Decadência imperialista e crise energética
Desde a invenção da agricultura, a humanidade têm usado cada
vez mais fontes exógenas de energia para multiplicar o poder da energia
muscular humana, da força de trabalho. A energia fornecida pela natureza é um
componente essencial da infraestrutura dos meios de trabalho, que por sua vez,
integra os meios de produção. A força de trabalho humana e os meios de produção
constituem as forças produtivas.
O império romano era movido pela força de trabalho escrava,
fundamentalmente pela energia muscular escravizada, que, associada a animal,
foi tomada como fonte energética exógena pelos homens proprietários dos meios
de produção. O império romano entrou em declínio quando a expansão do império
encontrou resistência nos povos bárbaros que já não se deixavam escravizar e
passaram a destruir a invadir e destruir o império, por um lado, e porque a
massa de escravos sob o controle de Roma já não era mais suficiente para mover
imensa máquina imperial.
Os combustíveis fósseis têm sido a principal fonte de
energia na evolução industrial e social dos últimos dois séculos, ou seja,
durante o capitalismo. O Gás natural, carvão mineral e petróleo são exemplos de
combustíveis fósseis (ou mineral ou, ainda, hidrocarbonetos). Esta classe de
combustíveis contrasta com hidrogênio na geração de energia elétrica a partir
de uma reação que converte a energia química em energia térmica e elétrica. A propriedade
comum dos hidrocarbonetos é a de oxidam-se facilmente liberando calor.
O consumo dos combustíveis fósseis ocorreu em uma curva
ascendente, enquanto a sua produção, que atingiu o pico por volta de 2005, está
a caminho de ser reduzida para ter uma curva descendente. É preciso destacar
que o modo de produção capitalista possui certos condicionamentos para
exploração da natureza, o principal deles é que tal exploração está subordinada
primeiramente a obtenção de lucros para a classe dominante, o que de certo modo
leva ao desperdício e dissipação de uma parte importante da energia obtida
(assim como exaure as forças físicas, lesiona irreparavelmente e mata aos
trabalhadores), drenada para alimentar o parasitismo e o consumo de luxo da
burguesia imperialista em detrimento do restante da humanidade. Esta relação
produtiva faz com que a própria natureza de onde é extraída a energia e os
recursos naturais sejam exauridos mais rapidamente e de forma insustentável.
Sendo assim, a curva produtiva dos combustíveis fósseis é,
mesmo nos países produtores, horizontalmente simétrica a curva ascendente da
demanda. As estimativas são de que mesmo nos produtores a curva de demanda
ultrapassaria a curva da produção em torno de 2040, o que seria o período em
que os países produtores do combustível fóssil supririam apenas para seu
próprio consumo, reduzindo a disponibilidade ao mínimo para os demais países
consumidores. Outra questão de suma relevância é que, diferentemente do carvão,
os hidrocarbonetos não são utilizados apenas para produzir energia. Através da indústria
petroquímica eles se converteram em insumos imprescindíveis na cadeia
produtiva, desde os defensivos e fertilizantes agrícolas, essenciais a
superexploração da agricultura, até a fabricação de fibras sintéticas, plásticos,
acrílicos e de matéria prima para a industria farmacêutica, fazendo com que
dependamos dos hidrocarbonetos para nos alimentar, transportar, curar, vestir,
etc.
O PICO DA PRODUÇÃO DO PETRÓLEO NA TERRA
Quando King Hubbert desenvolveu a teoria do Pico da produção
do Petróleo na Terra, ou simplesmente Pico do Petróleo (“Peak Oil”, em inglês),
estimava-se que entre o declínio e o esgotamento do mesmo haveria pelo menos um
século de prazo para que o homem desenvolvesse fontes alternativas capazes de
substituir esta matriz energética por outra. No entanto, mesmo com as novas
descobertas e tecnologias que prolongaram a vida útil dos recursos, gerando
“picos sobrepostos”, o petróleo é cada vez mais escasso, de menor qualidade e
maior custo de produção, haja vista o petróleo do Pré-sal brasileiro, cujo
custo é de quase três vezes maior do que a média mundial de oito dólares por
barril.
