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sexta-feira, 22 de março de 2019

NÃO APOIAMOS PRISÃO DE TEMER PELA AGENCIA DA CIA NO BRASIL

Lava Jato, a principal agência da guerra híbrida da CIA no Brasil, prende Temer e recebe apoio da esquerda brasileira

A Lava Jato prendeu o ex-presidente Michel Temer em um processo midiático, justamente quando estava sofrendo vários golpes e desmoralizações, quando sua máscara estava caindo para amplos setores da população.

Temer é nosso inimigo de classe, assim como o megacapitalista Marcelo Oderbrecht (cuja prisão analisamos em "Manobras golpistas imperialistas"), mas quando a prisão de um inimigo de classe é realizada pelo maior inimigo de todos os trabalhadores do mundo, nós, comunistas, defensores estratégicos dos interesses dos trabalhadores, não temos nada a comemorar, não apoiamos, não nos regogizamos. Nós nos opomos porque isso só fortalece ao imperialismo, não serve de "atalho" para nossa luta. É necessário aqui não se deixar levar pelo calor impressionista diante do frenético bombardeio de informações ilusórias e refletir o que se passa com as ferramentas do materialismo dialético.
Sem isso, o bombardeio midiático embriaga setores da classe média e mais ainda da esquerda que apoiou a "prisão do bandido", reproduzindo o mote reacionário já surrado da "luta contra a corrupção deslavada" que serviu de ponta de lança para toda a escalada golpista (também em 1954, contra Getúlio, e 1964, contra Jango). Essa esquerda golpista substitui a contradição principal a ser enfrentada pelo proletariado, a da luta contra o imperialismo, combinada a luta contra o capitalismo, pela luta contra a corrupção.

Todos comemoraram a prisão do traidor do governo Dilma. Da extrema direita, do partido de Bolsonaro, a extrema esquerda golpista.

O Major Olímpio (PSL/SP), líder do bolsonarismo no Senado, comemora:
"nós estamos no caminho da lei ser cumprida, tem que passar a limpo o país, cadeia para todos aqueles que dilapidaram o patrimônio do povo brasileiro, envergonharam a política e nesse momento tem que pagar sim na justiça, [e ameaça] não interessa se é ex-presidente, se era ministro, membro do poder executivo, do poder legislativo, e até mesmo do poder judiciário, daí nosso interesse também com a CPI Lava Togas". (vídeo do líder do governo no Senado).

O vice, general Mourão, em nome das forças armadas imediatamente tratou de mais uma vez se passar como o estrategista sereno e assegurar que a prisão de Temer não deve atrapalhar as votações no Congresso e, principalmente a reforma previdenciária:
a prisão do ex-presidente Michel Temer não deve atrapalhar votações importantes no Congresso Nacional, como a reforma da Previdência, mas admitiu que o episódio gera "ruído" político.
Ao mesmo tempo, na mesma linha de Olímpio, Mourão também dispara contra Gilmar Mendes, principal representante no STF do PSDB e aliado do MDB e do DEM (Rodrigo Maia), os partidos do "capitalismo de compadrio".
Eu acho que não [atrapalha]. Tem ruído, vai ficar esse ruído, mas vamos aguardar, pode ser que daqui a pouco ele seja solto, vamos esperar o que pode acontecer", disse. Para Mourão, Temer pode ganhar, em breve, "um habeas corpus de um ministro qualquer".
O PT, torce pelo bom senso da justiça golpista:
"O Partido dos Trabalhadores espera que as prisões de Michel Temer e de Moreira Franco, entre outros, tenham sido decretadas com base em fatos consistentes, respeitando o processo legal, e não apenas por especulações e delações sem provas” (nota do PT).
Lula até recomenda mais sobriedade a seus algozes: No twitter declarou:
A Lava Jato tenta desviar a atenção do descrédito em que estava caindo e do fundo de 2,5 bilhões que negociaram com os EUA. A Força Tarefa não precisa de pirotecnia para sobreviver, precisa de sobriedade. #RecadoDoLula



