Leon Carlos e Humberto Rodrigues
Setores burgueses de peso, como a Globo e políticos marginalizados da direita como FHC e Rodrigo Maia consideram Lula como mal menor. Apesar de alguns setores do capital, como os banqueiros terem obtido superlucros com o governo Bolsonaro, vários outras frações, que participam da ciranda rentista, mas tem o núcleo originário de seus negócios em outros ramos da economia, estão descendo ladeira abaixo em sua lucratividade.
O Produto Interno Bruto (PIB) ficou negativo no 2º trimestre (- 0,1%) frente ao trimestre anterior (IBGE). A “retomada” da economia, a “recuperação em V” revelou-se pura mistificação barata. Segundo relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico ou Económico (OCDE), a economia brasileira foi a única das grandes “emergentes” a cair no 2º trimestre de 2021. A maioria das economias cresceram em relação a baixa durante a pandemia. A economia brasileira está se descolando das demais no sentido da ruína. O relatório do IBGE ainda aponta que o “agronegócio” caiu 2,8%; a Indústria de Transformação caiu 2,2%. Os investimentos produtivos na economia, caíram 3,8%. A produtividade industrial retrocede por três trimestres seguidos. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a produtividade do trabalho caiu 1,6% em relação aos três meses anteriores
Por tudo isso, há um descontentamento crescente com Bolsonaro no
interior da burguesia. Isso não quer dizer que apoiarão Lula nas eleições de
2022, apesar dos sonhos do principal dirigente petista.
Através de uma Frente ampla institucional burguesa contra
Bolsonaro seria possível que um novo governo de Lula reproduzisse, na
melhor das hipóteses, as políticas do que foi o segundo governo FHC ou o último
governo Dilma.
Travestido e assumindo a condição de presidente do processo que o vitimou nos anos recentes, Lula trataria de coordenar a fração do capital multinacional
– europeu e estadounidense – que possuem interesses estruturais no Brasil, como
fez FHC, a seu momento, e o próprio governo da presidenta petista em seus
estertores. Ou seja, seria uma política de ataque profundo aos trabalhadores,
mas não seria de todo inédito para um governo petista. Essa foi a política entreguista
que pavimentou o caminho para o isolamento da presidenta de sua base eleitoral,
após praticar um ano de estelionato político, adotando praticamente o programa tucano
perdedor das eleições de 2014, o que não a livrou do golpe de 2016. Pelo
contrário, favoreceu.
Por oportunismo, os sectores políticos do PT com mandato
territorial real, se aproximam do Bolsonarismo e do imperialismo em geral (sob
a justificativa de obter concessões, investimentos e vacinas para seus estados, etc),
como se vê na aproximação entre Wellington Dias, governador petista do Piauí,
com Ciro Nogueira (PP), atual chefe da Casa Civil de Bolsonaro.
A diferença é que agora, Lula seria o mais capaz para mediar
esses interesses de capitais de matriz estadunidense com os das frações
burguesas interessadas em aprofundar seus vínculos de comercio e investimentos
com a China. Nesse espírito geopolítico centrista entre os dois blocos da nova
guerra fria, Lula buscaria estabelecer seus compromissos com o grande capital,
sua nova “carta aos brasileiros (criticamente chamada na época de “carta aos banqueiros”)” que
agora assumiria ares de termo de garantia aos golpistas, deixando o tímido “Plano
de Reconstrução e Transformação do Brasil” do PT para 2022, na gaveta de onde
ele nunca foi tirado. José Dirceu já antecipou que o programa da frente ampla poderia
se basear apenas em dois pontos: no respeito ao calendário eleitoral de 2022 e
no pacto de que quem ganhar as eleições assume.
Uma demonstração maior dessa tendência é a defesa que Lula
faz das privatizações, sob o nome de “empresas mistas”, e o convite para ser
sua vice a Luiza Trajano, dona do Magazine Luiza, a empresária que embora não
tenha apoiado politicamente o golpe, foi uma das maiores beneficiárias, tornando-se
bilionária graças ao novo ciclo de acumulação de capitais golpista associado a
pandemia. Trajano defende as contrarrefomas, como a previdenciária e a
privatização dos Correios, que dotaria a Magalu de uma logística capaz de
tornar a empresa uma Amazon brasileira.
Lula busca conciliar, no âmbito internacional os interesses burgueses do polo
eurásico (BRICS) e o capital multinacional europeu e estadounidense com interesses
estruturas en Brasil, e aí se insere a reunião com FHC já que esta fração do
capital multinacional estevo representada no segundo governo do tucano e
também, programaticamente, no segundo governo Dilma.
Lula bajula a bilionária, mas Boulos não fica atrás |
Essa estratégia de frente ampla com os inimigos não
resultará em algo melhor nem para o PT e menos ainda para a classe trabalhadora
do que resultou a frente ampla com o Centrão, o partido judicial, o partido
militar e o partido fundamentalista que nos levou ao golpe de 2016.
A seu modo, a direita tradicional, que se comporta como
oposição no STF, na mídia e no Congresso, sobretudo na CPI do Senado, continua sustentando
o bolsonarismo. Porque, em última instância, o capital financeiro, as
oligarquias regionais e o próprio imperialismo preferem o "coiso" a Lula.
Os trabalhadores em vez de depositar expectativas na frente ampla burguesa almejada por Lula, devem confiar em suas próprias forças. Por esta via devem organizar-se independente das distintas frações burguesas como a melhor e única forma de combater o fascismo bolsonarista de modo consequente.
É preciso exigir que Lula, o PT e a CUT rompam com essa política que evidentemente está nos conduzindo a um novo golpe. O caminho de uma nova derrota estará trilhado se Lula, o PT e a CUT continuarem a se opondo a impulsionar a retomada das jornadas de rua contra o governo Bolsonaro, se continuarem se opondo a um programa que atenda as necessidades imediatas da população desempregada, faminta e condenada a barbárie. Se ao invés de "empresas mistas" e alianças com bilionários exploradores, que fazem fortuna com a miséria imposta ao povo pelo processo golpista, não defenderem a revogação de todas as contrarreformas e ataques golpistas a classe trabalhadora e pela construção de uma greve política de massas. Sem isso, até a própria candidatura Lula está ameaçada.
Notas:
1. Claro que é
preciso incluir seus sócios da burguesia “nacional” brasileira. Por exemplo, os
fornecedores das multinacionais no Brasil, como podem ser a industrias de autopeças,
onde o capital “nacional” tenha mais peso como proveedor das multinacionais automotrizes.
2. “Plano de Reconstrução e Transformação do Brasil” do PT:
1. Revisão do Teto dos Gastos;
2.Manutenção do auxílio emergencial para todos que precisam;
3. Mais Bolsa Família;
4. Empréstimo sem juros para famílias limparem nomes;
5. Crédito para empreendedores;
6. Suspensão da cobrança das contas atrasadas de água e
energia para famílias mais pobres;
7. Criação de empregos com a retomada do Plano de Aceleração
do Crescimento (PAC) e o programa Minha Casa Minha Vida;
8. Salvar a Petrobras;
9. Paralisar as privatizações e defender a soberania
nacional;
10. Reforma bancária;
11. Revogar leis que tiraram diretos dos trabalhadores e aposentados;
12. Banda larga livre para todos;
13. Fortalecimento do SUS.
14 - Testagem contra
o novo coronavírus
15 - Vacina contra
covid-19 para todos
16 - Retomada do
programa Mais Médicos