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segunda-feira, 1 de março de 2021

ATAQUES DOS EUA CONTRA O IRÃ

Condenamos os ataques imperialistas "progressivos" de Biden ao Irã e as provocações contra a China

Declaração do CLQI


As forças dos EUA baseadas no Iraque bombardearam unidades da milícia pró-Irã na Síria. Esse é um sinal claro do fio de continuidade da política externa dos EUA de Trump sob a nova presidência de Joe Biden. O imperialismo não é apenas uma fase particular do capitalismo, ele se expressa por uma política de guerra (convencional ou não) do Estado a serviço do capital financeiro e dos monopólios multinacionais.
A imagem "respeitável" e "civilizada" cultivada pela administração supostamente progressista de Biden é projetada para distingui-la de seu predecessor, cruelmente racista e simpatizante do fascismo. Mas não consegue esconder das massas do mundo que não importam as nuances do regime político de Washington, suas relações com o resto da humanidade como hegemonia imperialista mundial, não mudam só porque o partido que governa a Casa Branca mudou. Como Karl Marx observou há quase 150 anos sobre uma hegemonia imperialista anterior, a Grã-Bretanha:

“A profunda hipocrisia e a barbárie inerente à civilização burguesa jaz desvelada diante de nossos olhos, passando de sua casa, onde assume forma respeitável, para as colônias, onde vai nua '(Os resultados futuros do domínio britânico na Índia, 22 de janeiro de 1853 , no New York Daily Tribune).

Uma característica chave da situação mundial nesse momento do século XXI, particularmente desde a crise financeira e quase colapso de 2007-9, é o abalo dos pilares do equilíbrio do capitalismo mundial, a dramática deterioração do poder do Ocidente e dos Estados Unidos. Outra particularidade desse momento, que se combina com a crise da dominação imperialista é o crescimento da influência de um bloco composto por países capitalistas dependentes, semicolônias e Estados operários rivais dos EUA. As referidas potências capitalistas dependentes são dois ex-Estados operários, centralmente a Rússia e a China. Essas duas grandes nações são apoiadas por países menores semicoloniais que também estão em pleno conflito com o imperialismo, como Irã e Venezuela. Nessa frente multinacional também estão os dois Estados operários deformados restantes, Coréia do Norte e Cuba. Todos eles são alvo de sansões econômicas do imperialismo. Alguns, como Cuba sofrem sanções há mais de 70 anos. Outros, como o Irã, sofrem sanções há 40 anos.

“Na esfera das relações inter-classes, o rompimento do equilíbrio assume a forma de greves, locautes, luta revolucionária. Na esfera das relações inter-Estados, o rompimento do equilibrio significa guerra ou - em uma forma menos intensa guerras tarifárias, guerra economica ou bloqueios. O capitalismo assim assume um equilibrio dinâmico, no qual sempre se está no processo de ruptura ou restauração. Mas ao mesmo tempo esse equilíbrio tem um grande poder de resistência, cuja melhor prova disso é o fato de que o mundo capitalista não foi derrubado ainda hoje.” (Leon Trotsky, A situação mundial, junho de 1921)

A chave do nosso programa hoje diante do desequilíbrio crescente do capitalismo é a defesa desse bloco de países oprimidos, oponentes do imperialismo ocidental contra o ataque imperialista e, claro, em relação aos estados operários deformados, a defesa deles contra a restauração capitalista, seja por forças de dentro ou de fora. Essas considerações cobrem toda a nossa análise e resposta a tais ações imperialistas.

A crise provocou o abalo da dominação imperialista e simultaneamente concentrou capital nas mãos de um punhado ainda menor de bancos, monopólios e bilionários. Essa concentração de poder nas mãos do capital financeiro promoveu um giro à direita no pensamento burguês globalmente dominante, animou tendências fascistas, promoveu líderes burgueses como Donald Trump, Boris Johnson, Nigel Farage, Narendra Modi, Jair Bolsonaro, Scott Morrison, Rodrigo Duterte, Matteo Salvini, Recep Tayyip Erdoğan, Viktor Orbán. O fascismo é um cão de guarda do capital financeiro posto para aterrorizar o proletariado em momentos de crise, para forçá-lo a submeter-se a regimes de austeridade e de escravidão. Para isso, arregimenta, recruta forças para estatais da pequena burguesia enfurecida e bandos desclassificados e desmoralizados do lumpemproletariado, seres humanos que o próprio capital financeiro ele próprio levou ao desespero e à fúria. Essas tendências que se apoiam em fortes bases materiais de concentração de capitais não arrefeceram com a substituição de um ou outro desses líderes.

