Neste dia 30, dia da Greve Geral, será lançado em Goiânia, as 17h no hall de entrada da Assembleia Legislativa de Goiás, o livro "Soldados de León - Meus Inimigos estão no Poder", do autor Renato Dias, Jornalista, Sociólogo, Mestre em Relações Internacionais e especialista em políticas públicas.
Em 3 anos de trabalho, Renato Dias reuniu, sob forma de entrevista, a síntese programática de quase três dezenas de organizações que se reivindicam trotskistas e atuam no Brasil. Nós da Frente Comunista dos Trabalhadores (fusão dos militantes organizados do antigo Coletivo Lenin e da Liga Comunista) participamos do livro por meio de uma entrevista de um de nossos dirigentes, expondo nosso ponto de vista e nossa história política no Brasil. Para obter o livro, basta comparecer ao evento em Goiânia ou entrar em contato com o autor (renatodias67@gmail.com). Abaixo, publicamos a nossa entrevista para os que acompanham o nosso blog:
Frente Comunista dos Trabalhadores
Quando, como e em que data surgiu a Frente Comunista dos Trabalhadores?
Marcos Silva – Surgiu em setembro de 2015 numa conferencia em São Paulo para a fusão do Coletivo Lenin (do Rio de Janeiro) com a Liga Comunista (São Paulo), depois de uma aproximação de militantes do Coletivo Lenin e da Liga Comunista na experiência da luta e denuncia do golpe da direita pró-imperialista em 2013, 2014 e 2015, além da aproximação de um dissidente trotskista que rompeu com o PCB entre outros militantes independentes que eram contatos ou simpatizantes.
A FCT Passou a ser a cessão brasileira do Comitê de Ligação pela Quarta Internacional (CLQI em português ou LCFI em inglês), grupo internacional fundado em 2011 após o racha da LBI que gerou a Liga Comunista em São Paulo. A FCT também herdou o Jornal Folha do Trabalhador, a imprensa oficial da Liga Comunista.
É uma dissidência do Coletivo Lênin?
Marcos Silva – Não. Na verdade o Coletivo Lenin, organização fundada em 2008 por dois grupos de ex-militantes do PSTU do Rio de Janeiro, após a conferencia de fusão com Liga Comunista de São Paulo gerou a Frente Comunista dos Trabalhadores. No entanto parte do Coletivo Lenin não aceitou a fusão, e mantiveram o blog do Coletivo Lenin, mas esses militantes acabaram se dissolvendo.
O Coletivo Lênin é um racha do PSTU e esteve ativo até em que ano?
Marcos Silva – O Coletivo Lenin foi fundado por dois grupos de ex-militantes do PSTU do Rio de Janeiro, que tinham saído do partido em dois momentos distintos(2005 contra o "Fora Todos" do PSTU na ocasião das denuncias do Mensalão, e 2008 contra a política do PSTU da fundação da ANEL em contraposição a UNE ) e que se juntaram para compor um programa comum. Esse grupos eram anti-morenistas, ou seja, não aceitavam as teses do Nahuel Moreno, fundador LIT, por haver varias distorções políticas das teses originais de Leon Trotsky, e que acabou levando os morenistas (logo após a morte do próprio Moreno em 1987) a apoiarem o fim da URSS defendendo abertamente que isso foi uma vitória ou uma "revolução democrática". Os dois grupos que saíram nunca concordaram com tais posições, e vendo-se no campo "defensista"(defensores dos Estados Operários Degenerados ou Deformados contra as forças externas ou internas restauracionistas do capitalismo). Esses dois rachas acabaram então fundando o Coletivo Lenin em 2008, adotando um programa da Tendencia Bolchevique Internacional (TBI ou IBT em inglês) uma corrente trotskista internacional com origem nos EUA numa corrente-mãe chamada Spartacists Ligue (Liga Espartaquista), e tornando-se simpatizantes brasileiros dessa corrente internacional, justamente pela TBI ter adotados as teses contrárias da LIT e dos Morenistas sobre o fim da URSS.
Em 2011 ocorre uma conferencia em que a maioria do Coletivo Lenin resolve abandonar o programa da Tendencia Bolchevique Internacional, por entender que o programa era tão extenso e complexo que impedia a fusão com outras organização por cristalizar diferenças táticas como se fossem estratégicas. A maioria decidiu por fazer um programa menor, onde defendia que as mesmas posições contrárias ao Fim da URSS e contrarias ao morenismo, mas não reivindicava mais nenhuma grande corrente trotiskista internacional desde os anos 60 (implosão da quarta internacional). Dois militantes insatisfeitos com essa mudança no programa, aliados a um contato internacional nos EUA, resolveram rachar com o Coletivo Lenin e fundar o Reagrupamento Revolucionário como organização que manteria a continuidade do velho programa. O programa então reformulado nessa conferencia de 2011 é esse aqui:
Novo programa do Coletivo Lênin
*Introdução
Este é o novo programa do Coletivo Lênin, que estamos lançando depois de um ano da nossa ruptura com a TBI, e após um longo processo de autocrítica de algumas das nossas posições anteriores. Ele contém as nossas posições básicas na luta pela construção do partido revolucionário.
Existem algumas mudanças em relação ao programa anterior. Principalmente retiramos do programa algumas "cascas de banana" sectárias da TBI. Elas se tratam de:
- posições táticas (como em que situação votar em partidos operários, qual deve ser a palavra de ordem sobre imigração etc). Essas posições não são fundamentais, e torná-las "questão de princípio", ao colocá-las no programa, é uma maneira de impedir a fusão com outros grupos revolucionários.
- análises de situações específicas (por exemplo, Guerra das Malvinas, Guerra dos Seis Dias etc). Como disse Marx, "o concreto é a soma de múltiplas determinações" (Introdução à crítica da economia política). Por isso, grupos com o mesmo programa pode avaliar diferente quais são as determinantes numa situação específica e, por isso, tirar políticas diferentes. Mais uma vez, o recurso de colocar essas caracterizações no programa é uma forma de reafirmar que a organização que faz isso "sempre esteve certa", e que as outras devem adotar todas as posições que ela já teve para fundir com a mesma.