RETORNO ENERGÉTICO
Existe um padrão mundial que se chama Taxa de Retorno
Energético (TRE) ou em inglês, EROEI (Energy Returned On Energy Invested) que é
razão entre a quantidade total de energia que é capaz de fornecer uma fonte de
energia e a quantidade de energia necessária para explorar esta fonte de
energia. No Brasil, esta medida se chama Retorno Energético.
A queda do EROEI foi então um motivo importante para o
declínio das forças produtivas no império romano. Com o fim do escravismo e,
sobretudo, no capitalismo, a multiplicação do poder da força de trabalho humana
passa a depender cada vez mais de fontes exógenas de energia.
Até 1940, o Retorno Energético do Petróleo era de 100, caiu
para 23 em 1970 até chegar a marca média hoje de oito. Isto significa que entre
1900 e 1940, com a energia equivalente de um barril de petróleo era possível
extrair, nos EUA, mais de 100 barris de petróleo. Entretanto, segundo o cálculo
do Retorne Energético (TRE ou EROEI), hoje em dia, com a mesma quantidade, ou
seja, com um barril de petróleo, é possível produzir cerca de oito barris nos
EUA.
As chamadas energias renováveis possuem uma taxa de EROEI
entre 5 e 20, para energia eólica e entre 1,5 e 10, para a energia solar,
enquanto o etanol ainda fica abaixo desta taxa, ou seja, acabam consumindo mais
para serem gerados do que a própria energia que geram. O limite estimado para
manter o atual nível de civilização seria uma taxa mínima de 3 EROEI, o que
demonstra claramente que a humanidade se encontra em meio a uma crise
energética cujas alternativas apresentadas pelo imperialismo tem sido incapaz
de resolver e acabam por agravar, como demonstra o caso da “revolução do
xisto”, tanto pelo fato que a lucratividade capitalista não se sustenta sem
alavancar especulativamente uma nova bolha financeira, dado o baixo EROEI do
xisto, quanto porque este efêmero lucro não compensa a destruição dos lençóis
freáticos e os riscos de explosão, incêndio e contaminação do subsolo, uma vez
que o homem pode até sobreviver de modo precário sem energia, mas não sem água.
E pior, como bem assinala nosso camarada Leon Carlos, da
Tendência Militante Bolchevique argentina, tal perspectiva inflaciona também os
custos da produção de alimentos uma vez que:
“a renda
diferencia do solo que durante o século XX esteve em queda, ascendeu como renda
do subsolo, o que é coerente com a industrialização do campo e o fim do
neolítico, onde, pelo uso do motor a combustão interna para a produção
agropecuária e seu transporte somado aos agroquímicos, a renda diferencial do
solo passou a ser a renda diferencial do subsolo uma vez que a disparada do
preço do petróleo [que se encontra a 109 dólares o barril) arrasta o preço do
trigo.”
O EROEI do cavão é menor que 30; do gás natural, entre 1 e
5; da energia nuclear (Urânio 235), 5 a 100, do Etanol (álcool da cana de
açúcar), 0,8 a 1,7; da energia hidroelétrica 11,2; da energia solar (Painel
solar fotovoltaico), 1,7 a 10; e o do xisto betuminoso entre 0,7 e 13,3.
Em uma edição especial recente da revista “Sustentabilidade”
cerca de uma dúzia de estudos científicos chegaram a duas conclusões:
1. Os combustíveis fósseis tradicionais ainda têm um EROEI
maior do que qualquer alternativa;
2. Em todos os casos estudados o EROEI desses combustíveis
fósseis está em declínio, muitas vezes de forma dramática. Na China, por
exemplo, no campo petrolífero Daqing, os pesquisadores estimam que o EROEI do
petróleo caiu de 10, em 2001, para 6, atualmente.
A MÁFIA PETROLEIRA IMPERIALISTA IMPÕE
MODELO ENERGÉTICO QUE AMEAÇA A CIVILIZAÇÃO
É preciso suspeitar da supremacia e insubstituibilidade dos
combustíveis fósseis, afinal, seus defensores são ninguém menos que os magnatas
do petróleo que tiraram proveito deste modelo energético nos últimos dois
séculos. Salta aos olhos que a associação entre esse setor da burguesia e a indústria
automobilística de carros particulares conduz, através da anarquia da produção
capitalista, o nosso modo de vida para o estrangulamento porque através dele se
realiza um profundo desperdício de combustível e energia, porque este modelo
polui em alta escala liberando gases com a combustão de petróleo e seus
derivados que provocam o aquecimento global e o efeito estufa, pelo travamento
da própria locomoção das pessoas nas metrópoles.
