George Floyd foi outro trabalhador assassinado pelo Estado
Policial Imperialista, o inimigo mortal dos negros, trabalhadores e oprimidos
do mundo
O assassinato flagrantemente racista de George Floyd no dia 25 de maio, em Minneapolis, desencadeou uma enorme onda de lutas nos Estados Unidos. Uma onda de lutas pelo menos tão grandes quanto as da década de 1960. Aquelas lutas culminaram com o movimento dos Direitos Civis e que anularam em 1965 as leis segregacionistas Jim Crow [que impunham a separação racial nos locais públicos dos EUA]. A segregação foi uma herança da escravidão que havia sido derrotada na Guerra Civil americana. A luta atual é contra os resultados de décadas de reação racista que começou no final da década de 1970, com a ascensão de Reagan, o neoliberalismo e o prolongado giro à direita da sociedade americana. Essa reação continuou sob o governo Clinton, com a expansão da pena de morte e o encarceramento em massa de negros. A reação de direita foi aprofundada ainda mais com a militarização da polícia por George W. Bush e sua "Guerra ao Terror", e não modificada em sua essência pelo governo do primeiro presidente democrata negro, Obama. Com Trump, a reação racista retomou com força e ficou escancarada a partir de 2016.
O assassinato de Floyd foi registrado em detalhes, com seus
requintes de crueldade em um vídeo. O policial branco, Derek Chauvin, se ajoelhou
sobre sua nuca por nove minutos inteiros até mata-lo asfixiado. Ele anunciou
que estava morrendo, ofegando "Eu não consigo respirar" enquanto sua
vida estava sendo arrancada dele. Dois outros policiais participaram do
assassinato. Sentaram-se sobre as pernas de Floyd enquanto ele era sufocado. Um
quarto policial vigiava e ameaçava as testemunhas que protestavam contra o
crime flagrante executado pela polícia. Esses bandidos sabiam que estavam
matando Floyd. Houve numerosos assassinatos semelhantes por policiais. Crimes
infames, como o de Eric Garner, em julho de 2014, em Nova York, que também foi
estrangulado e também clamou por sua vida dizendo a mesma frase: "Não
consigo respirar", antes de morrer.
Isso é comum nos Estados Unidos racistas da América. A
técnica de 'estrangulamento' data do final da década de 1970. Justamente,
quando ganhou impulso a nova ofensiva racista contra os negros estadunidenses, após
as lutas da década anterior por Direitos Civis. A militarização maciça das polícias
dos EUA, dando a elas veículos blindados e similares, semelhantes aos usados pelas
tropas militares dos EUA, significou que a burguesia americana vê as massas da
classe trabalhadora negra dos EUA como inimigos a serem combatidos com métodos
semelhantes aos que utiliza nas guerras contra os povos oprimidos do Oriente
Médio, América Latina, etc. A ascensão de Trump, apoiada por trabalhadores
brancos atrasados, cujas próprias derrotas e empobrecimento pelo neoliberalismo
até agora foram desviados, com sucesso, para a criação de ressentimentos contra
minorias, chegou ao limite e já não surte o mesmo efeito divisionista da classe
trabalhadora dos EUA.
Trump descaradamente removeu os paliativos criados no
período Obama, como as investigações de "policiamento comunitário",
que deram uma aparência de tentativa de mitigar o racismo policial. Ao remover
esse disfarce, Trump finalmente arrancou a cobertura doce pelo qual os governos
anteriores disfarçaram seu desprezo pelas massas negras e provocou o que parece
ser uma resposta antirracista ainda maior do que na década de 1960. A dimensão
e o poder desse movimento é a resposta de muitos brancos da classe trabalhadora
a Trump.
No final da década de 1960, o movimento negro fazia parte da
radicalização mais ampla desencadeada pela Guerra do Vietnã. Todavia, seções
atrasadas da classe trabalhadora, por exemplo, os operários da construção civil
(chamados de ‘hard hats’: “capacetes”) eram conhecidos por sua hostilidade ao
movimento negro e seu apoio ao demagogo reacionário Nixon. Os “Capacetes” subitamente
atacavam manifestantes anti-guerra e militantes negros. Mas, o atual movimento,
desencadeado pelo assassinato de George Floyd, parece ser muito mais integrado
racialmente. Muitos jovens brancos, latinos e árabes participaram ativamente
dos protestos, que também foram aplaudidos por operários da construção civil em
Nova York.