Nós colocamos no programa novo um ponto específico sobre a intervenção no movimento de massas. Acreditamos que isso não existia no programa anterior por influência do abstencionismo da TBI.
Também tiramos todas as formulações diretamente teóricas do programa, por achar que elas não conseguiram ser explicadas adequadamente no documento. Por isso, quando um militante está entrando no CL, usamos como base para a discussão teórica os nossos livretos. Assim, o programa fica mais curto e focado somente nas questões políticas. Existem antecedentes históricos para essa forma de escrever o programa, por exemplo os programas do Partido Operário Francês, escrito por Marx, o programa da LCI brasileira e os "onze pontos" para a fundação da Quarta Internacional.
Finalmente, convidamos todas as organizações revolucionárias a estudarem o nosso programa, criticá-lo e discutir com a gente. Esse debate é uma das necessidades para a construção do partido revolucionário.
*Revolução permanente x Etapismo
Nos últimos séculos, o capitalismo se consolidou como sistema econômico mundial, principalmente através da divisão internacional do trabalho. Vivemos na época do imperialismo – época do declínio capitalista. A experiência deste século demonstrou que as burguesias nacionais do mundo neocolonial são incapazes de completar as tarefas históricas da revolução democráticoburguesa, como a reforma agrária e a soberania nacional. Não há, em geral, nenhum caminho aberto para o desenvolvimento capitalista independente nestes países.
Nos países neocoloniais, as realizações das revoluções burguesas clássicas só podem ser conquistadas através do esmagamento das relações capitalistas de propriedade, separando-os do mercado mundial imperialista, e estabelecendo a propriedade da classe trabalhadora (ou seja, coletivizada).
Países como o Brasil, a Índia, e a África do Sul são dependentes do imperialismo, mas têm uma autonomia relativa. O nível da sua acumulação interna de capital, e a fusão deste capital nacional com o capital imperialista define o seu caráter como subimperialista. Geralmente, eles estão envolvidos, de forma dependente e associada, com o imperialismo, na exportação de capital em suas regiões (no caso do Brasil, a América do Sul e a África lusófona). Nestes casos de opressão subimperialista, somos contra as tropas do Brasil, como no Haiti, e a expropriação de seus investimentos, como no setor petroleiro boliviano. Nos casos de conflito com o imperialismo (muito improváveis, devido à cooperação antagônica com as metrópoles), defendemos os países subimperialistas, porque são nações dependentes.
Defendemos todos os partidos e regimes dos países semicoloniais e subimperialistas contra o imperialismo, sem dar nenhum apoio político a essas direções.
Defendemos a autodeterminação de todos os povos, ou seja, o seu direito de se organizarem politicamente da forma que quiserem, inclusive o direito à separação.
Defendemos o direito de emigração para todas as pessoas do mundo, e que os imigrantes tenham plenos direitos de cidadania nos países onde vivem.
*Intervenção no movimento
Defendemos a intervenção no movimento sindical, popular e estudantil com um programa que combine reivindicações democráticas e socialistas, com a intenção de colocar em evidência a falha do sistema capitalista de dar as garantias as necessidades mais básicas da classe trabalhadora.
Procuramos participar de todas as entidades de base e de todas as centrais em que elas participem, formando chapas com o programa acima.
Fazemos frentes únicas, ou seja, unidade na ação com outras correntes, com todos os setores do movimento, na luta por reivindicações imediatas que beneficiem a classe trabalhadora. Sem perder de vista a necessidade de sempre se dar um passo a frente, com o objetivo central de se diferenciar das demais organizações reformistas e centristas, mostrando às suas bases as contradições que suas direções carregam entre seu programa político e sua atuação prática.
Nós fazemos blocos com programa (como chapas sindicais, movimentos, blocos dentro de movimentos específicos, como o movimento contra a guerra imperialista etc) somente com outras correntes revolucionárias, porque formar blocos com centristas ou reformistas significaria rebaixar o programa para o setor.
Não formamos nem participamos de blocos com partidos burgueses, ou seja, frentes populares, nem nas eleições nem no movimento, porque isso significa abrir mão da independência de classe e adotar o programa da burguesia.
Em todas essas situações, somos a favor da plena democracia operária, com total liberdade de expressão para as correntes e indivíduos.
Procuramos enraizar o programa comunista na classe trabalhadora através da construção de colaterais programáticas nos movimentos. Tais formações devem participar ativamente de todas as lutas por reformas parciais e melhoras na situação dos trabalhadores e sempre colocar em pauta reivindicações socialistas.
Utilizamos do voto crítico em eleições onde não seja possível ou produtivo participar com uma chapa própria. Essa tática tem como mesmo objetivo a de frente única: de mostrar às bases de organizações de esquerda não revolucionárias a insuficiência do programa defendido por suas direções diante das contradições do sistema capitalista. Somente uma organização que lute pela revolução e tomada do poder pelos trabalhadores é capaz de guiar a classe trabalhadora para a vitória.
Somos contra qualquer tipo de intervenção do Estado no movimento, de qualquer forma, e contra o uso da justiça burguesa contra outras correntes do movimento dos trabalhadores.
*Opressões específicas
No Brasil, a luta pelo poder dos trabalhadores está completamente ligada à luta pela libertação negra. Os negros brasileiros são uma casta de cor, segregada nos setores mais inferiores da sociedade e se concentram, sobretudo, na classe operária, particularmente nos setores estratégicos do proletariado industrial e no exército industrial de reserva (a massa de desempregados). O racismo, historicamente, foi o maior obstáculo para a ação política dos setores mais oprimidos da classe, em todos os movimentos. Considerados responsáveis pelo atraso do país, pela ideologia do branqueamento, as lutas do proletariado negro têm um potencial revolucionário decisivo.
Na luta dos negros, existem três estratégias distintas (que também estão presentes, de forma um pouco diferente, no movimento de mulheres). Uma é o integracionismo reformista, que tem o objetivo de dar aos negros direitos e oportunidades iguais dentro do capitalismo. A segunda é o separatismo ou nacionalismo negro, que defende que os negros são uma nação que deve se separar na sociedade branca. A terceira estratégia, que nós revindicamos, é o integracionismo revolucionário, que considera que o integracionismo reformista só atende a uma minoria, sendo incapaz de dar igualdade à grande maioria dos negros e que o separatismo é uma utopia reacionária. Para os integracionistas revolucionários, a igualdade racial só pode ser alcançada com a destruição do capitalismo, que alimenta o racismo, através da luta revolucionária integrada dos trabalhadores de todas as raças.
