Alternativa energética do imperialismo
alavanca nova
bolha especulativa, tem lucratividade fugaz e polui mais
bolha especulativa, tem lucratividade fugaz e polui mais
O xisto betuminoso é uma rocha
sedimentar que pode ser convertida em combustível. Quando submetido a altas
temperaturas, produz um óleo de composição semelhante à do petróleo do qual se
extrai nafta, óleo combustível, gás liquefeito, óleo diesel e gasolina. Os Estados
Unidos, Brasil, China e Argentina são os países com as maiores reservas
mundiais de Xisto. O óleo de xisto é um substituto para o petróleo
convencional; contudo, a extração do óleo de xisto do xisto betuminoso em uma
situação onde as forças produtivas são controladas pelo capitalismo decadente
tornam-se mais caras tanto em termos econômicos quanto ambientais. Para a
prospecção do gás de xisto betuminoso é necessário injetar no solo uma mistura
de água, ácido, chumbo e benzeno. Esses produtos criam fissuras nas rochas, que
permitem que o gás de xisto (do inglês, shale gas) escape. A exploração do
xisto vem sendo apontada como um sucesso tecnológico e econômico nos Estados
Unidos, movimentando bilhões de dólares.
A “revolução do xisto” vem sendo
apresentada pela gestão Obama como a grande alternativa energética do imperialismo
em meio à nova Guerra Fria contra a Rússia, uma alternativa para que seus
títeres da União Europeia substituíssem sua dependência pelo gás oriundo da
Rússia para aprofundar sua dependência com os próprios EUA. De fato, como
afirma Fernando Rodrigues Marques, Pós Doutorando (FEA/USP), Coordenador de
Programas de MBA e Professor de Contabilidade e Finanças da Business School São
Paulo:
“O avanço da
indústria de gás e petróleo de xisto nos EUA tem produzido um impacto
considerável sobre a economia americana, tendência que deverá se aprofundar nos
próximos anos e afetará também a economia global. As previsões apontam um
crescimento mais forte no PIB, maior geração de empregos, mais receitas para os
cofres públicos e um impulso importante para industrialização dos EUA, ao
baratear o custo da energia. Estima-se que em 2020 o PIB americano será de 2% a
3,3% maior do que seria, devido ao impacto cumulativo da nova produção de gás e
petróleo, em grande parte devido à indústria do xisto (Citigroup Global
Markets, 2013). A fatia do gás de xisto na produção total de gás natural dos
EUA pulou de 4% para 5% em meados da década passada, para 34% em 2012, e em
2040 deve atingir 50% (EIA/ARI, 2013).
(Fernando
Rodrigues Marques, Gás de xisto, complexidade e incerteza: uma questão
delicada, Março/2014)
Também o Estadão reproduz os
informes sobre a “revolução do xisto” fabricados pela Casa Branca em clima de
“salvação da lavoura”:
“O boom levou
os EUA a liderarem a produção de gás em 2013, à frente da Rússia. No ano
passado, a Agência Internacional de Energia estimou que o país vai ultrapassar
a Rússia e a Arábia Saudita e se tornar o maior produtor de petróleo do mundo
em 2016, algo impensável até então.”
(Cláudia
Trevisan e Carrizo Springs, Boom do gás de xisto ajudou a economia dos EUA a
crescer, 26/04/2014)
A “revolução do xisto” é a nova “corrida
do ouro”. Mas, a exploração desse minério pela burguesia, que vem se revelando
uma aposta de lucro imediato pode ser extremamente danosa não só ao meio
ambiente, mas também a própria economia capitalista, sendo incapaz de suplantar
as atuais fontes energética em declínio (pico do petróleo) por um lado, e, por
outro, podendo estar gerando uma nova bolha econômica capitalista, que em um
breve futuro pode provocar a falências em massa no setor anunciado como promissor.
Como questiona Nafeez Mosaddeq
Ahmed, Cientista político, diretor do Institute for Policy Research and
Development, Brighton, Reino Unido:
“Mas e se a
“revolução dos gases de xisto”, longe de robustecer uma economia mundial
convalescente, inflar uma bolha especulativa prestes a explodir?
... A classe
política não aprendeu muita coisa com a crise de 2008 e está a ponto de repetir
os mesmos erros no campo das energias fósseis.
