A saída é organizar a luta das
massas para derrotar a
direita
EDITORIAL FdT 26
A luta política contra o Golpe de Estado no Brasil chega em
seu momento decisivo. Toda a política de concessões ininterruptas e crescentes
do Governo Dilma e do PT à direita só fortaleceu aos golpistas e confundiu as
massas. O que o PT até agora não entendeu e não quer entender, fiel aos seus
princípios de que tudo se resolve com colaboração e classes e de que “se não se
pode com eles junte-se a eles”, é que a causa principal da ofensiva golpista
pouco ou nada tem a ver com a política econômica nacional e, portanto, nenhum
"ajuste fiscal" saciará os golpistas.
A razão do golpe reside na política de contra-ataque
imperialista contra a expansão dos BRICS após a recessão mundial que teve
início com a crise de 2008.
A vitória temporária de Zuma sobre o impeachment na África
do Sul pode animar Dilma, Lula e o PT a pensarem que podem se apoiar no
toma-lá-dá-cá palaciano e a luta pode ser vencida no parlamento dos 300
picaretas. Afinal, "que mundo é esse que não se pode confiar na fidelidade do PMDB ou de Maluf?"
O fato é que enquanto não recapturar o governo brasileiro
para sua área de influência, afastando o país dos BRICS, como vem fazendo o
governo Macri na Argentina, o imperialismo seguirá infernizando a política
nacional até que Dilma seja destituída.
SE O IMPEACHMENT FOR APROVADO PELO CONGRESSO não deixará de
ser Golpe e o novo governo golpista, a exemplo do que pretende Temer e o PMDB
com seu famigerado programa “Uma ponte para o futuro”, tentará impor um
retrocesso às conquistas trabalhistas, sindicais e sociais da população
anterior a era Vargas, incluindo a privatização da Petrobrás e a reforma da
previdência. Essas serão as principais consequências do Golpe.
O PT entrará com recursos no STF e até encenará uma
resistência popular, mas apenas para barganhar a medida do ataque da direita,
sem maiores consequências contra o Golpe. Em contrapartida, a direita criará
novos e maiores factoides até a enésima fase da operação “Lava Jato”, fabricará
mais escândalos de corrupção tendo como alvo Lula e o PT, para acuar o partido
e a CUT, cujos sindicatos também serão alvos de devassas e intervenções jurídico-policiais.
SE O IMPEACHMENT NÃO FOR APROVADO, a direita, animada pelo
imperialismo, vai radicalizar sua campanha golpista para criar um inferno e
tornar o mandato impossível, ao mesmo tempo, tende a redobrar os ataques
fascistas individuais, aos dirigentes do movimento de massas, aos sindicatos e
a esquerda em geral.
Mesmo tendo derrotado a direita no Congresso, Dilma tende a
negociar um acordo de reconciliação nacional em torno de sua renúncia e
convocação de eleições gerais em 2016 com Lula como candidato.
A direita só tem
acordo com a renúncia incondicional de Dilma e exclusão de Lula do processo
eleitoral que não será geral, apenas municipal mais presidencial.
SABENDO DA FRAGILIDADE DE UM GOVERNO TEMER para impor o que
se dispõe a fazer, o imperialismo, a Globo, setores do PSDB, do próprio PMDB e
do STF, já trabalham e até pressionam pelo impeachment conjunto de Dilma e
Temer e pela antecipação das eleições presidencias para 2016. Isso seria um
plano B, que não deixaria de ser Golpe. Porém, além de dar um aspecto de
legitimidade a governo surgido com a derrubada de Dilma, as eleições
"gerais" poderão dividir os movimentos de esquerda que se colocam às
ruas contra o impeachment, como também poderá dar chances de emergir dentro da
direita um novo “salvador da pátria”.
Mesmo assim, essa saída exige a repressão preventiva aos
movimentos sociais despertos na luta
anti-golpe, a cassação e criminalização dos principais líderes capazes de
concorrer e vencer as novas eleições, principalmente o próprio Lula.
A história do último ano da luta de classes no país
comprovou mais uma vez que “não é possível salvar a situação sem a ajuda das
massas em luta”. (L. Trotsky, ¿Adonde va Francia?, Frente Popular y Comites de
Accion, 26 de noviembre de 1935). Lula sabe muito bem disto e foi assim que
grandes mobilizações frearam momentaneamente a escalada ascendente da direita
no final de 2014 e também no final de 2015. Todavia, depois de cada batalha
ganha, Dilma recomeça o ano lançando mais um pacote de “ajustes” contra sua
própria base de apoio social para pactuar com a direita golpista, fortalecendo
assim o inimigo que volta a recobrar forças a ponto de ocupar as ruas como
nunca fizera em tão grande número e por tanto tempo no país. Mas, igualmente,
nunca a esquerda foi para as ruas contra a direita por tanto tempo e em tão
grande número como de março de 2015 até hoje.