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quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

BRASIL - ACIRRAMENTO DA LUTA DE CLASSES

Aumenta da crise econômica e social, do terror estatal e paraestatal e também da resistência da juventude e da população trabalhadora
Por Davi Lapa

Como nos ensinou Malcom X “não existe capitalismo sem racismo” e cada tipo de capitalismo tem sua forma particular de impor seu racismo. De forma dissimulada ou escancarada tudo nasce de uma necessidade do capital de superexplorar o trabalho negro. O racismo foi maior na África do Sul justamente porque a minoria branca estava ilhada em meio uma imensa massa negra (1 branco / 6 negros) que só podia explorar sob a base da extrema opressão policial fascista. O aumento da tensão social derivada da chegada da crise econômica no Brasil vem fazendo que tanto o Estado burguês e a burguesia como setores da classe média acomodada mostrem cada vez mais os dentes para a classe trabalhadora em geral e os seus setores mais oprimidos, em particular, para aterrorizar, conter qualquer expressão de resistência a fim de acentuar a exploração necessária para que seja a nossa classe a que paga pela crise capitalista. Neste sentido, o aumento da segregação social e racial corresponde também às necessidades do barateamento do valor da força de trabalho, da precarização em tempos que o governo comemora como de “pleno emprego” no país.

O crescente do terror estatal e a histeria da classe média preconceituosa, com respaldo da mídia têm incentivado a formação de grupos de ditos “Justiceiros”, vagabundos de classe média que se acham no direito de turbinar o terrorismo de classe, bater e torturar os filhos e membros em geral da população trabalhadora.

O caso do desaparecimento do operário da construção civil, Amarildo, que foi torturado e morto pelos “anjinhos” da UPPs na Rocinha/RJ, os pelourinhos recriados em Copacabana, no Flamengo ou no Cariri nordestino, onde negros são acorrentados, realizado por quadrilhas da classe média (apoiadas pela mídia como “homens de bem” pela mercenária midiática como a “jornalista” Rachel Sheherazade, do SBT) são uma expressão brasileira da “Ku Klux Klam” dos EUA.

A discriminação que vem acontecendo com jovens pobres, filhos da classe trabalhadora e negros nos shoppings do Brasil, sempre aconteceu e nunca teve atenção da mídia, era tratado como coisa normal. Jovens de periferia sempre são abordados por seguranças que os ameaçam de chamar a policia e acusa-los de roubo que o lugar deles não é ali, prática comum nos shopping.

Mas, o ascenso das greves em 2012, seguido pelas manifestações de massa em todo país em 2013, animou a juventude da periferia a reagir a esta opressão coletivamente, ainda que a maior parte dela não tenha consciência política deste processo. Os rolezinhos estas manifestações pacificas de jovens de periferia que aconteceram em shoppings perto de suas comunidades, “para zoar, dar beijo, rolar umas paquera, ou tumultuar, pegar geral, se divertir, sem roubos”. Eles não roubaram, não destruíram, não portavam drogas, mas mesmo assim 23 deles foram levados à delegacia, como se nada justificasse a detenção. Mas mesmo assim o aparato de repreensão do governo Alckmin a serviço dos capitalistas donos dos shoppings onde se deu os chamados “Rolezinhos” agrediu e agiu de forma violenta contra esses jovens que se manifestavam pacificamente.

Se não há crime, porque os jovens negros e pobres das periferias da Grande São Paulo estão sendo criminalizados? Os seguranças passaram, a mando da administração dos shoppings controlarem quem podia entrar segregando assim jovens da periferia principalmente negros, a moda da “Apartheid” (política de segregação racial) da África do Sul ou do tipo de racismo existente até a década de 1960 nos EUA (agora, tanto a África do Sul quanto os EUA possuem racismos mais camuflados). Nos EUA, a juventude negra vem realizando seus rolezinhos desde então. Sendo um marco da luta contra o racismo. No Brasil, o primeiro que se tem notícia ocorreu em 2000, em um shopping da zona sul do Rio de Janeiro.

“Parte da classe média brasileira consumidora desses shoppings mostrou todo seu preconceito contra a população pobre e negra, definindo os “rolezeiros” de “maloqueiros, prostitutas e negros”. Negros aqui surgem como palavra de ofensa.

A resposta violenta da administração dos shoppings, das autoridades publica, da clientela e de parte da mídia demonstram estão despreparados para lidar com manifestação pacifica e democrática.  Mas a violência era justamente o fato de não estarem lá para roubar, o único lugar em que se acostumaram enxergar  jovens negros e pobres. Preferiram concluir que havia intenção de furtar e destruir, o que era mais fácil de aceitar a admitir que apenas queriam se divertir nos mesmos lugares que a classe média,desejando os mesmos objetos de consumo que ela.

Esta na moda agora a mídia brasileira taxarem qualquer participante de manifestação como vândalos baderneiros, porque assim enquadram na lei como crime comum, quando na verdade as manifestações são políticas.  Assim também tentaram enquadrar os jovens participantes dos “Rolezinhos” como criminosos. Apesar de esses jovens serem os maiores consumidores desses shoppings, de acordo com pesquisas são responsáveis por 56% do consumo.

Os “rolezinhos” é apenas uma das insatisfações dos jovens da periferia, que não tem espaço de lazer,cultura e esporte,quando quer se divertir e é obrigado a fazer “Pancadão” bailes “Funks”,que é perseguido pela policia. Resta então aos jovens as drogas e a marginalidade sendo brutalmente assassinado pela policia corrupta do estado e grupo de extermínio muitos deles formados por policiais.