Em junho de
2011, uma pesquisa do New York Timesjá revelava algumas fissuras no arcabouço
midiático-industrial do boomdos gases de xisto, atiçando assim as dúvidas
alimentadas por diversos observadores – geólogos, advogados, analistas de
mercado – quanto aos efeitos da publicidade das companhias petrolíferas,
suspeitas de ‘superestimar deliberadamente, e mesmo ilegalmente, o rendimento
de suas explorações e o volume de suas jazidas’ (1 “Insiders sound an alarm
amid a natural gas rush” [Especialistas soam um alarme em meio a uma corrida de
gás natural], New York Times, 25 jun. 2011). ‘A extração do gás do xisto
existente no subsolo’, escreveu o jornal, ‘poderia se revelar menos fácil e
mais cara do que afirmam as empresas, como se vê pelas centenas de e-mails e
documentos trocados pelos industriais a esse respeito, além das análises dos
dados recolhidos em milhares de poços.’
Para os
industriais, superestimar as jazidas de gás de xisto permite pôr em segundo
plano os riscos associados à sua exploração. Ora, o fraturamento hidráulico não
apenas tem efeitos prejudiciais sobre o meio ambiente como coloca um problema
estritamente econômico, uma vez que gera uma produção de vida muito curta. Na
revista Nature, um ex-consultor científico do governo britânico, David King,
esclarece que o rendimento de um poço de gás de xisto diminui de 60% a 90% após
seu primeiro ano de exploração. (David King e James Murray, “Climate policy:
oil’s tipping point has passed” [Política climática: o ponto de inflexão do
petróleo passou], Nature, Londres, n.481, 26 jan. 2012.)
Arthur Berman,
um geólogo que trabalhou para a Amoco e a British Petroleum, confessa-se
surpreso com o ritmo “incrivelmente acelerado” do esgotamento das jazidas. E,
dando como exemplo o sítio de Eagle Ford, no Texas – “É a mãe de todos os
campos de óleo de xisto” –, revela que “a queda anual da produção ultrapassa os
42%”. Para garantir resultados estáveis, os exploradores terão de perfurar
“quase mil poços suplementares, todos os anos, no mesmo sítio. Ou seja, uma
despesa de US$ 10 bilhões a 12 bilhões por ano... Se somarmos tudo, isso
equivale ao montante investido para salvar a indústria bancária em 2008. Onde arranjarão tanto dinheiro?”. (5
“Shale gas will be the next bubble to pop. An interview with Arthur
Berman” [O gás de xisto será a próxima bolha a estourar. Entrevista com Arthur
Berman], 12 nov. 2012. Disponível em: <www.oilprice.com>.)
Em suma, o
argumento segundo o qual os gases de xisto protegeriam os Estados Unidos ou a
humanidade contra o “pico do petróleo” – nível a partir do qual a combinação
das pressões geológicas e econômicas tornará a extração do produto bruto
insuportavelmente difícil e onerosa – não passa de um conto de fadas. Diversos
relatórios científicos independentes, divulgados há pouco, confirmam que a
“revolução” do gás não trará nenhum alívio nessa área.
longe de
restaurar a prosperidade, os gases de xisto inflam uma bolha artificial que
camufla temporariamente uma profunda instabilidade estrutural. Quando ela
explodir, provocará uma crise de abastecimento e um aumento de preços que
talvez afetem dolorosamente a economia mundial.”
(Nafeez
Mosaddeq Ahmed, A grande farsa do gás de Xisto, 02/04/2013)
http://www.diplomatique.org.br/artigo.php?id=1399
INFORMES CIENTÍFICOS E LUTA
INTRA-IMPERIALISTA
É bem verdade que nesta batalha
pela exploração energética, inclusive entre setores distintos do imperialismo,
ocorrerão informes “científicos” opostos, pelo simples motivos que atendem a
distintos interesses econômicos. Como toda crítica e como a própria ciência, a
crítica ao boom do xisto não é neutra, ela atende aos interesses das grandes
empresas petrolíferas, ligado as coorporações de exploração hegemônica de
hidrocarbonetos ou de setores do imperialismo voltados as energias alternativas
“limpas”, por exemplo, que se utilizam de arsênico contaminado para fabricar a célula
solar (lobistas vinculados a Al Gore, o ecoimperialismo da industria de
proteção ambiental e, por óbvias razões, o grande capital do Vale do silício).
