TRADUTOR

domingo, 2 de dezembro de 2018

PORQUE NOS DESFILIAMOS DA CONLUTAS

Bolsonaro e seu fiel apoiador, o vereador André Viana, eleito com o apoio da
Conlutas e do PSTU a presidente do sindicato Metabase em Itabira, MG
CARTA ABERTA A CSP CONLUTAS

Porque nos desfiliamos da CSP CONLUTAS 


Reproduzimos abaixo o documento de ruptura dos camaradas do Movluta com a Conlutas. O Movluta é um grupo de oposição no Sindicato dos Servidores Públicos Federais, Sintsef-CE, e corretamente caracteriza: "o processo de degeneração se consumou... a CONLUTAS se opõe objetivamente a ser uma ferramenta da classe para combater o golpismo burguês e passou a aplicar golpes contra sua própria base."

O Movimento Mobilização Compromisso e Luta, MOVLUTA, é um grupo sindical que se originou em 2006 fazendo oposição à diretoria do Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público Federal no Estado do Ceará. A base de nosso sindicato é composta por 19 mil trabalhadores, dos quais, 9 mil são filiados. O MOVLUTA obteve um terço dos votos na última eleição do SINTSEF/CE.

O MOVLUTA ingressou na CSP CONLUTAS para fortalecer a luta contra a política de colaboração com os inimigos dos trabalhadores e o burocratismo no movimento sindical. Dois elementos que impedem o avanço da luta de nossa classe por sua emancipação política da exploração e opressão capitalistas.

Nosso grupo participou de mobilizações de rua nacionais e regionais dos últimos anos contra as medidas dos governos Lula e Dilma que contrariavam os interesses dos trabalhadores, contra os quais realizamos duras greves de nossa categoria, os servidores públicos federais. Participamos de todas as lutas contra o governo golpista de Temer, contra a reforma da previdência e participamos da greve geral de 28 de abril de 2017. Participamos dos dois últimos Congressos da CONLUTAS, no terceiro, em 2017, com delegação e tese próprias.

Todavia, já dentro da Central, nos opomos a caracterização da direção majoritária de que não houve golpe de Estado no Brasil em 2016 e que tal golpe não havia aberto uma situação desfavorável à luta dos trabalhadores. Por isso, nos alinhamos com o Bloco “Somos todos CONLUTAS” e com o ANDES no 3º Congresso da Central. Para nós, essa situação desfavorável colocava a necessidade de uma ampla unidade, uma frente única da classe nas ruas, em todas as mobilizações contra todos os ataques do governo golpista.

Desde então, percebemos que a política hegemônica na direção da CONLUTAS vinha anulando a Central como instrumento de luta da classe trabalhadora. Se não vejamos:

1. A CONLUTAS não convocou qualquer mobilização no dia da aprovação da reforma trabalhista, em 2017, e, em 2018, não participou dos atos de 1º de maio, dia internacional de luta da classe trabalhadora ou do “Dia do Basta” junto com todas as outras centrais. 
2. Fazendo-se em alguns momentos instrumento da direita contra os trabalhadores. 
3. A Central apoiou e elegeu representantes de Bolsonaro no movimento sindical, como o vereador André Viana, eleito presidente do Sindicato Metalbase de Itabira/MG com o apoio do PSTU e da CONLUTAS. 
4. Diretoria da CONLUTAS/CE não se reunia há quase um ano. 
5. Não participando das grandes atividades gerais do movimento de massas, desmobilizadora e contrária a frente única dos trabalhadores contra o governo golpista de Temer, a direção majoritária estadual vinha colhendo derrotas consecutivas desde a eleição de delegados ao 3º Congresso Nacional.

A política do PSTU tornou-se extremamente minoritária na diretoria do Sindicato dos trabalhadores em Transporte Rodoviários (SINTRO) e por fim, perdeu a eleição em um dos sindicatos mais importante da CONLUTAS no país, o dos trabalhadores da construção civil de Fortaleza, para uma chapa ligada ao Bloco de oposição e apoiada pelo MOVLUTA.

Mas, a direção majoritária estadual e nacional resolveu recorrer a vários artifícios estranhos à democracia sindical para manter uma maioria artificial na direção da entidade no Ceará.

