do Bolchevique #6
No Plenário final do Congresso, companheira da LC critica o apoio à greve dos repressores e exige da direção da ANEL o apoio, 'esquecido' pela entidade, à greve dos trabalhadores
Dos dias 23 a 26 de junho ocorreu em Seropédica (RJ) o I Congresso da Assembleia Nacional dos Estudantes - Livre. Segundo os organizadores, participaram 23 estados do país e 1700 estudantes. Na plenária final intervieram representantes do PSTU, LER, Liga Comunista e POR. Mas, indiscutivelmente, o Congresso refletiu um estancamento do crescimento da ANEL se comparado aos fóruns anteriores e em entidades de base, gerais, quantidade de estudantes, ativistas e correntes que participam da entidade. Isto se deve à política da corrente hegemônica, o PSTU, que a impede de constituir-se como alternativa à UNE e à UBES governistas. Os dois principais eixos políticos estabelecidos pela direção da entidade para o Congresso, o apoio à greve dos bombeiros do Rio de Janeiro e a reivindicação de 10% do PIB para a educação, são uma prova disto.
Nos quatro dias, o PSTU repetiu até a exaustão, através das falas de seus representantes, adesivos, faixas e cartazes, o slogan reacionário “somos todos bombeiros”, confundido deliberadamente os interesses da juventude com os da corporação policial de onde são recrutados muitos milicianos, que participa juntamente com o BOPE e a PM da invasão dos bairros proletários, como a Mangueira, onde foi instalada da 18ª UPP. Não por acaso, uma das principais ‘estrelas’ convidadas pelo PSTU para palestrar do Congresso da ANEL foi o cabo Benevuto Daciolo, um dos líderes do motim policial e candidato pelo não menos reacionário PRB, ao cargo de vereador do Rio de Janeiro em 2008. Para quem não sabe, o PRB é o partido do ex-vice de Lula, o ex-empresário, recém falecido, José Alencar; é o partido homofóbico da bancada evangélica, o partido da Igreja Universal. O dirigente do PRB no Rio é ninguém menos que o corrupto e gangsteril senador Marcelo Crivela, que em 2008 esteve no centro do episódio em que militares comandados por um tenente capturaram três jovens moradores do Morro da Providência para serem torturados e mortos por uma facção de traficantes rivais. Crivella foi o senador que patrocinou a ida do Exército ao morro, para supervisionar obras do Projeto Cimento Social, "de urbanização da favela", tendo submetido o projeto à análise do presidente Lula - que o aprovou. O assassinato dos jovens gerou grande polêmica quanto à legalidade da presença das tropas no morro, o que criou um impasse. Posteriormente, até a Justiça Eleitoral julgou que o Projeto Cimento Social tinha conteúdo eleitoreiro, beneficiando Crivella irregularmente, e embargou as obras. Apesar de tudo isto, criminosamente, em nome do "apoio aos que lutam", a direção da ANEL engana a juventude e ajuda aos representantes do mafioso PRB a aumentarem sua projeção eleitoral.
A Liga Comunista denunciou no plenário do Congresso que enquanto a direção da ANEL fazia abertamente adoração aos repressores e assassinos da juventude no Rio de Janeiro com seu slogan “somos todos bombeiros”, boicota descaradamente a primeira greve nacional e por tempo indeterminado contra o governo Dilma, a greve dos trabalhadores de 44 universidades federais de todo o país. A ANEL reivindica o mesmo índice miserável de verbas para a educação defendido pela UNE (10% do PIB)* e leva para o Congresso políticos reacionários, agentes da repressão, dos partidos governistas mas em nenhuma resolução, nenhuma proposta do extenso caderno de Propostas, a direção da ANEL (PSTU) fez constar qualquer menção à greve (crítica que deve ser estendida à LER e ao POR que também possuíam propostas no caderno de Teses) da principal categoria nas universidades cuja luta pode fazer aumentar as verbas para a educação. Nem o fato de que a Universidade onde se realizou o Congresso, a Federal Rural do Rio de Janeiro, cujo sindicato, o SINTUR, filiado à Conlutas, está em greve, e de que no portão de entrada da UFRRJ existe uma faixa enorme dos trabalhadores declarando a greve, sensibilizou a ANEL sequer para mencionar, mesmo que formalmente, a existência da greve e muito menos o que seria obrigação da entidade “anti-governista”, cobrir de solidariedade o movimento dos trabalhadores, chamando uma greve nacional estudantil em apoio à primeira greve nacional contra Dilma e pela educação. Também em importantes lutas ocorridas em 2011, como a luta contra a terceirização e contra a instauração de uma base da PM no campus da USP, não se viu a direção da ANEL mover um dedo.
A ANEL não se constituirá jamais como um instrumento de luta da juventude se continuar sem o menor reflexo classista. A ANEL não será uma alternativa à UNE aburguesada, governista e corrompida enquanto for "TODA" em favor dos policiais bombeiros, inimigos da juventude e não for NADA pela luta dos grevistas nas universidades, principais aliados na defesa da educação pública, gratuita e estatal sob o controle dos trabalhadores. No Congresso, a LC foi a corrente que defendeu os interesses dos trabalhadores em luta e em greve em todo país. Já a partir do MANIFESTO distribuído amplamente no Congresso apontávamos: "O papel da juventude não é o de apoiar as reacionárias greves do aparato repressivo (bombeiros), não é apoiar a ofensiva de Obama ao lado dos contrarrevolucionários de Bengasi, nem desejar ainda mais entorpecimento (uso de drogas). O lugar da juventude é lutar com os trabalhadores em greve nas universidades federais contra Dilma e pela educação pública gratuita e estatal, com os terceirizados contra a precarização trabalhista, com os povos oprimidos em sua luta anti-imperialista e para ter consciência de que seus interesses históricos só poderão ser plenamente satisfeitos na luta pela construção do partido e da revolução comunista!"
Manifesto da Liga Comunista distribuído no Congresso |
* Sobre esse tema, no manifesto da LC “A luta pela consciência da juventude trabalhadora e quem são seus aliados hoje” distribuído no Congresso polemizamos: “Como poderá a ANEL ser uma alternativa de direção para a juventude na luta contra os cortes orçamentários de Dilma, se copia acriticamente a posição defendida pela UNE, dos 10% do PIB para a educação? Não basta se opor à política reducionista do PNE, que visa precarizar ainda mais a educação. Nem os 7% do PNE e nem os 10% propostos pelo corrupto Conselho Nacional de Educação. Por Conselhos de Estudantes e Trabalhadores para planificar a educação estatal.”