Um aspecto da questão negra muito em evidência recentemente é a opressão religiosa sofrida pelos seguidores de cultos africanos e afrobrasileiros. Como marxistas, defendemos a liberdade de crença e a completa separação entre Estado e religião e mantemos a posição comunista de defesa do materialismo e da ciência, assim como do combate ao uso da religião para aumentar o conformismo entre os oprimidos. Porém, defendemos, inclusive militarmente, os locais de culto e os seguidores das religiões oprimidas.
A opressão das mulheres é enraizada materialmente na existência da família nuclear, a unidade básica e indispensável da organização social burguesa, e também na repressão sexual, que só serve como um dos aspectos que mantém a classe trabalhadora sob controle na sociedade capitalista e que afeta principalmente o sexo feminino. A luta pela igualdade social completa para as mulheres é de importância estratégica em todos os países do globo. Ela inclui a luta pela socialização do trabalho doméstico, que só pode ser realizada numa economia planificada, pelos direitos democráticos da mulher, incluindo a legalização do aborto e libertação sexual, e pela integração das mulheres no movimento operário.
Uma forma de opressão especial relacionada ao machismo é a que é experimentada pelos homossexuais, que são perseguidos por não conseguirem se adaptar aos papéis sexuais ditados pelo ''estado normal'' da família nuclear e se diferenciarem do padrão moralista de relações sexuais. A vanguarda comunista deve defender os direitos democráticos dos(as) homossexuais e opor-se a todas e quaisquer medidas discriminatórias contra eles(as).
*Partido Revolucionário e Nova Internacional
Defendemos a construção no Brasil de um partido revolucionário dos trabalhadores. Seu regime organizativo interno deve ser o centralismo democrático, ou seja, a organização deverá ser constituída por núcleos com direito de tendências, com total liberdade de discussão e unidade de ação tática e estratégica. Para se enraizar no setores mais explorados da classe trabalhadora, esse partido precisa ter maioria de mulheres e negros na sua composição.
Esse partido só poderá ser construído se for em conjunto com uma luta pela construção de uma internacional comunista revolucionária, que leve em consideração a existência de uma pluralidade de novas correntes revolucionárias. Esta internacional deverá ser o partido mundial da revolução onde as diversas organizações nacionais se integram numa política revolucionária conjunta.
O objetivo do partido revolucionário deve ser a luta pela revolução socialista, uma insurreição armada dirigida pela classe trabalhadora, para destruir o estado burguês e estabelecer o governo direto dos trabalhadores, através de suas assembleias de base, como forma de abrir o caminho para o socialismo.
*Defensismo Revolucionário
A restauração do capitalismo na URSS, no Leste Europeu, China e Vietnam foi uma derrota histórica para os trabalhadores a nível mundial. As mobilizações que ocorreram contra a burocracia nos anos 80 e 90, pela ausência de uma direção revolucionária, foram canalizadas pelo imperialismo.
Consideramos que foi progressiva a expropriação econômica e política da burguesia, por isso defendemos incondicionalmente os Estados Cubanos e Norte Coreano contra a restauração do poder e propriedade da burguesia.
Os comunistas têm que ser contra todos os movimentos controlados por setores pró-capitalistas, em geral aliados do imperialismo. Para isso defendemos a unidade com setores stalinistas ainda contrários à restauração.
Porém, na defesa desses estados, deve ficar claro que nossa tarefa principal é a luta por uma nova revolução que tome o poder das mãos da burocracia estatal para finalmente criar um governo direto dos trabalhadores com planificação econômicas sob controle operário. Por isso somos a favor de todas as mobilizações contra a burocracia quando não tem um conteúdo pró-capitalista e são sim progressivos, como nos 50, 60 e 70 na Hungria, Tchecoslováquia e Polônia. Nessas mobilizações devemos construir partidos revolucionários. http://coletivolenin.blogspot.com.br/2011/11/novo-programa-do-coletivo-lenin.html
Qual é o programa da FCT?
Marcos Silva – A base fundamental que possibilitou a junção dos grupos que criou a FCT foi uma analise internacionalista identificando já em 2013 e 2014 o golpe em marcha no Brasil, e que resultou na tragédia do golpe em 2016, com serias consequências para a classe trabalhadora.
Em setembro de 2015, após a síntese dessa análise, a conferência chegou à uma resolução que pode-se dizer que é o nosso programa para este momento que estamos passando no Brasil e no mundo:
**BALANÇO E RESOLUÇÕES DO I CONGRESSO DA FCT
Por um partido bolchevique pela reconstrução da IV Internacional que combata o imperialismo com a tática da Frente Única e lute sob a estratégia da Revolução Permanente!
A Frente Comunista dos Trabalhadores deliberou no seu primeiro Congresso por se tornar uma nova organização centralizada, do tipo bolchevique-leninista. O Congresso foi realizado em São Paulo no primeiro fim de semana de setembro de 2015. Após quase um ano de experiência e militância comum, a Liga Comunista, o Coletivo Lenin – Fração Operária, o Espaço Marxista e a Tendência Revolucionária se encaminham por construir uma só organização.
Além disso, o Congresso deliberou por estabelecer critérios de militância comum para todos os seus membros.
Também foi indicada a realização de uma Conferência para daqui a seis meses, com o intuito de estabelecer um status superior das relações entre a FCT e outras organizações sindicais, partidárias e militantes não-organizados que estreitarem laços conosco até lá.
No Congresso, uma minoria da FCT, ironicamente uma fração do grupo que se denomina Coletivo Lenin, se opôs ao centralismo democrático leninista, alegando que tanto o método bolchevique quanto o legado da IV Internacional não são mais vigentes nos dias atuais. A Fração Operária do Coletivo Lenin defendeu a medida e votou com a maioria da FCT. A TR votou contra a constituição de uma organização unificada, mas, depois de aprovada a unificação, se manifestou disposta a fazer uma experiência dentro da nova FCT, sob os critérios de militância aprovados.