A esquerda, cada vez mais adaptada ao regime golpista, como o PSOL referenda a manobra:
"Temer deve ser submetido a julgamento e, se comprovado seu envolvimento em atos ilícitos, como atestam os inúmeros indícios disponíveis, deve ser condenado" (nota do PSOL)".
O PSTU segue a onda ainda mais animado: "Temer foi preso, demorou!" (nota do PSTU), no que é acompanhado por minúsculos grupos golpistas esquizofrênicos 'revolucionários', que como leões de chácara dessa posição ideológica imperialista condenam qualquer posição em contrário:
"Neste sentido, é um absurdo que setores que se dizem de esquerda estarem contra a prisão de Temer." [e segue repetindo sua palavra de ordem principal nos últimos anos] "Defendemos que todos os corruptos e corruptores devem ser presos e terem seus bens confiscados." (nota do PSTU)
É assim que sob o título "Temer foi preso, demorou!" que busca se passar "gíria popular", o PSTU cumpre seu papel na luta de classes e serve ao fortalecimento da justiça golpista imperialista.

Se dependermos dessas posições políticas, a manobra imperialistas da operação Temer da Lava Jato funcionará. Moro se defende atacando depois que seus últimos movimentos se depararam com resistência dentro do Legislativo e do Judiciário, a ponto de Rodrigo Maia se opor a acelerar seu pacote de medidas punitivistas anticrime dizendo que ele se pusesse em seu lugar como mero "funcionário de Bolsonaro" e que entendia pouco de política e escalou deputados do PT e PSOL para analisar o "projeto anticrime".

A substituição do capitalismo de compadre pelos grandes bancos através do combate à corrupção tem como base material, assegurar que os recursos que alimentam as velhas oligarquias políticas se reorientem em direção aos bolsos dos banqueiros, drenem as verbas e orçamentos do Estado, que deve ficar mais "ficha limpa", barato, austero, para pagar a dívida pública. Trata-se de um salto de qualidade no sentido do que já foi iniciado pelos governos neoliberais no passado. FHC criou a Lei de responsabilidade fiscal (LC 101/2000). Temer criou o novo regime fiscal (EC 95/2016). Agora haverá uma mudança na dispersão da mais valia muito maior em favor da oligarquia financeira interligada globalmente, a “Hidra Mundial”, como denomina François Morin.


O capitalismo de compadrio representava o federalismo oligárquico, que negociava seu parasitismo no Estado e atendia as demandas do grande capital e do imperialismo tendo como arena das mediações as relações entre executivo e o legislativo, o “toma lá da cá” que passava pelo parlamento. Agora, isso é repudiado pela “nova política” bolsonarista, que se declara contrário as negociações parlamentares, encenando para seu eleitorado a farsa de ascetismo apolítico. Por isso, Bolsonaro comentou que a prisão do ex-presidente foi resultado dos acordos políticos feitos pelo emedebista em nome da governabilidade: "o que levou a essa situação, pelo que parece, são os acordos políticos dizendo-se em nome da governabilidade".

O fortalecimento da ditadura judicial, do judiciário que não depende do voto popular para obter poder, nem sequer indiretamente, mas de uma burocracia cooptativa, que tem como arma na guerra híbrida o law fare, pode apontar para o fim do ciclo parlamentarista do regime que nasceu com o golpe de Estado parlamentar de 2016 (
ler AS LEIS DE EXPROPRIAÇÃO DO POVO E O CAPITAL DE MARX).

A manobra serve para resgatar a imagem da Lava Jato junto a opinião pública pequeno burguesa, reestabelecer o caráter de árbitro nacional da agência da CIA, prendendo um político tradicional odiado, o mais impopular presidente do país, Delfin do golpe de 2016, mas obviamente só porque se trata de um fusível queimado, cujo valor maior, agora, é exatamente o de ser carbonizado por toda a mídia burguesa, com a ajuda da pequeno burguesa.