O Iraque é atualmente uma colônia dos EUA. A colonização, iniciada com a invasão e subjugação do país em 2003, se encontra em um estágio mais avançado. O primeiro-ministro iraquiano é Mustafa Al-Khadami. Ele afirma ter uma história como defensor dos direitos humanos contra o antigo regime de Saddam Hussein. Mas então alguém descobriu que ele é sócio e amigo de Muhammad bin Salman, o príncipe herdeiro e governante de fato da Arábia Saudita, próximo dos EUA e colaborador próximo do sionismo israelense, assassino de Jamal Khashoggi e inimigo mortal do Irã. Bin Salman está travando uma guerra genocida contra a população iemenita e particularmente contra o movimento xiita Houthi, aliado do Irã, que agora está liderando uma genuína luta pela independência nacional contra seus opressores sauditas, que agem em nome do imperialismo dos EUA e do sionismo.

O Iraque foi dividido por movimentos de protesto contra a corrupção e a ocupação. A última dessas mobilizações foi a maior desde outubro de 2019. Foi antes da pandemia de Covid, que causou enorme sofrimento e agravou a situação difícil das populações em toda a região, incluindo Iraque, Síria e o pior de todos: o Iêmen. Toda essa circunstância levou à resistência ao governo dos EUA: com o movimento Sadr no Iraque desempenhando um papel fundamental, e grupos xiitas pró-Irã na Síria, como o Kataeb Hezbullah, que têm sido uma parte fundamental dessa resistência à ocupação e a corrupção. Essas lutas vão muito além de protestos religiosos: esses movimentos têm raízes de classe, embora sua relação com isso seja complexa.

Em qualquer caso, os EUA temem que as populações tomem as coisas em suas próprias mãos e exijam democracia e o fim da dominação estadunidense, demandas que poderiam evoluir para desafiar o próprio capitalismo, apesar do atual estado de consciência de massa. Pois isso é o que objetivamente representa a dominação imperialista dos EUA. Romper com isso requer uma luta mais fundamental do que as forças atuais podem oferecer, embora haja sempre a possibilidade de que a luta possa fornecer uma abertura para desenvolvimentos políticos mais avançados.

Toda a situação se mistura com as consequências do fracasso dos EUA em subjugar as semicolônias oprimidas da região. Não derrotaram o Irã, pressionado por sanções, sabotagens, assassinatos como o de Soleimani, bombardeios israelenses, operações de guerra híbrida desde a revolução de 1979. Não controlaram por completo o Iraque, apesar de 18 anos de ocupação. Não desestabilizaram nem derrubaram o governo Assad, mesmo que venham tentando isso há mais de uma década. Durante a primavera árabe o imperialismo tentou reciclar e expandir seu domínio na região apoiando-se na rebelião popular contra a crise econômicas que o próprio capital financeiro provocou entre 2007-9. Nos países aliados, o imperialismo manobrou para esmagar a “primavera”, reprimiu brutalmente os movimentos de oposição aos governos do Egito e Bahrein, aliados de Washington / Israel / Arábia Saudita. Nos países governados por regimes não confiáveis, como a Líbia e a Síria, o imperialismo armou a oposição. Na Líbia, a coalizão imperialista conseguiu subjugar a nação oprimida e assassinar Kadafi. Foi um banho de sangue colonial, impulsionado diretamente pelas forças britânicas, francesas e americanas. Nesse momento, em 2011, o imperialismo contou com a abstenção cúmplice das delegações diplomáticas da Rússia e China, no Conselho de Segurança da ONU. Brasil, Índia e Alemanha também se abstiveram. A África do Sul, governada pelo CNA, votou a favor da intervenção colonialista na nação africana irmã. Ninguém se opôs a Resolução 1973, que autorizava o apoio internacional ao movimento pela derrubada de Kadafi. Depois dessa tragédia, quando EUA e Israel tentaram repetir a ofensiva na Síria, apoiando-se em agentes armados da oposição, incluindo o Daesh, uma coalizão militar de forças antiimperialistas, sobretudo iranianas e russas, se constituiu e conseguiu desferir um grande golpe contra EUA e Israel, tendo como batalha mais importante a conquista de Aleppo em 2016.