Se o boom do xisto ajudou a
recuperação tímida e fugaz de setores da economia, a bolha do gás agravou os prejuízos
nos lucros já causados pela chegada do “pico do petróleo”. Apesar de seu
monopólio, as “quatro irmãs” vem tomando prejuízos seguidos desde 2012. A Exxon,
à britânica BG Group sofreu “uma depreciação de seus ativos referentes ao gás
natural norte-americano da ordem de US$ 1,3 bilhão” (“US shale gas glut cuts BG
Group profits” [O excesso de gás de xisto nos EUA reduz lucros do BG Group],
The Financial Times, Londres, 26 jul. 2012.) e a Shell obtiveram resultados
medíocres, com uma perda acumulada de 24% em suas ações em 2012. Dois anos
depois, estes resultados não se recuperaram, pelo contrário,
“As gigantes de
petróleo dos Estados Unidos voltaram a apresentar redução no lucro e nas
receitas no primeiro trimestre deste ano... Quando se olha apenas os resultados
do subsegmento de petróleo e gás, a queda nos ganhos foi ainda maior, de 27%...
Quando se considera apenas o subsegmento de petróleo e gás, a queda foi de 10%
no faturamento... A piora dos resultados do setor de energia foi puxada pelas
duas gigantes de petróleo. A Chevron, segunda maior empresa do setor nos EUA,
registrou queda de 27% no lucro no primeiro trimestre ante o mesmo período do
ano passado e de 6,3% nas receitas, números abaixo do esperado pelos analistas.
A ExxonMobil, maior petroleira do país e do mundo, teve queda de 4% nos ganhos
e de 1,5% no faturamento. Foi o quarto trimestre consecutivo que a Exxon
mostrou redução de resultados. Apesar disso, a empresa conseguiu bater a
expectativa dos analistas, principalmente por conta da alta dos preços do gás
natural. Os balanços fracos do setor de petróleo não se limitam às empresas
norte-americanas. As gigantes europeias também amargaram piora ainda mais
expressiva de resultados. Na BP, o lucro teve queda de 79% no trimestre; na holandesa
Royal Dutch Shell, o ganho recuou 45% e na francesa Total, 10%. Uma das únicas
exceções foi a ConocoPhillips, com alta de 9,5% no faturamento, mas que também
teve lucro menor que no primeiro período de 2013.
Um traço comum
em alguns balanços é a queda da produção de petróleo. Os analistas destacam que
as empresas estão tendo que extrair o óleo em locais cada vez mais difíceis,
como águas profundas no oceano ou em regiões mais distantes, como no Ártico e
na Tanzânia, para compensar o menor nível de produção em campos tradicionais,
que vem se reduzindo com o esgotamento natural das reservas. Essas novas
operações exigem mais investimentos, afetando o lucro.”
(Altamira Silva
Junior, Gigantes globais do petróleo voltam a ter queda de lucro, Estado de São
Paulo, 11/05/2014)
Vale destacar que a
excepcionalidade dos índices registrados pela ConocoPhillips se deve as
expectativas de lucro registradas na elevação do valor das ações da principal
multinacional petroleira estadunidenses estabelecida na Líbia após-golpe de
Estado contra Kadafi. No quarto trimestre de 2011, ou seja precisamente após a
execução sanguinária de Kadafi e a tomada do poder pelos mercenários da CIA, a
ConocoPhillips teve um lucro recorde:
“A ConocoPhillips
obteve lucro de US$ 3,4 bilhões no quarto trimestre do ano passado, um aumento
de 66% em relação ao resultado de US$ 2 bilhões verificado no mesmo período de
2010. O lucro no último trimestre de 2011 correspondeu a US$ 2,56 por ação,
contra US$ 1,39 por ação um ano antes.”
(Angelo
Ikeda, ConocoPhillips tem lucro 66% maior no 4º trimestre, Economia, Veja,
25/01/2012)
A VIABILIDADE DA “REVOLUÇÃO DO
XISTO”
E A GUERRA ENERGÉTICA CONTRA O
BLOCO EURÁSICO
O trotskismo é o marxismo do
século XXI, baseia-se no materialismo dialético e estabelece suas análises
levando em conta a evolução e disputa dialética entre a predominância dos
elementos dominantes e dos fatores recessivos sob situações excepcionais. Por
isso, neste momento inicial, não podemos descartar por completo a
possibilidade, minoritária do nosso ponto de vista, de que parte das
expectativas criadas pelos EUA se confirmarem, ou seja, a viabilidade da
“revolução do xisto”. Se for assim, a “revolução do xisto” retardará o declínio
da “pax estadunidense”, conterá o crescimento econômico da Rússia, baseado
enormemente na comercialização de gás e de armas, e poderá retardar por vários
anos, ou até abortar, a conversão do núcleo Eurásico em bloco imperialista.
