mas sem qualquer confiança em Maduro
nem nas demais frações boli-burguesas!
Impulsionar um partido bolchevique e a
Revolução Permanente para impor o
verdadeiro socialismo no século XXI!
in English (page 30) - en CastellanoRevolução Permanente para impor o
verdadeiro socialismo no século XXI!
DECLARAÇÃO DO COMITÊ DE LIGAÇÃO PELA IV INTERNACIONAL
Na disputa interburguesa que se realiza
neste momento na Venezuela agora, está em jogo muito mais do que o futuro do
chavismo.
Na Argentina, Brasil e Venezuela,
através da oposição burguesa, o imperialismo anglo-ianque aumenta a pressão
sobre os governos semi-coloniais para que eles nutram seu apetite crescente em
meio a crise econômica internacional ou abram o caminho para novas coalizões de
títeres governantes. Poucos meses depois de perder as eleições presidenciais,
mas aproveitando que o ganhador não pode presidir o país, a direita tensiona as
dinstintas frações do chavismo enquanto, simultaneamente, os EUA buscam na America Latina conter a expansão do bloco burguês rival, liderado pela China e a Rússia, que ganhou influência neste continente a partir da
primeira década do século XXI.
A manobra do imperialismo em preparar o
pós-Chavez é uma manobra preventiva para evitar a formação – nos três países
chaves das três grandes bacias da América do Sul, Orinoco, Amazonas e o sistema
do Prata – de uma plataforma comum formada por Argentina, Brasil, Venezuela e
demais sócios mercosulistas onde possam se expandir os interesses do núcleo
Chinês-Russo.
A reação que mesmo finalmente unificada
perdeu a disputa eleitoral em 2012, que investiu duramente na tensão midiática
no início de 2013 e recuou diante da recente coesão momentânea entre os poderes
do regime, da manifestação de força popular no dia 10 de janeiro e do aval da
OEA a decisão da Suprema Corte Venezuelana pela prorrogação indefinida para
posse de Chavez, agora investe, sobretudo na divisão da boliburguesia
(burguesia bolivariana) entre o ex-sindicalista Nicolás Maduro (atual
vice-presidente de Chavez) e Diosdado Cabello, recentemente eleito chefe da
Assembléia Nacional e representante do setor ligado aos interesses do aparato
militar.
A boliburguesia nasceu da crise do
bipartidarismo na Venezuela instaurado após o Pacto do Punto Fijo em 1958 1,
regime que entrou em decadência fundamentalmente com a queda dos preços do
petróleo entre o final da década de 80 e princípio dos 90.
Neste contexto de crise da
superestrutura – em um Estado capitalista que extrai a maior parte dos recursos
de controle estatal a partir da renda do petróleo, ou seja, em um petro-Estado,
– uma força estatal com forte interesses específicos no controle da própria
renda petroleira, o Exército, irrompe e prepara as condições para uma
recomposição futura do petro-Estado no mercado mundial sobre novas bases:
1) Maior peso específico do Exército
burguês no Estado capitalista, assegurando assim a parte do controle que e o
Exército mesmo tem sobre as receitas das exportações do petróleo;
2) Maior articulação de um consenso
social ampliado – realizando algumas concessões imprescindíveis para conseguir
tal consenso – aos trabalhadores;
3) A partir desta superestrutura se dão
as condições para a aparição de novos atores dentro da classe burguesa nativa,
ou seja, a burguesia bolivariana.
Todos os pontos citados anteriormente
são elementos desencadeados a partir da superestrutura mas que se apoiam no
fato infraestrutural do vínculo da Venezuela com o mercado mundial: a
apropriação de uma parte da renda do petróleo por parte do Estado burguês deu
origem a um petroEstado capitalista de tipo semi-colonial.
Após 14 anos de governo, prepara-se uma
alteração desencadeada por fatores político-superestruturais a partir da
provável saída de cena definitiva do Bonaparte que arbitrou o conflito entre as
distintas frações burguesas mundiais e locais, conteve o proletariado e a
insurgência regional e abriu o caminho para um novo status semicolonial
acordado com o imperialismo estadunidense depois de haver estabelecido uma
aliança estratégica com Juan Manuel Santos (Colômbia), que pavimenta o caminho
da capitulação militar das FARCs (Forças Armadas Revolucionárias da Colombia –
Exercito do Povo, FARC – EP) 2.