A burguesia imperialista só preocupa-se com problemas
estratégicos ligados a garantia de sua dominação, só investe em alternativas ao
atual modelo de matriz energética para obter lucros imediatos, como no caso da
tal “revolução do xisto”, de resto, ela esquiva-se, ainda mais após a crise de
2008, de patrocinar investimentos tecnológicos para o desenvolvimento de uma
nova matriz energética que possam acentuar a queda de sua taxa de lucro, ou
seja, cujo retorno energético (EROEI) sejam baixos. quando este Portanto, em
certa medida tem razão os materialistas culturais quando levantam a dúvida:
“É importante perguntar por que,
mesmo tendo sido realizadas inovações técnicas, estruturais e superestruturais
suficientes, no campo da infraestrutura continua existindo uma grande
resistência contra a mudança em tal modelo energético, pondo em risco até mesmo
a estabilidade da civilização (tal como a conhecemos) a médio prazo... são
pessoas ou grupos de pessoas que promovem ou rejeitam tais inovações em função
de que sejam eficientes a produção e, portanto, aos seus próprios interesses. A
"eficiência" depende, é claro, de a quem beneficia, e que agrupamento
ou grupo é mais capaz de defender seus interesses relativos. Esta situação é a
que revela mais claramente a disfuncionalidade do sistema atual: os grupos que
estão interessados em manter o velho sistema de produção de energia ainda estão
em uma posição de poder para assegurar da infraestrutura (base material da
sociedade, incluindo as forças produtivas e as relações de produção, com
variáveis demográficas, econômicas, tecnológicas e sociais) a estrutura
(características organizativas constitutivas da economia nacional e política),
desde a produção à política. Sua posição de poder é suficiente para defender
freando uma mudança que em si já é delicada e que inclui altas doses de
incerteza. A assimetria total entre os benefícios pontuais do grupo específico
e as possíveis consequências gerais agravam esta disfuncionalidade.” (Jorge
Moreno Fernández, Notas: Crisis Energética y Materialismo Cultural, 3/11/2010).
http://globalobjective.blogspot.com.br/2010/11/notas-analisis-de-la-crisis-energetica.html
É possível que a escola do “materialismo cultural” represente
o setor do materialismo não marxista mais avançado dentre os defensores do "determinismo
econômico". Todavia, suas tendências pequeno burguesas e burguesas desviam-no
a desprezar o elemento que não apenas condiciona o modo de vida material, como
faz o modo de produção, mas determina a economia: a luta de classes.
ECOCAPITALISMO REACIONÁRIO
Embora tenham sido operados avanços no uso de energias
alternativas, tais avanços são marginais e incapazes de manter o atual nível de
civilização. Alguns defensores das alternativas energéticas, caracterizados
pelo seu romantismo ecológico, e por sua aposta na proteção da natureza mais
emocional do que consequente idealizam as energias renováveis, e nos referimos
aos que honestamente lutam contra a destruição capitalista do ecossistema e não
aos representantes dos interesses do ecocapitalismo como Al Gore
(Democratas/EUA) ou Marina Silva (Rede/Brasil).
O destino do ecologismo pequeno burguês é a busca por retroceder
a roda da história, uma espécie de “arcadismo” civilizacional, das campanhas
anticonsumo, da “volta à natureza”, do retrocesso ao agrarismo e ao neolítico,
quando a maioria da população mundial vivia no campo. Tais perspectivas buscam
um capitalismo parcimonioso, reivindicam uma reforma reacionária incapaz de
realizar uma luta consequente contra a destruição do planeta. Embora possamos
fazer frentes de ação com os ecologistas em momentos necessários é preciso
dizer bem claramente que o principal inimigo do habitat da humanidade é o
capitalismo e que não serão as ações individuais isoladas ou de consumidores
que irão deter a agressão ao planeta e seus habitantes, mas, sobretudo a luta
da classe trabalhadora pela revolução social, aliada ao conjunto dos setores
oprimidos e explorados da população.