Há dois anos, quando a “revolução
do xisto” se revelava mais promissora, o órgão de notícias “Voz da Rússia” também
cogitou: Revolução de xisto muda economia mundial e a geopolítica”:
“Grandes
jogadores mundiais que até agora dependem da importação de energéticos, dentro
de algum tempo poderão ser seus exportadores. Tal situação, se ela realmente acontecer
(isto está muito longe, as perspectivas de exploração do xisto por enquanto não
são evidentes) inevitavelmente colocarão sérias questões também perante a
Rússia, que é grande fornecedor de energéticos no mercado mundial. Moscou terá
de corrigir inevitavelmente sua política interna e externa.
Ainda há dez
anos era impossível pressupor que os EUA se tornariam grande produtor de gás
natural e ultrapassariam, em volume de sua extração, a Rússia, que ocupava até
então o primeiro lugar. Agora isto é fato consumado. As explorações de gás de
xisto começaram em muitos países do mundo, inclusive na Polônia, Ucrânia,
Austrália, Grã-Bretanha e também na China... o Reino Unido até 2032 irá suprir,
por conta do gás de xisto, um quarto de suas necessidades desse tipo de
combustível.
... A revolução
do xisto, se ela ocorrer, terá inevitavelmente forte influência sobre as relações
internacionais. Imaginemos um roteiro puramente teórico, que por enquanto não
tem nada a ver com a realidade. Os EUA, os países da Europa Ocidental e a China
cessam a importação de petróleo e gás, ou pelo menos a reduzem bruscamente.
Neste caso, pode-se incluir no campo de vítimas as monarquias petrolíferas do
Golfo Pérsico. A procura do seu principal produto cairá bruscamente e elas
serão obrigadas a reduzir consideravelmente suas ambições geopolíticas.
Também cairá o
interesse dos EUA pela Ásia Central. Provavelmente cessará a realização de
projetos de condutas contornando a Rússia. Não serão claras as perspectivas de
exploração de jazidas no mar Cáspio. Possivelmente em lugar de tentativas de
assegurar o acesso a reservas de energéticos, que se encontram fora de suas
fronteiras, Washington concentrará seus esforços em outras direções. Por
exemplo, na recuperação de suas posições na América Latina, que nos últimos
anos se abalaram visivelmente.
No que se
refere à China, que também planeja começar a extração em seu território de gás
e petróleo de xisto, existe grande probabilidade de que, também para ela, a
região centro-asiática perderá seu encanto. Perderá sentido a ativa expansão
chinesa na África e diminuirá a dependência de Pequim aos fornecimentos de
petróleo do Golfo Pérsico.
À primeira
vista, caso as tecnologias do xisto se justifiquem, a Rússia ficaria no campo
dos que perderam. Isto, entretanto, não é bem assim. Em primeiro lugar,
diferentemente das petrocracias clássicas do tipo da Arábia Saudita, ela tem
uma economia mais variada. Naturalmente ela depende fortemente das receitas do
petróleo e gás, entretanto sua diminuição somente servirá de grande estímulo
complementar para a diversificação econômica.
Deve-se
salientar que os roteiros expostos são apenas suposições, que pode se realizar
e podem apenas ficar no papel. Não antes de sete-dez anos será possível
compreender que influência exercerá realmente o xisto sobre as relações
internacionais. E pode ser ainda mais tarde. Mas é melhor começar a pensar
nisto já hoje.”
(Alexei Pilko,
Revolução de xisto muda economia mundial e a geopolítica, Voz da Rússia, 7
Outubro 2012)
Ainda que dois anos seja pouco
para um veredicto da história, a alta rotatividade dos ciclos de acumulação
capitalistas faz com que, no momento, algumas das previsões acima descritas predominem
e outras retrocedam. Por exemplo, a firme aposta da Casa Branca em um golpe de
Estado na Ucrânia, e o apoio político e militar ao governo nazista de Kiev
contra a Rússia, tem demonstrado uma tendência inversa a estimativa de que
cessariam as ambições imperialistas para “a realização de projetos de condutas
contornando a Rússia”.
