Acordo
escravocrata entre Sindicato do PSTU e a multinacional GM aumenta a jornada de
trabalho, reduz o salário e permite a demissão de centenas de operários pais de família
Mais
uma vez o PSTU faz das suas em São José dos Campos-SP, depois das mais de 4 mil demissões na Embraer
em 2009, depois do culto à justiça burguesa e à ilusão da intervenção do governo federal petista que levaram à derrota da resistência no Pinheirinho, agora, o PSTU vende os trabalhadores em layoff da GM, permitindo sua demissão
Desde meados de 2012 se arrastava uma negociação entre a maior indústria automobilística do
planeta, a multinacional General Motors, e o Sindicato dos Metalúrgicos de São
José dos Campos (SJC). De lá para cá, representados pelo principal Sindicato da
CSP-Conlutas, os operários metalúrgicos sofreram suas piores perdas até chegar a
um desfecho humilhante no dia 28 de janeiro, quando foi fechado o acordo que estabelece, entre outras condições que: 1) os operários da fábrica de SJC serão submetidos a uma jornada de trabalho extraordinária de 2 horas por dia e ainda terão que trabalhar aos sábados [1]; 2) os novos contratado passarão a receber apenas R$ 1.800, quase metade do piso atual que é de R$ 3.100; 3) poderão ser demitidos aproximadamente 650 trabalhadores que ficaram sob layoff durante todo este período [2] e 4) o pagamento da PLR está atrelada a metas de produtividade, favorecendo assim o aumento dos ritmos de produção e o assédio moral.
Contratar pagando aos novos metalúrgicos quase metade (apenas 58%) do que paga aos que vai demitir era o grande objetivo da empresa, conquistado graças ao “combativo” Sindicato da CSP-Conlutas. Em outras palavras, foi fechado um acordo escravocrata para aprofundar a exploração da mais valia absoluta (extensão da jornada de trabalho e horas extras) e garantir a contratação de novos trabalhadores com salários muito menores para substituir as centenas de operários pais de família que foram ou que serão demitidos.
Contratar pagando aos novos metalúrgicos quase metade (apenas 58%) do que paga aos que vai demitir era o grande objetivo da empresa, conquistado graças ao “combativo” Sindicato da CSP-Conlutas. Em outras palavras, foi fechado um acordo escravocrata para aprofundar a exploração da mais valia absoluta (extensão da jornada de trabalho e horas extras) e garantir a contratação de novos trabalhadores com salários muito menores para substituir as centenas de operários pais de família que foram ou que serão demitidos.
Desde
a crise de 2008, a GM teve como meta reduzir os salários e operar uma
rotatividade de mão de obra, livrando-se de boa parte dos antigos e “caros”
funcionários e substituindo-os por novos mais baratos. Por isto, choramingava
contra o alto custo da mão-de-obra chantageando desde julho com o fechamento do
setor de Montagem de Veículos Automotores (MVA) ou até ameaçando o fechamento
de toda a fábrica que possui sete mil operários. Em 2012 a planta deixou de
produzir três dos quatro modelos do MVA: Meriva, Zafira e Corsa hatch, mantendo
apenas a produção do Classic. O MVA operava com 3.000 funcionários, mas depois
da abertura de um primeiro Programa de Demissões Voluntárias (PDV), demissões avulsas e transferências para outros setores, em agosto este número
caiu a cerca de 1.840 funcionários. Nos últimos meses, 940
trabalhadores foram pressionados a ingressar em PDVs e 780 submetidos ao layoff (suspensão
temporária do contrato de trabalho). Agora, com mais centenas de demissões previstas, a
GM chegará próximo de sua meta e ainda conseguirá impor ritmos de produção e um
piso salarial que considera ideal.
A direção da empresa ficou tão feliz que o diretor de relações internacionais da GM, Luiz Moan, declarou saltitante um investimento de R$ 500 milhões na planta ressaltando que “até este acordo, não estava previsto um centavo de investimento para a planta de São José” (Do G1 Vale do Paraíba e Região, 28/01/2013) [3]. O desânimo da montadora para não investir nem “um centavo”, graças ao PSTU, converteu-se em euforia com o novo acordo trabalhista e ela resolveu enfiar o pé na jaca e investir 500 milhões!