*RESOLUÇÕES PROGRAMÁTICAS
Na primeira parte do Congresso, os participantes debateram e deliberaram sobre a conjuntura internacional e nacional.
O Congresso foi aberto com uma saudação do grupo trotskista turco, Dördüncü Blok, em defesa da IV Internacional, e um informe da Tendência Militante Bolchevique, membro do Comitê de Ligação pela IV Internacional na Argentina, acerca da escalada golpista na América Latina, tendo seu último capítulo na renúncia do presidente da Guatemala, Otto Pérez Molina, pressionado pela Embaixada dos EUA e pela oposição burguesa.
Como último, mas não menos importante, informe foi relatada e rechaçada a caçada genocida sofrida pelos índios guaranis kaiowás no Mato Grosso do Sul, por parte do latifúndio e com a cumplicidade do governo federal petista.
Apesar das distintas origens políticas das organizações e militantes componentes da Frente, o debate acerca da conjuntura internacional e nacional confirmou uma compreensão comum dos acontecimentos e tarefas por parte da maioria do Congresso, ou seja, que a partir do último trimestre de 2014 até agora, a FCT acumulou acordos programáticos suficiente para dar o atual passo organizativo, deixando para trás o estágio embrionário de frente de ação em torno de tarefas políticas pontuais, salto de qualidade possível a partir das discussões e do combate militante durante os últimos meses entre os construtores da FCT. Neste sentido foi repudiado pela maioria dos componentes os vícios do terceiro campismo e do sectarismo pró-imperialista acerca da nova guerra fria, da questão palestina, da guerra civil na Ucrânia e os desvios ceticistas e pós-modernos derivados das derrotas subsequentes à contrarrevolução capitalista nos Estados operários que contagiaram grande parte da esquerda mundial.
*CONJUNTURA INTERNACIONAL
Foi realizada uma análise da ofensiva do Imperialismo da OTAN e o cerco ao bloco russo-chinês e os países que os orbitam na construção do BRICS, e como isso influencia a conjuntura golpista que ameaça os governos de centro-esquerda ou de frente popular nos países da América Latina, exemplificando o golpe no Paraguai e recentemente na Guatemala, presidentes que ou foram impedidos ou renunciaram diante de denúncias de corrupção. Foi destacado também o exemplo do golpe dos fascistas na Ucrânia, onde claramente existe um lado nazista apoiado pelo Imperialismo, e outro pelo Bloco Russo-Chinês. Não existe terceiro campo. A situação há que nos colocar do lado dos países semicoloniais, dependentes ou em desenvolvimento contra o imperialismo, que como já alertava Lenin e Trotsky, é o inimigo principal da classe trabalhadora. Mas, que fique explícito, tal orientação não implica em dar qualquer apoio político ou fazer a defesa das direções burguesas e pequeno-burguesas dos países, povos ou agrupamentos oprimidos pelo imperialismo. Foi defendida e aprovada a unidade tática de todos os inimigos do imperialismo mundial contra o avanço do cerco aos países ligados ao Bloco Russo-Chinês, que mesmo sendo burgueses, não são imperialistas.
Esta unidade, momentânea e pontual, tem como objetivo debilitar o cerco imperialista e ajudar a classe trabalhadora a organizar o combate a este inimigo principal que agora se encontra na ofensiva e, neste processo, simultaneamente ajudar as massas a superar as ilusões em suas direções tradicionais -que, por suas próprias características de classe, são incapazes e impotentes para realizar uma luta consequente contra o grande capital-, para que as massas passem da defensiva para a ofensiva revolucionária vencendo o conjunto do patronato num segundo momento.
A guerra fria atual, embora tenha rompido a unipolaridade da “Pax Estadunidense” existente até a crise de 2008, dista muito da situação mundial de 1914 [como bem afirmou o grupo ucraniano Borotba em seu documento o “Marxismo e a guerra no Donbass”, 29/08/2015] e também destacou o camarada da TMB participante do Congresso, pois se a primeira guerra era uma guerra provocada pela ofensiva expansionista de distintas nações imperialistas, a atual guerra fria surge de um bloco defensivo de Estados burgueses contra a hegemonia dominante e não alinhados com o imperialismo.
Foi destacado que a Frente Única Antiimperialista é uma aliança tática, que nem por um segundo pode ser confundida com uma orientação etapista ou frente populista de luta de classes, e que precisa estar subordinada à defesa dos interesses dos trabalhadores contra os patrões em todas e cada uma das nações e à estratégia da luta pelo partido mundial da revolução, a IV Internacional, e pela revolução permanente em escala planetária.
Neste momento entre crises econômicas capitalistas, de derrotas e defensiva de nossa classe, a tática mais apropriada para preparar condições mais favoráveis à luta de nossa classe, a fim de virar a mesa em favor dos trabalhadores, está no aproveitamento das contradições do interior do mundo capitalista, ou seja, está na tática da Frente Única de massas com aliados pontuais que dirigem o movimento de massas, sem que isto signifique estabelecer um programa comum com os mesmos e sem prestar qualquer apoio político às direções burguesas e pequeno burguesas desta frente. Foi aprovada então no Congresso a:
“Defesa da Frente Única Anti-Imperialista unindo os BRICS, os bolivarianos, Estados operários remanescentes, o nacionalismo árabe, movimentos de resistência islâmicos, o Irã, africanos e 'terceiro mundistas' sempre que estiverem sob o ataque ou em contradição com o imperialismo”.
Acerca da Guerra Civil na Ucrânia foi deliberado a defesa da frente única “com o diabo e sua avó” [Leon Trotsky, "Por uma Frente Única Operária Contra o Fascismo", 1931], ou seja, inclusive com Putin e entre todos os movimentos de resistência em Donbass contra o governo fascista e pró-imperialista de Kiev. Foi derrotada a proposta de duplo derrotismo neste conflito.