O movimento pelos direitos civis de hoje é muito poderoso. Mas
não podemos dizer que é mais forte que os anos 1960. Embora os manifestantes
estejam firmes e a luta seja real, o movimento agora carece de verdadeiros
líderes como Malcom X, Luther King e outros. O Black Lives Matter (Vidas Negras
Importam) é forte. Mas o movimento em si é ainda um grito orgânico, que se
manifesta às vezes em 20 protestos diferentes, em diferentes partes da mesma
cidade, em Nova York, por exemplo. Basicamente, falta direção e organização. E,
por causa disso, a luta deles acaba colaborando para as campanhas políticas
demagógicas como as do Partido Democrata. A popularidade de Joe Biden está mais
alta que a de Trump agora. A grande questão é: o que os afro-americanos
realmente podem esperar do establishment, se vencerem?
42 cidades dos EUA foram submetidas ao toque de recolher por
Governadores, prefeitos e similares. Trump ameaçou usar as forças armadas dos
EUA para esmagar os protestos. A repressão usa como desculpa os saques,
completamente compreensíveis nas atuais condições. Os saques, que fazem parte
de alguns dos protestos, são alimentados pela radicalização da miséria social. Trump,
que apoia e é apoiado pelos fascistas supremacistas brancos, ameaça enviar o Exército
contra os manifestantes antifascistas, a quem chama de “terroristas internos”, se
as autoridades regionais e locais eleitas não usarem as tropas da Guarda
Nacional para 'dominar' e esmagar o movimento.
Isso reabriu o debate acerca da ditadura e do fascismo nos
EUA. Mas parece que o tiro de Trump saiu pela culatra e acabou dividindo o
exército. O ex-Secretário de Defesa de Trump, ou seja, ex-chefe do Pentágono, James
Mattis, denunciou as ameaças do presidente como “abuso de autoridade”. O atual
Secretário de Defesa, Mark Esper, se opôs a mobilizar militares para conter os
protestos antirracistas. Isso foi depois da truculenta operação de sessão de
fotos de Trump com a Bíblia na mão, na igreja de Washington. Para abrir caminho
até a igreja, o aparato presidencial reprimiu manifestantes. Essa ação deu
origem a um processo contra Trump pela União das Liberdades Civis americanas e
pelo Black Lives Matter.
A radicalização dos protestos foi alimentada pela pandemia
de Covid-19. Nos Estados Unidos e em outros países, a pandemia causou
desproporcionalmente mais mortes e doenças graves entre grupos étnicos
oprimidos, incluindo a população negra dos EUA. Os negros também suportaram o
peso da depressão econômica que a pandemia precipitou. Os negros estão sendo
demitidos em estado miserável em números também desproporcionais. Estão sendo
forçados a voltar ao trabalho em condições inseguras, como parte da tentativa
de Trump de "salvar" a economia capitalista. A brutal repressão
policial racista torna insuportável tudo isso e arrasta essa fração da
população para uma luta desesperada.
Isso produziu uma explosão social nos EUA, diferente da
explosão dos coletes amarelos na França, mas com alguns elementos comuns
importantes. Seu gatilho foi o assassinato de George Floyd, mas foi alimentado
pela pandemia e causado por décadas de ofensiva racista e neoliberal que
devastou muitas vidas. Esse aumento, e o apoio a ele pelos setores mais
explorados da classe trabalhadora, tem o potencial de unir agora toda a classe
trabalhadora, que até agora foi dividida pelo racismo. A expressão mórbida
disso foi a ascensão de Trump, a supremacia branca e a extrema direita. A
explosão atual pode acabar com tudo isso.
O surgimento desse movimento nos Estados Unidos tem um
enorme potencial revolucionário, tanto dentro dos EUA quanto em termos de seu
potencial para inspirar lutas revolucionárias em todo o mundo. Hoje, a luta dos
negros estadunidenses pela igualdade real é diretamente orientada contra
características estratégicas do próprio capitalismo americano, que é a
hegemonia do capitalismo imperialista em todo o mundo. O capitalismo dos EUA
não pode acabar com a opressão das massas negras. O capitalismo não pode
prescindir das enormes desigualdades da ordem mundial, onde a maior parte da
humanidade é escravizada e empobrecida para beneficiar as classes dominantes
imperialistas ocidentais cuja riqueza foi obtida através de séculos de
pilhagem.