A direção da empresa ficou tão feliz que o diretor de relações internacionais da GM, Luiz Moan, declarou saltitante um investimento de R$ 500 milhões na planta ressaltando que “até este acordo, não estava previsto um centavo de investimento para a planta de São José” (Do G1 Vale do Paraíba e Região, 28/01/2013) [3]. O desânimo da montadora para não investir nem “um centavo”, graças ao PSTU, converteu-se em euforia com o novo acordo trabalhista e ela resolveu enfiar o pé na jaca e investir 500 milhões!
Antes
do acordão “a direção [da GM] considerava a planta de São José pouco
competitiva por conta do elevado custo da mão de obra em comparação com a
concorrência.” (idem), mas agora a multinacional fez barba e cabelo e conseguiu
que, em nome do combate às demissões, o Sindicato fizesse lobby a seu favor
junto à prefeitura de SJC e o governo federal, garantindo não apenas benesses,
financiamentos e mais isenções fiscais (redução do IPI) mas sobretudo ganhando em
competitividade graças ao acordo escravocrata que ampliará a jornada, reduzirá
o piso salarial e possibilitará trocar um trabalhador “velho e caro” por 2
jovens e baratos que além de custarem quase a metade à patronal, ainda trabalharão duas horas a mais
por dia.
Para o PSTU o combate às demissões não se faz com greve mas com ilusões em Dilma |
Neste
meio tempo ocorreu a campanha salarial unificada dos metalúrgicos de São José,
Campinas, Santos e Limeira, todavia, por pressão da GM, o Sindicato da
CSP-Conlutas fez um acordo antecipado e rebaixado, prejudicando o acordo nas
bases metalúrgicas de Campinas, Santos e Limeira, e contribuindo para nivelar
por baixo os acordos dos outros sindicatos. Vale destacar que o PSTU rompeu a
campanha salarial unificada para fazer sua base aprovar em SJC um índice de
reajuste salarial e um abono tão miseráveis que foram rechaçados pela base
metalúrgica da GM de São Caetano cuja direção é da Força Sindical. O PSTU
conseguiu aprovar junto à sua base o que nem os pelegos da Força Sindical
conseguiram impor a sua em São Caetano!
Esta
é uma derrota de proporções enormes para todo o operariado brasileiro, pois, a
partir de agora, tanto o conjunto do patronato multinacional instalado aqui e
os empresários locais, quanto os pelegos de todos os matizes e em particular os da
CUT e da Força Sindical, se sentirão muito mais a vontade para trair também sua
base e empurrar goela abaixo o Acordo Coletivo Especial defendido pelo
Sindicato dos Metalúrgicos do ABC paulista, ligado a CUT pelega.
Afinal, este
acordo do PSTU não é apenas mais um acordo, este é “O” acordo por excelência do
sindicato mais forte dirigido pelo PSTU, ao operariado metalúrgico da maior
indústria automobilística do planeta, a GM [5]. O oportunismo da coligação comEdmilson (PSOL) e o PCdoB em Belém é nada (embora seja complementar) frente aisto. O apoio aos “rebeles” da CIA na Líbia e na Síria também são
complementares a esta trajetória assumida pelo PSTU contra os interesses dos trabalhadores e em favor das multinacionais imperialistas (sejam elas automobilísticas ou petroleiras).
Com esta política, que se somam as mais 4.000 demissões da Embraer e a derrota
da ocupação do Pinheirinho dentre tantas outras menores, o PSTU consolidou um
curso de derrotas para os setores da classe trabalhadora para quem o partido
assumiu alguma responsabilidade política dirigente.