Temer é um inimigo e queríamos nós termos reunido condições para derrubar o governo golpista de Temer e estabelecer em seu lugar um governo revolucionário dos trabalhadores, desse modo não teria havido um salto de qualidade na dominação imperialista do país, para depois de Temer, representante do capital de compadrio (analisado em "Por uma compreensão materialista do MDB"), sermos agora comandados por um governo de militares, milicianos, ultraliberais e doidivanos evangélicos dispostos a arrastar o país para as travas de uma ditadura obscurantista. Trata-se da substituição do capitalismo de compadres (capitalismo de compadrazgo, em castellano, crony capitalism, em inglês), por agentes da oligarquia financeira internacional.

Essa prisão pirotecnica ocorre justo agora que está ficando mais claro qual o caráter da Lava Jato, de uma verdadeira organização criminosa, para amplos setores da população, após a indicação de Moro como ministro da justiça de Bolsonaro como pagamento por prender e inviabilizar a candidatura de Lula, o candidato preferido da maioria da população. E mais ainda depois que a Lava Jato foi flagrada criando um bilionário fundo privado de R$ 2,5 bilhões, como parte do negócio entre a operação judicial e os EUA, após a Lava Jato ter obrigado a Petrorás a pagar R$ 10 bilhões a acionistas norte-americanos para encerrar uma ação judicial no país.

A operação judicial, nascida do abafamento do esquema de corrupção do Banestado, com remessas ilegais para o exterior, através desse banco do Estado do Paraná, de aproximaram-se dos 134 bilhões de dólares, mais de meio trilhão de reais em valor presente, para ser exato, 520 bilhões, converteu-se em um tribunal "brasileiro" que atua como agente infiltrado para derrubar governos, impor presidentes marionetes, entregar a maior estatal do país aos EUA e ainda ficar com uma percentual bilionário para enriquecer e fortalecer sua máquina política-judicial.

Ao tentar controlar todo o poder, Sérgio Moro, como super Ministro da Justiça e Segurança Pública, e a Lava Jato, como uma operação de justiça de primeira instância hipertrofiada, entraram em choque com o STF, com a Procuradoria Geral da República e com o presidente do Congresso, perdendo batalhas e se desmoralizaram. O fundo bilionário foi suspenso e o STF encerrou um julgamento sobre a competência para o julgamento de crimes relatos à prática de caixa dois.

Cada prisão dessa, e essa mais do que as anteriores, causa um desconforto, um alvoroço nos tradicionais políticos burgueses parasitas do Estado, que estão sendo tratorados pela nova categoria de políticos, a dos jagunços diretos do imperialismo, como Bolsonaro, que não são disciplinados pelos capitalistas tupiniquins, sua mídia e suas instituições tradicionais. O atual governo entreguista e o que vem se chamando pomposamente de ultraliberalismo, na verdade retoma a tradição escravocrata colonial brasileira em uma condição superior, uma nova forma, diretamente servil não mais a metrópole mercantilista, mas ao capital financeiro internacional, sem atravessadores locais. Para salvar sua própria pele, alguns desses políticos já chantageiam a oligarquia financeira animando resistências a aprovação da reforma da previdência.

Chamamos os trabalhadores e a sua real vanguarda combativa e classista a não se deixar confundir, essa é sim mais uma prisão política, uma manobra distracionista a qual não apoiamos. Defendemos a liberdade para todos os presos políticos da Lava Jato, todos. Defendemos o fim dessa ditadura judicial, suas maracutaias, a sabotagem da economia brasileira por essa operação, suas demissões, suas prisões coercitivas e delações premiadas sob tortura psicológica. São os trabalhadores do Brasil através de seus tribunais populares e não os juízes dos tribunais de exceção do imperialismo, como Moro, Bretas e Dallangnol, que devem ter a primazia e a autoridade sobre o Brasil para dizer quem é ou não culpado.


O apoio à prisão de Temer por parte da esquerda brasileira faz parte de uma adaptação gradual da mesma ao regime golpista e sua ideologia policialesca, moralista. Não é lá muito melhor que a vassalagem do imperialismo que a viagem de Bolsonaro aos EUA. Não serve à emancipação dos trabalhadores, alimenta ilusões que serão os juízes do imperialismo quem os vingará contra patifes odiados como Temer, não favorece a consciência do proletariado e independência de classe em relação aos seus algozes de hoje.