Também outra previsão que se
apoiava na “revolução do xisto” vem perdendo força diante dos acontecimentos: “No
que se refere à China, que também planeja começar a extração em seu território
de gás e petróleo de xisto, existe grande probabilidade de que, também para
ela, a região centro-asiática perderá seu encanto.” e “a China cessará a
importação de petróleo e gás, ou pelo menos a reduzem bruscamente”. Os últimos
acontecimentos demonstram que a política chinesa energética de importações acabou
de tomar um sentido oposto ao da previsão de Alexei Pilko. Depois de se
arrastar por dez anos, um acordo histórico com a Rússia no valor de 400 bilhões
de dólares, para o fornecimento de gás por 30 anos, foi fechado pela China.
Mas é verdade que Washington vem girando
seus esforços na recuperação de suas posições na América Latina, fustigando abertamente
o golpe de Estado na Venezuela e investindo na desestabilização política da
Bolívia, Equador, Argentina e Brasil.
Para diminuir suas perdas econômicas
diante da possível “revolução do xisto” a Rússia tem investido em pesquisas para
ingressar na nova “corrida do ouro” com uma política de contenção de danos
ambientais. Para isso, recorre a outra descoberta recente, que promete realizar
uma verdadeira revolução tecnológica em vários terrenos, o grafeno, que vem
sendo estudado em universidades estatais por:
“cientistas da
Universidade de Lomonosov de Moscou [que] descobriram que o grafeno pode ser
utilizado para a descontaminação de áreas afetadas por radiação nuclear e
extração de metais de hidrocarbonetos de xisto”
(Gregóri
Kolpakov, Cientistas russos descobrem que grafeno pode ser usado para
descontaminação nuclear, Gazeta.ru, 11/01/2013)
http://br.rbth.com/articles/2013/01/11/cientistas_russos_descobrem_que_grafeno_pode_ser_usado_para_desconta_17171.html
“REVOLUÇÃO DO XISTO”, MAIS UMA
CONTRARREVOLUÇÃO IMPERIALISTA?
Seja como for, a tão propalada
“revolução do xisto” é mais contrarrevolução imperialista, no plano econômico, energético
e ambiental, assim como foram e são contrarrevoluções as chamadas “revoluções”
na Líbia, Síria e Ucrânia. Na Ucrânia, o golpe de Estado contrarrevolucionário patrocinado
pelo imperialismo e os ataques do governo títere fascista de Kiev às repúblicas
populares da recém criada “Nova Rússia”, tem como um de seus objetivos o de
proteger os negócios da Shell contra a revisão do contrato de exploração do xisto na região Slaviansk, situada na jovem república de Donetsk, contrato rechaçado por uma forte resistência popular desde o início do ano.
Das garras do imperialismo
estadunidense em declínio brotam medidas reacionárias, como assinalara Lenin, “o
imperialismo é a reação em toda linha”, neste caso porque a tão propalada
“revolução do xisto” se apoia no: 1) aprofundamento do parasitismo financeiro
quando os próprios EUA nem conseguiram superar ainda a última crise capitalista
que foram epicentro em 2008; 2) porque o boom dos lucros com cada prospecção
tem esgotamento meteórico (1 ou 2 anos) provocando uma corrida frenética pela
perfuração de cada vez mais poços; 3) porque, ao contrário dos lucros voláteis
do gás de xisto, a poluição da água e os riscos de explosões dos lençóis
freáticos contaminados são permanentes a partir do processo de extração do gás
que chama-se fracking (fratura hidráulica). Em outras palavras a exploração do
gás do xisto pelo imperialismo é um típico negócio da barbárie que caracteriza
as “alternativas” burguesas na era que vivemos.
O aparente esgotamento precoce da
“revolução do xisto” revela várias questões: que se trata de um engodo a
serviço do enriquecimento de um punhado de porcos imperialistas parasitas, que
os EUA não alcançou nenhuma independência e autossuficiência energética como
prometido pela gestão Obama, impulsionando o expansionismo imperialista pelo
controle energético mundial contra os povos oprimidos detentores de riquezas
energéticas e acelerando novas guerras e por fim a III Guerra Mundial.