Com o próprio Chavez já foi traçado o
caminho para a aproximação bolivariana do imperialismo, repetindo, a sua
maneira e em nossa época, a mesma trajetória de tantos movimentos nacionalistas
burgueses como o cardenismo mexicano ou o peronismo histórico argentino.
Apesar da redução das exportações do
petróleo venezuelano aos EUA, o país segue como a terceira maior fonte
internacional de petróleo para o amo do norte (detrás apenas da Arábia Saudita
e do Canadá), a Venezuela estruturalmente tem fortes tendências a manter
vínculos com os EUA para onde exporta metade de todas suas exportações e cerca de 40%
do petróleo que produz. Esta relação pressiona permanentemente para se expressar de
forma harmônica na superestrutura e particularmente no núcleo duro da
superestrutura burguesa: o exército. As Forças Armadas que agora,
majoritariamente, defendem a legitimidade do mandato de Chavez, mas apostam em
uma sucessão via Cabello. E não por acaso, antes do dia 10 de janeiro (data
oficial da posse de Chavez), foi publicado um documento da “Frente
Institucional Militar” assinado por mais de 70 generais e coronéis das FFAA que
apoiam a revindicação da direita e “diante da complexa situação nacional,
exortamos aos nossos companheiros de armas a cumprir cabalmente seus deveres
militares e a respaldar plenamente a Constituição Nacional”
(diarioenlamira.com, 9/01).
Neste sentido, é fundamental que o
proletariado venezuelano rompa com qualquer tipo de expectativas postas nas
supostas “alas antiimperialistas” do exército burguês. A história universal tem
demonstrado fartamente que a confiança no núcleo duro do aparato inimigo por
parte do proletariado tem sido paga pelo proletariado com derrotas marcadas por
rios de sangue.
O “Socialismo do século XXI não permitiu
o avanço de uma “iota” da luta pelo controle da produção. Pelo contrário, em
todas as lutas que os operários se moveram radicalizadamente ocupando fábricas
foram duramente reprimidos ou até assassinados pelo regime chavista, enquanto
foram impulsionados organismos de cooptação e controle social das massas pelo
petro-Estado.
O reconhecimento da legitimidade de
Maduro pela OEA (Organização dos Estados Americanos ou, como dizia Che Guevara,
o “Ministerio das Colônias”) atesta que neste momento o imperialismo tem como
“Plano A” a cooptação do chavismo pos-Chavez.
Por outro lado, a aproximação da
Venezuela de Washington é mais uma meio de pressão dos distintos governos
burgueses latinoamericanos, como o do PT brasileiro, para tensionar a
aceleração dos ritmos da restauração capitalista em Cuba. A burocracia
castrista influencia e dialeticamente é influenciada pela boliburguesia e,
assim como o imperialismo que comanda a pressão restauracionista por cima, é
consciente deste processo.
O chavismo vem preparando o ajuste
contra os trabalhadores. A revista The Economist (15/12) assinala que “quem
quer venha a governar a Venezuela vai enfrentar decisões econômicas difíceis
(...) a economia provavelmente desacelerará. (...) o déficit público esta
estimado em 14,7% do PIB (...) e a inflação, de 18%, provavelmente aumente no
ano que vem” 3. O governo fez “o anúncio por parte do ministro da Planificação
e Finanças, Jorge Giordani, de aumentar a gasolina e as tarifas dos serviços
públicos” (Elimpulso.com, 23/11/2012). Também se prognostica uma desvalorização
para este ano “é muito provável que a divisa venezuelana desvalorize uns 46%
durante o primeiro trimestre do ano” (El Universal, 26/10/2012). Isto implica
no aumento da inflação e na corrosão dos salários. O tarifaço e a
desvalorização estão a serviço do pagamento da dívida externa, uma vez que “os
serviços da dívida externa venezuelana aumentam em 12 bilhões de dólares por ano”
(Notitarde.com, 11/08/2012).
Um artigo de The Washington Post de 9/1
afirma que “Roberta Jacobson, a mais alta diplomática para America Latina,
falou ao telefone com o vice-presidente Nicolás Maduro em novembro e discutiu
maneiras de melhorar os laços em vários assuntos como o de combater os cartéis
de droga e o terrorismo”. Também informa que “Maduro e outros membros do
governo Chavez também buscam uma re-aproximação [com o governo dos EUA]” e que
“o diplomata estadunidense Kevin Whitaker também esteve em contato regular com
Roy Chderton, o embaixador venezuelano na OEA em Washington”.