Na Questão Palestina houve um consenso em torna da estratégia por uma federação socialista dos povos do Oriente Médio e da defesa de uma Palestina de conselhos populares multiétnicos, bem como a vitória da tática da Frente Única com todos os movimentos proletários, árabes e islâmicos pelo fim do Estado de Israel, tendo sido derrotada a tática que se limita a lutar pela desocupação dos assentamentos sionistas e áreas militarmente ocupadas por Israel.
Sobre as guerras civis na Síria/Iraque e Líbia (em situação análoga a Síria) foi vitoriosa a posição internacionalista de Frente Única com o governo Assad, o Hezbollah, o Irã, a Rússia, o PKK e todos os povos e guerrilhas que são contra os mercenários apoiados pelo imperialismo, tendo sido derrotada a posição nacionalista de Frente Única “síria”, isto é, apenas com o governo Assad e no máximo com entidades classistas, mas não com outros Estados ou exércitos organizados.
Sobre o “Estado Islâmico”, dentro do consenso de que esta guerrilha mercenária não é um Estado e tampouco islâmico, de que se trata de uma criatura bárbara do imperialismo utilizada para derrubar o governo da Síria e para justificar novas aventuras militares dos EUA e Israel no mundo islâmico, e de que sua orientação religiosa, o wahhabismo, é patrocinada pela monarquia absolutista reacionária da Arábia Saudita (aliada do sionismo e do imperialismo na região), foi vitoriosa a posição de jamais emblocar com o mesmo, inclusive nas situações em que, conjunturalmente, o próprio imperialismo se veja forçado a atacá-lo.
Foi aprovada por consenso a posição de apoio à independência do Povo Curdo na Turquia. Defesa incondicional de Kobane contra os ataques do Estado Islâmico assim como do Governo da Turquia e sua perseguição à resistência dos curdos dentro e fora do Estado Turco.
Sobre a questão organizativa internacional. Foi aprovada a chamada “Pela reconstrução da IV Internacional e pela reunificação do movimento comunista mundial sob a bandeira da luta anti-imperialista e da revolução permanente!”, tendo sido derrotada a posição que não adotava a reconstrução da IV Internacional.
Tal reconstrução da IV Internacional se realiza hoje a partir do Comitê de Ligação pela Quarta Internacional, CLQI, composto também pelo Socialist Fight britânico e a Tendência Militante Bolchevique argentina, do qual a FCT será a seção brasileira.
*CONJUNTURA NACIONAL
Afirmação de que no Brasil existe uma frente golpista dos partidos de direita contra o PT, que atuam dentro da conjuntura internacional de cerco imperialista aos BRICS, e que no Brasil exige que o PT saia do poder de qualquer maneira para que possa ser aprofundada uma verdadeira austeridade à moda europeia contra os trabalhadores. O PT não é capaz de conduzir uma austeridade tão profunda devido a sua dependência de uma base popular e proletária, que inegavelmente o levaria à ruina. As vias pelo golpe são por pressão de impedimento pelo Congresso reacionário (em especial a Câmara dos Deputados), o que colocaria Temer como presidente de um governo de coalizão, ou via cassação através do Judiciário, como no julgamento pelo TSE das contas de campanha da chapa de Dilma e Temer. E ainda há o risco de cassarem os direitos políticos de Luís Inácio Lula da Silva para impedir seu lançamento ao pleito presidencial de 2018, bem com o desgaste do PT por todas as frentes para que possa finalmente ser extirpado do mapa político e consolidar um novo período econômico neoliberal puro de apoio político conservador. Outra hipótese, ainda que remota e mesmo improvável por ora, seria a quartelada com o apoio logístico do imperialismo, reproduzindo 64.
A possibilidade da derrubada do governo Dilma, portanto, é condicionada sobretudo pela conjuntura internacional. Existe um golpe em marcha impulsionado pelo imperialismo, sendo que não se sabe por qual caminho será e nem há consenso no interior dos principais partidos da oposição burguesa golpista (PSDB e PMDB) nem tampouco entre eles.
Em toda América Latina o imperialismo quer retomar seu espaço geopolítico e sua hegemonia sobre a América Latina e rever os contratos com a China e outras economias contra-hegemônicas ao imperialismo. Mesmo que esteja em curso uma serie de capitulações do PT e de Dilma à direita com um pacote de austeridade contra a classe trabalhadora, tal pacote é insuficiente para o imperialismo, de modo que é preciso destituir o PT para que seja implementada a agenda neoliberal na velocidade e na força desejadas. Prova da incapacidade do PT de adotar tal agenda no ritmo desejado pelo imperialismo é o fato de não terem sido aprovadas as terceirizações completas em todos os níveis (empresas públicas e privadas, serviços e indústria) nem o partido ter apoiado a redução da maioridade penal, medidas impopulares que lhe "queimariam" com sua base social.
Após a crise de 2008, o imperialismo tem tentado reconquistar terreno perdido para os BRICS orquestrando um processo golpista (desgraçadamente bem sucedido) por ano: 2009 – Honduras, 2010 – Equador, 2011 – Líbia, 2012 – Paraguai, 2013 – Egito, 2014 – Ucrânia e Tailândia, 2015 – Guatemala, com impedimentos (impeachment), renuncia, ou golpes militares apoiados pelo imperialismo. Também, desde 1964, nunca a direita esteve tão forte nas ruas como agora, freneticamente desestabilizando o governo, apesar de Dilma ser recém reeleita e estar com poucos meses de mandato. Isso tudo sugere que uma ação golpista está em curso no Brasil, como reiteradamente alertamos. A falta de clareza da luta de classes internacional e sua influência sobre a conjuntura brasileira compromete a análise de que há condições extremamente favoráveis ao golpe de Estado pela oposição burguesa de direita pró-imperialista em nosso país.
Nas deliberações congressuais, foram derrotados pelo voto os camaradas que duvidam da existência de tal ofensiva conspirativa de direita no país, minimizando as possibilidades de haver golpe e preferindo a tese do sangramento do Governo PT até 2018. Também foi derrotada a posição dos que acreditavam ser um erro tático, mas não de princípio, o chamado ao voto em Dilma no segundo turno das eleições presidenciais de 2014, prevendo a tendências que se confirmou das novas e maiores capitulações do governo PT à direita.