Zé Maria do PSTU/CSP-Conlutas e o pelego Paulinho da Força Sindical "contra as demissões na Embraer", resultado: 4.300 demissões |
Para
reverter esta derrota, e evitar outras futuras, os trabalhadores da GM e das demais fábricas da região precisam
organizar-se por fora do controle dos patrões e do PSTU, a partir de CIPAs e comissões de fábricas combativas, na luta pela reconquista do sindicato tanto para a
defesa das reivindicações mais elementares como o emprego, o salário e a
redução da jornada de trabalho quanto dos interesses históricos da classe
trabalhadora, ou seja, a construção de um partido revolucionário dirigido pela
vanguarda mais consciente e classista do operariado e que tenha por finalidade
a nossa emancipação da exploração imposta pelo capital, seu Estado e seus pelegos,
incluindo os que se disfarçam de esquerda.
Notas
[1] Vale lembrar que um dos primeiros acordos em que os metalúrgicos conseguiram reduzir a jornada de trabalho foi através da greve da GM de São José dos Campos em abril de 1985, quando os metalúrgicos fizeram uma ocupação da empresa que prenderam inclusive a chefia da empresa. Agora é o PSTU quem ajuda a GM a destruir as conquistas operárias e no sentido contrário a ampliar a jornada de trabalho.
[1] Vale lembrar que um dos primeiros acordos em que os metalúrgicos conseguiram reduzir a jornada de trabalho foi através da greve da GM de São José dos Campos em abril de 1985, quando os metalúrgicos fizeram uma ocupação da empresa que prenderam inclusive a chefia da empresa. Agora é o PSTU quem ajuda a GM a destruir as conquistas operárias e no sentido contrário a ampliar a jornada de trabalho.
[2]
150 dos quais estão em situação menos ruim porque estão lesionados, com auxílio acidente (código b-94) ou estão
próximos a aposentadoria
[3]
http://g1.globo.com/sp/vale-do-paraiba-regiao/noticia/2013/01/acordo-entre-gm-e-sindicato-possibilita-corte-de-650-funcionarios.html
[4] Como agora em que os trabalhadores que estão de layoff e estiveram na linha de frente da luta (foram a Brasília, trancaram a Dutra, fizeram protesto em SJC debaixo de chuva, etc.) sentem-se usados como isca e traídos pelo Sindicatos que não garantiu seus empregos quando assinou o acordo, esta sequência de derrotas causa desconfiança na base em relação a direção e gera um ciclo vicioso que a própria direção se utiliza para alegar que a base não quer fazer greve. Há um ano a Liga Comunista cantou a bola em meio ao despejo do Pinheirinho e
início da ofensiva da GM no artigo: Lições da derrota: O papel da direção - o
PSTU - e do Estado capitalista no Pinheirinho -
http://lcligacomunista.blogspot.com.br/2012/02/especial-pinheirinho-especial.html
[5] Leia abaixo os principais pontos do acordo:
· Investimento de R$ 500 milhões direcionados às áreas do Powertrain (motores e transmissão), Estamparia e S10, no período de 2013 e 2017.
· Produção do Classic até dezembro, com 750 trabalhadores. Após esse período, haverá nova negociação.· Férias coletivas entre os dias 29 de janeiro a 14 de fevereiro para os trabalhadores da produção do Classic.
· Quem está em layoff terá extensão do processo por dois meses. Ao final, se a empresa demitir, terá que pagar uma multa de três salários. O trabalhador poderá optar por sair imediatamente e receberá cinco salários, além dos direitos trabalhistas.
· Renovação das cláusulas sociais na data-base da categoria para 2013 a 2015. As cláusulas econômicas serão negociadas em setembro. Nesse período não haverá abono.
· PLR igual a de 2012 mais R$ 3.200, totalizando cerca de R$ 16 mil. Em maio, haverá negociação das metas. A primeira parcela será de R$ 6,6 mil.
· Discussão entre GM e Sindicato sobre formas de antecipação da aposentadoria para quem estiver prestes a se aposentar.
· A GM se compromete a negociar, em primeiro lugar, com o Sindicato, caso haja projeto de investimento em um novo veículo no Brasil.