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Trump e Biden: Continuidade e Descontinuidade

O regime de Trump foi particularmente brutal internamente em sua supremacia branca e no darwinismo social arrogante sobre a Covid-19, custando centenas de milhares de vidas em casa. Isso provocou um choque altamente polarizador entre dois campos de massa - um movimento supremacista branco proto-fascista por trás de Trump, contra a frente popular de fato em torno do Partido Democrata de Biden e Sanders, que encontrou expressão armada no Capitólio em 6 de janeiro O papel de Biden é neutralizar essa luta e 'reconciliar e reunir' a população americana.

Na política externa, a administração de Trump também foi disfuncional, oscilando entre o isolamento nacional e o militarismo extremo, entre algumas retiradas limitadas de tropas do Oriente Médio e ameaças abertas de guerra nuclear contra o Irã e a Coreia do Norte, seguida nos últimos casos por aberturas pacíficas e tentativas irritadiças de 'amizade'. Trump tentou promover o falso "presidente" da Venezuela, Guaidó e foi mais longe, ao ponto de ameaçar Maduro de invasão, o que de fato tentou, apoiando mercenários fascistas, mas fracassou. Dificilmente esse isolacionismo de Trump pode ser considerado pacífico. Trump ordenou pessoalmente o assassinato do comandante da Guarda Revolucionária do Irã, Qasem Suleimani (mimetizando o assassinato de Bin Laden por Obama), e rasgou o acordo JCPOA de Obama de 2015 com o Irã, que buscava limitar as capacidades nucleares da nação oprimida em troca do levantamento gradual das sanções imperialistas. Biden declara formalmente que está buscando ressuscitar e salvar o JCPOA, mas concretamente desfere esse ataque militar contra o Irã. Sob essa política a retomada das negociações com a nação persa se basearia em uma capitulação vergonhosa, o que parece não estar nos planos de Teerã. Retomar a esses acordos é bem menos provável e difícil que ao Acordo de Paris sobre Mudanças Climáticas e à Organização Mundial de Saúde, dos quais Trump se afastou no meio do mundo Pandemia do covid19.

O JCPOA foi abertamente minado e condenado por Israel mesmo quando Obama ainda estava no poder, e Trump foi financiado por Likudniks - Sheldon Adelson foi seu maior doador de campanha, sendo este um fator chave em sua ascensão ao poder em 2016, exigindo o abandono do JCPOA. Este parece ser o nexo da relação contraditória entre o grosso da classe dominante dos Estados Unidos e a sobreposição, numerosa e poderosa parte judaico-sionista dela, que considera Israel tanto seu estado quanto os próprios Estados Unidos.

Não está claro se Biden será capaz ou desejará simplesmente voltar à configuração que existia na época do acordo de Obama com o Irã, já que o sionismo se tornou mais poderoso como um componente orgânico do imperialismo, em termos de sua influência e centralidade no Período de Trump: Biden não será simplesmente uma negação de tudo sobre Trump, assim como Obama não foi simplesmente uma negação do período de Bush. As táticas e estratégias de Obama incorporaram um forte elemento de Bush e, por sua vez, o próprio Trump incorporou algumas políticas da era Obama e as aprofundou, por exemplo, o programa de deportação em massa de um milhão de pessoas. Biden, por sua vez, parece bastante Trumpiano nas ações de sua administração depois de apenas algumas semanas. Essas continuidades ocorrem principalmente por causa da base de classe comum dos dois partidos burgueses dos Estados Unidos, independentemente dos conflitos entre eles (que podem colocar outras forças em conflito entre si, como os acontecimentos recentes ilustram).

Israel vê a própria existência de qualquer Estado árabe ou muçulmano forte e independente no Oriente Médio como uma ameaça à sua própria legitimidade e exige a destruição do Irã e de Estados semelhantes, mesmo que as consequências sejam catastróficas. Este foi também o papel que os sionistas desempenharam na agitação pela destruição do Iraque no início dos anos 2000, quando os ataques de 11 de setembro de 2001 lhes deram a oportunidade de ganhar apoio para essa política entre a burguesia americana em geral.