Foi aprovado por consenso a construção de uma oposição operária e comunista ao governo Dilma e a manutenção da atual linha do jornal "Folha do Trabalhador", modulando a agitação e propaganda acerca da política frentista e a construção da oposição comunista conforme a conjuntura mude ou oscile, aumentando o combate à política anti-operária do governo Dilma-Levi mas mantendo a denúncia do golpe.
Os debates ao longo do ano e mais explicitamente no Congresso da FCT mostraram que a posição que vacila diante do imperialismo na atual guerra fria, diante dos nazistas de Kiev na guerra civil ucraniana, do sionismo no Oriente Médio e da direita golpista no Brasil é a mesma que renuncia à luta por um partido bolchevique e à reconstrução da IV Internacional. Ao contrário, é sintomático que os elementos mais proletarizados da FCT acompanhem a posição da maioria, o que mostra que tal posição está em sintonia com os interesses e objetivos da classe trabalhadora mundial. Nesse sentido, convidamos os camaradas congressistas que se abstiveram nas votações polêmicas a refletir sobre as distintas orientações e a se reintegrarem à FCT para lutar conosco pela construção de um partido revolucionário dos trabalhadores no Brasil, que capitalize as desilusões do proletariado com o PT e com a Frente de Esquerda (PSOL, PSTU, PCB), e impulsione uma poderosa seção do partido mundial da revolução em nosso país.
**Documentos preparatórios para o Congresso da FCT:
*PARTIDO
> Contribuição sobre a questão do regime de partido 1
Centralismo democrático, greves e militância trotskista
> Contribuição sobre a questão do regime de partido 2
Em defesa do Centralismo Democrático: contra o liberalismo e contra o stalinismo
> "O que é e pra onde vai a Frente Comunista dos Trabalhadores"
*IV INTERNACIONAL
> "Conquistar o proletariado, condição essencial para a reconstrução da IV Internacional!"
*SINDICAL
> "Pela reunificação do movimento sindical de esquerda brasileiro, em defesa dos direitos e contra a direita!"
*CONJUNTURA
> Declaração FCT-FT contra o Golpe
"Derrotar o Golpe de Estado em marcha no Brasil - Não ao Golpe!"
> 8 pontos da FCT
*FRENTE ÚNICA
> Declaração do Comitê Paritário
"Frente única para derrotar a ofensiva patronal, do governo e da direita!"
*DIVERSOS
> "A escravidão é a chave da história no Brasil" (Coletivo Lênin), "Revolução Permanente na África" (idem), "Os comunistas e a questão sexual" (idem). "Muro de Berlim: Ruim com ele, pior sem ele"(idem)."Marxismo e Organização" (idem). "Os trotskistas e a luta armada" (idem).
http://lcligacomunista.blogspot.com.br/2015/09/balanco-e-resolucoes-do-i-congresso-da.htmlA FCT atua no PSOL?
Marcos Silva – Não atuamos. Hoje nós somos filiados ao PCO, por defendermos uma ação tática comum no combate ao golpe e aos golpistas, e também para participar eventualmente das eleições burguesas numa legenda que taticamente defenda propostas próximas as nossas na atuação política no Brasil.
Qual a central sindical que a FCT intervém?
Marcos Silva – Nós intervimos mais em atividades sindicais locais, em geral em assembléias e reuniões de categorias independente das mesmas estarem filiadas a CUT, CTB, Conlutas, Força Sindical, além de um setor estudantil em CAs e DCEs que fazem parte da UNE e não intervimos na ANEL. Nós defendemos que deve haver uma unificação das centrais, mas isso só possível se houver uma grande luta política como foi nos anos 80 pelo fim da Ditadura, quando se fundou a CUT e depois o PT.
Infelizmente a disputa das direções das Centrais, até mesmo da Conlutas, é muito burocratizado e engessada, então nesse contexto, é mais fácil atuar nos locais de trabalho e estudo, o que é até mais adequado para uma corrente pequena como a nossa.
Quais as ligações internacionais da FCT?
Marcos Silva – Nós fazemos parte do Comitê de Ligação pela Quarta Internacional. Estamos hoje oficialmente com seções na Argentina (Tendencia Militante Bolchevique), Inglaterra (Socialist Figth), EUA (Socialist Workers League), além de simpatizantes político na Grécia, Itália, Bangladesh que colaboram com traduções de documentos nossos (e vice-versa) sobre questões internacionais e até reportando no exterior a saga do golpe no Brasil.
O que é e onde está instalado o Comitê de Ligação Pela Quarta Internacional, do qual a FCT é membro?
Marcos Silva – Somo uma organização socialista mundial, que luta pela reconstrução de uma Internacional Comunista que tem como legado as contribuições das internacionais anteriores até a Quarta Internacional antes da sua dissolução por Michel Pablo nos anos 50. Atuamos no Brasil (São Paulo, Rio e Fortaleza), Argentina, Inglaterra e EUA. Acreditamos que qualquer partido comunista ou socialista tem que partir de uma premissa internacionalista para conseguir sucesso na libertação da classe operária no mundo todo. O objetivo final é realizar o projeto de Marx, Lenin e Trotsky de fundar uma grande Federação Mundial de Republicas de Conselhos de Trabalhadores(soviets) que faça enfim a transição da economia capitalista monopolista (ou imperialista, financeirizada) em decadência desde os anos 70, para uma economia de produção planificada de transição para uma ordem mundial socialista. Acreditamos que essa tarefa pode impedir o fim da humanidade pela degradação do próprio capitalismo com guerras por recursos (materiais e humanos) e de mercados, além de estagnar e reverter a longo prazo a degradação climática gerada pela superprodução excedente anarquizada no atual modo de produção baseado em consumo de produtos supérfluos e de alta tecnologia descartáveis a cada 2 ou 3 anos.
Quais conceitos de Liev Davidovich Bronstein, nascido em Yanovka, em 7 de novembro de 1879, nom de guerre Leon Trotsky, continuam atuais?
Marcos Silva – Acredito que as maiores contribuições dele para o Marxismo e Leninismo e que continuam atuais são a Teoria da Revolução Permanente e a Teoria do Desenvolvimento Desigual e Combinado.
