Incêndio na Boate Kiss, na
Vila Areia no Rio Grande do Sul e o assassinato de líder sem terra no Rio de Janeiro, dramas causados pelo capital e
seus representantes políticos
A
morte de pelo menos 231* jovens universitários asfixiados na Boate Kiss em Santa
Maria (Rio Grande do Sul) tanto porque o local não reunia as mínimas condições de
segurança quanto porque foram impedidos pelos seguranças de sair da casa de
show enquanto não pagassem a comanda em meio ao incêndio despertou o país para
a cumplicidade estatal com o empresariado do entretenimento.
Mesmo
que a boates não possuísse plano contra incêndio, alarme ou saída de emergência
compatível com o público que recebia, o empresário Kiko Spohr recebeu da
prefeitura alvará de funcionamento e ainda que esta licença estivesse vencida
desde agosto e os extintores de incêndio vazios a casa funcionava plenamente para
fabricar dinheiro pondo em risco a vida de milhares de pessoas.
Interessado em não perder um centavo de seu lucrativo e badalado empreendimento, em junho de 2011, em entrevista ao jornal “Diário de Santa Maria”, Kiko manifestava preocupação com o fato de que “muita gente está furando a fila e que os seguranças não conseguem controlar isso totalmente”. De lá pra cá o empresário impôs maior rigor contra seus clientes a ponto de na noite da tragédia madar os seguranças trancarem a única saída da boate em pleno incêndio. Nesta madrugada a regra foi: o cliente pode morrer sufocado, pisoteado mas não sai sem pagar.
Neste
aspecto, é evidente a cumplicidade do Corpo de Bombeiros, do governador do Estado,
Tarso Genro (PT), e do Prefeito da cidade, Cezar Schirmer (PMDB), tão rigorosos
no combate e perseguição aos pobres camelôs, sem teto e executores de um
intenso assédio moral contra a população trabalhadora em geral, como os
professores estaduais precarizados e privados de receberem o piso salarial mínimo nacional para a categoria, e tão lenientes e prestativos com o grande empresariado
criminoso que lucra desprezando elementares procedimentos de segurança sob a cobertura
estatal como acontece também em fábricas, escolas, hospitais, onde os acidentes
de trabalho matam e ferem milhares de pessoas todos os dias.
No
mesmo dia 27 de janeiro, um incêndio foi ateado na Vila Liberdade, onde vivem
catadores de rua, nas proximidades da Arena do Grêmio, em Porto Alegre, capital
do Rio Grande do Sul, área de interesse da construtora OAS. (vídeo com depoimento de moradora da Vila Liberdade)
Incêndios
criminosos tem se alastrado pelas metrópoles do país com a mesma rapidez com
que disparam a especulação imobiliária e o preço da terra. Enquanto o Corpo de
Bombeiros dava cobertura legal aos extintores vazios da Kiss, chegou a vila dos
catadores com caminhões pipas praticamente vazios, permitindo que o fogo
consumisse dezenas de barracos que continham tudo do pouco que os catadores possuíam
na vida.
Projeto imobiliário para a região do Arena e o incêndio |
ASSASSINATO
DE LIDERANÇA DO MST
E TRAIÇÃO DA DIREÇÃO DO MOVIMENTO À LUTA PELA REFORMA AGRÁRIA
E TRAIÇÃO DA DIREÇÃO DO MOVIMENTO À LUTA PELA REFORMA AGRÁRIA
Em
um e em outro caso o Estado é cúmplice do empresariado nos crimes que longe de
serem meros acidentes e fatalidades excepcionais, repetem-se com ainda maior
frequência nos bairros proletários através de deslizamentos, incêndios ou pela
repressão direta do aparato policial e do terror estatal contra a população
trabalhadora e as precárias condições de vida a que é submetida, como foi o
caso do assassinato do líder sem terra Cícero Guedes dos Santos, com tiros na
cabeça e nas costas no dia 26 de janeiro em Campos dos Goytacazes, no norte do
estado do Rio de Janeiro. Cícero deixou 5 filhos e foi visto pela última vez ao
deixar uma reunião de lideranças do movimento no assentamento Luiz Maranhão, na
usina Cambahyba, também em Campos. Nenhum pertence do agricultor foi levado. O
acampamento está localizado em um antigo engenho com sete fazendas em uma área
de 3.500 hectares. Cerca de 200 famílias do MST ocupam o lugar desde novembro
de 2012. Em nota publicada em seu site, o MST afirma que a área aguarda
desapropriação pela justiça há 14 anos. Para desilusão do campesinato pobre com
o PT, quanto tanto maior foi a cooptação do MST pelos governos Lula e Dilma, representantes
dos grandes proprietários de terra, mais foi obstacularizada a reforma agrária
no país, a ponto de que o MST condenar formalmente o protesto de sem terras que
ocuparam o Instituto Lula para cobrar um posicionamento em favor do
Assentamento Milton Santos.
São
igualmente criminosos o empresário dono da boate, o prefeito de Santa Maria e o
governador gaúcho petista. Nenhuma lágrima de crocodilo ou preocupação fingida
que manifestem agora, assim como o faz Dilma, trará de volta os mortos desta
tragédia. No caso da vila dos catadores, maior ainda será o desprezo da
burguesia e de seu Estado pela vida destes sem tetos que os empresários querem
enxotar. Deixamos nossa total solidariedade com os parentes e amigos de cada uma das vítimas destas tragédias impostas pelo capitalismo e o alerta para que se tire a lição de que para desfrutar das mínimas condições de trabalho, estudo, habitação ou
mesmo diversão a juventude e a população trabalhadora precisam organizar-se politicamente
em um partido político próprio e independente da burguesia, em oposição a política do PT, CUT, MST, UNE de integrar-se ao regime burguês contra os trabalhadores e a juventude, por um instrumento que tenha como fim a
derrota pela via revolucionária do capital e seus representantes políticos,
responsáveis por mais estas tragédias.
* Um mês depois da tragédia, o número de mortos alcançou 239.
* Um mês depois da tragédia, o número de mortos alcançou 239.