ESTATIZAÇÃO DE TODO SETOR ENERGÉTICO
SOB O CONTROLE DOS
TRABALHADORES
Também é preciso deixar claro os limites do nacionalismo
petroleiro, visto na Petrobrás, YPF, PDVSA, uma vez que se baseia no mesmo
modelo fadado ao esgotamento e que está a serviço de um punhado de tecnocratas
e capitalistas sócios do imperialismo que apelam para o sentimento patrioteiro
para barganhar melhores percentuais o saque das nações oprimidas. Defendemos a
estatização de todos o estratégico setor energético, sem indenização e sob o
controle dos trabalhadores.
Embora a energia das hidroelétricas tenham sido até hoje a
que melhor desempenho obtiveram em termos de retorno energético, ser um recurso
renovável e não poluente, esta fonte energética exige certas especificidades geográficas
e de forma distinta dos hidrocarbonetos, só se destina a produção de energia.
Todavia, é provável que tenhamos em breve que pensar em construir diques
holandeses no litoral, contra a elevação do nível da água do mar, e convertê-los
em usinas hidrelétricas.
Como no declínio do império romano, as forças produtivas
exigem novos amos capazes de fazer seguir adiante a humanidade contra a
perspectiva da barbárie apontada pela etapa senil do modo de produção baseado
na escravidão assalariada. Tudo indica que se a classe produtora, o
proletariado não organizar-se para operar a tempo uma mudança radical no curso
da condução das forças produtivas, decairemos em uma catástrofe.
O consumo de energia por habitante disparou nas últimas
décadas, consumo que se realiza de forma completamente desigual, refletindo
também aí as diferenças de classes e entre nações imperialistas, grandes
consumidoras e; nações colonizadas (basta comparar o consumo de energia da
burguesia dos EUA e Europa com o da Palestina ocupada, das nações africanas ou
de qualquer bairro proletário do planeta), produtoras saqueadas que tendem a
ver suas reservas exauridas mais cedo em benefício do imperialismo, política de
saque assegurada por guerras sangrentas, invasões militares e golpes de Estado
como vistos no Iraque, Líbia ou Ucrânia.
Uma ilustração não muito distante da barbárie que pode nos
conduzir a exploração monopolista dos recursos naturais está em um filme em que
Arnold Schwarzenegger faz um papel de um operário em um planeta Marte
colonizado pela Terra, “O vingador do futuro” (1990), onde um recurso, neste
caso o oxigênio das colônias de um império era monopolizado e, portanto gerava
uma situação de renda baseado na asfixia das massas. Curioso é que se no filme Schwarzenegger
foi o líder de uma rebelião de escravos, o vingador do futuro, hoje, como
integrante do status quo estadunidense e ex-governador da Califórnia, não passa
de mais um verdugo do presente defendendo a monopolização dos recursos
estratégicos, como as petroleiras imperialistas. A Guerra contra a privatização
da água, já está em curso, ocorreu na Bolívia em 2000, e situação em similar está
em curso em várias partes dos planeta.
Uma análise marxista acerca da questão energética deve
compreendê-la como pedra angular das condições de produção. Nesse sentido os
conceitos descritos neste documento são apontamentos preliminares para uma
análise mais aprofundada e científica da natureza das condições de produção
composta de energia e materiais em que se apoia o modo de produção capitalista
em sua fase atual. A questão energética é então um ingrediente essencial do
modo de produção. Assim como o carvão e o ferro foram matriz energética e
matéria prima essencial do capitalismo da livre concorrência, o petróleo e o
aço predominaram na fase imperialista. O modo de produção da vida material
condiciona e a luta de classes determina a vida social, política e intelectual
em geral. Um modo de produção é uma herança qualitativa da luta de classes que
o precedeu. Somente a luta e conquista do socialismo pela classe trabalhadora pode assegurar o desenvolvimento da técnica e das condições de produção a serviço do desenvolvimento da humanidade e da preservação do planeta.