O que esperar da Era Michel Temer?
Marcos Silva – Acredito que é a recolonização do Brasil pelo Imperialismo Norte-Americano em decadência (e por isso mesmo mais violento) é o principal objetivo da burguesia pró-imperialista. O Imperialismo Norte-Americano e Europeu em decadência precisa de uma reserva de recursos e mercados para poder enfrentar o crescimento do Bloco Eurásico (China, Russia, Irã), e frear a mudança do eixo de fluxo de capitais financeiros e de capital produtivo para China. O Golpe no Brasil também serviu para atrasar a criação do banco do BRICS e a consolidação desse Bloco capitalista contra-hegemônico.
O que houve no Brasil em 2016 pode ser classificado como golpe? Há semelhança com Honduras, 2009, com a queda de Manuel Zelaya, o afastamento relâmpago de Fernando Lugo, Paraguai, em 2012?
Marcos Silva – Sim foi um golpe, e o ensaio desse golpe foram não só os golpes em Honduras e Paraguai, como também os golpes mais violentos na Libia, Egito, e também Siria e Ucrânia.
Todos esses golpes, com suas peculiaridades locais, fazem parte de uma mesma política global do Imperialismo numa contra ofensiva para recuperar zonas de influência, mercados e recursos, e se fortalecer frente ao crescimento do Bloco Eurásico.
Quando éramos parte do Coletivo Lenin em 2013, e depois junto coma a Liga Comunista em 2014, fizemos os primeiros alertas e denúncias contra esses golpes, mas diferente do PCO, fazíamos fundamentado numa análise internacional da economia-politica.
Abaixo um documento que escrevemos no então Coletivo Lenin depois da ultima manifestação das Jornadas de Junho de 2013 (da qual participamos ativamente no Rio e em São Paulo) e que no fim culminou com Rede Globo convocando pela primeira vez aquela classe média verde-amarela para defender pautas reacionárias ou retrógadas:
"A extrema-direita toma as manifestações e prepara o clima para o golpe
"sexta-feira, 21 de junho de 2013"
Ontem foi um dos momentos mais sombrios da história do Brasil. Só tem comparação com a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, que preparou o golpe de 1964.
Na quinta-feira, dia 13/06, as manifestações no Rio e em São Paulo romperam com um longo período de refluxo nas lutas, causado pelo esvaziamento dos movimentos pelo PT e pela repressão brutal da preparação para os megaeventos. Dezenas de milhares de pessoas foram às ruas contra o aumento da passagem.
A imprensa, até quinta, chamava de vândalos e baderneiros todos os manifestantes, não pôde mais contornar a popularidade dos atos, e passou a fingir que defendia a luta. Mas sempre com cuidado de separar os "pacíficos" dos "baderneiros", para impedir a radicalização da luta.
Ao mesmo tempo, a Veja, o Globo e a Record começaram a tentar influenciar os movimentos, com o objetivo deles virarem porta-vozes das campanhas da direita tradicional, que sempre tem tentado voltar ao governo para melhor parasitar a máquina do Estado: pela redução da maioridade penal (= filho de pobre ser preso mais cedo), contra a corrupção (quem diz que é a favor?), e a mais importante de todas: CONTRA OS PARTIDOS.
Assim, os partidos de esquerda, que iniciaram as lutas, começaram a ser atacados dentro dos atos. Estava preparado o caminho para transformar o movimento num novo Fora Collor, uma picaretagem totalmente controlada pela mídia.
Até a segunda-feira, as manifestações ainda tinham um conteúdo político claro, que estava se ampliando para a luta contra os desmandos dos governos estaduais e municipais, além da questão do transporte. O último suspiro foi no Rio de Janeiro, com a ocupação da ALERJ e o enfrentamento com a PM.
Mas a estratégia da mídia deu certo: já na terça-feira, em São Paulo, o PCR foi atacado publicamente, o que foi muito elogiado pela Globo. Em São Paulo, um dos estados mais de direita do país, a grande massa que nunca tinha ido num ato (o tamanho das passeatas triplicou de quinta pra terça) começou a repetir toda a propaganda golpista da mídia, chamando os militantes de partidos de mensaleiros e exigindo o impeachment de Dilma (= que Michel Temer assumisse).
Tudo isso com a bandeira verde amarela da Casa de Orleans e Bragança sendo assumida como símbolo dos atos, e o odioso Hino Nacional dos latifundiários e senhores de engenho. Como a grande maioria da direção do PT é de brasileiros, isso foi simplesmente uma versão reciclada da campanha anticomunista de que a esquerda é antinacional e está a serviço de estrangeiros (do ponto de vista da direita, Cuba, Venezuela etc).
Isso foi só o começo.
Depois que todos os governos recuaram e anunciaram a anulação do aumento (sempre pagando a diferença às empresas com dinheiro que iria pra saúde ou educação), os atos de quinta se transformaram em comemorações com centenas de milhares de pessoas, a maioria esmagadora pautada pela direita.
O MPL de São Paulo teve a atitude mais honesta entre todas as organizações, saindo do ato e rompendo com o movimento de extrema-direita que estava na rua. Nós vamos defender que o Fórum de Lutas contra o Aumento faça o mesmo.
Os cartazes que vimos foram um capítulo à parte, desde "Joaquim Barbosa para presidente", "contra a corrupção", "Dilma sapatão", "em defesa da vida e contra o aborto", até símbolos de todos os partidos, incluindo o PSTU, PSOL, PCB e PCO, riscados.
E quando a gente fala em maioria esmagadora, é no sentido literal. Porque a coluna vermelha, formada pelos partidos de esquerda e sindicatos justamente como forma de autodefesa contra a agressão de setores antipartido e fascistas, foi espancada, inclusive com o uso de bombas, pedras e pedaço de pau, ao som de "o meu partido é o Brasil".
Quase todos os nosso militantes foram agredidos fisicamente, inclusive uma jovem que levou um soco fora da manifestação simplesmente por estar usando uma camisa com a foto do Lênin. Tentamos defender as bandeiras do PCB e PSTU, mas a correlação de forças dava toda a vantagem para os provocadores.