O chavismo facilita o caminho da direita
e do imperialismo, que exploram demagogicamente a miséria social crescente na
Venezuela. Se o chavismo quisesse aprofundar a mobilização popular para
derrotar a direita, não poderia realizar ajustes econômicos nem pagar a dívida
externa, mas ao contrário deveria satisfazer as reivindicações das massas. Por
isto, chamamos a militância operária e popular venezuelana a pronunciar-se
contra o ajuste, o pagamento da dívida e os compromissos com o imperialismo,
impulsionando um plano de lutas contra o golpe e por todas as reivindicações
das massas.
Para derrotar a pressão da direita e do
imperialismo é preciso romper e expropriar aos mesmos. Nenhuma confiança em
Maduro que prepara ajustes contra os trabalhadores pagando a dívida externa e
aproximando-se do imperialismo.
Por isto, como já antecipamos acima,
após a derrota de Kadafi, o cerco atual a Síria, a intervenção no Oeste
Africano (Mali) e ameaça de que o futuro alvo seja o Irã, o próprio Chavez já
começou a aproximação com o imperialismo, a co-orientar a capitulação das
FARCs, a restauração capitalista em Cuba, a impor ajustes da crise capitalista
com aleivosia sobre os ossos e músculos já doloridos da população trabalhadora
venezuelana. É contra tudo isto que lutamos. Mas, ainda que uma vitória da
direita seja uma probabilidade minoritária na atual conjuntura, tal vitória
acelerararia a chegada das derrotas que o chavismo preparou.
A causa da unidade latino americana não
pode ser satisfeita por nenhum governo nacionalista burguês, todos privilegiam
seus compromissos com o imperialismo contra a defesa da luta unitária de
conjunto contra este. A unidade dos operários e camponeses em nível
continental, e a luta pelos Estados Unidos Socialistas da America Latina e
Caribe é a única forma de expulsar o imperialismo do continente. Para isto é
necessário superar o nacionalismo burguês. É, portanto, fundamental erguer uma
Frente Única Antiimperialista para derrotar a direita e simultaneamente ganhar
do chavismo a influencia que hoje os revolucionários não possuem sobre as
massas. Assim, preparando o partido bolchevique da classe operária venezuelana
avançaremos para realizar todas as tarefas que o chavismo, em nome de um
socialismo boliburguês se opôs a realizar, expropriando a direita, seus grupos
midiáticos, as multinacionais e a própria boliburguesia, pelo controle operário
da PDVSA (estatal de petróleo e gás venezuelana) e com os métodos da revolução
permanente apontar a uma estratégia que supere através da revolução operária aos governos bolivarianos para conquistar um governo operário e
camponês, único capaz de estabelecer as bases para o socialismo do século XXI.
Notas:
[1] O Pacto do Punto Fijo estabelecido
em 1958 foi um acordo formal entre os representantes dos três principais
partidos políticos da Venezuela: Ação Democrática, COPEI (Social Partido
Cristão) e Unión Republicana Democrática, para a aceitação das eleições
presidenciais naquele ano e a preservação do regime democrático. Na época, foi
excluído o Partido Comunista da Venezuela (PCV, agora parte da coalizão de
Chávez). A Revolução cubana de 1959 influenciou o PCV e grupos de estudantes
com a esperança de repetir o sucesso de Fidel Castro na Venezuela. Muitos
estudantes de esquerda, formaram o Movimento da Esquerda Revolucionária
(Movimiento de Izquierda Revolucionária, MIR) em abril de 1960.
[2] As Forças Armadas Revolucionárias da
Colômbia - Exército do Popular são uma organização guerrilheira colombiana
envolvidos no contínuo conflito armado colombiano desde 1964. As FARC-EP são um
exército de camponeses com uma plataforma política agrária e anti-imperialista.
[3] The Economist conclui com esta avaliação
das forças em disputa: “Se o Sr. Maduro assumir, sua outra batalha principal
será a evitar as lutas entre facções dentro chavismo, até então administradas
pela autoridade pessoal de Chávez. Como civil, o Sr. Maduro estaria em
desvantagem em lidar com as forças armadas, que Chávez tornou o braço militar
do PSUV. Como um esquerdista radical, ele sofreria a desconfiança dos
pragmáticos, que incluem muitos oficiais do exército e empresários
recém-enriquecidos chavistas, cujo líder é o Sr. Cabello. Por agora, no
entanto, todos os olhos na Venezuela estão em um leito de doente em Havana.”