Reproduzimos abaixo um artigo de Nick
Cunningham, escritor que vive em Washington DC, especialista em assuntos que
envolvem energia e questões ambientais, em seu artigo:
“O setor de
extração de gás/petróleo do xisto dos Estados Unidos pode ser bem menos forte do
que muita gente pensa. Em análise mais recente, Bloomberg News descobriu um
elevado nível de endividamento das indústrias do setor, com muitas companhias
se endividando mais e mais, desapontadas com suas receitas.
Nos últimos
quatro anos, relata a pesquisa, quase dobrou a dívida contraída pelas empresas
de petróleo e gás de xisto. Enquanto as companhias perfuradoras necessitaram
dobrar os empréstimos para se expandir, suas receitas nesses quatro anos não
seguiram o mesmo ritmo, crescendo meros 5,6%.
O caso é que
embora muitos poços de petróleo e gás de xisto ofereçam uma produção inicial
espetacular, esta cai verticalmente após o primeiro ou segundo ano. Se as
empresas não conseguirem pagar suas dívidas nesse pico inicial, acabam com
muito mais dificuldades nos anos seguintes do que anteciparam. Elas caem em uma
espiral descendente em que uma grande parte de suas receitas tem que ir para o
pagamento de dívidas.
Das 61
companhias pesquisadas, a Bloomberg concluiu que mais ou menos uma dúzia está
gastando 10 % de suas receitas apenas para pagar os juros das dívidas
contraídas.
O que significa
haver tantas companhias de perfuração de gás/petróleo de xisto lutando para
obter algum lucro? Quer dizer que o entusiasmo com o qual tantos investidores
colocaram dinheiro nas companhias do xisto pode ter chegado ao fim. A indústria
está abalada.
As empresas em
pior situação – aquelas que estão muito endividadas – sem um portfólio de
produção em crescimento, podem estar a caminho da falência. Conforme vão caindo
os elos mais fracos, consolidam-se e permanecem em campo apenas os produtores
mais fortes e organizados.
É normal que
qualquer indústria sofra um abalo, quando diminui o ímpeto inicial de
crescimento. Ocorre que, ao contrário da indústria de tecnologia, por exemplo,
na indústria do gás/petróleo de xisto, a sorte econômica das companhias
ramifica-se para além delas, atingindo seus empregados e investidores.
Se as
companhias perfuradoras começam a fracassar, o crescimento da produção de óleo
e gás natural pode diminuir drasticamente ou mesmo parar. A administração de
informações energéticas projeta em seu mais recente Panorama Anual de Energia
que a produção de gás natural nos Estados Unidos crescerá a um percentual de
1,6% ao ano até meados de 2040, o que quer dizer que a produção deverá se
expandir para admiráveis 55%.
Os dados podem
estar sendo oferecidos de forma muito otimista, levando-se em consideração que
as empresas neste mesmo instante estão lutando para ter rentabilidade na venda
do xisto. Dito de outra forma, nos preços atuais, a produção pode não ser
sustentável. Para que o crescimento continue no mesmo nível, o preço tem que
subir.
Seja o
crescimento mais lento, sejam os preços mais elevados, de qualquer maneira,
ambos os cenários alterariam de forma dura as expectativas sobre a imagem
vendida pelos Estados Unidos quanto à sua matriz energética. Como exemplo, se
para manter o crescimento, o preço do gás necessitar de uma majoração, isso
diminuiria muito a oportunidade da exportação de grandes volumes de gás natural
liquefeito (GNL), porque as companhias americanas enfrentariam difícil
competição para a venda do gás americano que teria que ser liquefeito para ser
depois vendido a preço mais elevado para os consumidores ávidos no leste
asiático.
Como resultado,
as companhias que investem dinheiro na construção de terminais de exportação de
gás natural liquefeito, que custam bilhões de dólares, poderia começar a achar
esse gasto um tanto exagerado.
Um abalo na
indústria do xisto teria consequências também no setor de energia elétrica,
dado que o estancamento da produção de gás de xisto seria como uma espécie de
bênção para a energia renovável. Esperava-se que o gás natural seria usado em
grande escala para a geração de energia elétrica, mantendo os preços da eletricidade
estáveis, mesmo porque a produção de gás estaria sempre em ascensão. Como essas
expectativas parecem erradas, abre-se espaço para outras formas de geração de
energia elétrica. Já que carvão e a energia nuclear são cada vez menos
competitivos no século 21, criou-se uma janela de oportunidades enorme para a
energia renovável.