Quando falamos em fascismo, não estamos usando nenhuma analogia: isso é exatamente o fenômeno que o Trotsky definiu como "contrarrevolução preventiva", que esmaga as organizações dos trabalhadores em nome da "nação". O que vimos ontem foi a maior manipulação fascista das massas que aconteceu na história desse país.
Depois disso, nós saímos do ato, pra garantir a nossa segurança. O carro de som da esquerda capitulou vergonhosamente, e os militantes abaixaram as bandeiras como preço para serem a suposta "ala esquerda" daquela manifestação. Isso depois de muitos militantes feridos e hospitalizados.
Depois dessa violência, começaram as provocações policiais. P2 infiltrados começaram a atacar escolas, pardais, latas de lixo, o que atraiu a repressão policial digna de guerra civil. Os manifestantes foram caçados durante mais de seis horas no Centro do Rio, sendo que muitos ficaram encurralados no IFCS (Instituto de Filosofia e Ciências Sociais) e na FND (Faculdade Nacional de Direito), ambos da UFRJ.
Quando alguém saía, era caçado nas ruas e preso. Os hospitalizados, a maioria no Souza Aguiar, tiveram que entrar no hospital debaixo de bomba. A violência deixou um número de feridos e presos que, até agora, não temos com certeza.
Mas é um erro grave dizer que se trata de uma repressão policial selvagem contra a manifestação. Além desse aspecto, existe uma coisa muito mais importante envolvida. Quem estava lá viu que a polícia não reagia contra a maioria das depredações contra escolas, lojas e outros alvos sem sentido. Podemos dizer que o trabalho da polícia era coordenado, dentro e fora do ato. A explicação é a seguinte: a direita está apostando em uma escalada de violência, que crie um clima em que a população peça o Exército na rua.
As manifestações, que estão degenerando em violência e saques, não têm mais um conteúdo político progressivo. A grande maioria das pessoas envolvidas entrou nessa semana, expulsou os setores de esquerda que começaram os atos. E está sendo simplesmente massa de manobra da direita e da extrema-direita.
Mas com um agravante: a Globo e a Veja não tem mais controle sobre o monstro que criaram. O que eles queriam era um movimento midiático contra o governo, no estilo dos caras-pintadas. Mas eles soltaram um setor do povo completamente despolitizado, que está canalizando a sua revolta através dos seus preconceitos mais profundos, sempre incitado pelos provocadores policiais. Ou seja, um verdadeiro movimento fascista.
Então, essa massa passou a servir perfeitamente não aos planos eleitorais da Globo e da Veja, mas sim a setores militares diretamente golpistas e abertamente anticomunistas. A manchete de O Globo de hoje, "Sem controle", é o primeiro passo para o golpe. O significado dela é começar a preparar o povo para aceitar um "governo forte" que possa "restabelecer a ordem" diante da violência generalizada. Esse é o próximo passo.
Ainda não temos como saber qual forma irá tomar o golpe, que vai se voltar principalmente contra o PT, a CUT e o MST, destruindo qualquer espaço democrático e as poucas conquistas sociais ganhas pelo governo, mas que vai atingir todos os setores da esquerda. Não sabemos ser será um golpe militar, se aparecerá uma figura "carismática" "acima dos partidos" (Joaquim Barbosa?), se será através de novas eleições etc.
O que sabemos muito bem é que nesse momento é mais do que nunca a necessidade de todos os setores de esquerda se unam numa frente única antifascista, em defesa dos nossos sindicatos, movimentos e organizações, e contra o golpe da ultradireita que quer derrubar o governo do PT.
O discurso que Dilma acabou de fazer foi um balde de água fria, confirmando a capitulação do PT diante de toda a pressão da direita. Então, cabe a nós, na base dos movimentos sociais, inclusive a CUT e o PT, a tarefa de levantar a bandeira da resistência.
A nossa responsabilidade histórica nunca foi tão grande. Se repetirmos a omissão da esquerda diante do golpe de 1964, será aberto um longo período de retrocesso e barbárie para o nosso povo e para toda a América Latina."
http://coletivolenin.blogspot.com.br/2013/06/a-extrema-direita-toma-as-manifestacoes.htmlÉ possível uma frente de esquerda que inclua PT, PC do B e PSOL?
Marcos Silva – Eleitoral talvez. Mas mais importante que a Frente de Esquerda Eleitoral é uma Frente Unica de ação com todas os sindicatos e movimentos de esquerda, operários, populares e desempregados, para recolocar a classe trabalhadora na ofensiva. Acreditamos que qualquer movimentação para orientar simplesmente uma Frente Eleitoral está fadada a derrota. Não Sabemos nem mesmo se haverá eleições, e se houver, quais serão as novas regras de participação que um regime golpista tentará impor?.E se houver eleição Será que será uma eleição legítima? Possivelmente impedirão Lula de ser candidato, usando uma perseguição jurídica e policial da Lava-Jato para isso.
Na minha opinião é um erro distracionista falar em Frente Eleitoral, falar em "Lula 2018" ou qualquer "fulano 2018", antes de uma Frente Única de ação (com greve geral, manifestações todo mês, paralisações, ocupações) que envolva todos os movimentos e partidos que se colocam na luta contra o golpe e contra o imperialismo, em defesa dos direitos trabalhistas, civis e previdenciários.
Como o senhor começou a sua atividade política revolucionária? Por quais organizações passou?
Marcos Silva – Comecei no PSOL, já atuando no Grêmio do CEFET-RJ entre 2005 e 2007, pela corrente Enlace (dissidência da DS) na fundação da corrente estudantil secundarista em 2005. Passei em 2007 para o PSTU (ainda no movimento estudantil) depois das frustrações políticas da campanha do PSOL em 2006 com a Heloisa Helena. Dentro do PSTU nunca fui morenista e comecei a contestar a política majoritária até que saí depois de me posicionar contra a fundação da ANEL, e então ajudei a fundar o Coletivo Lenin em 2008 e passei a militar no movimento popular sem-teto do Rio de Janeiro por essa organização. E desde 2015, na fusão com a Liga Comunista para fundar a FCT, estou militando em local de trabalho.