A política da corrente dominante da burguesia dos EUA não tem objeções ao militarismo desenfreado, à destruição de nações por meio de invasões e a opressão sobre o globo. Todavia, a corrente dominante também entende que tais coisas são frequentemente contraproducentes e tendem a unir os inimigos contra ela. A Casa Branca prefere dividir e governar, por meio de "poder brando", "revoluções coloridas" e a desestabilização das forças opostas por meio de uma guerra híbrida. Mas também não há distinção absoluta entre eles. Então, quando Biden se distancia da política e ações de Trump ao abandonar o JCPOA de Obama, ao mesmo tempo e em certa medida ele copia Trump ao bombardear os aliados sírios do Irã. Sem dúvida, ele lamenta os reveses que a estratégia de guerra híbrida dos EUA sofreu na Síria. É possível, na verdade provável, que o regime de Biden tente reviver o tipo de guerra híbrida que os Estados Unidos levaram a cabo na Primavera Árabe junto com esses ataques militares.

Mentiras racistas e teorias da conspiração

Essa sobreposição também é visível no fato de que Biden não denunciou, mas continuou com a difamação e a insinuação de que o Covid-19 – que parece ter cruzado a barreira da espécie para humanos, talvez em ou ao redor de Wuhan, na China – é algum tipo de arma fabricada pela China. Essa mentira ultrajante esteve na base do racismo de Trump ao apelidar a Covid-19 de "vírus da China", mas Biden continuou com isso como parte da tentativa de mobilizar a hostilidade popular contra a China por algo que na verdade e se tiver sido originado na China, seria produto da restauração capitalista, da comercialização da produção de alimentos e a mercantilização da vida selvagem nesse sentido. A burguesia dos EUA, em vez disso, promove sua própria teoria da conspiração racista, enquanto critica como sendo supostamente 'teorias da conspiração' em outros lugares. Por exemplo, quando se denuncia com detalhes precisos w provas o comportamento dos agentes de Israel, a mídia demoniza como 'teoria da conspiração' e "anti-semitismo" (é claro!).

A continuação da mentira racista de Trump sobre a China pelo governo Biden 'liberal' se manifestou até mesmo na censura nas redes sociais, já que o Facebook proibiu o compartilhamento de um artigo pelo World Socialist Web Site (WSWS) denunciando a difamação contra a China como uma teoria da conspiração belicista. (Veja o artigo do WSWS dos censores do Facebook expondo a teoria da conspiração do laboratório de Wuhan). Essa difamação racista foi orquestrada em conjunto com os partidários liberais de Biden do Washington Post. Assim, a burguesia fica indignada com as descrições precisas do comportamento de seus racistas, aliados sionistas e irmãos de classe, mas ataca a esquerda quando ela critica seus próprios libelos de sangue racistas mentirosos contra a China, que animaram o protofascismo da política de supremacia branca de Trump.

Esse é o caráter da função opressora e perigosa do imperialismo dos EUA no mundo de hoje. Nós condenamos os ataques de Biden contra os guerrilheiros iranianos e contra a soberania do território da Síria. Nós defendemos os milicianos xiitas na Síria dos ataques que sofreram. Nós nos opomos as difamações belicistas e racistas dos EUA contra a China e todo o projeto mundial do imperialismo estadunidense 'business as usual' de Joseph R Biden e lutamos por sua derrota em todos os conflitos com os povos oprimidos e semicoloniais países como Irã, Síria, Rússia e China. Essa ação do governo Biden expõe todos aqueles que criaram expectativas em nessa nova gestão do imperialismo como sendo ‘progressiva”. Nós, não criamos proclamamos: 

"Nenhum apoio político para Biden/Harris! Romper com os democratas! "
Declaração do Comitê de Ligação pela IV Internacional - CLQI

O papel contra-revolucionário e predatório do imperialismo só pode ser superado pela estratégia da revolução permanente, pela classe trabalhadora assumindo a liderança da luta contra o imperialismo por meio de táticas de princípios como a Frente Única Anti-Imperialista, tendo como objetivo estratégico a revolução mundial.