Em relação ao
petróleo, uma produção fraca do xisto quer dizer que os Estados Unidos
continuarão a contar com a importação de petróleo no lugar da produção
nacional. Mesmo que isso não queira dizer grande coisa, o fato é que a
indústria americana de petróleo não pode mais vir com a conversa fiada de ‘independência
energética’ o que quer dizer que o Congresso terá que se confrontar com o fato
de que os EUA precisam encontrar alternativas ao petróleo no longo prazo.
Caso a
indústria de gás/petróleo do xisto começar a vacilar, começará também a mudar
esse ópio para muitos problemas energéticos dos Estados Unidos que se chama ‘revolução
do xisto’.
Em tempo: Aqui
está o porquê de ser uma ilusão, conversa fiada, vento quente, o papo de que a
exportação de gás natural liquefeito dos EUA “vai tirar a Europa das Garras da
Rússia” e ganhar muito dinheiro abastecendo o Japão sedento de energia. Não
passa de uma isca suculenta no jogo das grandes negociatas.”
(Nick
Cunningham, O gás de xisto vai de mal a pior, oilprice.com, 29/5/2014)
http://oilprice.com/Energy/Energy-General/Is-The-Shale-Industry-About-To-Experience-A-Shakeout.html
Tudo isto aponta para uma nova
crise financeira no coração do imperialismo, e para a necessidade preventiva
dos EUA de fugir do declínio, através de novas aventuras expansionistas que
tendem a conduzir os conflitos do planeta para uma III Guerra Mundial. Para os
que duvidam desta possibilidade vejamos as cartas que estão dispostas sobre a
mesa:
O “pico da produção de petróleo
na Terra” (“Peak Oil”, em inglês), causa tensão sobre o maquinário imperialista
e provoca a corrida por energias ou combustíveis alternativos. Para a superação
desse impasse, o imperialismo pode matar a “sede energética” com um combustível
duplamente contaminado (tanto no âmbito financeiro, quanto ambiental). Esta
aflição se acentua após a crise capitalista mundial, que debilitou o sistema de
domínio mundial conhecido como “Pax estadunidense”, possibilitando que novos
jogadores, um super produtor de petróleo e gás natural, a Rússia, e um mega-consumidor
guloso e em fase de crescimento, a China, tirem proveito de declínio
imperialista e processem uma “fusão da fome com a vontade de comer”. Provocadas
pelas pressões imperialistas na Europa (confisco de capitais russos no Chipre,
guerra civil na Ucrânia), Oriente Médio (Síria e Magreb) e no Pacífico (Taiwan,
rearmamento japonês e disputa marítimas, tensão entre o Estado operário norte
coreano e o títere sul coreano, etc.) Rússia e China aceleram a edificação do
Bloco Eurásico, cujo pontapé foi o acordo energético bilionário e a “des-dolarização”
das relações comerciais destas duas nações com suas zonas de influência.
Ainda que possam construir
frentes únicas anti-imperialistas pontuais com setores não pró-imperialistas da
militância ecológica, os marxistas, materialistas históricos e dialéticos,
compreendem que a aspiração por uma economia sustentável ou por uma “energia
renovável” nos marcos do capitalismo senil é um mito reacionário, pois a
essência da anarquia da produção imperialista é a de ser insustentável e
caótica, destruidora do planeta, e não por acaso transgressora incurável de
todos os protocolos de intenção de redução da poluição, de preservação do
ecossistema, sejam eles assinados pelos EUA, China, Brasil ou Suécia, sendo que
quanto mais subordinada ao monopólio imperialista mais será a necessidade de
destruição do ecossistema a serviço da acumulação de capital.
A resolução do problema
energético de uma forma progressiva para a humanidade, ou seja, que esteja a
serviço da maioria da população planetária e sem sacrificar a natureza da qual
o homem faz parte, está condicionada a uma nova orientação para as forças
produtivas, incluindo a exploração do xisto betuminoso, uma orientação distinta
da que está sendo dada por qualquer das frações do imperialismo e dos
capitalistas. Em última instância, a saída para a crise energética, para o
esgotamento da matriz energética atual e para todas as sequelas ambientais da
barbárie imperialista, está na luta para tomada dos meios de produção e do
poder político pelos trabalhadores de todo o mundo, pela ditadura revolucionária
do proletariado em todo o globo. Isto implica também em orientar a luta de
classes conscientemente para este fim, pela estatização sob o controle operário
de toda a indústria energética, pela construção do partido mundial da revolução
socialista, a IV Internacional.