o quão eram palavras ao vento a declaração de Biden. No dia, 13 de abril à Blue Origin, empresa aeroespacial fundada por Jeff Bezos, realizou um lucrativo negócio com o Estado dos EUA. Bezos assinou um contrato de 2,5 milhões de dólares com o Pentágono para projetar uma espaçonave movida a energia nuclear. O comandante em chefe do Pentágono é Biden. O resultado dessa disputa também aponta quem manda na relação entre o Estado imperialista e as corporações monopolistas globais, cada vez mais poderosas.
Amazon e EUA, Alibaba e China
Nesse sentido, é um bom parâmetro de comparação a relação contraditória entre o Estado chinês e o conglomerado Alibaba, cujos negócios, assim como os da Amazon, se baseiam no comercio eletrônico. A Alibaba é responsável por 60% do volume de entregas na China.
O estado capitalista chinês bem sabe que precisa manter o controle do mercado e das corporações para não perder o controle da economia se seus planos são seguir sua rota de superação dos EUA. Contra o multimilionário chinês Jack Ma, dono do Alibaba, o governo chinês impôs pesadas multas e bloqueou a abertura de capitais do Ant Group nas Bolsas de Xangai e Hong Kong. Com mais de 1,2 bilhão de usuários, o Ant Group é, na prática, a maior fintech do mundo.
Segundo o governo e a imprensa chinesa, Ma foi freado por realizar acordos de aquisição contrários as leis antitruste e ter anunciado que iria realizar o maior IPO (a oferta pública inicial de ações) da história das Bolsas de Valores. “Se deixarem a empresa sem controle, o seu próprio controle pode ser corroído. ‘Prevenir a expansão desordenada do capital’.
A tecnoburocracia chinesa, que reivindica como referência sua formação no materialismo dialético (sob os vícios maoístas), sabe que controlar o crescimento de um multimilionário individual é fundamental para seguir com o avanço planificado do capitalismo chinês. Por isso, enquanto os EUA amargam a perda imparável se não por uma guerra mundial de sua hegemonia no globo, o capitalismo chinês segue, por enquanto, pujante. A economia da China cresceu 18,3 % no primeiro trimestre de 2021, em comparação com o mesmo período de 2020. Foi o maior aumento no produto interno bruto (PIB) desde que os dados trimestrais começaram a ser coletados no início da década de 1990. 2021 superou até o recorde anterior aumento de 15,3% no primeiro trimestre de 1993.
Vitoriosa hoje, a Amazon prepara as condições de sua derrota estratégica amanhã
O proprietário da Amazon é o mais rico capitalista individual do planeta. A Amazon é o maior varejista on line. A Amazon com todas as suas armas nos oferece as condições mais sofisticadas do capitalismo contemporâneo para aprendermos a lutar contra ele. Até agora, o parasita Bezos e seu séquito tem se saído melhor nas batalhas. Mas o nosso lado aprende, se fortalece em número, antes da primeira onda da pandemia, em março de 2020, a Amazon anunciou que iria contratar mais 100 mil trabalhadores para seus galpões do Canadá e EUA. E igualmente importante é que a experiência das batalhas seleciona melhor os comandantes da luta do nosso lado, fazendo os burocratas democratas serem superados por novas lideranças combativas. Também aprendemos como vencer seus agentes secretos, suas armadilhas tecnológicas, sua espionagem cibernética. A Amazon venceu a batalha do Alabama, mas a empresa de tipo correios privados, hoje dominada pela ditadura do capital perderá um dia a guerra de classes.
A dinâmica das corporações globais como a Amazon impõe a necessidade da organização da luta internacional dos trabalhadores, o que transcende a atividade corporativa dos sindicatos locais. O próprio caráter global dessas corporações capitalistas gera as premissas materiais para que essa organização da luta internacional seja possível.
Referindo-se as empresas de correios de sua época, Lenin indicara na sua obra "Estado e Revolução":
"Mais ou menos em 1870, um espirituoso social democrata considerava o correio como um modelo de instituição socialista. Nada mais justo. Atualmente, o correio é uma administração organizada, segundo o tipo de monopólio do Estado capitalista.”
Todavia, as empresas tipo correio conhecidas pelos socialistas do início do século eram monopólios estatais e nacionais. A Amazon é um monopólio privado e multinacional, ou seja, submetida a uma administração global organizada, que funde comércio eletrônico e produção. Lenin continua:
O imperialismo transforma, pouco a pouco, todos trustes em organizações do mesmo tipo. Os simples trabalhadores, famintos e sobrecarregados de trabalho, continuam submetidos a burocracia burguesa, mas o mecanismo da empresa social está pronto. Uma vez derrubados os capitalistas, uma vez quebrada pela mão de ferro dos operários armados, a resistência dos seus exploradores, uma vez demolida a máquina burocrática do Estado atual, estaremos diante o mecanismo admiravelmente aperfeiçoado livre do "parasitas" e que os próprios trabalhadores Unidos podem muito bem pôr em funcionamento contratando técnicos, contramestres e contadores e pagando-lhes, a todos, pelo seu trabalho como a todos os funcionários "públicos" em geral, um salário de operário. Eis a tarefa concreta, prática e imediatamente realizável em relação a todos os trustes, destinada a libertar da exploração os trabalhadores; essa tarefa já foi iniciada praticamente, no domínio governamental, pela Comuna de Paris.
Devemos levar em conta essa experiência. Toda a vida econômica organizada a maneira do correio, na qual os técnicos, os fiscais e contadores todos os funcionários receberão um vencimento que não exceda o salário de um operário sobre a direção de um controle do proletariado armado - eis o nosso objetivo imediato. Eis o Estado, eis a base econômica de que necessitamos. Eis o que aniquilará o parlamentarismo, mantendo, no entanto, as instituições representativas; eis o que fará dessas instituições, atualmente prostituídas à burguesia, instituições a serviço das classes trabalhadoras."