Os ônibus queimados na periferia de São Paulo expressam a revolta da população que cansaram de ver seus filhos sendo mortos e continuar a impunidade desses criminosos pagos pelo estado para matar jovens pobres e negros em sua maioria.

A RESISTÊNCIA PROLETÁRIA PRÉ-CARNAVAL

No Brasil, as classes dominantes, a burocracia sindical e também a esquerda pequeno burguesa impulsionaram por anos o mito de que só existia luta de classes depois do carnaval. De fato, até 2014, sempre no início do ano, a buruguesia realizava os maiores ataques econômicos contra as massas, com aumentos de transportes, IPTU, cobrança de dívidas, etc, enquanto os sindicalistas e ativistas vinculados a burocracia sindical andavam de férias. Desde o final de 2013 e sobretudo em 2014, o quadro vem mudando, com o “natal dos rolezinhos”, os protestos contra a repressão policial e contra a copa, mas principalmente com a entrada em cena de alguns setores da classe operária como a greve nacional dos correios em defesa de suas condições de saúde, excepcionalmente fora da campanha salarial, contra e apesar da orientação política das direções sindicais do Rio de Janeiro ou de São Paulo (PCdoB) que controla os dois maiores sindicatos do país e sabotam a greve, bem como o Sindicato da Bahia, do PT, que foi obrigado a fazer greve, não conseguindo acabar com a mesma mesmo levando gente do partido para acabar com ela. Também merecem destaques a combativa greve dos condutores de Porto Alegre, passando por cima dos acordos impostos pela patronal e o Sindicato pelego da Força Sindical, cujos burocratas quase foram linchados pela base, e dos professores do Rio Grande do Norte.

Nos bairros proletários é preciso destacar que não apenas aumenta a repressão, mas, de forma cada vez mais clara vem aumentando a resistência, tanto quando o MTST suplanta um papel de mobilização política urbana que na década de 1990 era ocupado pelo MST, mas também quando as massas politicamente desorganizadas saem a luta como na rebelião de Vila Medeiros, zona norte de São Paulo, ocasionada pelo assassinato a queima roupa de um morador, que rebelou a região. Fenômeno similar ao que ocorreu em fevereiro de 2014 em Jacarepaguá, zona Oeste do Rio de Janeiro, depois que a polícia matou a dois jovens, se desencadeou um protesto com queima de ônibus, caminhão, banheiro químico, máquinas usadas em obras de empreiteiras. A propósito, como expressão do descontentamento popular contra a repressão policial, o sistema de transporte e o empresariado, nos protestos nos bairros proletários tem havido um importante crescimento de queima de dezenas de ônibus nas principais capitais do país.

O conjunto do aparato burguês, mídia, polícia e justiça, organiza estrangulamento da resistência popular e criminalizar aos manifestantes, seja atirando com balas de chumbo nos manifestantes contra a Copa em São Paulo, seja infiltrando P2 nas manifestações para armar situações, como a morte do jornalista Santiago Andrade no Rio, que justifiquem o recrudescimento do combate a resistência, como armaram contra o catador de rua Rafael Vieira, condenado a 5 anos em regime fechado por participar dos protestos de rua, acusado de portar coquetéis molotvs, quando somente portava desinfetantes e água sanitária.


Nesta conjuntura, o governo do PT se esmera por prestar o melhor serviço possível a reação, afim de continuar capitaneando o comitê gestor dos negócios do imperialismo e da grande burguesia brasileira. Não por acaso, o senador petista Jorge Viana (PT-AC) fez o pedido pedido para que o projeto de lei antiterrorista seja colocado em votação imediatamente, aproveitando a comoção popular em torno do assassinato do jornalista por agentes policiais.

Ainda que em alguns casos, provavelmente, neste primeiro momento, a revolta popular dos bairros proletários e cadeias venha sendo capitalizada pelas poucas organizações que existem como o PCC e Cia. isto apenas expressa a carência da organização política da população através de organizações da esquerda revolucionária, através de um programa claro de enfrentamento contra o conjunto do capital, suas empresas (legais ou ilegais) e seu Estado. Para verdadeiramente dar uma saída progressiva a resistência popular somente organizando um partido revolucionário que lute pelo passe livre, principal bandeira que impulsionou as mobilizações do ano passado, contra os despejos e incêndios causados pela especulação imobiliária e pela Copa, pela dissolução da PM, pelo fora UPPs e constituição de comitês de autodefesa pelos sindicatos e associações de moradores dos bairros proletários, em defesa do direito de greve e de manifestação, jornada de trabalho de 7h diárias-35h semanais, da redução da jornada sem redução salarial e com reposição das perdas históricas, atraindo o proletariado para as ruas. Toda esta agitação deve combinar-se a explicação paciente da necessidade de um governo próprio da classe, um governo operário e dos trabalhadores.

Sabemos que só a sociedade Socialista pode proporcionar aos jovens melhores condições de vida com boas escolas, esporte cultura e lazer aos filhos da classe operária. Ao capitalismo interessa proporcionar bem estar à burguesia e seus filhos, chegou a hora dos jovens de periferia engajar nas lutas políticas em direção a uma sociedade igualitária, o comunismo.

Mais artigos da Liga Comunista sobre o tema:

SADISMO MIDIÁTICO
Do Folha do Trabalhador #12 maio de 2012
http://lcligacomunista.blogspot.com.br/2012/05/sadismo-midiatico.html