· Nova grade salarial para funcionários admitidos a partir da assinatura do acordo, apenas na fábrica de componentes (Powertrain, Estamparia e Plástico), com piso de R$ 1.800.
· Jornada de trabalho que possibilita duas horas extras por dia e trabalho extraordinário aos sábados, alternadamente. Poderá haver folga em até 12 dias por ano, que serão compensados posteriormente.
· Reaproveitamento de lesionados em atividades compatíveis, devendo ser definidas em conjunto com o sindicato.
· Garantia do nivel de emprego até dezembro de 2013 no MVA e dezembro de 2014 para o restante da planta de São José dos Campos.
· Ajuste na cláusula de nível de emprego da área de manuseio de materiais, de 1203 para 900 empregados.
· Garantia de renovação/extensão dos acordos de jornadas diferenciadas de trabalho (6 x 1; turno de revezamento e jornada de domingo mediante pagamento de hora extra e com folga na semana) pelo período de dois anos.
· Inclusão em cláusula de acordo coletivo, reconhecendo que o período de minutos que antecedem e sucedem a jornada contratual, limitados a 40 minutos diários, não serão considerados como tempo a disposição da empresa. Na hipótese de ocorrer desligamento da fábrica, o Sindicato ajuizará ação referente ao período anterior a esta negociação.
· O acordo terá duração de dois anos.
(Fonte: Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região)
[5] Leia abaixo os principais pontos do acordo:
· Investimento de R$ 500 milhões direcionados às áreas do Powertrain (motores e transmissão), Estamparia e S10, no período de 2013 e 2017.
· Produção do Classic até dezembro, com 750 trabalhadores. Após esse período, haverá nova negociação.· Férias coletivas entre os dias 29 de janeiro a 14 de fevereiro para os trabalhadores da produção do Classic.
· Quem está em layoff terá extensão do processo por dois meses. Ao final, se a empresa demitir, terá que pagar uma multa de três salários. O trabalhador poderá optar por sair imediatamente e receberá cinco salários, além dos direitos trabalhistas.
· Renovação das cláusulas sociais na data-base da categoria para 2013 a 2015. As cláusulas econômicas serão negociadas em setembro. Nesse período não haverá abono.
· PLR igual a de 2012 mais R$ 3.200, totalizando cerca de R$ 16 mil. Em maio, haverá negociação das metas. A primeira parcela será de R$ 6,6 mil.
· Discussão entre GM e Sindicato sobre formas de antecipação da aposentadoria para quem estiver prestes a se aposentar.
· A GM se compromete a negociar, em primeiro lugar, com o Sindicato, caso haja projeto de investimento em um novo veículo no Brasil.
· Nova grade salarial para funcionários admitidos a partir da assinatura do acordo, apenas na fábrica de componentes (Powertrain, Estamparia e Plástico), com piso de R$ 1.800.
· Jornada de trabalho que possibilita duas horas extras por dia e trabalho extraordinário aos sábados, alternadamente. Poderá haver folga em até 12 dias por ano, que serão compensados posteriormente.
· Reaproveitamento de lesionados em atividades compatíveis, devendo ser definidas em conjunto com o sindicato.
· Garantia do nivel de emprego até dezembro de 2013 no MVA e dezembro de 2014 para o restante da planta de São José dos Campos.
· Ajuste na cláusula de nível de emprego da área de manuseio de materiais, de 1203 para 900 empregados.
· Garantia de renovação/extensão dos acordos de jornadas diferenciadas de trabalho (6 x 1; turno de revezamento e jornada de domingo mediante pagamento de hora extra e com folga na semana) pelo período de dois anos.
· Inclusão em cláusula de acordo coletivo, reconhecendo que o período de minutos que antecedem e sucedem a jornada contratual, limitados a 40 minutos diários, não serão considerados como tempo a disposição da empresa. Na hipótese de ocorrer desligamento da fábrica, o Sindicato ajuizará ação referente ao período anterior a esta negociação.
· O acordo terá duração de dois anos.
(Fonte: Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região)