O Covid-19 é um subproduto da degradação climática. Isso se
deve a incapacidade do capitalismo de planificar os recursos para a necessidade
humana de uma maneira sustentável, que trabalhe com a natureza. Hoje os
recursos são divididos a serviço do lucro. Isso levou ao ponto de ebulição.
Isso é orgânico e inerente ao capital. A única solução é derrubar o próprio
capitalismo. Para isso, precisamos de uma direção revolucionária, capaz de
conscientemente e abertamente liderar as massas nos EUA e no mundo todo para a
derrubada do capitalismo e substituí-lo pelo socialismo: o planejamento
econômico racional para suprir todas as necessidades sociais.
Essa direção deve ser criada através da intervenção dos
socialistas nessas lutas, da unidade dessas lutas, do reagrupamento
revolucionário e do recrutamento e formação de uma nova geração de marxistas.
Essa nova direção deve substituir as direções perdidas para a defesa da reação
neoliberal e para traições terminais do stalinismo. Esse partido deve estar
armado com um programa de demandas transitórias entre as necessidades imediatas
na situação atual e a luta estratégica pela revolução socialista, abordando as
queixas econômicas e as muitas questões democráticas colocadas pela opressão
racista, com o objetivo de unir todas as camadas da classe trabalhadora e
oprimidas em um grande punho sob a liderança de um partido revolucionário, tanto
no plano nacional como internacional, para tomar o poder do estado das mãos do
capital.
Hoje, uma demanda fundamental, tanto para a defesa dos
direitos democráticos elementares quanto dos direitos das pessoas negras e da
organização de classe dos trabalhadores, é o de comitês de autodefesa antirracistas
da classe trabalhadora, que devem ter uma representação substancial dos
militantes negros, para proteger as vítimas da polícia, da repressão para
policial e a brutalidade racista. Na realidade social dos EUA hoje, uma
organização revolucionária teria, sem dúvida, uma grande proporção de negros e
outros militantes de grupos oprimidos, um reflexo da dinâmica de sua luta para
superar a subjugação das frações mais oprimidas e potencialmente as mais
revolucionárias da nossa classe.
Construir uma direção revolucionária não é uma tarefa
simples. Exige a combinação do mais alto nível teórico e a capacidade de enraizar-se
nas lutas de massas como a que ocorre nos Estados Unidos. Para isso, um quadro
revolucionário deve ser desenvolvido entre os participantes e potenciais líderes
de massa que lutas como essas sempre criam. As organizações revolucionárias da
classe trabalhadora estão construindo uma direção revolucionária dentre os
envolvidos nessa luta e em muitos outros como a única maneira de alcançar para a
libertação final da humanidade dessa bárbara opressão.
Frente Comunista dos Trabalhadores - Brasil
Liga Socialista dos Trabalhadores - Estados Unidos da América
Luta Socialista - Grã-Bretanha
Facção Trotskista da Luta Socialista - Grã-Bretanha
Tendencia Militante
Bolchevique - Argentina
(todas as organizações acima são seções do Comitê de Ligação para a Quarta Internacional)
Grupo Fronteira Vermelha - Brasil
Partido Socialista -
Bangladesh
Indivíduos:
Anna Brogan, militante de esquerda
e ativista negra, Londres - Grã-Bretanha
Alex Dillard, ativista socialista, Califórnia - Estados Unidos
Curtis T, jovem e ativista socialista, Monróvia - Libéria
José de Lima Soares, Professor universitário da Universidade Federal de Catalão – BrasilFernando Gustavo Armas, militante do Socialismo Revolucionário, Argentina.
Fernando Matos Rodrigues, Antropólogo e Pesquisador do ICS, Universidade Nova do Minho, Laboratório de Habitação Básica - Portugal
Fernando Moyano, Militante Socialista – Uruguai
Frederico Costa, Professor e diretor da Sindicato dos Docentes da Universidade Estadual do Ceará - Brasil
Luciano Filgueiras - MovLuta -
Movimento Compromisso e Luta - Brasil
Mário Maestri, Historiador - Itália
Maurício de Oliveira, professor da rede pública de educação do Ceará - Brasil
Mohammad Basir Ul Haq Sinha, Presidente, Rede de Imprensa Inter, Daca - Bangladesh
Nigel Singh, militante de esquerda independente, Oxford - Grã-Bretanha