O primeiro deles foi a filiação de sete novas associações nos últimos 15 dias. Entidades cuja existência era desconhecida para os demais membros da própria executiva estadual da Central e que não se sabe ao certo se existem como entidades sindicais, qual seu número de filiados ou de trabalhadores na base. Isso rendeu 21 delegados a mais em favor do bloco majoritário.

Em seguida, arbitrariamente, dobraram o número de delegados de oposições e sindicatos ligados a eles, chegando a ter essas oposições seis delegados. Vale lembrar que seis delegados é o mesmo tanto que o MOVLUTA tinha direito. Porém, o MOVLUTA é uma oposição reconhecida, que disputou e as eleições de uma entidade que tem 19 mil trabalhadores na sua base, uma das maiores do Estado e nessa disputa obteve uma grande votação.

Mas as manobras não ficaram por aí, caçaram metade da representação do Sindicato dos Previdenciários, que ficou com apenas três delegados, quando teria direito a seis. Não por acaso uma delegação que vota firmemente com o bloco de oposição.

Com todas essas manobras, segundo as contas prévias do Bloco de Oposição, haveriam 55 delegados que votariam na chapa majoritária e 45 na oposição.

Essa aberração produziu descontentamento dentro do bloco, onde vários setores, inclusive do MOVLUTA, cogitaram retirar-se daquele circo. A direção do bloco (Resistência/PSOL) apresentou uma proposta para que permanecêssemos unidos nessa disputa viciada e caso rompêssemos com essa direção majoritária golpista, que fizéssemos unidos. Feita essa ponderação, seguimos para a plenária.

Porém, pareceu que todos esses golpes do PSTU para criar uma maioria artificial na plenária ainda não eram suficientes. Dois outros mais se apresentaram. O primeiro foi o de propor, em cima da hora, um aumento da quantidade de membros da direção da entidade. Provavelmente, para comportar entidades para as quais o PSTU havia prometido cargos em troca de que votassem em sua chapa. Havia entidades visivelmente inconformadas que estavam com o PSTU. Essa proposta ganhou por apenas um voto: 54 x 53. O que demonstrou duas coisas: uma prévia do resultado final e que as contas feitas anteriormente pelo Bloco estavam erradas, induziam uma avaliação aquém do potencial do próprio bloco e colocavam o mesmo na defensiva.

Todo o processo foi conduzido pelo atual dirigente estadual e acompanhado por um dos representantes da direção nacional da CSP-CONLUTAS. Ou seja, o processo teve a conivência da direção nacional da entidade.

Mas o golpe de misericórdia na democracia da eleição da direção estadual da Central ainda estava por vir. Estranhamente, em cima da hora, o setor ligado ao PSTU, exigiu que a segunda votação fosse secreta e em urna, método que resultou em uma nova fraude. Na contagem de votos, foi descoberto a existência de dois crachás a mais e em branco (!), o que daria uma vitória de exatamente dois votos para o PSTU. Essa última fraude foi tão descarada que sob protestos da oposição, o PSTU teve que recuar. Ficando o resultado final 54 a 54 e a divisão da entidade estadual ao meio.

Tudo isso demonstra que o processo de votação foi uma lambança burocrática igual ou pior as centrais que repudiamos e que se não fosse um processo carente dos mais elementares preceitos da democracia sindical e operária, a direção majoritária não chegaria a 20 votos e acabaria perdendo feio.

As manobras burocráticas na disputa pela executiva do único estado em que o Bloco de oposição possuía peso para ganhar demonstram que o processo de degeneração se consumou. Ficou evidente que os dois motivos pelos quais entramos na CONLUTAS já não existiam e, portanto, já não se justifica nossa permanência nessa entidade. A CONLUTAS se opõe objetivamente a ser uma ferramenta da classe para combater o golpismo burguês e passou a aplicar golpes contra sua própria base.

Diante desses graves vícios burocráticos e considerando que tais procedimentos não ocorreriam numa entidade que se colocava como alternativa de organização e luta para mobilizar e aglutinar a classe trabalhadora, o Grupo MOVLUTA, após discussão, resolveu desfiliar-se da CSP CONLUTAS.

20.11.2018 

Movimento Mobilização Compromisso e Luta – MOVLUTA